terça-feira, 3 de junho de 2014

A democracia do medo

Dizem que vivemos um momento democrático. Este tempo é frequentemente visto sob a aura da liberdade. Hoje em dia, as pessoas se sentem livres, para se expressarem, para participarem mais ativamente do processo de construção da sociedade. Em contrapartida, o que é uma percepção comum às pessoas de nosso tempo, não encontra eco suficiente na realidade. Pouco se reflete sobre o que é de fato a liberdade, assim como, é ínfima e muitas vezes infértil a quantidade de reflexões que elaboramos sobre democracia. Refletir sobre esta palavra é, aparentemente, algo de pecaminoso. A democracia é como dito por Saramago, "como uma santa no altar". A democracia é de certa maneira sacralizada na esfera da representação. Constantemente, repetimos o clichê, "Estamos em um país democrático". A ideia de democracia parece fazer parte do senso comum. Por outro lado, sabemos o que realmente é democracia? Ou sabemos somente a noção de democracia que nos ensinaram? Diante dessas perguntas, resta-nos responder outra: somos democráticos? Recentemente completaram-se cinquenta anos do início da ditadura militar. Será que já nos livramos de todos os nossos medos e traumas? Será que já superamos essa chaga em nossa história? Ou estamos a fazer uma democracia do medo? É possível uma democracia com cidadãos medrosos? É possível uma democracia sem uma cidadania corajosa? Como é possível sermos livres se encarceramos ainda o medo dentro de nós? Como superar a prisão mais eficaz que existe? Como podemos superar o eco de uma sociedade do medo? Como podemos superar medos tão capazes de transformar um direito em uma dádiva? Como superar medos capazes de transformar nossos servos em senhores? O dia em que conseguirmos respostas legítimas para essas perguntas, teremos condições de apreendermos a ideia mais apropriada do que é democracia.

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