*foto extraída do observatoriodocinema.bol.uol.com.br
Por:
Paulo André dos Santos.
Ao assistir ao filme “A família Addams (2019), dirigido por Conrad
Vernon e Greg Tiernan, embora se trate aparentemente de um filme de
entretenimento e direcionado para um público infanto-juvenil,
trata-se de um filme que possibilita o fomento de uma discussão
sobre a intolerância com o diferente e aventa a necessidade de se
promover no âmbito da educação uma visão que comporte a pauta da
diversidade, em seus diversos espectros.
Discutir a produção fílmica do ponto de vista estético tem os
seus méritos, à medida em que possibilita o desenvolvimento das
produções cinematográficas. A crítica de cinema é um importante
termômetro para se conseguir um “selo de qualidade” para os
filmes. Através da contribuição desse vetor, as pessoas que
trabalham diretamente na produção podem sentir como o trabalho
delas está sendo recebido pelo público, em geral.
No entanto, nesta reflexão que ensaiamos produzir, as questão
técnicas são importantes, porém, adjacentes. Ou seja, elas fazem
parte do resultado e contribuem muito para o que estamos analisando,
mas não estão em primeiro plano, no foco da discussão. O mais
relevante aqui é o efeito pedagógico que essa produção pode
alimentar.
Nesse sentido, o filme conta a história da Família Addams, um
núcleo familiar que nos serve de arquétipo da diferença como forma
de sociabilidade. Mais do que se aceitarem como diferentes, no filme,
os membros da Addams se completam, à medida em que reúnem, como
família, a soma da diferença. Nesse sentido, a própria relação
com a diferença é uma relação pedagógica.
Ao longo do filme, até certo momento, tudo vai bem na vida da
família Addams. A diferença se certa forma, conflui para a
harmonia. E continua assim, até que uma especuladora imobiliária,
sob o pretexto de que os Addams estão perturbando a paz comunitária,
incita o ódio nas pessoas contra a família do casarão. As pessoas,
então, embebidas na animosidade, avançam raivosamente para a casa
dos Addams.
Nesse ponto, uma reflexão sobre o comportamento das pessoas,
possível de ser feita, é que as pessoas não são naturalmente
odiosas, mas por uma circunstância ou outra aciona um estopim
psicológico e faz com elas se comportem assim. O ódio, por outro
lado, nessa perspectiva, pode ser promovido a reboque de um interesse
econômico.
Afinal, é perceptível, no filme que o interesse da especuladora
imobiliária vai além do simples incômodo em relação aos Addams.
O motivo da hostilidade era na verdade, financeiro, partindo da
premissa de que a presença do velho casarão, em sua fotografia
deteriorada, prejudicava os negócios.
O mais positivo nessa reflexão reporta ao fato de ser possível
reverter essa contaminação coletiva pelo ódio. É possível
superar a barreira simbólica da diferença e construir novos tipos
de configuração nas relações entre as pessoas, em que não se
permita a proliferação da hostilidade em relação a diferença.
Um ambiente rico é sempre sinônimo de um ambiente diversificado,
onde os diferente formam um imenso e lindo caleidoscópio. A natureza
é vista como rica quando é dona de uma grande diversidade. Uma
alimentação rica é sempre diversificada em nutrientes.
Assim, nas relações humanas, será tanto mais rica à medida em que
se permita diversificar. Desse modo, os hábitos, os costumes, as
etnias, não devem servir de justificativa para a marginalização do
outro, jamais. Ao contrário disso, as relações com as diferenças
são um grande fator de enriquecimento de uma sociedade.
Enfim, pode-se afirmar que o desfecho do filme “Família Addams”
é, nesse sentido, inspirador e aponta um caminho para que possamos
dar um salto civilizatório, na direção da convivência sustentável
entre pessoas e entre as pessoas e a natureza.
Nenhum comentário:
Postar um comentário