terça-feira, 11 de maio de 2010

Um dia de chuva.


Por: Paulo André dos Santos.

A situação das famílias nos morros das favelas em épocas de chuvas é de muita apreensão, de muita dramaticidade. O desconforto dos moradores é grande nesses períodos. Diante das chuvas, a noite é uma “serenata da angústia”, um corre-corre, um desespero, que, no intuito de salvar o pouco que se tem, alguns desses moradores dormem mal, e outros, sequer adormecem. Os alagamentos e os desabamentos são os problemas mais frequentes. Geralmente, provocam perdas materiais significativas, quando o pior não acontece: o desastre extremo que deixa um “vazio” nas famílias, a perda de um ente querido. No noticiário de TV, o comentário dos jornalistas causa comoção entre os telespectadores. Em virtude disso, rapidamente, formam-se correntes de solidariedade. Não faltam ajudas, não faltam voluntários e doações para as vítimas das chuvas. Roupas, alimentos, medicamentos, etc., chegam, aos lotes, nos abrigos improvisados. As estruturas precárias que caracterizam as cidades e bairros periféricos fazem da ameaça representada pelas chuvas um problema ainda maior. A ocupação desordenada e descontrolada do solo dificulta a circulação de pessoas e de veículos, impedindo a prestação de serviços essenciais, principalmente, os que envolvem questões de saneamento básico. As chuvas, nesse contexto, provocam lágrimas e “dores emocionais” depois que vem a estiagem. Chegada a hora de vasculhar os escombros em busca de vítimas, ou, de procurar um objeto de relevância pessoal, o tempo vai-se escorrendo lentamente. Talvez, esses sejam os dias e horas mais longos que as vítimas tem a sensação de suportar. O pior de tudo, é que, mesmo depois de uma catástrofe provocada pelas chuvas, as casas e barracos nos morros continuam habitados, ocupados pelos moradores ou por pessoas em busca de um teto para dormir. As chuvas vem e vão, mas, no alto dos morros, todas noites, surgem pontos de luzes, sinais de vida que evidenciam a permanência e a prevalência do medo, que coloca vidas em perigo, que humilha e denuncia a precariedade da condição humana, resumida, subjugada aos interesses de um sistema econômico liberal em propostas, mas, conservador em atitudes, em mudanças no “status quo” da sociedade, que implique em uma coerência com o seu princípio fundamental, a liberdade.

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