POR: PAULO ANDRÉ DOS SANTOS.
Ser contemporâneo... O que seria realmente isso? Uma discussão sobre essa temática é tão irremediavelmente complexa que muitas pessoas podem dizer, conforme o clichê popular, que “Só Freud explica”. Outras, preferem se arriscar por esses mares revoltos, levando em consideração variadas hipóteses.
É trilhando nesse caminho que conseguem manter-se com os “pés no chão”. Leituras que tenho realizado nos últimos anos tem me ajudado nos diálogos tecidos com os frequentes acontecimentos e transformações que se protagonizam diariamente nas formas de se pensar e de se agir no mundo.
As coisas mudam em um ritmo cada vez mais rápido e, para não perder o “bonde da história”, é preciso estar em contínuo aprendizado. Para Paulo Freire, considerado um dos maiores filósofos da educação, inclusive em nível planetário, o ser humano é por natureza incompleto, por isso, ele sempre está na busca de aprender e realizar coisas novas, para ampliar horizontes.
Nesse viés, ao trazer essa idéia de contínua busca humana pelo desenvolvimento, podemos ter como um reflexo da contemporaneidade os acontecimentos do passado, isto é, aquilo que já foi, em algum momento da história contemporaneidade.
No último século, por exemplo, pode-se ser perceber grandes avanços no campo das ciências, ainda que tais conhecimentos tenham, também sido utilizados de maneira inapropriada, negativa.
A partir desse contexto, é possível realizar uma reflexão sobre o que é ser-contemporâneo. Percebe-se, por exemplo, que a contemporaneidade é um movimento do tempo, que está acontecendo e sendo marcado por mudanças.
Leituras sobre contemporaneidade evidenciam-na colocando-a como sendo o gerúndio, o filete do tempo que denominamos de presente. Ela existe desde que o tempo é tempo. Ou melhor, desde que a humanidade passou a concebê-lo como tal. Ser contemporâneo aos olhos da atualidade, é dialogar com a realidade, de modo a conhecê-la da melhor maneira possível e assim desenvolver estratégias de adaptação/transformação aos/dos contextos.
Os dias atuais, ou seja, essa contemporaneidade viva em que nos situamos, refletem, conforme o pensamento de Sigmunt Bauman, os ares da pós modernidade, onde os diferentes dialogam entre si, transformando e se transformando a/pela dinâmica da sociedade.
Em meio a isso, bem e mal se misturam; verdade e dúvida adquirem um status equivalente de importância, o que faz com que, nos discursos proferidos pelos estudiosos mais sérios, nenhuma delas seja descartada.
Ao mergulhar criticamente em estudos sobre a globalização das economias capitalistas, assim como, as implicações desse processo, em inúmeras dimensões, a exemplo de Milton Santos, pode-se concordar de que há, até certos limites, um deslumbramento, sobretudo, patrocinado e alimentado pelas ideologias de consumo, que introjetam nas pessoas um mundo fabuloso, onde a ilusão parece ser palpável.
No entanto, através de estratagemas muito bem elaborados, os “agentes” do sistema capitalista, conseguem empurrar toda a sujeira produzida para debaixo do tapete. Conseguem a proeza de (re)significar a perversidade que praticam, tornando-a aceitável, normalizada, típica do cotidiano, fatalisticamente, inevitável.
Nesse sentido, através da perspectiva de Milton Santos, é emergente lutar por uma nova configuração para a Globalização. É preciso encontrar uma solução mais sustentável, ou, toda essa estrutura montada até os dias atuais, irá ruir e, provavelmente, em cima daqueles que se encontram deserdados das benesses do capital.
Isto porque, geralmente, na lógica capitalista, faz-se assim: privatiza-se os lucros e socializa-se os prejuízos. Na hora da crise, todos tem que ajudar.
Nesses momentos, o que se pode ouvir das autoridades governamentais é algo do tipo “pedimos a compreensão pelo momento difícil ao qual passamos”. Sem reconhecer que, num lance quase perpétuo, para a grande maioria, só existem momentos difíceis.
Ser contemporâneo, atualmente, é estar lançado em uma corrida desenfreada para conseguir acesso aos recursos, sejam eles financeiros ou culturais. Ser contemporâneo, implica em fazer parte de uma tribo, qualquer que seja a sua natureza. Significa estar em algum lugar dentro da geografia globalizada.
Estar em uma tribo, nesse contexto, significa seguir determinados objetivos, comportar-se semelhantemente ao grupo a que pertence, incluir-se ou excluir-se do mundo do capital. É buscar o conhecimento a fim de alcançar determinadas posições de poder, ou, simplesmente, sobreviver.
Ironicamente, nos dias atuais, em que a tecnologia se faz cada vez mais presente na vida das pessoas incluídas socialmente, por outro lado, aumenta cada vez mais a fila dos “refugos humanos”, dos desempregados e desabrigados das cidades.
Esse, sobretudo, é um dilema em que se encontra grande parte das cidades espalhadas pelo mundo.
Ao pensar em futuro mais adiante, é possível ficar horrorizado ao avistar no céu as nuvens negras da explosão provocada pelo colapso do sistema. E ser contemporâneo, enfaticamente, é pensar, hipotetizar e realizar projeções, como agora, do futuro. Talvez, essa seja uma das principais características dos habitantes dessa contemporaneidade viva, o olho voltado para o futuro. Não por uma questão de escolha, mas, pela exposição contínua a uma periclitante sobrevivência.
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