
Por: Paulo André dos Santos.
Após o final de mais um carnaval em Salvador, decidimos sair à noite para prestigiar o filme do contrário. Estrelado por Brad Pitt, badalado ator holliwoodiano, o filme “O curioso caso de Benjamim Button” gira em torno da história de um homem que nasceu velho e vai rejuvenescendo ao longo do tempo. Benjamim, como foi batizado posteriormente, nasceu de um parto complicado em que resultou na morte da mãe. Benjamim acaba sendo rejeitado pelo pai, que o deixa na escada de um apartamento. Acolhido por um casal, Benjamim vai crescendo e rejuvenescendo, enquanto vê de perto as pessoas irem envelhecendo e morrendo. Benjamim era velho por fora, mas tinha espírito de criança. À medida que ia passando o tempo Benjamim ia ficando mais jovem, até que um dia tornou-se um bebê. O filme acabou. É hora de voltar para casa. Chegamos à estação de transbordo do Iguatemi às 23:40h. Ficamos esperando até por volta de 00:00h e, nada de ônibus. Até que passou um buzú da linha Mirantes de Periperi. Já era muito tarde, não era prudente arriscar esperar por outro ônibus. Entendemos que seria menos mal ficar esperando na região da Rótula do Abacaxi. Lá havia maiores possibilidades de ônibus. Que nada. Não passou um filho de Deus para nos levar para casa. Parece que em plena quartafeira de cinzas nada restou após o carnaval, nem os ônibus. Para se ter uma idéia, a maioria dos carros que circulavam pelas vias eram táxis. É, parece até acordo entre rodoviários e taxistas. Os terminais de ônibus estavam lotados e sem nenhum ônibus para levar os cidadãos para suas casas. Muitas pessoas, inclusive, estavam chegando de viagem. Infelizmente, tiveram que sofrer o martírio da espera do bendito ônibus. A solução foi esperar. Algum tempo se passou, até que o relógio sinalizou 00:30h. Foi, para nós, a gota d’agua. Será que o Prefeito achou que todos ali eram funcionários públicos? Será que pensou que ninguém iria trabalhar na quinta-feira? E é sempre assim. Nessas horas dá vontade de culpar o Prefeito mesmo (risos). Aposto que muita gente o xingou de Abraão até à 15ª geração futura. Na verdade, porém, sabemos que existem vários aspectos a serem considerados – se estivermos com a “cuca fria”. Por que, é justamente nesses momentos, que é mais provável um relaxamento na fiscalização dos motoristas. Por outro lado, também, não podemos deixar de considerar o desvio contingencial de viaturas para atender a zona do circuito carnavalesco. É, mas, espere um momento companheiros, Já era meianoite. O carnaval acabou bem mais cedo. Bem, entre resmungas e xingamentos, os populares – incluindo a nós – tiveram que decidir: esperar que apareça um ônibus-corujão, filho de Deus, para levar-nos para casa, ou, assumir o prejuízo. E como dói no bolso, mas, quer saber, é melhor assim. Doeu um pouco, mas chegamos seguros em casa. Poderia ter sido pior. Um colega, que decidiu esperar para ver a “caravana passar”, disse que muitas pessoas que ficaram aguardando o ônibus devem estar até agora xingando a mãe do Prefeito. Em uma situação como essa, a gente sempre arranja um culpado, o típico bode espiatório. No nosso caso, poderíamos ter evitado todo esse transtorno. Ter assistido à sessão em outro horário mais próximo do brilho poente da tarde seria uma boa idéia. Ou ainda, poderíamos ter deixado essa coisa de cinema para outro dia. Afinal, para evitar rusgas entre os pares e para evitar a transferência de culpa, visto que, podemos andar de ônibus, mas, não podemos esperar qualquer garantia de uma acomodação confortável, de cumprimentos de horários, de uma viajem tranquila – os motoristas se comportam como estivessem transportando sacos de batatas - , nem podemos garantir que o ônibus apareça, em determinados horários, pois, depois que inventaram essa coisa de janelar, ficar de molho no ponto de ônibus, hoje, não é nada incomum. Além disso, quem se importa se algumas dezenas de gatos pingados não conseguem voltar para casa? Só eles mesmos. A grande mídia está sedenta pelo fato sensacional. A queda de um prédio, um sequestro, um assassinato brutal, um escândalo de corrupção no governo. Coisas como denunciar a falta de qualidade no serviço de utilidade pública é quase esporádico se veicular na imprensa sensacionalista ou no journal criminal. O mais improvável é a fundação de uma associação de usuários de ônibus, para cobrar mais qualidade nesse serviço. O ECA (Estatuto da Criança e Adolescente) está prestes a completar 20 anos de idade. Ainda assim, é muito comum avistar as crianças fazendo acrobacias nas perigosas sinaleiras da cidade, como também, vendendo balas e chicletes nos ônibus. E um dia me disseram que o trabalho infantil era proibido, você acredita? É bom sempre nos perguntarmos por que determinadas coisas não acontecem. Seria por que vivemos à margem da nossa condição de cidadania? Renato Russo cantou a multidões a música “Que país é este”. Eu modificaria um pouco essa letra, se fosse ele – é claro. Eu colocaria no lugar desse trecho: Que povo somos nós? Sabemos que o brasileiro é conhecido como um povo alegre, hospitaleiro, mais sinestésico do que outros povos. No entanto, isso não basta. É legal ser assim, mas, isso não significa que devamos viver ao “Deus dará da emoção”. A cidadania implica em participação , em fiscalização pública. Se todos os cidadãos se sentissem responsáveis pelo nosso wellfare state, o nosso estado de bem estar social, as ações do governo e das empresas, como, das pessoas, seriam, talvez, muito mais responsáveis. O problema é que isso somente seria possível se abolíssemos de nossa essência toda a mesquinhez que, atualmente, nos caracteriza.
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