Por: Paulo André dos Santos*
Fevereiro, como costuma cantar Ivete Sangalo, “está no clima”. E fazendo jus à tradição, fevereiro, em Salvador, é mês de muita agitação na cidade. Todos na folia, correndo, dançando e cantando. No entanto, em 2012, para nossa surpresa, o carnaval está acontecendo de outra maneira. As pessoas gritam e correm, mas não atrás do trio. Correm de medo, dos arrastões que tomaram conta da cidade.
E esse arrastão de que vos falo, caro leitor, não é brincadeira. É coisa séria. Grave! Gravíssima. A Polícia Militar baiana entrou em greve e a capital Salvador se encontra entregue aos bandos armados.
Eu disse bandos armados! Por que um punhado de homens da Força Nacional e do Exército Brasileiro, mesmo com toda a boa vontade do mundo, dificilmente, seriam capazes de suprir a ausência de pelo menos dez mil policiais militares amotinados, de “braços cruzados”.
Além disso, como se não bastasse, alguns maus policiais, conforme veiculado pelos meios de comunicações, tem promovido uma verdadeira “onda de terror” na cidade. Não um simples manifesto pela greve, mas uma estridente ação criminosa.
Enquanto isso, cidadãos e cidadãs, jovens, crianças e idosos, encontram-se impedidos de ser e de estar na cidade. Sim, caro leitor, proibidos. Severamente, proibidos. Grupos de policiais, que já tem contribuído para a imagem ruim da Polícia baiana, resolveram não somente “cruzar os braços”, fizeram mais do que isso, deixaram o Povo refém.
Não secretamente, como aqueles filmes americanos, em que sequestradores enviam uma carta à família, pedindo o resgate. Eles interditam as vias públicas, cometem atos de vandalismo, promovem uma insuportável e aterrorizante desordem. Tudo isso, somente para demonstrar o quanto são necessários à sociedade, o quanto merecem serem reconpensados com salários mais dignos.
Na verdade, caro leitor, nesse ponto uma questão que precisa ser mencionada: o foco da análise não deve ser exclusivamente esse. Não somente os policiais sofrem com baixos salários. Médicos da rede pública, professores, etc., se formos analisar, ganham muito menos, levando-se em consideração todas as exigências com qualificação profissional e acadêmica de nível superior.
Ao colocarmos na ponta do lápis, o salário inicial de um professor com doutorado, na rede pública estadual de escolas, por exemplo, provavelmente, não chega a ultrapassar os dois mil e trezentos reais que ganham, inicialmente, os soldados da polícia baiana.
Além disso, sem querer fazer defesa do Governo, quando as pessoas se propõem a encarar um concurso para se tornarem funcionários públicos, elas sabem a faixa salarial que está à espera. A pergunta é: por que se candidatam?
Outra coisa, importante mencionar, é que jamais se deve contestar o direito dos profissionais de pleitearem melhores salários. Isso é indiscutível. Mas a que preço? No caso dos policiais baianos, em greve, amotinados e de braços cruzados, será que seriam capazes de pagar pelo preço que estão impondo à população? Será que pelo menos um desses policiais tem família? Será que seriam capazes de se questionar: e se fosse o meu filho, mais um a somar entre as dezenas de mortos por causa da extrema violência que acomete a cidade? Será que poderiam se questionar sobre isso.
Fatos como esses, tem se repetido, ao longo dos últimos anos, em vários estados. Os policiais tem lutado para sair da situação, muitas vezes, humilhante a que estão sendo submetidos, sem condições de trabalho e sem uma remuneração adequada. Para a nossa tímida perplexidade, leitor, os fatos se repetem em proporções cada vez maiores e com consequências cada vez mais violentas. A que fim chegaremos. Será o Apocalipse?
Os crimes cometidos por policiais em greve, na Bahia podem até serem esquecidos pelo Estado, pelos policiais e pela sociedade. Entretanto, dificilmente, os familiares das pessoas assassinadas irão esquecer. Você esqueceria, caro leitor?
Eu sou até capaz de duvidar. Talvez, você concorde comigo que todos eles precisam de uma punição exemplar, dentro dos limites jurídicos. Assim tais acontecimentos não cairão em moda. Em contrapartida, é bom frisar, o Governo precisa ser mais proeficiente nas políticas de segurança pública. Os cidadãos e cidadãs, contribuintes que sustentam a máquina pública, não podem ser abandonados ao caos.
O interessante é que, nos dias de hoje, lamentavelmente, as pessoas dão uma audiência formidável aos casos de violência, que se noticia na televisão, no rádio e, principalmente, na Internet. Portanto, se os policiais da Bahia quiseram ganhar notória repercussão nacional, conseguiram. E de quebra, como que por um gesto de desagravo, arruinaram a frágil sensação de segurança da população baiana.
Infelizmente, em pleno fevereiro, mês da alegria popular, não podemos cantar, ainda, ao som da Timbalada, caro leitor, “já é Carnaval, cidade. Acorda pra ver. A chuva passou, cidade. O sol brilha aê...”. Neste mês de fevereiro, o sol tem se escondido atrás de núvens nebulosas. Dia e noite a chuva cai na cidade e estamos todos ilhados, neste momento, sem ter para onde ir. Chove atos de vandalismo e a violência transborda na cidade.
Assim, resta-nos um luz no fim do túnel. Políticas públicas de segurança nesses momentos de crise precisam ter um contigência mais adequada. O Povo não pode continuar exposto à tensão entre policiais e o Poder Público. Policiais e representantes do Governo precisam chegar a um denominador comum.
Contudo, apesar de admitir essa hipótese, não quero acreditar sequer na ideia de que atos criminosos cometidos por militares sejam esquecidos. O espírito da lei foi erguido para equilibrar as forças entre os antagonismos dentro da sociedade. A lei deve e, imperiosamente, precisa ser cumprida. Por lei, um policial deve zelar pela lei. Quem comete atos criminosos precisa ir para atrás das grades, nesse caso, não existe excessão.
Então, como diz Caetano Veloso, “a Bahia é linda. Salvador é linda”. O Carnaval em Salvador não tem igual. A Polícia Militar todos os anos, também contribui com a festa. Este ano tem que ser diferente?
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