POR: PAULO ANDRÉ DOS SANTOS.
Atualmente, nos meios de comunicações, a escola vem sendo alvo de críticas e denúncias sobre a precarização de seu espaço e de sua ação pedagógica. Enquanto isso, os profissionais da escola reivindicam melhores condições de trabalho e mais reconhecimento. São falas conflituosas que emergem da sociedade e do seio da escola, que demonstram a complexidade do problema.
A violência dentro do espaço escolar exerce papéis que se protagonizam e colocam em cena uma escola ambígua, uma vez que, criadora e criatura da sociedade. Uma escola vista sob o ponto de vista das vozes que ecoam na sociedade como seleiro da exclusão cultural, social e econômica, mas, que, dentro dos seus muros, os seus agentes educadores choram o descaso e a vergonha a que estão submetidos.
A escola revela, nesse sentido, uma espécie de vitrine em que se expõe, em que se denuncia o quadro social existente. No entanto, seria injusto culpabilizar tão somente a escola pelo atual cenário que permeia a sociedade, embora, a educação do contexto capitalista brasileiro tenha servido mais às demandas exigidas pelo mercado, do que para a construção efetiva da cidadania.
De acordo com Foucault (2005), a escola se utiliza de procedimentos ritualizados de seleção, vigilância, controle e exclusão. Sobre isso, o autor ainda relata que o exame é um aspecto emblemático que representa e denuncia a reprodução na escola dos mecanismos de seleção e exclusão identificados na sociedade.
Se fosse possível analisar a relação entre escola e mercado como se ambos estivessem na condição de cartolas de um campeonato de luta, poderia-se dizer que a escola exerceria o papel de selecionar os lutadores, e, o Mercado, os vencedores. Como não há espaço para todos no podium, o que resta aos perdedores? A desonra, a constante humilhação através do descaso, a exclusão dos meios de afirmação pela vida produtiva, a invisisibilidade social.
No entanto, quando se fala de escola no contexto de protagonismo na gênese da violência, é prudente ressaltar que ela é apenas a ponta do iceberg, ou simplesmente, a engrenagem mais notável de um sistema. É preciso, antes de tudo, evitar uma condenação prévia e, talvez, atribuir uma responsabilidade que não é exclusiva da escola.
Para compreender essa problemática é necessário um mergulho mais profundo nas estruturas, para ir além do Sistema de Ensino, como por exemplo, chegar a perceber possíveis influências do Sistema Econômico em que está inserido o sistema de ensino.
De acordo com Morin (2005), é preciso situar as palavras em seu contexto para que adquiram sentido. Desse modo, como dito anteriormente, não é possível se enxergar a escola sem compreender que ela está hierarquicamente submetida a um sistema, que por conseguinte, está subordinado a outros sistemas e que, finalmente, atende aos interesses de determinados grupos dominantes e, por vezes, às reivindicações de outras categorias da sociedade, economicamente, enfraquecidas.
A escola se comporta ora se comporta como vítima (do sistema), ora como algoz (de alunos). Professores precarizados pela falta de formação adequada, baixos salários, carência de recursos e materiais para a realização do trabalho pedagógico, tudo isso, demonstra que a escola é alçada frente a sociedade como "testa de ferro" do sistema de ensino, que por sequência, revela-se submisso aos interesses do capital estrangeiro.
Com isso, torna-se um grande desafio a busca do desvelamento das faces ocultas que se escondem por detrás da malha escolar. O problema da violência não é um sintoma exclusivo da estruturante rede escolar, mas, que, também, se vê influenciado por uma estrutura macro, que se sobrepõe a estrutura da escola, além das outras estruturas que, através de seus próprios interesses, busca influenciar diretamente no sistema de ensino.
MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. Trad. de Catarina Eleonora F. da Silva e Jeanne Sawaya. Revisão técnica de Edgar de Assis Carvalho. 10.ed. – São Paulo: Cortez, Brasília, DF: Unesco: 2005.
FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir. Petrópolis, Vozes, 1977.
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