domingo, 15 de novembro de 2009

O sagrado silêncio.


AUTOR: PAULO ANDRÉ DOS SANTOS.

Há tempos em que, envoltos em determinadas circunstâncias, soa no imaginário coletivo a necessidade imperiosa de se exercer protagonismo, de assumir uma postura enérgica, interventora. Ora por vezes perguntam: “Vai ficar aí parado? Não vai fazer nada?”. O silêncio, nesse sentido, como uma alternativa de resposta, fica, muitas vezes, às margens do rio, longe das correntezas que arrastam os acontecimentos. Na nossa cultura o silêncio é interpretado como a ausência de resposta, como uma omissão. É comum pessoas que vivenciam esse contexto serem censuradas sob a indignada alegação de falta de iniciativa, de habilidade e, especialmente, de coragem para conduzir determinadas situações. Muitas vezes isso é verdade. No entanto, há situações em que o silêncio é uma virtude, uma sabedoria, uma qualidade humana que expressa traços da mais suprema liberdade. Concordo com o escritor Fábio de Melo, quando diz que o que acontece de melhor na vida, geralmente, está marcado pelo que há de mais sublime no momento, o silêncio, o trem silencioso que nos faz captar toda a essência de nossa existência. O silêncio é muito mais do que um vazio de sons, é, na verdade, em muitas vezes, um texto completo, um momento sagrado, onde se revelam novos sentidos para a nossa vida e nos presenteia com novas possibilidades e oportunidades de recompor-nos, de sarar as rachaduras deixadas pelos tombos levados nas andanças pelos caminhos hostis de nossa trajetória. Talvez, a estrutura cartesiana de nossa cultura nos feche esse horizonte. Talvez, esteja a sempre nos impedir de contemplar o que há de caos no silêncio, a dúvida, a incerteza do que está por vir. Estamos tão habituados à verdade, de modo que, não conseguimos tranquilidade enquanto não encontramos uma resposta para nossas indagações, precisamos de uma resposta para tudo. Um silêncio, visto como falta de eco nos acontecimentos, incomoda, causa desconforto e, em muitos casos, indignação.

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