sexta-feira, 14 de agosto de 2009

O Banquete da burguesia

POR: PAULO ANDRÉ DOS SANTOS*

Preço e mercadoria. Critérios muito considerados pelas grandes empresas ao se lançarem para implantação de um polo produtivo de serviços e produtos. Mão-de obra barata e qualificada, uma condição ideal que se viabilizem os investimentos - e os lucros. Assim, a força produtiva se converte em potencial de lucro nas lutas comerciais entre as empresas. Afinal, para manter a competitividade, as empresas estão sempre buscando reduzir os seus custos com a produção - o que envolve os encargos trabalhistas.

Trata-se de uma exploração "sangrenta" da mão-de-obra em prol da sobrevivência no mercado - meio predatório isso, não parece? Para que isso seja possível, contribuem com extrema falta de responsabilidade social os centros de formação profissional, que lançam anualmente aos mercados, em escala industrial, um considerável número de novos profissionais - sem que, necessariamente, o mercado esteja apto a captar toda essa massa de trabalhadores. O que acontece? A lei da oferta e da demanda entra em vigor, formam-se os reinos e as cabanas, não há lugar para todos no castelo.

Ou seja, os trabalhadores veem-se instintivamente obrigados a se "digladiarem" por uma vaga no mercado, já que não existem vagas necessárias para incluir todos na dinâmica produtiva. Isso coloca em condição de absoluto conforto os "cartolas do Mercado", pois, com tanta gente em busca de trabalho, pode-se criar uma espécie de "leilão das vagas", visando identificar os profissionais que aceitariam trabalhar por um salario reduzido. Quanto mais gente procurando o emprego, menor o salário.

Consoante, isso pode ser identificado que, com as privatizações realizados pelo governo do Brasil na década passada, os trabalhadores passaram a ganhar menos. O "Estado Mínimo" ou "Estado Neo-liberal", de acordo com os princípios do capitalismo, passaram a enxugar drasticamente a sua participação na vida das pessoas, o Mercado assume, então, o comando. Logo, começam a se realizar a produção industrial do cidadão multi-utilidades, ao mesmo tempo barato e competitivo. Barato por que é produzido em abundância pelas escolas de formação profissionalizante e competitivo porque, para manter a empregabilidade, vê-se obrigado a investir grande parte de seu achatado salário em processos de aprimoramento profissional, visando permanecer como um "produto" atraente para as empresas.

A vida produtiva torna-se assim, a vida social das pessoas. Viver para produzir, quem não está produzindo não está servindo nem como produto nem como possível cliente, são considerados um joio, um peso para a sociedade. De quem é a culpa disso? De quem é o mérito por indivíduos estarem desempregados? O Mercado, rezando a “bíblia” capitalista argumenta que é culpa dos indivíduos, por não se qualificarem ou não se empenharem no processo de qualificação. Ou seja, eles são uns derrotados e ninguém carrega a culpa disso senão eles mesmos. Esse é um posicionamento cruel em defesa da alta lucratividade das empresas. O desemprego faz parte dos interesses das empresas atuais - por lá, costuma-se chamar isso, cinicamente, de rotatividade.

Ninguém admite de quem é a culpa. O Estado se queixa da redução dos postos de trabalho por meio da modernização e, consequente, automação do processo produtivo, mas, ao mesmo tempo, contribui com programas de capacitação de trabalhadores do tipo plural, oferecendo-lhes uma formação geral, tornando-os versáteis para realizar tarefas e, em contrapartida, baratos, pois, como já dito, são produzidos em larga escala. O "Mercado" se esquiva das acusações e diz que não é dele a responsabilidade pelo desemprego, mas, do Estado, que exerce uma grande oneração por via dos tributos cobrados, obrigando as empresas a buscarem alternativas para reduzirem custos e permanecerem competitivas.

Além disso, legitimam a "lei da sobrevivência", em que elas estão obrigadas a se subjugarem para permanecerem vivas e, ao qual, os trabalhadores devem se inspirar para conseguirem a inclusão e a permanência na atividade profissional. Em meio a culpas e culpados, empresas e países tem se beneficiado em detrimento do lado mais "fraco", os trabalhadores. Um exemplo disso, é a China, um gigante que vê sua economia ter maior desempenho global, enquanto, o seu povo é submetido a uma condição de trabalho em muitos aspectos desvantajosa. Baixos salários, super-exploração e ausência de direitos fazem parte da rotina desses trabalhadores.

Ao estar a caminho da marca de dois bilhões de habitantes, esse gigante da Ásia se torna aos olhos dos Mercados um magnífico reino a ser conquistado, sua imensa população confere ao país um atrativo para os grandes mercados, que querem tirar proveito dessa especificidade.
O regime comunista da China, já faz alguns anos, que se ajoelhou com uma perna só para o Mercado, passando a conceber em seu sistema econômico o inédito Socialismo de Mercado - para os capitalistas, isso é um bom começo. É como se os chineses dissessem aos grandes empresários capitalistas: "Nós ganhamos, mas, vocês levam o troféu". Abrem-se, gradualmente, as portas dos templos aos investidores estrangeiros, de modo que, nos últimos anos, a China tornou-se, talvez, o maior canteiro de obras do planeta.

Em um único dia surgem novos edifícios do tipo arranha-céu, que abrigarão luxuosos escritórios executivos de mega-empresas. Quem paga isso? Ora, o lucro obtido através da criação de um sistema produtivo barato e competitivo, trabalhadores dedicados e mal-pagos. Afinal, cada um tem a sua parte no latifúndio - apesar de ninguém ser dono de terras na China.

Enquanto o governo detém a posse das terras, os grandes empresários estrangeiros ficam com o fruto precioso do setor produtivo - o dinheiro, e, os trabalhadores, bem, estes ficam com as migalhas que caem da mesa farta e suculenta do patronato. A burguesia moderna está cada vez mais voraz e egoísta. Os banqueiros tem lucros exorbitantes, os detentores do grande agronegócio querem todo tipo de subsídios, as fábricas escolhem o local do seu pólo produtivo considerando os incentivos fiscais e a estrutura logística oferecida pelos Estados (malha rodoviária, portos e aeroportos). Enfim, o Estado torna-se mais um refém na mão dos grandes mandatários do cenário global, as grandes empresas.

Com isso, a redução na arrecadação tributária somada aos encargos sociais proporcionados pela elevação do desemprego, o "Estado Mínimo", torna-se aos olhos de todos um Estado pequeno, frágil, impotente, falido. No Brasil, mais um agravante, o "fogo amigo", o Estado corrompido dentro de sua estrutura institucional, os interesses do Mercado são fielmente seguidos por quem deveria vigiá-lo, os agentes políticos.

A corrupção por aqui é histórica, mas, nessas primeiras décadas de redemocratização, assumem uma conotação ainda mais escandalosa, visível. Se é que se pode falar de escândalo, os casos de corrupção dentro da máquina estatal são tão rotineiros que fica até estranho se falar em escândalo - os brasileiros parecem estar tão domesticados a isso que a corrupção, talvez, tenha deixado de ser algo que mereça reflexão. É tudo que os grupos de interesses querem, eles querem "trabalhar" as fraudes sossegados, sem ninguém para vigiar ou, para julgá-los.

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