terça-feira, 22 de setembro de 2009

A estatística cotidiana.


Por: Paulo André dos Santos.


A Estatística, mesmo na opinião de um estatístico, não revela em si um status de Ciência. Na verdade, os cálculos estatísticos se constituem em uma extraordinária ferramenta que possibilita a quem pesquisa sobre um determinado objeto, quantificável ou qualificável, realizar diagnósticos de tendências e estabelecer de forma mais consciente – mas, não absoluta -, um planejamento, uma projeção, ou ainda, em formular uma hipótese geradora de outras pesquisas. Não é necessário ir muito longe para constatar o quanto a Estatística se faz presente na vida cotidiana. Nesse sentido, a fim de ilustrar essa idéia, parafraseando Paulo Freire, podemos dizer que nós, ao acordarmos todas as manhãs, iniciando a nossa rotina diária – contabilizando o tempo entre o café da manhã e a chegada ao trabalho – demonstramos, sem perceber, o quanto fazemos uso da Matemática, como seres sociais matematicizados que somos. Da mesma forma, em certa proporção, isso também acontece com o uso da Estatística nas práticas cotidianas. Embora muitas das pessoas sequer tenham tido contato com os conhecimentos sobre a Estatística durante o processo escolar, elas, em determinados eventos, calculam, de certa forma, intuitivamente, as possibilidades de resultados de sucesso, de fracasso, de perigo, de ingresso em um determinado emprego etc. Assim como ocorre em relação à Matemática, propriamente dita, as pessoas sempre conservam no imaginário a idéia de que a Estatística é um instrumento para deuses, o que não é verdade. A Estatística tem como pressuposto em si, definir possibilidades. Assim, se esse instrumento fosse muito mais social, no sentido de compartilhamento com outras pessoas, do que é atualmente, talvez, muitos dos problemas do dia-a-dia desapareceriam ou seriam em muito atenuados. O mundo, hoje, gira, de certo modo, em torno de números estatísticos. Um exemplo bem rotineiro, sobre isso, acontece quando uma pessoa precisa – com certa urgência – de comprar um gênero alimentício no bairro de residência. A tendência, nos termos do bom senso, é de que a pessoa irá procurá-lo, primeiramente, no local mais próximo (uma possibilidade de economia de tempo). No entanto, se os possíveis estabelecimentos estiverem em distâncias equiparadas, a pessoa irá estabelecer, em muitos casos, inconscientemente, um certa hierarquia de possibilidades. Bem, ou ela irá procurar o estabelecimento comercial mais diversificado em termos de produtos, ou ela vai priorizar aquele que, de certa forma, já lhe serve como uma referência, devido a compras anteriores (uma possibilidade de acerto na escolha do estabelecimento). De certa maneira, faz-se, nesse contexto, uma filtragem de possibilidades. O que quer dizer, que, inegavelmente, a Estatística, como um consenso que é, está sendo empregada. Portanto, se fosse possível mensurar os usos da Estatística, de cada pessoa, durante o dia, incrivelmente, chegar-se-ia a constatar que a Estatística antes de ser um campo de estudos formalizado e ignorado pelas pessoas como tal, ela é uma cultura diluída nas sociedades e, pelo menos em parte, se faz pelo senso comum.

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