sábado, 14 de março de 2009

O espírito do conhecimento e a responsabilidade social




Por: Paulo André dos Santos.

Na intenção de estabelecer uma correlação entre o conhecimento e a responsabilidade social, no transcurso do texto, são elencados alguns exemplos que explicitam um pouco da relação sociedade-conhecimento. O primeiro deles, o filme “O Clube do Imperador1”, uma produção cinematográfica tinha como cenário predominante um ambiente escolar, mais especificamente, uma escola burguesa, aonde somente tinham acesso os filhos das figuras mais ilustres da sociedade.

A mensagem emblemática do filme, no entanto, não se resume a expor características da educação burguesa, ela perpassa pelas questões eminentemente humanas, onde aparece, marcantemente, de um lado a consciência da responsabilidade social do professor e, do outro, a distorção de valores do caráter humano por um aluno.

Na cena que se reporta ao momento de iniciação dos alunos na escola, o professor faz uma alusão ao valor do conhecimento. Ele expressa que conhecimento deve ser sinônimo de contribuição e de legado para a civilização. Talvez esse, seja um dos melhores trechos do filmes. Na verdade, é mais do que uma provocação, é um chamamento à consciência, à responsabilidade de estar ali, produzindo conhecimento.

O grande valor do conhecimento reside na sua socialização, em escala global, enquanto cultura. No filme, o professor, ao encerrar a provocação, disse aos alunos: “Conhecimento sem contribuição não é nada”. Afinal, qual o sentido de se construir conhecimento para si? O conhecimento, por mais irrelevante que seja, ao ponto de vista de alguns, sempre irá oferecer a outros sujeitos sociais a oportunidade de resignificação e de ampliação de seu sentido.

Outro viés na relação conhecimento-sociedade que pode ser citado como exemplo é o documentário “O povo brasileiro2”, de Darcy Ribeiro, que trata da constituição étnica do povo brasileiro. Nele se aborda da essência dos vários povos, que reunidos nessa grande nação, deram um perfil diversificado ao nosso povo. O trecho do documentário que me permitiu uma reflexão sobre o conhecimento foi o momento em que o Darcy Ribeiro abordou sobre a relação da sociedade indígena com o conhecimento. Nesta cena ele discorre sobre a forma como o conhecimento é socializado nessa cultura.

Ele diz que um índio aprende tudo o que lhe é possível dentro da sua tribo. Não há uma relação de poder, pelo menos explícita, a respeito da posse do conhecimento. O conhecimento é compartilhado entre os membros da tribo, de modo que, um índio não fica refém do conhecimento de outro índio. Não há, na sociedade indígena, a ideologia de monopólio do conhecimento, pois, os índios percebem que a saúde cultural e o futuro das sociedades indígenas dependem da transmissão e da preservação da cultura nativa.

Exemplos como esses servem de inspiração ao pensamento de um novo modelo de sociedade em que se valorize o conhecimento como um patrimônio social destinado ao desenvolvimento e à sustentabilidade da civilização. E, essa condição, para ser atingida, é necessário ter, antes, uma sociedade responsável socialmente, que possua com pedra principal um modelo de cidadania que permita aos sujeitos pensarem de forma sistêmica. É imperativo aprender a pensar como sociedade, como civilização. Continuar recluso ao individualismo significará um fator de constante desequilíbrio na sociedade.

Atualmente, é muito presente na filosofia das empresas o slogan da responsabilidade social. No entanto, como definir de maneira coesa o que é responsabilidade social? Muitas empresas possuem projetos relacionados à preservação ecológica e à prestação de serviços assistenciais à sociedade. Será que isso garante o objetivo de ser responsável socialmente?

De forma alguma é possível comparar o assistencialismo à emancipação cultural. Para que uma empresa se torne responsável socialmente, é um imperativo investir, sobretudo, no campo da educação, patrocinando atividades culturais, esportivas e afins. Afinal, a raiz de todos os problemas da sociedade não reside na educação? Uma sociedade munida de uma educação de qualidade consegue estabelecer melhor a relação causa-consequência de suas ações.

Com isso, o praticar da responsabilidade social deve estar sempre orientado pelo sentimento de cuidar do futuro da sociedade. É claro, algumas iniciativas empreendidas em situações emergenciais são louváveis, como por exemplo, patrocinar a alimentação de uma creche, alimentar pessoas em condição de rua, mas, isso não dá conta da magnitude expressada na essência da responsabilidade social.

A respeito dessa responsabilidade, Carlos Nelson reis3 afirma que ...

Sob esse prisma, as empresas consomem recursos da sociedade, renováveis ou não, mas que são patrimônio gratuito e coletivo da humanidade; logo, contraem “uma dívida social” (Melo Neto e Froes, 1999), sendo seu compromisso restituir à sociedade o que dela é absorvido, por meio de investimentos na área social e no meio ambiente.



É na responsabilidade social que reside na finalidade primeira do conhecimento. Uma empresa socialmente responsável é aquela que pratica cidadania corporativa com os seus empregados e com a sociedade. Para adquirir a responsabilidade social, é preciso pensar no espaço e no tempo, na individualidade e na coletividade, nas partes e no todo, para que, possamos de fato exercitar de forma plena, a cidadania, seja essa prática advinda das empresas ou dos sujeitos sociais.

Assim, ao revelar a essência do termo responsabilidade social, pode-se inferir que ser responsável socialmente é enfatizar a contribuição social na causa dos problemas da sociedade, é ter uma visão de futuro para a sociedade. Trabalhar em cima das consequências, de forma redentora, também tem o seu mérito, mas, nada se compara a uma proposta cuidadosa de contribuição para o futuro da sociedade.

Materiais consultados:
1 O Clube do Imperador(2004). Direção: Michael Hoffman. Elenco: Kevin Kline, Emile Hirsch, Embeth Davidtz, Edward Herrmann, Harris Yulin, Roger Rees. Gênero: DramaDistribuidora: Europa FilmesEstreia: Direto em Vídeo/DVD
2 O povo brasileiro: a matriz tupi. Disponível no sítio: Acessado no dia 14/03/2009.
3 A Responsabilidade Social das empresas: o contexto brasileiro em face da ação consciente ou modernismo do mercado? Disponível no sítio: < http://www.scielo.br> Acessado no dia 14/03/2009.

Nenhum comentário: