*Imagem do filme "O curioso caso de Benjamim Button".
Por: Paulo André dos Santos.
Antes de comentar o “Neno
suicida”, de Rafael Dieste, é importante situar o tanto o poema,
quanto o seu autor geograficamente e históricamente, bem como sobre
as dinâmicas culturais que emergiram desse contexto. Desse modo,
sobre o autor, o Rafael
Francisco Antonio Olegario Dieste Gonçalves, mais conhecido por
Rafael Dieste, nasceu em Rianxo (na Galícia) em 1889. Ingressou na
Escola Normal de Compostela aos 15 anos. No entanto, interrompeu os
estudos para viajar ao México, ao encontro de um irmão. Quando
regressou a Rianxo, iniciou os seus primeiros estudos em literatura,
juntamente com Manuel Antônio, entrando em contato com a corrente do
Federalismo e Nacionalismo, por meio de Vicente Risco – um
intelectual galego, membro da Geração Nós da década de 1920. O
Rafael Dieste, no início da década de 1920 prestou serviço militar
na Guerra de Marrocos e também chegou a trabalhar como jornalista.
Sobre a Geração de 22, em Galícia, da qual fez parte o Rafael
Dieste. Como grande irradiador desse momento foi de grande
importância a Revista Nós, que pensava uma Galícia mais
nacionalista sem no entanto deixar de considerar a dinâmica
exterior. Nesse sentido, tinha como um dos pressupostos a afirmação
de bases identitárias para a Galícia. Sobre o conto “Neno
suicida”, nesse texto, Rafael Dieste fala, em primeira camada
discursiva, uma história contada em uma taberna, por um “vagamundo”,
sobre um menino que havia nascido velho e ficando mais jovem até a
infância. Esse menino velho, desenhado pelo escritor, em uma
perspectiva analógica poderia ser comparado com a Galícia que de
certa maneira “nasceu” com o “rexurdimento” e foi se
jovializando com a incorporação de elementos externos. Nesse
processo, comparando com o personagem central do “neno suicida”,
a Galícia pode experimentar dos prazeres desse “re-nascimento”.
Assim como o menino suicida, ao se confrontar com a possibilidade de
ficar dependente novamente, abrindo mão de afirmação identitária,
construída ao longo dos anos, o menino suicidou-se, analogamente, a
Galícia deveria resistir e defender a sua identidade enquanto povo.
Abdicar disso, seria dar a espada ao inimigo para que a mate. Desse
modo, a resistência era naquele momento um imperativo. Seria
perfeitamente plausível, nesse contexto, as mesmas palavras de Dom
Pedro II, às margens do Ipiranga, no Brasil: “Liberdade ou
morte!”. Naturalmente, no caso da literatura e da arte, resta-nos,
como leitor, a especulação. Não se pode fazer um julgamento
determinista para dizer que o autor quis dizer isso ou aquilo, em um
conto ou em uma poesia. Por outro lado, pelas circunstâncias
históricas que se seguiram, com a ruptura ditatorial de 1923,
pode-se inferir que a massa criativa que vinha sendo produzida,
sobretudo, através da Revista Nós, significava para determinados
estamentos da sociedade, galega e espanhola, uma ameaça. Se não
podemos dizer que a interpretação das produções que emergiram nas
proximidades de 1922 são uma verdade matemática, pode-se dizer que
são bastante verossímeis, verdades quase cristalinas.
REFERÊNCIAS:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Rafael_Dieste
https://www.academia.edu/11327877/Rafael_Dieste_O_neno_sucida_2000_
Nenhum comentário:
Postar um comentário