sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

O “Neno" suicida na construção da identidade galega: um comentário verossímil.


*Imagem do filme "O curioso caso de Benjamim Button".


Por: Paulo André dos Santos.
Antes de comentar o “Neno suicida”, de Rafael Dieste, é importante situar o tanto o poema, quanto o seu autor geograficamente e históricamente, bem como sobre as dinâmicas culturais que emergiram desse contexto. Desse modo, sobre o autor, o Rafael Francisco Antonio Olegario Dieste Gonçalves, mais conhecido por Rafael Dieste, nasceu em Rianxo (na Galícia) em 1889. Ingressou na Escola Normal de Compostela aos 15 anos. No entanto, interrompeu os estudos para viajar ao México, ao encontro de um irmão. Quando regressou a Rianxo, iniciou os seus primeiros estudos em literatura, juntamente com Manuel Antônio, entrando em contato com a corrente do Federalismo e Nacionalismo, por meio de Vicente Risco – um intelectual galego, membro da Geração Nós da década de 1920. O Rafael Dieste, no início da década de 1920 prestou serviço militar na Guerra de Marrocos e também chegou a trabalhar como jornalista. Sobre a Geração de 22, em Galícia, da qual fez parte o Rafael Dieste. Como grande irradiador desse momento foi de grande importância a Revista Nós, que pensava uma Galícia mais nacionalista sem no entanto deixar de considerar a dinâmica exterior. Nesse sentido, tinha como um dos pressupostos a afirmação de bases identitárias para a Galícia. Sobre o conto “Neno suicida”, nesse texto, Rafael Dieste fala, em primeira camada discursiva, uma história contada em uma taberna, por um “vagamundo”, sobre um menino que havia nascido velho e ficando mais jovem até a infância. Esse menino velho, desenhado pelo escritor, em uma perspectiva analógica poderia ser comparado com a Galícia que de certa maneira “nasceu” com o “rexurdimento” e foi se jovializando com a incorporação de elementos externos. Nesse processo, comparando com o personagem central do “neno suicida”, a Galícia pode experimentar dos prazeres desse “re-nascimento”. Assim como o menino suicida, ao se confrontar com a possibilidade de ficar dependente novamente, abrindo mão de afirmação identitária, construída ao longo dos anos, o menino suicidou-se, analogamente, a Galícia deveria resistir e defender a sua identidade enquanto povo. Abdicar disso, seria dar a espada ao inimigo para que a mate. Desse modo, a resistência era naquele momento um imperativo. Seria perfeitamente plausível, nesse contexto, as mesmas palavras de Dom Pedro II, às margens do Ipiranga, no Brasil: “Liberdade ou morte!”. Naturalmente, no caso da literatura e da arte, resta-nos, como leitor, a especulação. Não se pode fazer um julgamento determinista para dizer que o autor quis dizer isso ou aquilo, em um conto ou em uma poesia. Por outro lado, pelas circunstâncias históricas que se seguiram, com a ruptura ditatorial de 1923, pode-se inferir que a massa criativa que vinha sendo produzida, sobretudo, através da Revista Nós, significava para determinados estamentos da sociedade, galega e espanhola, uma ameaça. Se não podemos dizer que a interpretação das produções que emergiram nas proximidades de 1922 são uma verdade matemática, pode-se dizer que são bastante verossímeis, verdades quase cristalinas.


REFERÊNCIAS:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Rafael_Dieste
https://www.academia.edu/11327877/Rafael_Dieste_O_neno_sucida_2000_

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