*Pintura óleo e tela/Cândido Portinari.
Por: Paulo André dos
Santos.
Celso Emilio Ferreiro Míguez
(1912-1979) foi um
escritor galego,
fundador da Federação de Mocedades Galeguistas e do Patronato da
Cultura Galega. Fez parte da geração pós-guerra (primeira guerra
mundial). Fez parte da Geração de 36, movimento literário
galeguista, da qual faziam parte também María Mariño, Álvaro
Cunqueiro, Aquilino Iglesia Alvariño, Ramón Carballo Calero, X.M.
Díaz Castro etc.
Celso Emílio Ferreiro adotava
em suas contruções literárias uma linguagem coloquial,
aproveitando de expressões idiomáticas. Não economizava no uso de
recursos anafóricos e de paralelismos. Ao autor também utilizava
com frequência o recurso da utilização de metáforas. Nesse
processo, o autor buscava, a partir desses elementos, trazer uma
perspectiva intimista e satírica.
Com o início do ciclo de
ditaduras que ocorreram no mundo ocidental, a região da Galícia
também foi afetada pela ditadura espanhola, Celso Emílio Ferreiro
Miguez emigrou-se para Venezuela. em 1966. Em 1973, já de volta a
Galícia, Celso Miguez foi professor de literatura galega, em Madrid.
Nesse sentido, ao refletir
sobre o poema “Monóllogo de uma velho trabalhador”, pode-se
inferir, logo em primeiro plano, uma crítica à relação de
exploração a qual estão submetidos os trabalhadorres. A relação
de trabalho é, para o sujeito que está sendo explorado, como um
“moedor de cana”, que extrai o caldo e descarta o bagaço.
O personagem do trabalhador,
na imagem poética construída por Celso Emílio Ferreira, pode ser
lido como um sujeito expoliado dentro dentro da relação de
trabalho. É como um condenado que acabou de termina o cumprimento de
pena e, já do lado de fora da cadeia e de modo reflexivo chega a
conclusão de que saldou a sua dívida com o Estado.
Por outro lado, o Estado, no
entanto, está em dívida com ele. No caso do trabalhador, é
possível presumir que a situação de exploração foi tão
deletéria, que somente após cinquenta anos foi possível ao
explorado perceber que o patrão está em dívida com ele.
E quando o inverno da vida lhe
chega, o trabalhador percebe que a sua primavera se foi. O tempo
passou e ele está velho, não somente pelo esvaziar da ampola do
tempo, mas por que esse tempo lhe foi, particularmente, severo. O seu
tempo e o tempo do patrão são muito diferentes. O tempo do
trabalhador, devido à intensa expoliação que sofrera, correu a
passos largos na direção da finitude.
Já velho, o trabalhador vai
até a casa do patrão. O resultado, tal como aparece na primeira
estrofe, o trabalhador, aguardando sob a luz do sol, diz “Pero até
agora”. Essa expressão, é possível afirmar, denota que o patrão
deixou o trabalhador esperando por um longo tempo do lado de fora da
residência, sob a luz do sol.
Quando o trabalhador diz
“...traballei
cincoenta anos sin sosego. Comín
o pan suando día a día nun labourar arreo…”, o autor consegue
passar razoavelmente a impressão de que o personagem da enunciação
revela através dessa frase - que poderia ser uma espécie ensaio
solitário para quando encontrar o patrão, não esquecer de falar
sobre o tempo em que esteve vinculado ao serviço e que, portanto,
não mereceria tal falta de consideração.
E nesse processo de divagação,
o trabalhador, refletindo sobre a espera diz, “...Ben pensado, o
patrón todo mo debe. Eu non lle debo nin xiquera iste sol que agora
tomo. Mentras o tomo, espero”. Nessa passagem, o trabalhador revela
que nada deve ao patrão e por isso, não haveria de estar “pagando”
a espera sob o sol. Se teria alguém em dívida, seria o patrão,
concluiu o velho trabalhador, mas ele, pela razão justa de cobrar ao
patrão, esperou. Inocentemente, esperou - como a cana espera pelo
facão.
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Íntegra do Monologo do vello traballador. Disponível em
http://sondepoetas.blogspot.com/2011/06/monologo-do-vello-traballador-celso.html
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