domingo, 1 de dezembro de 2019

A família Addams e o discurso da diversidade


*foto extraída do observatoriodocinema.bol.uol.com.br








Por: Paulo André dos Santos.
Ao assistir ao filme “A família Addams (2019), dirigido por Conrad Vernon e Greg Tiernan, embora se trate aparentemente de um filme de entretenimento e direcionado para um público infanto-juvenil, trata-se de um filme que possibilita o fomento de uma discussão sobre a intolerância com o diferente e aventa a necessidade de se promover no âmbito da educação uma visão que comporte a pauta da diversidade, em seus diversos espectros.
Discutir a produção fílmica do ponto de vista estético tem os seus méritos, à medida em que possibilita o desenvolvimento das produções cinematográficas. A crítica de cinema é um importante termômetro para se conseguir um “selo de qualidade” para os filmes. Através da contribuição desse vetor, as pessoas que trabalham diretamente na produção podem sentir como o trabalho delas está sendo recebido pelo público, em geral.
No entanto, nesta reflexão que ensaiamos produzir, as questão técnicas são importantes, porém, adjacentes. Ou seja, elas fazem parte do resultado e contribuem muito para o que estamos analisando, mas não estão em primeiro plano, no foco da discussão. O mais relevante aqui é o efeito pedagógico que essa produção pode alimentar.
Nesse sentido, o filme conta a história da Família Addams, um núcleo familiar que nos serve de arquétipo da diferença como forma de sociabilidade. Mais do que se aceitarem como diferentes, no filme, os membros da Addams se completam, à medida em que reúnem, como família, a soma da diferença. Nesse sentido, a própria relação com a diferença é uma relação pedagógica.
Ao longo do filme, até certo momento, tudo vai bem na vida da família Addams. A diferença se certa forma, conflui para a harmonia. E continua assim, até que uma especuladora imobiliária, sob o pretexto de que os Addams estão perturbando a paz comunitária, incita o ódio nas pessoas contra a família do casarão. As pessoas, então, embebidas na animosidade, avançam raivosamente para a casa dos Addams.
Nesse ponto, uma reflexão sobre o comportamento das pessoas, possível de ser feita, é que as pessoas não são naturalmente odiosas, mas por uma circunstância ou outra aciona um estopim psicológico e faz com elas se comportem assim. O ódio, por outro lado, nessa perspectiva, pode ser promovido a reboque de um interesse econômico.
Afinal, é perceptível, no filme que o interesse da especuladora imobiliária vai além do simples incômodo em relação aos Addams. O motivo da hostilidade era na verdade, financeiro, partindo da premissa de que a presença do velho casarão, em sua fotografia deteriorada, prejudicava os negócios.
O mais positivo nessa reflexão reporta ao fato de ser possível reverter essa contaminação coletiva pelo ódio. É possível superar a barreira simbólica da diferença e construir novos tipos de configuração nas relações entre as pessoas, em que não se permita a proliferação da hostilidade em relação a diferença.
Um ambiente rico é sempre sinônimo de um ambiente diversificado, onde os diferente formam um imenso e lindo caleidoscópio. A natureza é vista como rica quando é dona de uma grande diversidade. Uma alimentação rica é sempre diversificada em nutrientes.
Assim, nas relações humanas, será tanto mais rica à medida em que se permita diversificar. Desse modo, os hábitos, os costumes, as etnias, não devem servir de justificativa para a marginalização do outro, jamais. Ao contrário disso, as relações com as diferenças são um grande fator de enriquecimento de uma sociedade.
Enfim, pode-se afirmar que o desfecho do filme “Família Addams” é, nesse sentido, inspirador e aponta um caminho para que possamos dar um salto civilizatório, na direção da convivência sustentável entre pessoas e entre as pessoas e a natureza.



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