domingo, 27 de setembro de 2009

Do valor intrínseco da vida.



POR: PAULO ANDRÉ DOS SANTOS.

Em uma tarde ensolarada de sábado, no final do mês de setembro, depois de muitas reivindicações, resolvi sair com o meu pequeno filho. Nos últimos quatro anos, eu, réu confesso, tenho dedicado pouco tempo ao meu tesouro – a vida, às vezes, cobra-nos um preço muito alto. No entanto, posso dizer que sempre alimento o meu espírito redentor, pois, quando estou com meu filho, faço um esforço muito grande para que esses poucos momentos se tornem o mais significativo possível na vida dele. Hoje, tenho uma meta a cumprir: no ano que vem (2010), vou participar mais de sua educação. Provavelmente, iremos jogar bola juntos, empinar pipa, jogar gude, visitar museus, bibliotecas, tudo que possa ajudá-lo na caminhada da vida. No dia de hoje, em especial, fomos à pizzaria e, logo após, à livraria e ao cinema. Ficamos de decidir entre dois filmes e, como acontece com outras crianças, ele decidiu o que lhe representava mais aventura. Escolheu o filme Força G (2009), que apesar contar a saga de um grupo de porquinhos-da-índia em serviço clandestino ao FBI, pode-se compreender, também, como uma mensagem, uma espécie de chamado ao valor intrínseco da vida em busca de realizar a sua missão aqui na terra. Ao fazer emergir o herói, o protagonista que há em cada um de nós, a força que nos impulsiona em direção a um propósito, o filme nos possibilita entender o quanto cada um de nós é especial, único, de valor imensurável, independente das circunstâncias. Ao sair do cinema, tentei sondar o que o meu filho havia compreendido do filme, qual a mensagem que ele havia abstraído. Como é natural, ele se mostrou muito empolgado com as ações, com os êxitos, mas, um pouco mais adiante, percebo que será possível incluir, em nossas conversas, uma abordagem sobre essa força que locomove a vida no sentido de cumprir o seu caminho. A vida, em especial, a vida em sociedade, a vida consigo e na relação com os outros, com a família, com os demais seres vivos. Sinto a necessidade de sugerir e de participar de uma reflexão sobre o nosso agir como humanos, sobre a atual a solidão humana que nos consome, apesar de toda a facilidade de se comunicar nos dias atuais – estamos ligados entre si umbilicalmente a cada pessoa desse planeta. Eu acredito, firmemente, que ainda há esperança, que ainda é possível viver uma vida sem que com isso, necessariamente, tenham que se extinguir indiscriminadamente outras expressões de vida aqui na terra. Vivemos atualmente o drama das florestas e de suas faunas e floras. Vivemos a destruição de vários rios, em virtude do apocalipse urbano-industrial. Vivemos a ação predatória entre os próprios humanos, com a intolerância, a exclusão social e a violência, que assumem proporções que poderão mudar o curso de nosso processo de civilizatório. Sabe-se, nos dias atuais, que um quarto da população mundial vive na linha da extrema pobreza. Isso significa dizer que aproximadamente um bilhão e meio de pessoas estão subjugadas a condições de vida degradantes e, portanto, desumanizadoras. E é pensando nisso, sem querer podar os sonhos e, ao mesmo tempo, sem querer me passar, no futuro, como um mentiroso, sinto-me preso diante da dimensão utopia-realidade. Quero que o meu filho saiba que, no mundo, as coisas não são “só flores”, que também existem os espinhos, mas, ao mesmo tempo, não quero fazê-lo esmorecer em seu ânimo, em sua esperança, em sua vida num sentido de movimento e de expressão. Às vezes, penso e me pergunto: como ajudar as pessoas a criar uma consciência de realidade sem que essa lhes privem de olhar para o horizonte, sem que lhes impeçam de alimentar, no âmago de suas almas, uma utopia e, desastrosamente, lhes neguem a humanidade necessária para poderem contemplar a vida.

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