sábado, 17 de outubro de 2009

A agonia da escrita



AUTOR: PAULO ANDRÉ DOS SANTOS.
Nos momentos decisivos, nas horas em que realmente precisamos, ao nos encontrarmos diante de uma situação em que temos o poder de confirmar o êxito, não é muito raro sentirmos o amargo gosto da frustração. Quando isso acontece, somos muitas vezes, possuídos pela apatia e pelo sentimento de culpa de não ter conseguido aproveitar a chance. Essas experiências são, em determinadas ocasiões, agonizantes, pois, percebe-se que o momento precioso vai lhe escapando às mãos. Um exemplo que reflete muito isso é quando estamos a escrever um bom texto. Lamentamos lamuriosamente quando as boas idéias nos fogem. O texto se perde em nosso abismo interior e a caneta perde, indignada, a oportunidade de deslizar mansamente pelo papel. Diante disso, suamos muito, sofremos demasiadamente como se a perda fosse definitiva. Mesmo assim, de acordo com a necessidade, persistimos. Concentramos as energias para recuperar o texto perdido. Mergulhamos destemidamente nos mares da consciência, a fim de trazer de volta a caixa de relíquias, naufragada nas profundezas. E quanto mais a procuramos, sentimos no corpo as nossas limitações. Uma vez ou outra perdemos o fôlego. O insucesso nos faz retornar à angústia do desamparo e à superfície, de mãos vazias. Há, nesse instante, uma sensação infante de certa debilidade e desespero, um medo e uma fragilidade que nos colocam como crianças perdidas em meio à multidão. No entanto, ao viver a plenitude desse desespero, ao provar da angústia de “não saber”, passamos pela linha de chegada e novos significados se perfazem em nossa mente. Já não somos os mesmos! A depender da nossa força de espírito, saímos mais fortes e a nossa voz interna, antes sufocada nos mares profundos, começa a retornar a superfície, mais confiante de si mesma. Voltamos a sentir mais o sabor da escrita. Voltamos a degustar deliciosamente cada palavra. O texto, então, surge novamente. Agora, mais vivo e colorido. Mais nítido e belo. Ornamentado com as mais belas flores colhidas nos bosques das florestas, nos mares de dúvidas pelos quais navegamos, naufragamos e ressurgimos.

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