POR: PAULO ANDRÉ DOS SANTOS.
Que decepção. De salto alto, desfilando para a platéia, tecia movimentos mágicos com os pés, que deixavam boquiabertos e eufóricos a todos que lhe observavam. Todo o mundo queria fazer as mesmas acrobacias, todos queriam se achar de bola-cheia. Ele caminhava, corria, driblava todos os obstáculos, até que chegava ao momento da glória. Nesse percurso, todos os expectadores gritavam, torciam, jogavam junto, assumiam a co-autoria da obra de arte desenhada. Infelizmente, até os jogadores de futebol são vítimas do peso da responsabilidade e da fama precoce. Conquistou tudo tão cedo. Saiu de uma vida humilde em Porto Alegre para o glamour estrondoso na cidade catalã. Antes disso, estreante na Seleção Brasileira, ofereceu ao mundo um pouco do que estaria por vir. Deu espetáculo, show de bola, esperanças futuras de glória para a seleção canarinho. Alguns, até perguntavam: “Quem é esse menino?”. Chegou à Espanha arrasando os times adversários, inclusive, o principal rival do Barcelona. Foram pelo menos dois anos de sucesso e alegria na torcida. Muitos lances antológicos, muitas jogadas inacreditáveis, a torcida se viciou em mágica. Passado algum tempo, o menino de Porto Alegre, sem carregar no espírito a alegria e o sabor da conquista, foi se tornando normal, a sua mágica foi se esvaindo, que apesar de ser tão precoce, parece que durou milhares de anos, assim como o brilho das estrelas. Perdeu a motivação de jogar no time, já não tinha mais desafios naquele lugar. Decidiu ir para Itália. Foi se tornar um milanês. Entrou para o time do poderoso Berlusconi, o não menos poderoso Milan F.C. Jogou com Kaká, com Pato, pareceu que iria “bombar”, mas, isso não aconteceu. O técnico o lançou na reserva, ficou ali esquecido, desprestigiado, sem cor, sem mágica, sem vida. Para 2010, ano de Copa do Mundo, o mágico anuncia o seu desejo de voltar a brilhar com os amarelos da Seleção. É uma missão difícil para qualquer jogador de potencialidades normais, mas, para um mago da bola, é uma questão de mágica e de platéia. Afinal, o que é isso, companheiro? Para que tanto fatalismo se até os magos tem os seus dias humanos aqui na terra. O Ronaldo-fenômeno já mostrou que é possível dar a volta por cima. Quem sabe mágica e fenômeno se misturem para conquistarem a última gloria com a canarinho, quem sabe tal fenômeno não ajude um mágico a recuperar os seus poderes. O povo brasileiro quer mais do que vitórias, quer ver espetáculo dentro das quatro linhas. Temos melhores jogadores do mundo, por isso, queremos o melhor futebol, também. Respiramos arte e pela arte vivemos. Em 2010, no entanto, independentemente de mágica ou de fenômeno, de espetáculo ou de pragmatismo, nós, brasileiros, de fé e de samba, com toda alegria, iremos propiciar mais um glorioso momento do Brasil nos gramados.
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