Autor: Paulo André dos Santos.
Tudo é tão efêmero, tão rapidamente transeunte, tão nebuloso, que fica difícil identificar quem foi que passou por nós, pelo caminho. As andanças intermináveis, à medida em que denuncia um caminho sem-fim, em virtude da velocidade que se impõe à viagem, impede-nos uma contemplação menos superficial da paisagem. Já não se tolera o deleite prolongado, pois, antes de um novo dia, o significado das coisas envelhecera. E isso, profundamente, mexe com o horizonte da cultura, uma vez que não resta mais tempo à tradição. Tudo, agora, é moda, é novidade. Tudo agora, é flash. A instabilidade suga os nossos pés, de modo que nos sentimos perdidos, atordoados, em busca de algo concreto para nos instalar. Tudo, agora, parece cada vez mais livre da previsibilidade, cada vez mais fora de lógica, de controle. Apesar de todo o esforço, de todas as especulações, o futuro é cada vez mais gasoso, mais impalpável e menos imaginável. As novas teorias que vão surgindo, ao longo dos anos, ao mesmo tempo em que devoram suas anteriores, as resgatam, as dão nova vida e as fazem novamente caminhar. A história já não se condiciona a seguir em frente, mas, constantemente, vive retornando às origens, ressuscitando personagens mortos e os fazendo cantar a antiga melodia. Estamos à solta, sem rumo, sem destino algum, que seja, confiavelmente, alcançável. E por não usufruir mais da capacidade divina de rasgar as barreiras do tempo, decidimos aproveitar o momento, o tempo, as paixões coloridas, tão intensamente vividas, marcadas por experiências dignas de uma eternidade.
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