POR: PAULO ANDRÉ DOS SANTOS*
Nasce o sol na pátria amada, o dia se anuncia, é a sua hora, idolatrada mãe gentil, é agora, é já. Mais uma vez estás completando anos de sua independência. E como o canto de um rouxinol, tu nos revela, a exemplo de décadas atrás, um futuro glorioso, abundante. Esse futuro, contudo, parece estar muito distante de nós, mãe. Talvez, quase fora de nosso alcance. Nossos jovens de antes, hoje, estão envelhecendo, já não conservam o vigor e esperança. Sentem-se como aquele povo que caminhou por quarenta anos pelo deserto, em busca da terra prometida. Seus corpos já não querem mais caminhar e as suas mentes, frustradas, não conseguem sair da inércia. Assim como Moisés foi para Israel, nós, querida mãe, estamos sendo para ti. Fomos incumbidos de acreditar, de mobilizar, de liderar, mas, para nosso infortúnio, não fomos escolhidos por ti, para saborear o manjar que brota de teu ventre. Hoje, dia sete de setembro, tu destilas aos olhos de todos os seus filhos a manifestação robusta de tua força e de teu poder. As tropas - e as trupes - passam em reverência a ti e, enquanto isso, um batalhão de sobreviventes devora tudo o que é alumínio e plástico espalhados, displicentemente, pelo chão. São homens, mulheres, meninos e meninas, são os defensores de si mesmos, que gritam silenciosa e bravamente entre as multidões. No entanto, tu não os escuta, mãe. Por que se mostras incapaz de atender aos pedidos de socorro? Tu, insistentemente, alimenta-nos à fome e à miséria, por quê? Por que sendo tão vigorosa nos faz, proporcionalmente, tão fracos? Ò pátria, as nossas lágrimas já secaram. Deixa-nos, agora, sermos como ti. Alimenta-nos com as tuas raízes mais fortes e os teus frutos mais suculentos. Edifica-nos grandemente, para que possamos habitar em ti e por ti. Dá-nos a vez à verdade e à lógica, faça-nos como devemos ser: à tua imagem e semelhança. Tudo isso, para que não sejamos mais as promessas eternas de futuro, e sim, os grandes orgulhos do presente.
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