quinta-feira, 23 de abril de 2009

O escândalo das passagens aéreas: mais um capítulo indecente no cenário político brasileiro.


POR: PAULO ANDRÉ DOS SANTOS*

Para os bufões da farra brasiliense, “Tudo está devidamente nos conformes”. Como cantava Cazuza, em sua música “O tempo não pára” (1988), <<...E assim nos tornamos brasileiros. Te chamam de ladrão, de bicha, maconheiro. Transformam o país inteiro num puteiro. Pois assim se ganha mais dinheiro. A tua piscina tá cheia de ratos, Tuas idéias não correspondem aos fatos, O tempo não pára. Eu vejo o futuro repetir o passado...>> Mais de vinte anos depois, o “puteiro” já se faz vigoroso diante da concorrência, que não é mole. Enquanto o povo sofre as chagas do desemprego e da violência, lá, na Sodoma brasiliense, alguns (mas) engravatados (as), sem a mínima condição moral para estarem exercendo a representação do povo, promovem uma verdadeira farra com o dinheiro público. Triste a condição histórica do povo brasileiro, nesse sentido. Um dia, um garoto, muito expectador de um diálogo sobre política, me perguntou por que todo político é corrupto. Fiquei um pouco surpreso com a indagação desse menino de 10 anos, era novo e já carregava traços de fatalismo. Naquele momento, recusei prontamente essa idéia – e ainda recuso. Disse para o garoto que apesar de serem muitos os casos de fraudes envolvendo os políticos do país, existem pessoas honradas por lá – pode acreditar. Sei que é preciso uma lupa para enxergá-los, mas existem. E continuei ainda, dizendo que, em grande parte, a dinâmica do “deita e rola” dos políticos é também culpa da sociedade brasileira, que tarda a reagir. Nos últimos dias, depois de uma manobra politicalha para desmoralizar a operação Satiagraha, até então, comandada pelo delegado da Polícia Federal Protógenes Queiroz, que desmontou um esquema de corrupção envolvendo o banqueiro Daniel Dantas e políticos de vários partidos, o foco central das tribunas passaram a veicular o mais novo filho do culto à indecência, a farra promovida na Câmara dos Deputados, em Brasília. O imoral uso do dinheiro público, desta vez, foi a utilização (des)criteriosa e anti-ética, da cota parlamentar de passagens aéreas. Tenho clareza de que essa notícia – que se agrega a outras no dia-a-dia do reduto político brasileiro – são como um tapa na cara do cidadão trabalhador e contribuinte do Brasil. Infelizmente, grande parcela da população, muito por causa da pobre formação política, já está “zonza” com esses fatos e, por isso, torna-se impregnados de fatalismo. São contextos como esse que me fazem lembrar da música do cantor Gabriel, o pensador, “Até quando?” (2001), << Até quando você vai levando? (Porrada! Porrada!); Até quando vai ficar sem fazer nada? Até quando você vai levando? (Porrada! Porrada!); Até quando vai ser saco de pancada? Você tenta ser feliz, não vê que é deprimente, seu filho sem escola, seu velho tá sem dente. Cê tenta ser contente e não vê que é revoltante, você tá sem emprego e a sua filha tá gestante. Você se faz de surdo, não vê que é absurdo, você que é inocente foi preso em flagrante! É tudo flagrante! É tudo flagrante!... Até quando você vai ficar usando rédea? Rindo da própria tragédia? Até quando você vai ficar usando rédea? (Pobre, rico, ou classe média). Até quando você vai levar cascudo mudo? Muda, muda essa postura Até quando você vai ficando mudo? Muda que o medo é um modo de fazer censura>>.
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* Graduando em Pedagogia, na Faculdade Social (2006 - ), lê e escreve sobre diversos assuntos. Alguns desses textos estão disponíveis no sítio< http://pauloandrdossantos.blogspot.com/>

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