"Um texto é muito mais do que um simples conjunto de palavras, é um organismo vivo, uma ontogênese, que carregam consigo visões, sentimentos e utopias". Autor:Paulo André Seja bem vindo!
quinta-feira, 26 de abril de 2012
As culturas híbridas: diálogos e conflitos desiguais entre culturas a serviço do poder.
Por: Paulo André dos Santos.
Caro leitor, intransigentemente, coloco-me dentro do texto, para registrar,
intencionalmente, que falar de relações culturais, no viés de culturas híbridas, não como
o consagrado cantor, o Rei Global, Roberto Carlos, pois não estou aqui rindo ou, como
ele mesmo o canta: “...vivendo esse momento lindo...”.
Cultura, no sentido político da palavra, é um tema que precisa ser encarado
seriamente. Neste momento, não me lembro o autor, mas uma frase me soa muito
profunda e propícia de ser parafraseada: Os homens governam o mundo e os símbolos
governam o homem...Logo, quem domina os meios de produção simbólica...
Ou seja, cultura, politicamente, é um instrumento de poder. É um meio de
exercer o poder de maneira eficaz. Ao conquistar a hegemonia cultural, assumindo a
vanguarda da produção simbólica, todas as outras formas de dominação ficam mais
fáceis de se concretizar.
Por isso, possível questionar o que seriam as culturas híbridas? Tal terminologia
parece complexar um pouco a abordagem do tema, no entanto, poderíamos dizer que
elas são o resultado dos contatos, diálogos e conflitos culturais. São misturas culturais
resultantes da circulação de produtos culturais advindos de diferentes comunidades.
Com a formalização do processo de Globalização, poucas culturas conseguiram
se manter virgens, intactas, diante dos volumosos intercâmbios culturais. Em virtude
disso, as culturas perderam o status “monopólio” sobre os territórios em que residem,
tiveram que ceder espaços e fazerem concessões.
Ao mesmo tempo, conforme o grau de poder (atente para esse aspecto, caro
leitor), aumentaram consideravelmente o campo de influência. Transitam, agora,
facilmente entre as fronteiras. Em decorrência disso, estão constantemente na zona de
colisão com outras culturas. Os conflitos se tornam mais intensos, germinadores de mudanças no seio das culturas, que passam a funcionar como um organismo dotado de
uma dinâmica mais ágil.
Assim, novos arranjos se articulam e as culturas sofrem um upgrade contínuo
em sua estrutura. Tal atualização não necessariamente implica em melhorias, mas, de
certo modo, na geração de novos significados. Um exemplo disso, no contexto da
história musical brasileira, pode-se citar o Movimento Tropicalista, liderados com
Gilberto Gil e Caetano Veloso.
O Tropicalismo, a grosso modo, foi para a música brasileira uma espécie de
renovação, tanto da expressão artística, quanto das produções e instrumentos utilizados.
Em outras palavras, promoveu-se rupturas abrangentes, misturando popular e erudito,
nacional e estrangeiro, entre tradições, sobretudo, de lugares sociais e geográficos
distintos.
Nessa perspectiva, surge dessas misturas novas substâncias culturais, que
fomentam a construção de identidades individuais e comunitárias diversificadas. A
cultura, deste modo, deixa de ter, em inúmeros lugares, propriamente, não mais um
território, mas territórios e, a depender de sua legitimação pelos meios de produção, a
sua expansão poderá se dar em escala industrial.
Ainda no campo da música, pode-se citar o Funk Carioca, que teve como
principal influência o Hip-Hop americano. Ao observar isso, em diversas manifestações
culturais, pode-se notar que a cultura “made in USA” é muito forte e, inegavelmente,
exerce grande influência no modo de vida de muitos jovens espalhados pelo mundo.
Assim, como no discurso da globalização econômica, a versão desse movimento
sob a perspectiva da cultura, não teve – e não tem – como um de seus objetivos permitir
de maneira equitativa o intercâmbio cultural. Aliás, ao contrário disso. Como tem
acontecido no campo econômico, a idéia é manter o superávit no topo. Exportar sempre
muito mais do que importar.
Da mesma forma que se dá o protecionismo no campo comercial americano,
também – e principalmente – se dá no campo da cultura. Para constatar isso, basta
analisar a presença cultural americana no mundo. E quando se fizer isso, a constatação
será feita: trata-se de um grande império, não somente econômico, não somente militar,
mas, sobretudo, cultural.
O hibridismo cultural, nesse sentido, em âmbito inter-nacional, apesar de se
constituir em um importante combustível para as culturas locais, infelizmente, vem
sendo utilizado como meio de preservar hegemonias, de exercer o poder de dominação.
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