domingo, 1 de março de 2009

Sem medo de escuro


Por: Paulo André dos Santos.

Até quando estarei preso às celas da verdade? Até quando contemplarei ao longe um mundo de possibilidades? Até quanto irei contracenar no papel tosco de expectador da minha vida? Até quando estarei preso às algemas que dilaceram a minha alma? Os meus pés pedem as pedras pelo caminho, as minhas mãos desejam tocar o desconhecido. Estou cansado de solo firme, já não suporto mais pisar no chão. Quero mais do que princípios – quero meios e fins diferentes para a mesma história. A verdade em que me sustento, ao mesmo tempo em que ilumina os meus escuros caminhos, priva-me de contemplar a luz da escuridão, arranca-me a oportunidade de navegar por mares, até então, inexplorados, desconhecidos. Eu quero chorar à margem das águas de um rio. Quero ser tomado pela solidão do deserto, sentir o desespero dos perdidos. Quero me encontrar na escuridão da luz aonde me perdi. Quero conhecer a minha substância, não quero mais ser superfície, quero ser abismo, quero ser profundo, mas, também quero a simplicidade e a beleza da noite e das estrelas. Quero ser mais do que números, quero ser mais do que um resultado pragmático, quero autonomia, quero vida. Já estou enfadado de uma existência sem vida, preciso vencer, fracassar, tropeçar em meus próprios erros, quero me aventurar pelas matas virgens do conhecimento. Quero conhecer o desconhecido e desconhecer o que já conheço. Preciso de exílio, preciso anistiar a minha alma em solo selvagem. Quero aprender a dar valor a cada segundo de minha vida, quero amar o ar que respiro. Essa é a sensação que sinto após ter lido o livro “Nas margens do rio Piedra eu sentei e chorei”, de Paulo Coelho. Aliás, essa coisa de se embrenhar por novos caminhos é muito típica do referido autor. Nessa empreitada, ele usa como centro dois personagens que vivem a experiência da entrega, da doação de si, do abandono de velhos conceitos para a adoção de novos. É o exercício de se afastar do Outro, o escravizador dentro de nós, que nos impede de viver mais intensamente as experiências, nos limitando, nos aprisionando aos costumes, à tradição, ao fatalismo, ao pessimismo etc. De acordo com o autor, é desse outro que devemos nos livrar para que possamos sentir o sabor da liberdade. No livro, somos levados a questionar o valor e o sentido de nossa própria existência, o que queremos, por que queremos, ou seja, ele nos sugere a significação do nosso propósito.

Nenhum comentário: