AUTOR: PAULO ANDRÉ DOS SANTOS.
A nossa experiência de vida nunca é igual a anterior, nem mesmo, principalmente, se vivenciada por distintos atores. Concorda-se com Heráclito quando disse que “Ninguém se banha duas vezes no mesmo rio”. Mesmo que, aparentemente, a sensação seja a mesma, as águas já não são mais, pois, a correnteza levou. Em pleno sábado de sol, resolvi prestigiar o que estava ocorrendo em alguns museus da cidade. Uma necessidade de satisfazer o desejo gestado nos últimos dias. Mergulhei com alma nos mares profundos e colhi uma pedra preciosa. Cheguei em terra firme com a clareza de que a oportunidade é um bem precioso. Tudo o que somos, o que nos tornamos, é, em parte, fruto de nossas escolhas, mas, mais do que isso, é a colheita possível ao solo em que a semente fora plantada. Tudo o que acontece é sempre em virtude de uma possibilidade. A vida é uma possibilidade. O crescimento e o sucesso, também. As ações e emoções são o produto das possibilidades humanas. Cada ser humano é único, apesar das semelhanças que caracterizam o caráter humano. Sobre isso, Sofhie Calle, sob expressar muito bem essa multiplicidade dentro da unicidade humana. A partir de uma carta enviada por e-mail ela enxergou inúmeras possibilidades de contemplar a existência diante da leitura do conteúdo da mensagem por outras pessoas. Diante das palavras que simbolicamente transitam no nosso inconsciente, nossas impressões são muito diferentes. Por isso, as nossas ações também. E nossas ações não são um número exato, não são cálculos precisos. A resposta sempre vai depender do nosso estado psicológico e afetivo, no momento. O lugar e a ocasião possuem a sua força de influência. Tem o poder tanto de inspirar ações positivas quanto de influenciar atos na direção da frustração. Sobre o lugar, propiciamente, muito perto dessa lavoura, encontra-se o “Tempo profundo”, de Lica Muniz de Aragão. Depois de termos sido convidados a conhecer o trabalho de Sofhie, em que se demonstra o humano como ser único, a exposição de Lica nos mostra que apesar de sermos, cada um, único no mundo, estamos ligados um ao outro. Mais do que isso, fazemos parte de uma imensa diversidade vivente que se comunica, também, regido pelas possibilidades. Lica nos traz o mar de Salvador como obra viva. Um mar que tem seus momentos de revolta, mas, que, também, conserva uma docilidade e tranqüilidade capazes de inspirar o lirismo dos poetas. Aliás, o inesquecível Dorival Caymmi cantara que até a morte é doce se for no mar. Mas a morte cantada pelo artista não deve ser a morte triste das algas, dos peixes e dos outros habitantes do mar. A morte, nesse sentido, não é a consequência do desastre da consciência humana, em que paga toda a dádiva da natureza com as pedras da intolerância. Apesar de sermos diferentes, como belamente subilinhado no trabalho de Sofhie, somos, em essência, uma só coisa, a vida. Somos as cores que colorem esse mundo com a totalidade de suas combinações. A nossa textura por si só não torna a vida bela, mas a aquarela que formamos quando nos misturamos harmoniosamente a outras, a magnífica diversidade de vida que se expressa e que nos faz acreditar que tudo isso é obra digna de um ser supremo.
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