terça-feira, 12 de maio de 2009

Decibéis em sala de aula


POR: PAULO ANDRÉ DOS SANTOS.

Salvador, a capital africana no Brasil, internacionalmente conhecida pelas festas populares e pelo patrimônio histórico e cultural, recebeu, recentemente, o título indispensável de capital mundial do barulho (2008), depois que as pesquisas realizadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) revelaram a alta incidência de poluição sonora em seu território.

Esse quadro pode, talvez, sendo influenciado pela “predisposição musical” que a cidade de Salvador abriga em seus bairros, principalmente, nos mais populares, uma grande quantidade de estabelecimentos, comerciais e não comerciais, que, devido à falta de uma fiscalização mais efetiva, promovem uma intensa e incômoda poluição sonora.

Geralmente, essa exacerbação nos níveis de poluição sonora tem como protagonistas os bares, além de casas e carros equipados com aparelhagem de som muito potente. Nesses dois últimos, existe até uma espécie de competição do espaço pela “soberania musical”.

Ao mergulharmos em outro espaço de socialização mais específico, mais precisamente, nos ambientes escolares, no entanto, percebe-se que existe um tipo de poluição sonora diferente, uma expressão viva das interações humanas, aonde muitas ricas experiências acontecem.
A escola, indubitavelmente, é um corpo de tecidos vivos. Nas salas, nos corredores e nas áreas de recreação é possível observar a vontade de expressão dos alunos, a ânsia de se afirmarem como sujeitos “próprios” e, portanto, autônomos.

Eles gritam, eles falam, eles brincam. Eles afirmam uma existência que, muitas vezes, a realidade lhes nega. A escola, nesse sentido, precisa se tornar, também, um canal de expressões, o palco dos talentos, daqueles alunos brilhantes, ocasionalmente, ofuscados pelo silêncio.

Conforme diz Nietzsche, não existe um ser, realmente vivo, que não possua “vontade de potência”, portanto, não existe ser que não esteja inclinado a ser e a poder. Paulo Freire, um dos maiores pensadores da educação, fez alusão a essa “vontade de potência” ao ilustrar o exemplo da jabuticabeira. Nessa metáfora, ele diz que por mais que se tente omitir o sol, da jabuticabeira, ela irá procurá-lo.

Transpondo esse exemplo para a condição humana, pode-se dizer que o sol é o conhecimento e, a jabuticabeira, somos nós. Nós estamos inclinados à saber, à curiosidade, por que, ainda de acordo com Paulo Freire, somos seres inconclusos. E ao nos percebermos inconclusos, nos lançamos em uma constante busca pela conclusão.

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