segunda-feira, 6 de abril de 2015

Discurso de formatura

Por: Paulo André dos Santos.
Boa noite, senhoras e senhores.Boa noite. Bem, senhoras e senhores, eu tenho algumas palavras para vos dizer. Palavras, que há muito tempo queriam pular da minha boca, mas, que, por um capricho do acaso não encontraram a devida oportunidade. Bem, senhoras e senhores, tenho visto, assim como vós, dia após dia, os desafios que o mundo nos apresenta. Nestes dias, prezados, o mundo tem gritado numa só voz, em busca de quebrar o malévolo espírito de nosso tempo. Acredito, senhoras e senhores, como vocês também tendem à acreditar, que cada época, tem os seus desafios e conquistas. Cada época requisita, pelas circunstâncias históricas, um senso próprio de moralidade. Vivemos épocas em que, por exemplo, o apedrejamento de mulheres, somente por que cometeram um ato “moralmente condenável”, era algo legítimo. Senhoras e senhores, como nós mesmos podemos testemunhar, ainda hoje, mulheres são apedrejadas. Ainda hoje, a violência é silenciada entre quatro paredes. Quem nunca ouviu que “em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher”? Às vezes, vejo reportagens e documentários anunciando uma era de muito progresso. Dizem que vivemos uma revolução tecnológica, que a tecnologia aproximou as pessoas. Revolução? Progresso? Onde está progresso? Onde está a revolução? Pois que lhes afirmo, senhoras e senhores: eu não os vejo. Não que eu esteja cego, mas, ao contrário, nunca vivi momento tão lúcido em minha vida. Lúcido o suficiente para admitir o quanto é difícil deixar de entrar na ciranda. É muito difícil suportar o peso de um sistema tão sofisticado. Tão bem elaborado, que é capaz de atribuir um valor estético à tragédia, sem grandes resistências. Esta sociedade que nos espera, senhoras e senhores, deixou de ser, há algum tempo, um consenso coletivo. É hoje, muito mais, um grande feudo particular. Desculpem-me, senhoras e senhores, por não trazer aqui, as palavras de otimismo que, creio, vocês esperavam. Vivemos - como todos vocês sabem, uma TIRANIA DO TER SOBRE O SER. Isso é uma catástrofe, senhoras e senhores. Nesse jogo de vencedores e vencidos, a humanidade tem muito a perder. Portanto, nós temos muito a perder, se nada mudar nesse curso da história. Por outro lado, nada pode mudar senão por dentro. E é por dentro, ou seja, a partir das posturas individuais e microscópicas, que é possível ainda sonhar com a primavera. E digo microscópicas, não por um capricho semântico, mas, que sejamos como um vírus ou uma bactéria dentro de um organismo, multipliquemo-nos, no melhor que poderíamos ser. Esse, deve ser o nosso próposito. Tudo o que temos na vida é o que vivemos. O que temos de mais precioso é o amor que amamos ou a nostalgia de um amor perdido. O que temos não é o dinheiro, não são os objetos, nem mesmo as pessoas, mas, o que temos é o que deixamos para elas. O que temos, certamente, tem haver com o artista que fomos. Tem haver com a obra que esculpimos, com as lições e lembranças que deixamos para os que aqui ficarão. Diante disso, senhores e senhoras, cabe a cada um de nós, todos os dias, perguntamo-nos: o que estamos deixando para as pessoas com quem convivemos e amamos? Se formos felizes em responder essa pergunta, teremos superado o paradigma contemporâneo que privilegia, como critério das relações humanas, o TER SOBRE O SER. Afinal, não é muito convincente a ideia de que é mais fácil ser feliz privilegiando o ter sobre o ser. O SER é fundamental. É maravilhoso! O ser é viver. Não existe vida fora do ser. Então, como o TER poderia valer mais? O SER é a personificação da humanidade e da ética, enquanto que o TER representa a tirania e a barbárie, das quais somos vilões e vítimas, todos os dias. Portanto, senhoras e senhores, SER, indispensavelmente, é uma questão de escolha. Estamos, neste momento, a um passo, que pode ser em direção ao abismo ou voltado para a construção de uma nova possibilidade emancipadora. Desejo a nós todos, nessa caminhada, não uma estadia tranquila, pois não se pode dormir enquanto o outro, ao relento, vagueia. Desejo sim, muita força e espírito para enfrentar as pedras que estão a aparecer no caminho.
Um abraço a todos, sinceramente, Paulo Andre dos Santos.

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