domingo, 26 de abril de 2009

A Dita-abranda: o melô poético da Folha de São Paulo.



POR: PAULO ANDRÉ DOS SANTOS.

Ao som de um meloso rebolado,
as tropas marchavam para a glória,
à frente de garotos indomáveis,
que gritavam e dançavam depois.

Ninguém mais teve notícia,
daqueles jovens agitados,
que queriam se expressar,
quebrando os vidros do tablado.

Eles eram só moleques, diziam.
Não serviam para nada.
Só faziam algazarra,
ao som da taquara rachada.

Esnobavam a ordem e o nosso progresso,
debochavam da paz estabelecida,
do silêncio que propomos,
para ouvirem a nossa orquestra homicida.

Tudo isso foi pouco,
Aos que nos fizeram fracassar,
Nós tínhamos a dureza de um pai,
Que por amor ao país, sacrifica o seu filho.

Filhos malditos! Eles deviam agradecer, eles deviam pagar.
Nós que cuidamos de tudo, os jogamos ao mar.
Derramamos o sangue da discórdia e bebemos à morte incômoda,
Comemoramos com regozijo nas conversas de bar,
Ouvimos estórias de Epaminondas, Giocondas, Calazar.
Desses aí, nunca ouvimos falar, nunca precisamos silenciar.
Apesar das mortes, apesar dos filhos perdidos, temos muito a realizar.

Alguns dizem ditadura, outros dizem revolução.
Não foi uma coisa nem outra, foi um tiro de canhão.
Foi glória, foi brilho, foi a maior expressão do nosso pavilhão.
Foi uma folha caindo, seca e branda, no chão.
Guiada por ligeira brisa, cheia de tranquilidade.
Nos trouxe a ordem, a disciplina, a civilidade.

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