sábado, 26 de dezembro de 2009

A princesa, a rosa e os espinhos.



Autor: Paulo André dos Santos.

Em busca da felicidade, todos nós nos lançamos diante da vida. Queremos ser felizes. Não percebemos, porém, que a felicidade está dentro de nós. Uma condição suprema, que não se resume ao perene, ao esporádico, mas que se faz prolongada, duradoura. A felicidade implica uma certa serenidade diante da vida e, d’algum modo, uma vida que repouse diante da serenidade. Andar por aí distraído, disperso na própria existência, pode até propiciar uma vida alegre, cheia de alegrias, recheada com momentos de euforia. No entanto, nada disso é comparável ao caráter sublime da felicidade. E, na tentativa de desembrulhar o significado da alegria, sem necessariamente recorrer ao dicionário, é possível afirmar que a ela reflete o efeito que alguns momentos causam em nossa pessoa, contaminando-nos com o room da euforia, que nos traz uma prazerosa satisfação, mas, que, em instantes, desfaz-se como um suntuoso castelo de areia, distraidamente, construído nas proximidades da boca de praia, deixando para trás, apenas, nostálgicas lembranças. A felicidade, nessa perspectiva, geralmente, conforme a serenidade diante da vida, espelha uma condição interior mais estável, como um castelo construído sob terra firme, com vista para o horizonte da pacífica tranquilidade. Assim, alguns podem até encontrar beleza nos momentos de tristeza, mas, jamais na infelicidade, uma vez que esta se constitui em uma tormenta em plena vida. Metaforicamente, a princesa é o símbolo da graça feminina e humana, da alegria contagiante, da euforia que quebra a monotonia. O alcance da felicidade, ilustrativamente, é o resultado da mistura entre rosas e espinhos, entre sucessos e fracassos, entre alegrias e tristezas. É saber viver os sabores e dissabores da vida. É, talvez, o fruto, o denominador comum, obtido a partir das diferentes experiências vividas, apreciadas e sofridas, durante a vida e que, a depender dos olhos de cada um, pode revelar uma obra semi-acabada, de beleza singular, que nos recompensa pelo trabalho feito, pela forma como nos amamos e amamos aos outros e ao mundo, pela maneira com que escolhemos viver a vida. Desse modo, viver apreciando somente o aroma e a beleza das rosas é muito prazeroso, mas, enganoso, também. Quando esquecemos dos espinhos, quando lhes negamos existência, certamente, estamos mais fadados a sofrer ferimentos, desilusões, derrotas. Os espinhos também tem a sua beleza e representam o equilíbrio diante da vida. E são surpreendentemente interessantes, pois, pedem, muitas vezes, a contrapartida, o preço a ser pago por quem se permite viver as delícias da vida. E quem assume esse papel sabe que por detrás do mar de rosas que ilumina os nossos olhos, vem os espinhos, que perfuram a nossa alma, mas, que, não nos privam de continuar a perceber a beleza e o aroma das flores.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

A Paz dentro de nós.



Autor: Paulo André dos Santos.

Mais um ano se consuma em nossas vidas. Com isso, somos levados a pensar sobre essa curta passagem. As novas amizades, os projetos, os sonhos que alimentamos, para nós ou para outros, tudo, absolutamente, precisa e sempre merece uma reflexão. Quando nos permitimos fechar para balanço, damo-nos a chance de evoluir, de melhorar enquanto ser humano, de assentar a poeira de nossa existência em um reservado momento. Surge a oportunidade de analisar e de perceber como, até então, temos contribuído com o nosso sonho original, o nosso projeto de vida.

Os nossos medos, gritos, silêncios, angústias, enfim, a cadeia de sentimentos que nos cercam, cotidianamente, são elementos importantes e que solicitam influência em nossas vidas. O resultado disso, é sempre o resultado de nossas escolhas de perspectiva, a nossa forma de ver e de interpretar o mundo, orientado pela cultura. O medo, por exemplo, não é o que nos prejudica, não é o que nos imobiliza diante de um sonho, de um projeto. Na verdade, é a maneira como iremos administrar esse medo é que será fator determinante para a nossa caminhada.

De certa maneira, é preciso evocar a paz dentro de nós para que tenhamos a serenidade e a resiliência necessária para persistir diante das adversidades. A paz é um estado de elevada sabedoria, resultado de experiências geradoras de um equilíbrio interior, um tesouro encontrado nas profundezas do ser humano.

Durante o ano, vivenciamos muitas situações angustiantes, aterradoras. Perdemos, às vezes, o equilíbrio e, infelizmente, ferimos a autoestima de pessoas e, a nossa, ocasionalmente. Na maioria das vezes, estrelamos a redenção, na tentativa de recuperar o que havia sido quebrado. E nos sentimos tão bem com isso, que sentimos a paz brotar em nosso espírito. Daí, podemos dormir tranquilos.

E quando temos, iluminadamente, a oportunidade de perceber o valor dessa paz interior, damo-nos conta de que vale a pena cultivar o bem nesse terreno tão agredido, que se faz dentro de nós a partir das constantes frustrações que a realidade nos impõe. A paz é uma semente divina, dá em qualquer lugar. Tudo depende das escolhas que fazemos, de acordo com a nossa visão de mundo.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

A Academia.



Um namoro de 4 anos nem sempre faz casamento, no entanto, não se pode negar de que muito em termos de convivência acontece. E por acontecer, dificilmente, deixa de causar impressões e sentimentos. Dificilmente, deixam de produzir lembranças. Nesses anos, em que se criam laços, muitas vezes, próximos, com pessoas, até então, desconhecidas, enfrentamos queixumes e rusgas. Ouvimos e pedimos desculpas, rendemos homenagens, fazemos confraternizações, brincadeiras, uns com os outros. Ao final, as despedidas, os até logo, adeus, mas, sempre residirá a esperança de um reencontro. Sempre ficará um gostinho de quero mais. E nesse momento, percebe-se que valeu a pena e que a saudade vai nos acompanhar, em alguns casos, pelo resto da vida. Uma caminhada, que de início, parecia-nos demasiadamente longa, vai sendo percorrida sem, muitas vezes, que tenhamos sentido o passar do tempo. Quando nos damos conta, estamos sentados à beira de um rio, recordando as peripécias de uma viagem que acabou. Agora resta esta visão maravilhosa do passado, que embora dolorido, sofrido, agonizante, mas, que, jamais poderíamos negar que realmente foi bom.

Amo todos vocês!

Do amigo de todos, em todas as horas,...

PAULO ANDRÉ DOS SANTOS.

sábado, 28 de novembro de 2009

Sem destino algum.


Autor: Paulo André dos Santos.

Tudo é tão efêmero, tão rapidamente transeunte, tão nebuloso, que fica difícil identificar quem foi que passou por nós, pelo caminho. As andanças intermináveis, à medida em que denuncia um caminho sem-fim, em virtude da velocidade que se impõe à viagem, impede-nos uma contemplação menos superficial da paisagem. Já não se tolera o deleite prolongado, pois, antes de um novo dia, o significado das coisas envelhecera. E isso, profundamente, mexe com o horizonte da cultura, uma vez que não resta mais tempo à tradição. Tudo, agora, é moda, é novidade. Tudo agora, é flash. A instabilidade suga os nossos pés, de modo que nos sentimos perdidos, atordoados, em busca de algo concreto para nos instalar. Tudo, agora, parece cada vez mais livre da previsibilidade, cada vez mais fora de lógica, de controle. Apesar de todo o esforço, de todas as especulações, o futuro é cada vez mais gasoso, mais impalpável e menos imaginável. As novas teorias que vão surgindo, ao longo dos anos, ao mesmo tempo em que devoram suas anteriores, as resgatam, as dão nova vida e as fazem novamente caminhar. A história já não se condiciona a seguir em frente, mas, constantemente, vive retornando às origens, ressuscitando personagens mortos e os fazendo cantar a antiga melodia. Estamos à solta, sem rumo, sem destino algum, que seja, confiavelmente, alcançável. E por não usufruir mais da capacidade divina de rasgar as barreiras do tempo, decidimos aproveitar o momento, o tempo, as paixões coloridas, tão intensamente vividas, marcadas por experiências dignas de uma eternidade.

domingo, 22 de novembro de 2009

Aquarela da vida.



AUTOR: PAULO ANDRÉ DOS SANTOS.

A nossa experiência de vida nunca é igual a anterior, nem mesmo, principalmente, se vivenciada por distintos atores. Concorda-se com Heráclito quando disse que “Ninguém se banha duas vezes no mesmo rio”. Mesmo que, aparentemente, a sensação seja a mesma, as águas já não são mais, pois, a correnteza levou. Em pleno sábado de sol, resolvi prestigiar o que estava ocorrendo em alguns museus da cidade. Uma necessidade de satisfazer o desejo gestado nos últimos dias. Mergulhei com alma nos mares profundos e colhi uma pedra preciosa. Cheguei em terra firme com a clareza de que a oportunidade é um bem precioso. Tudo o que somos, o que nos tornamos, é, em parte, fruto de nossas escolhas, mas, mais do que isso, é a colheita possível ao solo em que a semente fora plantada. Tudo o que acontece é sempre em virtude de uma possibilidade. A vida é uma possibilidade. O crescimento e o sucesso, também. As ações e emoções são o produto das possibilidades humanas. Cada ser humano é único, apesar das semelhanças que caracterizam o caráter humano. Sobre isso, Sofhie Calle, sob expressar muito bem essa multiplicidade dentro da unicidade humana. A partir de uma carta enviada por e-mail ela enxergou inúmeras possibilidades de contemplar a existência diante da leitura do conteúdo da mensagem por outras pessoas. Diante das palavras que simbolicamente transitam no nosso inconsciente, nossas impressões são muito diferentes. Por isso, as nossas ações também. E nossas ações não são um número exato, não são cálculos precisos. A resposta sempre vai depender do nosso estado psicológico e afetivo, no momento. O lugar e a ocasião possuem a sua força de influência. Tem o poder tanto de inspirar ações positivas quanto de influenciar atos na direção da frustração. Sobre o lugar, propiciamente, muito perto dessa lavoura, encontra-se o “Tempo profundo”, de Lica Muniz de Aragão. Depois de termos sido convidados a conhecer o trabalho de Sofhie, em que se demonstra o humano como ser único, a exposição de Lica nos mostra que apesar de sermos, cada um, único no mundo, estamos ligados um ao outro. Mais do que isso, fazemos parte de uma imensa diversidade vivente que se comunica, também, regido pelas possibilidades. Lica nos traz o mar de Salvador como obra viva. Um mar que tem seus momentos de revolta, mas, que, também, conserva uma docilidade e tranqüilidade capazes de inspirar o lirismo dos poetas. Aliás, o inesquecível Dorival Caymmi cantara que até a morte é doce se for no mar. Mas a morte cantada pelo artista não deve ser a morte triste das algas, dos peixes e dos outros habitantes do mar. A morte, nesse sentido, não é a consequência do desastre da consciência humana, em que paga toda a dádiva da natureza com as pedras da intolerância. Apesar de sermos diferentes, como belamente subilinhado no trabalho de Sofhie, somos, em essência, uma só coisa, a vida. Somos as cores que colorem esse mundo com a totalidade de suas combinações. A nossa textura por si só não torna a vida bela, mas a aquarela que formamos quando nos misturamos harmoniosamente a outras, a magnífica diversidade de vida que se expressa e que nos faz acreditar que tudo isso é obra digna de um ser supremo.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

A escola na escola.



~
A Cidade começa na escola.
As pessoas e fábricas também.
O professor, o arquiteto, o advogado,
Todos eles começam na escola.
O jornalista, o policial, o traficante e o juiz,
Todos eles começam na escola.
A riqueza, a pobreza, a miséria,
Todos, começam na escola.
É hora da merenda, a bola rola.
Pra fora! Bola na escola.
Risos, choros, travessuras e travessias,
Tudo acontece na escola.
Tudo, acontece na escola.
~
Autor: Paulo André dos Santos.

domingo, 15 de novembro de 2009

O sagrado silêncio.


AUTOR: PAULO ANDRÉ DOS SANTOS.

Há tempos em que, envoltos em determinadas circunstâncias, soa no imaginário coletivo a necessidade imperiosa de se exercer protagonismo, de assumir uma postura enérgica, interventora. Ora por vezes perguntam: “Vai ficar aí parado? Não vai fazer nada?”. O silêncio, nesse sentido, como uma alternativa de resposta, fica, muitas vezes, às margens do rio, longe das correntezas que arrastam os acontecimentos. Na nossa cultura o silêncio é interpretado como a ausência de resposta, como uma omissão. É comum pessoas que vivenciam esse contexto serem censuradas sob a indignada alegação de falta de iniciativa, de habilidade e, especialmente, de coragem para conduzir determinadas situações. Muitas vezes isso é verdade. No entanto, há situações em que o silêncio é uma virtude, uma sabedoria, uma qualidade humana que expressa traços da mais suprema liberdade. Concordo com o escritor Fábio de Melo, quando diz que o que acontece de melhor na vida, geralmente, está marcado pelo que há de mais sublime no momento, o silêncio, o trem silencioso que nos faz captar toda a essência de nossa existência. O silêncio é muito mais do que um vazio de sons, é, na verdade, em muitas vezes, um texto completo, um momento sagrado, onde se revelam novos sentidos para a nossa vida e nos presenteia com novas possibilidades e oportunidades de recompor-nos, de sarar as rachaduras deixadas pelos tombos levados nas andanças pelos caminhos hostis de nossa trajetória. Talvez, a estrutura cartesiana de nossa cultura nos feche esse horizonte. Talvez, esteja a sempre nos impedir de contemplar o que há de caos no silêncio, a dúvida, a incerteza do que está por vir. Estamos tão habituados à verdade, de modo que, não conseguimos tranquilidade enquanto não encontramos uma resposta para nossas indagações, precisamos de uma resposta para tudo. Um silêncio, visto como falta de eco nos acontecimentos, incomoda, causa desconforto e, em muitos casos, indignação.

domingo, 1 de novembro de 2009

Escolas em preto e branco.




Escolas em preto e branco,
Riscos num quadro negro,
Pinturas que nada inspiram,
Faz silêncio o palavreiro...

***

...Nos corredores agonizantes,
Resmungam inquietados,
Entre palavras de silêncio
E gestos domesticados...

***

Mas gritam os inocentes.
Derramam pelas paredes,
As súplicas de socorro,
À fala, à fome, à sede.

Autor: Paulo André dos Santos.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

O inferno d’antes.



Antes, não tínhamos comida,
Hoje, reclama-se o sal.
Não tínhamos casa, guarida.
Hoje, comemos muito e mal.
*****
Agora, estamos salubres, contritos.
Protagonistas de um psicodrama abismal.
Estamos em pânico, aflitos.
Nossa eterna novela semanal.
*****
Falta ainda a queixa resignada,
O silêncio que incomoda e incrimina.
Nos trazendo à tona a culpa velada.
De uma vítima inocente e franzina.
*****
Mas o mistério deveras se firma imponente,
Um inferno d’antes vivido, intenso e duradouro, vazio,
Agora, um deleite excessivo, alucinado, um sutil delírio,
Sem gosto, sem fruto, sem semente.
*AUTOR: PAULO ANDRÉ DOS SANTOS.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Cisso.


Autor: PAULO ANDRÉ DOS SANTOS.

[Era o fim de uma tarde muito fria na cidade. Eu estava muito cansado, tinha trabalhado muito naquele sábado. Haviam muitas crianças com resfriado na região. Eu não via a hora de chegar em casa. Aliás, fazia alguns dias que eu não aparecia por lá. Lembro que fui interrompido no momento em que organizava os prontuários, para levá-los pra casa. Apesar de ter sido um dia nebuloso, os raios do sol rasgavam as nuvens e, de certa forma, fazia com que todos lembrassem de que naquele dia ele existira. Àquela altura, já não havia mais pacientes para atender. Eu estava pronto para sair. Recordo que naquele dia, uma lágrima me segurou. Uma lágrima de menino. De um menino que chegara ao Posto de Saúde em desesperadas súplicas.]

- Dotô! (Disse o garoto).

- O que foi menino? O que fazes sozinho neste tempo frio?

- O sinhô tem remédio?

- Pra quê?

- Pra curar dor?

- Venha! Vou ver o que você tem? Sente alguma coisa? Aonde dói?

- Dói dentro, Dotô.

- Qual o lugar, filho?

- Na alma. O sinhô tem remédio?

[Fiquei alguns instantes um pouco atônito com a resposta do menino. Senti uma piedade muito grande ao ouvir o menino falar de uma coisa tão séria. Era cedo de mais pra viver um sofrimento tão duro. Aquele garoto sofria precocemente. Uma dor assim não deveria assaltar uma criança. É tão triste perceber que, logo cedo, as crianças de comunidades pobres são convidadas a conhecer o duro mundo dos adultos. O mundo da pobreza, em que os sonhos já morreram, mas que a esperança, felizmente, ainda agoniza.]

[Fui rápido. Aquele menino feito em trapos de pano aguardava ansiosamente uma resposta. Lembrei que sobrara algumas pastilhas de hortelã em meu bolso. Sempre gostei de usá-las nos momentos de descanso.]

- Você quer uma pastilha de hortelã, filho?

- Quero. Sempre gostei de pastilha.

[Passei a pastilha para as mãos dele. Ele as recebeu alegremente. Mas é um sorriso momentâneo. Eu sei disso. É uma trégua. Um curto momento em que, quem sofre, dá-se o direito de um ligeiro sorriso.]

- Como é o seu nome, filho?

- Cisso.

- Mora muito longe?

- Não. Moro logo ali perto. Tá vendo aquela casa lá na frente? Eu moro ali.

- Por que saiu de casa sozinho? Pode ser perigoso.

- Não gosto de ver a minha mãe sofrer.

- Ela está doente?

- Não. Está sofrendo?

- O que ela sente?

- Dor. Que nem eu. Dor na alma.

[Um nó engasgou a minha garganta. Vi que poderia ser doloroso prosseguir com mais perguntas. Às vezes, vale mais ser presenteado com um sorriso do que buscar saber ao menos o nome do desconhecido. Embora não soubesse muito sobre Cisso, eu sabia o suficiente para comover-me com a sua história. A história que é a mesma de muitos meninos das redondezas. A sua mãe, coitada, deve ter problemas na relação com o marido (se é que tem um). Deve passar por dificuldades em casa. Talvez, chore todas as noites, lamentando a falta de pão na mesa. Cisso deve ter muitos irmãos. Eles provavelmente disputam, pelo merecimento, as pequenas coisas que a família pode comprar.]

- Cisso. Você quer tomar um suco lá no Freitas? Ainda está aberto.

- É muito custoso Dotô. Eu não tenho moeda não.

- Eu pago pra você. Eu estava pensando em fazer um lanche mesmo. Lá poderíamos continuar a prosa.

- Se for assim eu aceito.

Então, fomos ao Freitas. Cisso comeu com muita satisfação. Parecia que a muito tempo não comia. A sua névoa de tristeza, pelo menos, naquele momento, havia desaparecido.

- Sabe Dotô. Parece que a minha dor está passando.

- Você se sente melhor, Cisso?

- Agora estou bem. Ao menos até chegar em casa. O sinhô me deu cura.

- Como? Não fiz nada.

- A mãe disse uma vez que fé cura. Acho que você me deu um pouco de fé. Vou dividir com a mãe quando chegar em casa. Obrigado, Dotô. Obrigado por ter me visto, quando ninguém viu. Por ter escutado quando ninguém escutou. O sinhô com certeza vai ter o seu próprio anjinho no céu. Que vai te proteger também.

[O garoto se despediu de mim com uma silenciosa gota de lágrima. Não uma lágrima de tristeza, mas, de uma alegria perene, rara; que, aos meus olhos, constrói as pequenas fibras da esperança. O sol, naquele dia, iluminou as frias noites no barraco de dona Maria, mãe de Cisso. E fico feliz hoje, ao ver que Cisso conservou aquele filete de esperança. Não só o guardou, mas, fê-lo florescer. Fazendo nascer uma árvore frondosa. Hoje, vinte anos depois, Cisso é um jovem bem sucedido. Trabalha no Corpo de Bombeiros, ajudando a salvar vidas e a resgatar a esperança daqueles que já se entregaram.]

sábado, 17 de outubro de 2009

A agonia da escrita



AUTOR: PAULO ANDRÉ DOS SANTOS.
Nos momentos decisivos, nas horas em que realmente precisamos, ao nos encontrarmos diante de uma situação em que temos o poder de confirmar o êxito, não é muito raro sentirmos o amargo gosto da frustração. Quando isso acontece, somos muitas vezes, possuídos pela apatia e pelo sentimento de culpa de não ter conseguido aproveitar a chance. Essas experiências são, em determinadas ocasiões, agonizantes, pois, percebe-se que o momento precioso vai lhe escapando às mãos. Um exemplo que reflete muito isso é quando estamos a escrever um bom texto. Lamentamos lamuriosamente quando as boas idéias nos fogem. O texto se perde em nosso abismo interior e a caneta perde, indignada, a oportunidade de deslizar mansamente pelo papel. Diante disso, suamos muito, sofremos demasiadamente como se a perda fosse definitiva. Mesmo assim, de acordo com a necessidade, persistimos. Concentramos as energias para recuperar o texto perdido. Mergulhamos destemidamente nos mares da consciência, a fim de trazer de volta a caixa de relíquias, naufragada nas profundezas. E quanto mais a procuramos, sentimos no corpo as nossas limitações. Uma vez ou outra perdemos o fôlego. O insucesso nos faz retornar à angústia do desamparo e à superfície, de mãos vazias. Há, nesse instante, uma sensação infante de certa debilidade e desespero, um medo e uma fragilidade que nos colocam como crianças perdidas em meio à multidão. No entanto, ao viver a plenitude desse desespero, ao provar da angústia de “não saber”, passamos pela linha de chegada e novos significados se perfazem em nossa mente. Já não somos os mesmos! A depender da nossa força de espírito, saímos mais fortes e a nossa voz interna, antes sufocada nos mares profundos, começa a retornar a superfície, mais confiante de si mesma. Voltamos a sentir mais o sabor da escrita. Voltamos a degustar deliciosamente cada palavra. O texto, então, surge novamente. Agora, mais vivo e colorido. Mais nítido e belo. Ornamentado com as mais belas flores colhidas nos bosques das florestas, nos mares de dúvidas pelos quais navegamos, naufragamos e ressurgimos.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

A galáxia dos anônimos.




Ouçam! Ouçam o cântico que vem das praças.
Ouçam a melodia que transborda nas estações de trem.
Ouçam! Podem salvar os seus dias.
Desarmem, pois, os teus espíritos e confortem as tuas almas.
Recebam o toque das cordas e vejam-se parar no tempo.

***

Sintam-se emergir das tuas páginas esquecidas.
Ouçam! Confortem as suas almas.
Ouçam a voz que vem da multidão.
Alguém poderá mudar as tuas vidas.
Ouçam, pois, a música. Ouçam! Escutem vossos corações.

***

Vejam o brilho nos olhos. Vejam a força de espírito que lhes são despejados.
É presente! Uma dádiva. Deem uma chance ao anonimato.
Deem uma chance a si mesmos, de ouvir uma bela canção.
Nas ruas, nas praças, ouçam, pois, a canção.
Sejam testemunhas de um milagre. Vejam que reclamais em vão.

***

Ouçam, pois, a vida é poesia, é musica, é sempre uma bela canção.
Um choro, um sorriso, é sempre uma bela canção, uma poesia, um sim, um não.

Autor: Paulo André dos Santos.

sábado, 10 de outubro de 2009

A dúvida.



AUTOR: PAULO ANDRÉ DOS SANTOS.

Há alguma coisa que possa angustiar mais do que a dúvida? Há uma gota de esvaziamento, uma sensação de caos perturbador na dúvida. Há uma torrente de incertezas, um abismo tão escuro que parece não haver chão. Como somos tão viciados pelas certezas, a dúvida gera, a depender da situação, um pânico enorme, um grande desespero. Em contrapartida, a dúvida nos dá novas possibilidades, novas oportunidades de ver o mundo - o nosso mundo. Ao mesmo tempo em que a dúvida pode nos oferecer um crescimento positivo, ela pode, quando aprisionada em nossas mentes, deixar-nos em estado de imóvel perplexidade. Então diante disso, o quer fazer com a dúvida? Nada? Fazer nada é muito perigoso, a não ser nos momentos em que tivermos a clareza de que essa é a melhor solução. A dúvida não é, portanto, em si, positiva ou negativa. A dúvida não é o que nos salva, mas, inevitavelmente, o que fazemos dela.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

A correria.



POR: PAULO ANDRÉ DOS SANTOS.

A população das grandes cidades brasileiras tem crescido muito rapidamente, nos últimos dez anos. Tem tanta gente, que fica difícil sair de casa em determinados horários. É um engarrafamento pra tudo. Enfrenta-se filas quilométricas no trânsito, nos bancos, nos hospitais, nos terminais de ônibus, etc. Enfim, é tanta fila, é tanta espera, que, para fugir delas, logo que inicia o dia, descumprimos os limites que regulam a nossa existência. Muitas vezes, não percebemos sequer a sintonia necessária entre mente e corpo. Aquela voz lá dentro que grita, que nos pede pra parar, que nos pede pra descansar. Os estados, os ânimos, os estresses, as pressões emocionais e as dores, passam muitas vezes desapercebidas, deixando conosco, sempre, alguma marca ou patologia, em fase de incubação. A correria, nesse sentido, preocupa. O preço pago por isso é, em muitos casos, alto demais. A vida não combina com correria, nem tampouco combina com falta de movimento. Vida é movimento, mas, tem um movimento próprio, um tempo próprio, que deve ser respeitado, sob o risco de ter que parar definitivamente.

O grande capital das empresas


POR: PAULO ANDRÉ DOS SANTOS.

Todos os dias pela manhã, quando abrimos a janela da mente para o mundo, percebemos que a nossa vista se encontra o futuro. Não o futuro em si, mas, um jogo de possibilidades, uma imensa cadeia de perspectivas boas e ruins que nos obrigam a assumir posições estratégicas.

Está tudo interligado, tudo se relaciona com tudo e, nesse sentido, o bom e o ruim coexistem. Sucesso e fracasso se relacionam de maneira umbilical, dependendo um do outro. Assim, com o fracasso de hoje, podemos construir o sucesso de amanhã. A humanidade segue, portanto, o seu natural caminho de evolução.

Em um caso específico tão presente no nosso cotidiano, podemos citar as empresas, que para viabilizar a própria sobrevivência, incorporou a sua cultura operativa o conceito de liderança e de liderados. É como se estivessem realmente mergulhadas em uma guerra, em uma arena de combate. E nessa empreitada, a qualidade da relação estabelecida entre líderes e liderados é imprescindível.

Não se pode mais conceber atualmente o espaço das empresas com um simples ambiente coletivo, onde trabalham um determinado número de pessoas. Por isso, talvez, muitas das empresas tem se tornado, cada vez mais, um corpo-ação, uma corporação. O coletivo idealizado assume um aspecto mais integrado, interligado, inspirado, sobretudo, por objetivos comuns.

Nesse sentido, o ambiente coletivo das empresas passa a ser visto como ambiente de equipes, onde as pessoas são convidadas a realizar, cada uma, um papel específico, dentro da organização do processo produtivo. Para isso, são algumas iniciativas servem de estímulo, em termos de valorização da atividade e do profissional, abrindo possibilidades para que cada pessoa possa compreender a importância de sua atividade nas empresas.

Por outro lado, em virtude da necessidade de assegurar a competitividade no mercado, algumas empresas acabam, de certa maneira, espoliando qualquer possibilidade de ter em seus espaços, ambientes de equipes, num sentido legítimo. Cria-se dentro da cultura dessas empresas, uma mentalidade estruturada no pragmatismo, onde os resultados são o que realmente importa, esquecendo-se muitas vezes, de que os resultados, para serem conseguidos, precisam de pessoas.

Com isso, perde-se a oportunidade de caminhar em direção ao sucesso duradouro. Priorizando o aqui e o agora, através, unicamente, da política de resultados, as pessoas começam a agir mecanicamente, por puro interesse salarial e não, como deveria ser: por saber da importância que cada um representa na cadeia produtiva.

Isso não quer dizer que as pessoas não agem também por interesse salarial, pois, isso é uma condição para a vida delas em sociedade,mas, não deve se restringir a isso, uma vez que as pessoas querem se sentir felizes onde estão trabalhando e o salário delas não é a única condição para isso. O salário, nesse sentido, é uma das recompensas e, em alguns casos, não a maior delas.

Há pessoas que ganham um salário muito bom onde trabalham. Entretanto, sempre se revelam insatisfeitas com aspectos interpessoais dentro das empresas. Isso demonstra que não é somente o salário que traz a satisfação às equipes. Existem coisas que também precisam ser observadas, como por exemplo, o grau de ética que estão norteando a relação nas empresas.

A ética é o alimento das empresas. Para que elas possam “ter vida, e vida com abundância”, precisam ter em seu ambiente corporativo, perspectivas de relações humanas de respeito às particularidades de cada pessoa, desde que esta não esteja prejudicando a coletividade. Afinal, as pessoas são o capital mais importante das empresas, o capital humano. São, sem sombra de dúvida, o ar que enche os pulmões das empresas, que as fazem respirar e a continuarem vivendo.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Gritos inaudíveis



Nas manhãs de domingo,
Pernas e braços gingam em eloquentes movimentos articulados.
Entre faixas e sinais, um espetáculo curto, mínguo,
Em troca de alguns trocados.

***

Enquanto poucos tem o mundo,
A muitos restam apenas lembranças,
De um sonho vivo e profundo,
De um sonho antigo de criança.

***

A cidade não para, o tempo não para,
Os sinais piscam intermitentes.
Garotos somem em meio às faixas,
Pedintes, comerciantes, reticentes.

***

Põe-se o sol, surge a lua,
Na imensidão do céu noturno.
Nas calçadas, nos abrigos, nas ruas,
Choram-se lágrimas em gritos mudos.

***

Rostos tristes na penumbra,invisíveis aos paletós,
Dos homens que velozes indiferentes,
Cegos e surdos às súplicas,
Pedidos de socorro para esperança.

Autor: PAULO ANDRÉ DOS SANTOS.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Entre o sonho e a dolorosa realidade.


POR: PAULO ANDRÉ DOS SANTOS.

Quando a vida começa, quando inaugura um novo ser neste mundo, é tão poética quanto as flores que escorregam levemente pelos rios do Amazonas. É de uma beleza triunfal, sublime e milagrosa. Assim que a vida transborda da caixa de Pandora, instaura-se o sagrado e a veneração de todos. Nesse momento, cessa-se a guerra e o luto, dá-se uma trégua à esperança, permitindo a todos os novos, por alguns anos, o direito de sonhar e de voar indefinidamente pelo azul celeste. Mesmo que a pobreza – em um sentido amplo – diga o contrário, todo ser novo, de início, sente a esperança de ser amado por Deus. Sente a esperança de vingar gloriosamente como uma flor dentre os espinhos. Entretanto, chega-se o momento do abandono e do esquecimento. Chega-se ao instante em que se tem a impressão de ruptura com a divindade. Momento, sobretudo, em que murcham as flores da inocência, em que se percebe que dor de verdade é aquela que penetra na alma e que nos roubam a esperança. As lágrimas do desalento explodem em nosso peito. Uma mistura de ódio e desespero toma conta da razão. É quando diz-se que “Menino Jesus não gosta de mim”. Foram tantos os pedidos. Foram tantas as orações. Mesmo assim, nesta manhã, toma-se o cálice da amargura e a fome corrói a mais viva dignidade. É possível avistar os meninos que andam perdidos pelas ruas. Perdidos de pais, de mães, de esperança, de uma morada. Meninos como Zezé, que criaram em torno de si uma Laranjeira-lima. Meninos que tem em seu natal de cada dia a humilhação do desperdício alheio. Aqueles meninos, que não conheceram o pai, a mãe, que não tiveram durante maior parte da infância, roupas para vestir, livros para estudar e sonhar. Não tiveram um amigo Xururuca para compartilhar de suas tristezas, nem de alguém que lhe estendesse sequer a mão. Todos esses meninos nascem encharcados de esperança, mas, a vida, com o passar do tempo, faz amarelar suas folhas verdes. A sua árvore vai morrendo, secando, definhando diante de uma terra tão seca e ingrata.

Referência:

VASCONCELOS, José Mauro de. O meu pé de laranja lima. Ilustrações de Jaime Cortez. – São Paulo: Editora Melhoramentos, 2005.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

A utopia de todos os dias.




POR: PAULO ANDRÉ DOS SANTOS.

Como pisar no chão todos os dias, mesmo sabendo da trilha dolorosa que nos espera? Como continuar caminhando se até mesmo o destino é inseguro? A esse respeito, o que se pode dizer é que não há garantias, essa é a verdade. E quando não há garantias somos sempre levados a questionar a validade de nossa caminhada. Por isso, constantemente nos perguntamos: para que tanto sacrifício? Qual a recompensa? Vale realmente a pena? Infelizmente, essas perguntas, somente cada um de nós poderá responder. E para responder isso precisamos saber qual o nosso propósito nesta vida, o que valorizamos? O que defendemos? Pelo que lutamos? Após formularmos essa resposta, saberemos qual a esperança que nos move, que nos dá ânimo, que nos dá motivo. Enfim, saberemos qual a nossa utopia, os nossos sonhos, a nossa realidade a ser alcançada. Ao acordar todos os dias, nesse sentido, temos que alimentar o tempo todo, as nossas crenças, por tudo o que isso representa. É uma tarefa árdua não fraquejar durante uma caminhada tão cheia de obstáculos, tão cheia de momentos adversos. Diante disso, muitos ficam pelo caminho, muitos não conseguem continuar sonhando, acabam se entregando resignados à dura realidade. Deixam de sonhar, deixam de viver. Porque só estamos vivos quando mais do existimos, quando sonhamos. Vida é propósito e uma construção da história. É portanto, um legado às gerações posteriores. Isso é o que move a humanidade – a contribuição que prestamos ao futuro. Se somos mortais, é muito importante que possamos dar valor a cada momento aqui na terra. E uma maneira honrosa de valorar a nossa trajetória tão rápida como seres viventes é construindo a nossa obra, cumprindo com o nosso ideal, por tudo o que acreditamos ser o melhor para a humanidade. Desse modo, para criarmos resistência às adversidades do caminho, precisamos ter com clareza a dimensão consequente da nossa ação, ou seja, em que a nossa ação age e em que ela se transforma. Se queremos um mundo mais justo, mais igual e mais pacífico entre as pessoas, temos que nos perguntar, em determinado momento, em que contribuímos para isso. Temos que perguntar, sobretudo, em que a nossa utopia serve ao que nós queremos disso tudo. A nossa utopia representa um bem coletivo ou um bem individual? Qual das duas tem mais valor? Por quê? Com certeza, qualquer pessoa sensata iria concordar de que quantos mais pessoas forem beneficiadas, mais será louvável a sua utopia, mais ela teria força para se justificar, mais, sobretudo, ela poderia ganhar a adesão coletiva viabilizando a sua concretização de maneira substancial.

domingo, 27 de setembro de 2009

Do valor intrínseco da vida.



POR: PAULO ANDRÉ DOS SANTOS.

Em uma tarde ensolarada de sábado, no final do mês de setembro, depois de muitas reivindicações, resolvi sair com o meu pequeno filho. Nos últimos quatro anos, eu, réu confesso, tenho dedicado pouco tempo ao meu tesouro – a vida, às vezes, cobra-nos um preço muito alto. No entanto, posso dizer que sempre alimento o meu espírito redentor, pois, quando estou com meu filho, faço um esforço muito grande para que esses poucos momentos se tornem o mais significativo possível na vida dele. Hoje, tenho uma meta a cumprir: no ano que vem (2010), vou participar mais de sua educação. Provavelmente, iremos jogar bola juntos, empinar pipa, jogar gude, visitar museus, bibliotecas, tudo que possa ajudá-lo na caminhada da vida. No dia de hoje, em especial, fomos à pizzaria e, logo após, à livraria e ao cinema. Ficamos de decidir entre dois filmes e, como acontece com outras crianças, ele decidiu o que lhe representava mais aventura. Escolheu o filme Força G (2009), que apesar contar a saga de um grupo de porquinhos-da-índia em serviço clandestino ao FBI, pode-se compreender, também, como uma mensagem, uma espécie de chamado ao valor intrínseco da vida em busca de realizar a sua missão aqui na terra. Ao fazer emergir o herói, o protagonista que há em cada um de nós, a força que nos impulsiona em direção a um propósito, o filme nos possibilita entender o quanto cada um de nós é especial, único, de valor imensurável, independente das circunstâncias. Ao sair do cinema, tentei sondar o que o meu filho havia compreendido do filme, qual a mensagem que ele havia abstraído. Como é natural, ele se mostrou muito empolgado com as ações, com os êxitos, mas, um pouco mais adiante, percebo que será possível incluir, em nossas conversas, uma abordagem sobre essa força que locomove a vida no sentido de cumprir o seu caminho. A vida, em especial, a vida em sociedade, a vida consigo e na relação com os outros, com a família, com os demais seres vivos. Sinto a necessidade de sugerir e de participar de uma reflexão sobre o nosso agir como humanos, sobre a atual a solidão humana que nos consome, apesar de toda a facilidade de se comunicar nos dias atuais – estamos ligados entre si umbilicalmente a cada pessoa desse planeta. Eu acredito, firmemente, que ainda há esperança, que ainda é possível viver uma vida sem que com isso, necessariamente, tenham que se extinguir indiscriminadamente outras expressões de vida aqui na terra. Vivemos atualmente o drama das florestas e de suas faunas e floras. Vivemos a destruição de vários rios, em virtude do apocalipse urbano-industrial. Vivemos a ação predatória entre os próprios humanos, com a intolerância, a exclusão social e a violência, que assumem proporções que poderão mudar o curso de nosso processo de civilizatório. Sabe-se, nos dias atuais, que um quarto da população mundial vive na linha da extrema pobreza. Isso significa dizer que aproximadamente um bilhão e meio de pessoas estão subjugadas a condições de vida degradantes e, portanto, desumanizadoras. E é pensando nisso, sem querer podar os sonhos e, ao mesmo tempo, sem querer me passar, no futuro, como um mentiroso, sinto-me preso diante da dimensão utopia-realidade. Quero que o meu filho saiba que, no mundo, as coisas não são “só flores”, que também existem os espinhos, mas, ao mesmo tempo, não quero fazê-lo esmorecer em seu ânimo, em sua esperança, em sua vida num sentido de movimento e de expressão. Às vezes, penso e me pergunto: como ajudar as pessoas a criar uma consciência de realidade sem que essa lhes privem de olhar para o horizonte, sem que lhes impeçam de alimentar, no âmago de suas almas, uma utopia e, desastrosamente, lhes neguem a humanidade necessária para poderem contemplar a vida.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

A estatística cotidiana.


Por: Paulo André dos Santos.


A Estatística, mesmo na opinião de um estatístico, não revela em si um status de Ciência. Na verdade, os cálculos estatísticos se constituem em uma extraordinária ferramenta que possibilita a quem pesquisa sobre um determinado objeto, quantificável ou qualificável, realizar diagnósticos de tendências e estabelecer de forma mais consciente – mas, não absoluta -, um planejamento, uma projeção, ou ainda, em formular uma hipótese geradora de outras pesquisas. Não é necessário ir muito longe para constatar o quanto a Estatística se faz presente na vida cotidiana. Nesse sentido, a fim de ilustrar essa idéia, parafraseando Paulo Freire, podemos dizer que nós, ao acordarmos todas as manhãs, iniciando a nossa rotina diária – contabilizando o tempo entre o café da manhã e a chegada ao trabalho – demonstramos, sem perceber, o quanto fazemos uso da Matemática, como seres sociais matematicizados que somos. Da mesma forma, em certa proporção, isso também acontece com o uso da Estatística nas práticas cotidianas. Embora muitas das pessoas sequer tenham tido contato com os conhecimentos sobre a Estatística durante o processo escolar, elas, em determinados eventos, calculam, de certa forma, intuitivamente, as possibilidades de resultados de sucesso, de fracasso, de perigo, de ingresso em um determinado emprego etc. Assim como ocorre em relação à Matemática, propriamente dita, as pessoas sempre conservam no imaginário a idéia de que a Estatística é um instrumento para deuses, o que não é verdade. A Estatística tem como pressuposto em si, definir possibilidades. Assim, se esse instrumento fosse muito mais social, no sentido de compartilhamento com outras pessoas, do que é atualmente, talvez, muitos dos problemas do dia-a-dia desapareceriam ou seriam em muito atenuados. O mundo, hoje, gira, de certo modo, em torno de números estatísticos. Um exemplo bem rotineiro, sobre isso, acontece quando uma pessoa precisa – com certa urgência – de comprar um gênero alimentício no bairro de residência. A tendência, nos termos do bom senso, é de que a pessoa irá procurá-lo, primeiramente, no local mais próximo (uma possibilidade de economia de tempo). No entanto, se os possíveis estabelecimentos estiverem em distâncias equiparadas, a pessoa irá estabelecer, em muitos casos, inconscientemente, um certa hierarquia de possibilidades. Bem, ou ela irá procurar o estabelecimento comercial mais diversificado em termos de produtos, ou ela vai priorizar aquele que, de certa forma, já lhe serve como uma referência, devido a compras anteriores (uma possibilidade de acerto na escolha do estabelecimento). De certa maneira, faz-se, nesse contexto, uma filtragem de possibilidades. O que quer dizer, que, inegavelmente, a Estatística, como um consenso que é, está sendo empregada. Portanto, se fosse possível mensurar os usos da Estatística, de cada pessoa, durante o dia, incrivelmente, chegar-se-ia a constatar que a Estatística antes de ser um campo de estudos formalizado e ignorado pelas pessoas como tal, ela é uma cultura diluída nas sociedades e, pelo menos em parte, se faz pelo senso comum.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Comunicação e expressão: novos caminhos para uma prática educativa.


POR: PAULO ANDRÉ DOS SANTOS*

Como sabiamente dizem os populares, “Quem não se comunica se complica”. Na era das tecnologias da informação, vivenciada atualmente, em que a comunicação se faz cada vez mais intensa e extensa – num sentido mais geográfico -, tanto nas relações presenciais quanto através de meios virtuais, saber manipular a comunicação em multimeios pode significar um enorme diferencial tanto para profissionais quanto para as empresas em competição no cenário globalizado.

Para ilustrar isso, pode-se constatar que, há alguns anos atrás, em muitas empresas, os técnicos, para produzirem um relatório diário de sua operação, tinham que escrever em um formulário impresso as informações diagnósticas correspondentes ao seu turno de trabalho.

Em contrapartida, atualmente, em grande número de empresas, os técnicos tem a possibilidade, a depender do grau de automação da empresa em que trabalham, de emitir o seu relatório a partir de um notebook conectado à rede privada virtual (Network private – VPN), a Intranet.

Isso significa, em outros termos, que, além de ter que saber se comunicar bem oralmente e por escrito, em empresas desse nível, os técnicos, indispensavelmente, tem que possuir habilidades de manejo em processos automatizados.

A comunicação, nesse sentido, assume o papel de destaque entre os requisitos de empregabilidades dos profissionais. Falhas de comunicação podem, em determinadas circunstâncias, condenar uma empresa à ruína. É preciso saber – e os grandes empresários já sabem -, que “Comunicação é poder”.

Comunicação, nessa análise em questão, implica como um fator que pode alavancar nas empresas, em todos os seus processos produtivos – inclusive, a respeito das atividades de compra e venda – um ganho substancial, portanto, uma geração maior de lucros.

A respeito disso, em uma perspectiva mais ampla, é interessante a um país, cujas ambições de desenvolvimento sejam grandes, investir, logo no processo educacional das crianças e dos jovens, em uma qualificação introdutória para lidar com multimeios de comunicação.

Sem isso, sobretudo, nas escolas públicas, viabilizar a inclusão social dos estudantes, será uma tarefa cada vez mais difícil em um mundo em constante transformação e avanços substantivos em termos de tecnologias da informação.

Além disso, ao valer-se dos multimeios de comunicação, as escolas flexibilizam as aulas e quebram a rotina das atividades escolares. Atraem com mais eficiência os alunos, conseguindo maior adesão dos desses e, em consequência disso, acaba contribuindo para diminuir os casos de indisciplinas dentro de seu espaço educativo.

Nas escolas, o uso de tecnologias como mais um recurso de aprendizagem, cria, para os alunos, novas possibilidades, novos horizontes, que contemplam múltiplas linguagens e proporcionam mais significado e, portanto, mais prazer, para as aprendizagens.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

A ética: condição para a coexistência das sociedades.


POR: PAULO ANDRÉ DOS SANTOS.

A partir do momento em que os seres humanos perceberam que poderiam cultivar, à beira dos rios, o próprio alimento, deixaram de ser nômades. Com isso, os homens passaram a conviver em regiões de solo fértil para cultivo e em abundância de água, para irrigar as plantações, para a sobrevivência própria e dos animais. Tornaram-se sedentários, possibilitando o surgimento de grupos maiores, dando origem ao que denominamos atualmente de sociedade. Ao longo dos anos, a vida em sociedade produziu a cultura, abarcando costumes e tradições. A ética, nesse sentido, surge, também, desse processo de desenvolvimento humano como ser social. Aparece, sobretudo, como sistemática de estudo, como um referencial do caráter moral do homem. Apesar de etimologicamente semelhantes, a ética e a moral ocupam dimensões distintas, apesar de se debruçarem sobre o mesmo objeto, o caráter humano, as virtudes, os costumes e tradições. Por isso, é muito comum confundir-se ética com moral. Enquanto a ética (moral teórica) se ocupa do estudo, da investigação, e por vezes, de exercer influência sobre a moral. A moral em si (moral prática), é um conjunto de valores, legitimados por costumes e tradições, que estabelecem um consenso coletivo em um determinado contexto sócio-cultural, situado em determinada época. A ética, apesar de estar situada, mergulhada no estudo, no entanto, não tem como prerrogativa o julgamento dos atos humanos, mas, dedica-se estudo desses atos a partir da análise da referência da moral social, abraçando, nesse processo, conhecimentos, argumentações nos mais diversos campos do saber (ciências), a fim de estabelecer as generalidades, os princípios da qual se emana os valores morais. A ética por princípio e a moral por valores, são indispensáveis, aliás, vital para que a vida em sociedade seja possível, próspera e, eminentemente, humana. A ética é, como sinalizado antes, sintoma do desenvolvimento humano, da mesma forma que é também, para a sociedade, em seu processo de evolução e de coexistência contínua.

A finalidade humana em nível planetário.



POR: PAULO ANDRÉ DOS SANTOS.

Para os mais otimistas, o sol tem que brilhar, mesmo sendo ao final da tarde. Como é muito comum ser enunciado nas conversas do cotidiano, nos bares, nas casas e nas ruas, “Antes tarde do que nunca”. Ao aproveitar esse princípio popular de forma a analisar a condição humana, vitimada pelo “mal estar da civilização”, vemo-nos obrigados a realizar o caminho regresso, com destino à antiguidade. Nesse sentido, Aristóteles, já nessa época, defendia a finalidade primordial humana, a felicidade. E para ser feliz, para usufruir do supra-sumo da plenitude, homens e mulheres precisam ser livres. A liberdade ainda é, nos dias atuais, um objeto de extremo desejo, símbolo mágico e utópico da humanidade. Mesmo assim, ciente da própria condição, os humanos não desistem de sua grande busca, dessa empreitada, que faz de todos, navegantes nos mares do conhecimento. E, a bordo dos navios, à proa, gritam revestidos de esperança, todas as manhãs, os capitães: Dia bom. Dia de desafios e de travessia, de conquista da felicidade. Não desistamos. É preciso conquistar a “liberdade, ainda que tardia”. Essa é, desde sempre, a razão humana, o seu princípio e o seu fim. Afinal, como uma condição primeira da felicidade, nascemos para sermos livres. Livres para pensar, para julgar, para decidir e agir, sempre orientados pelos princípios éticos, propulsores da viabilidade social-humana. A humanidade necessita, como um requisito de sua autopreservação e, portanto, de sua sobrevivência, aprender a se comportar como um corpo social único, planetário. Para que isso aconteça, em nível sistêmico, efetivamente, cada um dos humanos, no âmbito de suas tribos, devem resgatar ou desenvolver o interesse, em querer, em criar e em dar significados, para depois afunilar a compreensão de si, como um membro-corpo planetário, e, assim, atingir um nível mais elevado, mais transcendente, de consciência. Não se trata, portanto, de edificar uma consciência restrita, pormenorizada, mas, de se permitir à construção de uma visão transdimencional dos compromissos éticos com a humanidade, como também, dos poderes e das possibilidades que cada sujeito, em cada tribo da tribo maior, conserva e oportuniza quando pensa e age coletivamente.

domingo, 13 de setembro de 2009

O nosso legado...



POR: POR PAULO ANDRÉ DOS SANTOS.

Uma vez li em um livro de um autor - que não recordo - que “a vida é muito curta para que haja tempo de arrependimento”. De certa forma, é com esse sentimento que fico após ler “Qual é a tua obra?”, de Mario Sérgio Cortella. Nesse escrito, o autor nos presenteia com algumas importantes nuances da gestão, da liderança e, sobretudo, da ética. São muitos os aspectos abordados, mas, talvez, o que nos revela mais substância é quando o autor traz a importância do significado que cultivamos nas coisas que realizamos, nas coisas que vivemos. O significado que atribuímos as coisas, segundo Cortella, é preponderante para a nossa autorealização e, consequentemente, para a nossa felicidade. E para ilustrar isso, ele nos traz o exemplo do bombeiro, que não ganha muito, mas, que, no entanto, exerce com afinco a sua missão, muitas vezes, arriscando, em nome da vida, a própria vida. Isso acontece, porque o bombeiro encontra significado no que faz, encontra inspiração. O bombeiro sabe, como diz Cortella (2009, p.68), que “A sua obra é muito mais ampla do que qualquer que seja a atividade que você realize em si mesma”. Nesse sentido, o autor levanta a importância do líder, seja nas relações cotidianas ou nas empresas, para ajudar as pessoas a se inspirarem, a encontrarem, também, um significado no que faz e a assimilarem a importância da busca pela excelência. Para isso, diz-nos o autor, que o líder precisa ser uma pessoa com visão, que, humildemente, proporciona as pessoas um ambiente que as ajudem a revelar, em âmbito individual e coletivo, o seu pertencimento, a sua sintonia, a sua sensibilidade e enfim, todo o seu potencial. Cortella afirma que liderança é uma questão de escolha e de aprendizado, portanto, qualquer um pode ser líder, em determinadas situações. Ainda para o autor, todo bom líder é sempre um bom ouvinte, sempre alguém que não perde a oportunidade de aprender com os outros, não lhe deixa escapar a chance de renovação de seus conceitos. E para que o líder, assim como, os seus liderados, consigam permanecer em harmonia, como atualmente se prescreve muito, é preciso trilhar o caminho da ética. Na última parte do livro, o autor nos revela o sentido exclusivo-humano da ética. Nessa parte, ele ressalta a importância da sustentabilidade nas relações do humano com os seus semelhantes e com todo o complexo vivo do planeta. Aliás, em certo momento da escrita, Cortella nos fala da nossa relação simbiótica com o planeta. Simbiótica quer dizer, a grosso modo, viver junto, conviver junto, num sentido mais social.Portanto, no livro, é destacado que quando em um dilema de natureza moral, as decisões são sempre de caráter individual, mas, as suas consequências implicam sempre, em maior ou menor grau, no universo coletivo. Atualmente, ouve-se falar em banalização dos modos, das transgressões, da violência. Durante a abordagem sobre ética, o autor faz questão de alertar para atentarmos para o perigo que representa tudo o que em nós ou, em nosso meio social, é concebido por normal. Por fim, o autor traz, de certa maneira, que o líder precisa ser uma pessoa íntegra, assertiva, exemplar no sentido mais poético da palavra e fonte de inspiração, de significado, de propósito, em um sentido mais objetivo, para os seus liderados. Afinal, lembra-te da tua obra, porque tu, esteja líder ou liderado, és mortal.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Viva à República: ao Brasil que não temos, ao Brasil que queremos.

Foto: do Globo.com

POR: PAULO ANDRÉ DOS SANTOS*

Nasce o sol na pátria amada, o dia se anuncia, é a sua hora, idolatrada mãe gentil, é agora, é já. Mais uma vez estás completando anos de sua independência. E como o canto de um rouxinol, tu nos revela, a exemplo de décadas atrás, um futuro glorioso, abundante. Esse futuro, contudo, parece estar muito distante de nós, mãe. Talvez, quase fora de nosso alcance. Nossos jovens de antes, hoje, estão envelhecendo, já não conservam o vigor e esperança. Sentem-se como aquele povo que caminhou por quarenta anos pelo deserto, em busca da terra prometida. Seus corpos já não querem mais caminhar e as suas mentes, frustradas, não conseguem sair da inércia. Assim como Moisés foi para Israel, nós, querida mãe, estamos sendo para ti. Fomos incumbidos de acreditar, de mobilizar, de liderar, mas, para nosso infortúnio, não fomos escolhidos por ti, para saborear o manjar que brota de teu ventre. Hoje, dia sete de setembro, tu destilas aos olhos de todos os seus filhos a manifestação robusta de tua força e de teu poder. As tropas - e as trupes - passam em reverência a ti e, enquanto isso, um batalhão de sobreviventes devora tudo o que é alumínio e plástico espalhados, displicentemente, pelo chão. São homens, mulheres, meninos e meninas, são os defensores de si mesmos, que gritam silenciosa e bravamente entre as multidões. No entanto, tu não os escuta, mãe. Por que se mostras incapaz de atender aos pedidos de socorro? Tu, insistentemente, alimenta-nos à fome e à miséria, por quê? Por que sendo tão vigorosa nos faz, proporcionalmente, tão fracos? Ò pátria, as nossas lágrimas já secaram. Deixa-nos, agora, sermos como ti. Alimenta-nos com as tuas raízes mais fortes e os teus frutos mais suculentos. Edifica-nos grandemente, para que possamos habitar em ti e por ti. Dá-nos a vez à verdade e à lógica, faça-nos como devemos ser: à tua imagem e semelhança. Tudo isso, para que não sejamos mais as promessas eternas de futuro, e sim, os grandes orgulhos do presente.

domingo, 23 de agosto de 2009

Coaching, por que faz bem.



POR: PAULO ANDRÉ DOS SANTOS.

Diante do ritmo intenso em que nos lançamos na vida cotidiana, ficamos muito restritos ao momento presente. Valorizamos de mais coisas que, se fruto de uma reflexão profunda, seriam consideradas sob um outro ponto de vista e nos levariam a tomar outras atitudes.

Quantas vezes nos arrependemos por atos que realizamos de maneira impensada? Quantas vezes violamos os nossos próprios valores, justamente, por termos sido dominados pelos impulsos? Nessas horas, quando nos damos conta, ficamos decepcionados com o nosso próprio eu, percebemos a fragilidade de nossas convicções.

Nesse sentido, torna-se necessário a nós educarmos a nossa mente para que venhamos a evitar certas circunstâncias. Para isso, antes de assumir qualquer posicionamento em nossas vidas, devemos nos perguntar se é válido seguir em frente, pesando o que se ganha e o que se perde em empreender determinados atos.

Dessa forma, não podemos deixar de cogitar a possibilidade de reagir de maneira diferente a uma situação que normalmente solicitaria um embate, um conflito. Ao lidar com pessoas, inevitavelmente, estaremos entrando em um universo complexo, diversificado, visto as diferenças de valores e crenças.

Imaginem se todas as pessoas tivessem a mesma opinião. Será que isso seria bom? Provavelmente, não. Pode parecer até paradoxal, mas, o conflito de idéias é quem proporciona o desenvolvimento humano. Não são as respostas prontas que movimentam o mundo, mas, as perguntas que as questionam. A questão, portanto, não é o conflito em si, mas, como conduzimos esse conflito, de modo saudável, sem provocar ressentimentos ou, de maneira traumática, deixando-nos levar pelos impulsos de agressividade.

Em face disso, temos que estar capacitados para lidar com diferentes situações que surgem em nossas vidas, principalmente, durante as relações interpessoais. Para que isso aconteça, não há solução mágica. O processo de automudança deve ser conduzido por cada um de nós e de forma gradual.

Hoje, vivemos muito em função de nossos resultados. Reclamamos das dificuldades enfrentadas no dia-a-dia, seja na área profissional, seja em nossas vidas pessoais na relação com os outros. Muitas vezes, atribuímos aos outros o mérito pelas nossas atitudes, pelo nosso fracasso, mas, será que esse é o melhor caminho?

Foi buscando responder a isso que surgiu o Coaching, pensando em uma proposta que ajude as pessoas a conseguirem melhores soluções para os problemas vivenciadas no cotidiano. Por isso, o Coaching possibilita às pessoas atingirem realizações uma melhor qualidade de vida.

Depois de se permitir instrumentalizar pelo Coaching, as pessoas podem atingir objetivos pessoais, conquistando mais satisfação e elevação de auto-estima. Tudo isso é possível graças a um processo de estímulo ao autoconhecimento e ao desenvolvimento da inteligência emocional.

Quando esses processos são finalizados com êxito, nós percebemos que não existem várias possibilidades, portanto, várias escolhas que determinarão o resultado de uma dada situação. E assim, escolhemos a opção que irá proporcionar o melhor resultado, conferindo-nos mais autoconfiança.

Com o Coaching, aprendemos a lidar melhor com os nossos medos e com as nossas limitações internas. Aprendemos, sobretudo, que temos qualidades positivas e negativas e que sempre podemos melhorar como pessoas e como produtores de resultados mais expressivos.

Mais do que ensinar, o Coaching nos ensina que existe sempre algo a aprender para suprir as nossas necessidades e para superar as nossas deficiências. A partir do Coaching, podemos perceber mais do que outras alternativas para a resolução de situações conflituosas, mas, sobretudo, perceber que podem existir maneiras melhores de estarmos conduzindo as nossas vidas.

REFERÊNCIAS:

O que é Coaching. Disponível em Acessado em 23/08/2009.
Coaching. Disponível em Acessado em 23/08/2009.
COACHING: UM COMPROMISSO COM RESULTADOS E REALIZAÇÃO. Disponível em Acessado em 23/08/2009.

Quando o microfone fala...




POR: PAULO ANDRÉ DOS SANTOS.

Quem detém o poder de representar, de dar voz, em razão da representatividade em que se reveste, para em essência, sintetizar os anseios das maiorias, são os representantes. No entanto, esse poder é ao mesmo tempo tão absurdo, pois, torna abstratos os representados, uma vez que não possuem voz própria, quanto é, também, legítimo, pois, ordena, organiza, direciona os discursos que, em tese, emanam dessas maiorias. O sujeito que detém o microfone, em representação a um determinado grupo, é, ao mesmo tempo o sujeito que ali representa e, legitimamente, a maioria representada nele.

O mistério do ministério é um desses casos de magia social em que uma coisa ou uma pessoa se torna uma coisa diferente daquilo que ela é, um homem (ministro, bispo, delegado, deputado, secretário-geral, etc.) que pode identificar-se e ser identificado com um conjunto de homens, o Povo, os trabalhadores, etc. O mistério do ministério chega ao cúmulo quando o grupo só pode existir pela delegação num porta-voz que o fará existir falando por ele, quer dizer, a favor dele e no lugar dele. O círculo então fica fechado: o grupo é feito por aquele que fala em nome dele, aparecendo assim como o princípio do poder que ele exerce sobre aqueles que são o verdadeiro princípio dele. [...] (BOURDIEU, 2007, p.158)


Ocupar, hoje, um cargo de dirigente, delegado, secretário etc., de uma representação sindical, seja em nível de federação, seja em nível regional, está, inevitavelmente, atrelado à ideologia de um determinado partido político, que, em razão da conjectura atual, defende, assume, atua em nome de interesses que favorecem, primeiro, à sobrevivência do partido, e, em segundo, à oportunidade de ampliar o seu leque de atuação, de influência, de poder. Por isso, Bourdieu (2007, p.185), revela que "Em política, <>, quer dizer, fazer crer que se pode fazer o que se diz e, em particular, dar a conhecer e fazer reconhecer os princípios de di-visão do mundo social, as palavras de ordem que produzem a sua própria verificação ao produzirem grupos e, deste modo, uma ordem social. [...]". A promessa, assim, em um segmento politicamente engajado, nem sempre irá se tornar uma realidade. Em nome da mobilização das maiorias recorre-se, muitas vezes, à alienação destas, em via de garantir o efeito que se deseja, ou, de legitimar o que, no momento, não se justifica.

O contraditório nisso, ocorre, quando quem deveria representar, quem deveria defender, quem deveria ser o fruto dos interesses das maiorias, defende, para decepção das maiorias, a expressão dos próprios interesses, é, não mais o representante, mas, nesse instante, representa a si mesmo.

"O desenvolvimento normal da organização sindical geral resultados inteiramente opostos aos que tinham sido previstos pelo sindicalismo: os operários que se tornaram dirigentes sindicais perderam completamente a vocação do trabalho e o espírito de classe e adquiriram todas as características do funcionário pequeno-burguês, intelectualmente pervertido ou fácil de perverter. Quanto mais o movimento sindical se alarga, ao abarcar grandes massas, tanto mais o funcionarismo se espalha" (GRAMSCI, apud BOUDIEU, 2007, p. 195).



Apesar disso, não resta outra saída aos representados senão investir em uma representação, mesmo que, às vezes, seja necessária negá-la, retirá-la da condição representante e pôr em seu lugar, outra representação. Isso acontece por que, aqui no Brasil como na maioria dos países, é ilegítima a manifestação de trabalhadores sem uma representação sindical. Os sindicatos são a voz dos trabalhadores, são a sua existência e resistência, e, quando em nome da causa trabalhista, mobilizam-se e mobilizam para a conquista ou a manutenção de direitos.

Ora, se os representantes, aqui, o sindicato, não estão representando os anseios das maiorias, cabe às maiorias assumir uma postura definir outras representações para si. Apesar do poder que emana do microfone, ele só se justifica pela crença e pela permissão das maiorias. A partir do momento que este poder simbólico cai em descrença, ele, inevitavelmente, deixa de existir.

Nesse sentido, é providencial que, para que isso não venha a acontecer, os indivíduos representados não se deixem cair na passividade, neutralidade diante dos representantes. É preciso exercer uma constante vigília a respeito das atividades e dos discursos dos representantes. A função das maiorias, em nome da preservação da sua representatividade é policiar as atividades dos representantes e, permanentemente, definir e exigir como quer ser representado.


Referência:


BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Trad. Fernando Tomaz (português de Portugal). – 11ª ed. – Rio de Janeiro; Bertrand Brasil, 2007.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

O Banquete da burguesia

POR: PAULO ANDRÉ DOS SANTOS*

Preço e mercadoria. Critérios muito considerados pelas grandes empresas ao se lançarem para implantação de um polo produtivo de serviços e produtos. Mão-de obra barata e qualificada, uma condição ideal que se viabilizem os investimentos - e os lucros. Assim, a força produtiva se converte em potencial de lucro nas lutas comerciais entre as empresas. Afinal, para manter a competitividade, as empresas estão sempre buscando reduzir os seus custos com a produção - o que envolve os encargos trabalhistas.

Trata-se de uma exploração "sangrenta" da mão-de-obra em prol da sobrevivência no mercado - meio predatório isso, não parece? Para que isso seja possível, contribuem com extrema falta de responsabilidade social os centros de formação profissional, que lançam anualmente aos mercados, em escala industrial, um considerável número de novos profissionais - sem que, necessariamente, o mercado esteja apto a captar toda essa massa de trabalhadores. O que acontece? A lei da oferta e da demanda entra em vigor, formam-se os reinos e as cabanas, não há lugar para todos no castelo.

Ou seja, os trabalhadores veem-se instintivamente obrigados a se "digladiarem" por uma vaga no mercado, já que não existem vagas necessárias para incluir todos na dinâmica produtiva. Isso coloca em condição de absoluto conforto os "cartolas do Mercado", pois, com tanta gente em busca de trabalho, pode-se criar uma espécie de "leilão das vagas", visando identificar os profissionais que aceitariam trabalhar por um salario reduzido. Quanto mais gente procurando o emprego, menor o salário.

Consoante, isso pode ser identificado que, com as privatizações realizados pelo governo do Brasil na década passada, os trabalhadores passaram a ganhar menos. O "Estado Mínimo" ou "Estado Neo-liberal", de acordo com os princípios do capitalismo, passaram a enxugar drasticamente a sua participação na vida das pessoas, o Mercado assume, então, o comando. Logo, começam a se realizar a produção industrial do cidadão multi-utilidades, ao mesmo tempo barato e competitivo. Barato por que é produzido em abundância pelas escolas de formação profissionalizante e competitivo porque, para manter a empregabilidade, vê-se obrigado a investir grande parte de seu achatado salário em processos de aprimoramento profissional, visando permanecer como um "produto" atraente para as empresas.

A vida produtiva torna-se assim, a vida social das pessoas. Viver para produzir, quem não está produzindo não está servindo nem como produto nem como possível cliente, são considerados um joio, um peso para a sociedade. De quem é a culpa disso? De quem é o mérito por indivíduos estarem desempregados? O Mercado, rezando a “bíblia” capitalista argumenta que é culpa dos indivíduos, por não se qualificarem ou não se empenharem no processo de qualificação. Ou seja, eles são uns derrotados e ninguém carrega a culpa disso senão eles mesmos. Esse é um posicionamento cruel em defesa da alta lucratividade das empresas. O desemprego faz parte dos interesses das empresas atuais - por lá, costuma-se chamar isso, cinicamente, de rotatividade.

Ninguém admite de quem é a culpa. O Estado se queixa da redução dos postos de trabalho por meio da modernização e, consequente, automação do processo produtivo, mas, ao mesmo tempo, contribui com programas de capacitação de trabalhadores do tipo plural, oferecendo-lhes uma formação geral, tornando-os versáteis para realizar tarefas e, em contrapartida, baratos, pois, como já dito, são produzidos em larga escala. O "Mercado" se esquiva das acusações e diz que não é dele a responsabilidade pelo desemprego, mas, do Estado, que exerce uma grande oneração por via dos tributos cobrados, obrigando as empresas a buscarem alternativas para reduzirem custos e permanecerem competitivas.

Além disso, legitimam a "lei da sobrevivência", em que elas estão obrigadas a se subjugarem para permanecerem vivas e, ao qual, os trabalhadores devem se inspirar para conseguirem a inclusão e a permanência na atividade profissional. Em meio a culpas e culpados, empresas e países tem se beneficiado em detrimento do lado mais "fraco", os trabalhadores. Um exemplo disso, é a China, um gigante que vê sua economia ter maior desempenho global, enquanto, o seu povo é submetido a uma condição de trabalho em muitos aspectos desvantajosa. Baixos salários, super-exploração e ausência de direitos fazem parte da rotina desses trabalhadores.

Ao estar a caminho da marca de dois bilhões de habitantes, esse gigante da Ásia se torna aos olhos dos Mercados um magnífico reino a ser conquistado, sua imensa população confere ao país um atrativo para os grandes mercados, que querem tirar proveito dessa especificidade.
O regime comunista da China, já faz alguns anos, que se ajoelhou com uma perna só para o Mercado, passando a conceber em seu sistema econômico o inédito Socialismo de Mercado - para os capitalistas, isso é um bom começo. É como se os chineses dissessem aos grandes empresários capitalistas: "Nós ganhamos, mas, vocês levam o troféu". Abrem-se, gradualmente, as portas dos templos aos investidores estrangeiros, de modo que, nos últimos anos, a China tornou-se, talvez, o maior canteiro de obras do planeta.

Em um único dia surgem novos edifícios do tipo arranha-céu, que abrigarão luxuosos escritórios executivos de mega-empresas. Quem paga isso? Ora, o lucro obtido através da criação de um sistema produtivo barato e competitivo, trabalhadores dedicados e mal-pagos. Afinal, cada um tem a sua parte no latifúndio - apesar de ninguém ser dono de terras na China.

Enquanto o governo detém a posse das terras, os grandes empresários estrangeiros ficam com o fruto precioso do setor produtivo - o dinheiro, e, os trabalhadores, bem, estes ficam com as migalhas que caem da mesa farta e suculenta do patronato. A burguesia moderna está cada vez mais voraz e egoísta. Os banqueiros tem lucros exorbitantes, os detentores do grande agronegócio querem todo tipo de subsídios, as fábricas escolhem o local do seu pólo produtivo considerando os incentivos fiscais e a estrutura logística oferecida pelos Estados (malha rodoviária, portos e aeroportos). Enfim, o Estado torna-se mais um refém na mão dos grandes mandatários do cenário global, as grandes empresas.

Com isso, a redução na arrecadação tributária somada aos encargos sociais proporcionados pela elevação do desemprego, o "Estado Mínimo", torna-se aos olhos de todos um Estado pequeno, frágil, impotente, falido. No Brasil, mais um agravante, o "fogo amigo", o Estado corrompido dentro de sua estrutura institucional, os interesses do Mercado são fielmente seguidos por quem deveria vigiá-lo, os agentes políticos.

A corrupção por aqui é histórica, mas, nessas primeiras décadas de redemocratização, assumem uma conotação ainda mais escandalosa, visível. Se é que se pode falar de escândalo, os casos de corrupção dentro da máquina estatal são tão rotineiros que fica até estranho se falar em escândalo - os brasileiros parecem estar tão domesticados a isso que a corrupção, talvez, tenha deixado de ser algo que mereça reflexão. É tudo que os grupos de interesses querem, eles querem "trabalhar" as fraudes sossegados, sem ninguém para vigiar ou, para julgá-los.

domingo, 19 de julho de 2009

Quando voltamos a ser crianças.

POR: PAULO ANDRÉ DOS SANTOS.

Quando pequeninos, aprendemos que o ciclo da vida se dá com as fases do nascimento, crescimento, reprodução e morte. Durante essas fases, aprendemos uma gama de coisas e nos desenvolvemos como seres humanos; somos solicitados a prestar nossa cota de contribuição à civilização. Mas alguma coisa ainda falta dizer desse nosso período vital. Isso por que, quando envelhecemos, é aparente a nossa ânsia em voltarmos à juventude, à infância. Ao mesmo tempo em que nos libertamos, que nos tornamos gradualmente independentes na vida, vamo-nos aprisionando às necessidades, às regras e aos costumes. Quando envelhecemos, parece que saturamo-nos de tais coisas, e, consciente ou inconscientemente, iniciamos uma busca na direção contrária à determinada pelo tempo, queremos tornar a ser crianças, possuídos pela curiosidade e pela energia características dessa época, insuperável em vida e em vontade de viver. Ao menos em espírito, alguns de nós, nunca envelhecem. Insistimos, muitas vezes, em violar os limites que a idade do corpo nos impõe, desobedecemos às prescrições de elasticidade e de resistência estabelecidos para a nossa faixa etária, desprezamos o bom senso. Depois disso, sentimos as consequências do peso da idade, surgem as dores, as contusões musculares e, às vezes, até fraturas. Isso porém, para alguns de nós, não significa um obstáculo intransponível. Mesmo após isso, insistimos em desobedecer regras e em violar os tabus, assumimos a nossa vocação suprema para viver. Nesse meandro, deixamos de ser responsáveis e independentes, passamos a precisar de auxílio para satisfazer as nossas necessidades mais básicas, como para tomar banho ou se alimentar. Infelizmente, a nossa trajetória – quando a seguimos de maneira natural - em determinado momento, culmina na fase da debilidade corporal, somos vencidos pela fragilidade da velhice. O nosso corpo, frágil e dependente como o de um bebê, mas, ao invés deste, que se desenvolve, o nosso corpo segue o seu caminho de deterioração, de falência absoluta, rumo ao destino final de qualquer ser humano, a morte. “...Que seja eterno enquanto dure...”, Assim como diz Carlos Drummond de Andrade, sobre o amor, em um de seus belos poemas, devemos encarar a vida, vivendo-a intensamente enquanto for possível, pois, o tempo não é suficiente para que tenhamos a possibilidade de lembrar de viver. Se vacilarmos e nos atrasarmos, ao olhar pela janela, perceberemos que a caravana já passou.

domingo, 12 de julho de 2009

Maior que o mundo.

POR: PAULO ANDRÉ DOS SANTOS.

Com certeza a Magu nunca esqueceu aquele dia. Um acontecimento daquele só acorre uma vez em uma vida. É como se fosse o encontro entre duas estrelas que a milhares de anos estavam separadas, o primeiro choro ou a gloriosa estréia nesse mundo. Mais importante do que o nascimento, só o renascimento, pois, nesse estamos conscientes de que estamos vivos e de que talvez seja a nossa última chance. Na cultura, na idade, na saúde e no amor, estamos sempre renascendo. E é nesse último renascimento que nos sentimos mais sublimes, mais próximos da divindade. Nesse momento, assumimo-nos como quase deuses, querendo mover o mundo para que reine a felicidade. Um velho dito popular costuma sempre se repetir entre as discussões sobre questões amorosas: “O amor remove montanhas”. O amor é pura energia, é a força que impulsiona para o bem as ações humanas. Ele nos dirige à perfeição, ao estado de espírito elevado, sereno, a sabedoria. Quando falta amor neste mundo, passamos a viver sem significado, sem essência, sem caminho nem destino certo, ficamos completamente perdidos. Amor de verdade não tem ciúmes nem inveja, mas, ao contrário disso, tem alegria e admiração. É costume sermos tão pobres de amor, que confundimos com a paixão. O amor é sempre bom, traz sempre acréscimo em nossas vidas, torna-nos mais fortes e sensatos. A paixão, no entanto, governa-nos, cega-nos e nem sempre nos revelam bons caminhos. Somos possuídos pela paixão o tempo todo. Temos paixão pelas coisas materiais, como dinheiro, roupas, jóias, etc., mas, também temos paixão pelas coisas imateriais, como pelo culto ao orgulho, a inveja, a arrogância etc. Ou seja, a paixão é como o nosso eu cheio de vontades e sem limites. A paixão nos poda como plantas, priva-nos de sermos o que somos: águias em busca do céu azul. A paixão nos aprisiona, cerca-nos dentro de limites do qual não conseguimos sair, torna-nos como galinhas reclusas no galinheiro, ou, como pássaros dentro de uma gaiola. O amor é diferente. Amor é grandeza, escolha, generosidade, liberdade. Amar é como alimentar pássaros livres, dar a eles o direito de voarem, de irem e de voltarem quando quiserem. A Magu viveu o amor intensamente enquanto pôde, isso, por que ambas estrelas continuaram a ser livres para orbitarem pelo céu. Esse é um amor maior do que o mundo em que vivemos, assentado na paixão pelas coisas e pelas pessoas, pela posse e pela legitimidade da escravidão diante de tudo. O viver, sem o amor que nos orienta, é um culto às necessidades, à mesquinhez. Enquanto que viver amorosamente a vida implica em se dispensar das coisas vãs e preocupar-se mais com o bem estar pessoal e dos outros.

sábado, 11 de julho de 2009

A primeira vez...

POR: PAULO ANDRÉ DOS SANTOS.

Saímos da aula às 11:50h. Era o intervalo de um daqueles cursos rápidos de sábado que as pessoas mais atentas se dispõem a fazer. Estávamos satisfeitos com o andamento do curso, sentíamos a comoção de quem se descobre, de repente, um ecologista. As discussões e reflexões sobre meio ambiente e os seus dilemas nos permitiu um olhar mais cuidadoso perante o mundo. Naquele momento, éramos uma só identidade, um princípio, uma causa. E foi possuídos por esse sentimento, que combinamos de almoçar juntos. Afinal, como bons amigos, gostávamos de desfrutar da companhia um do outro. Até esse momento, nada de anormal em nossas vidas, nada que merecesse muita preocupação. No entanto, logo na saída do Edifício Learsing, algo de inesperado aconteceu, uma coisa que nós jamais havíamos cogitado. Uma tragédia? Não! Um milagre. Sem que nós nos déssemos conta, em uma pequena fração de segundo, as nossas mãos se abraçaram, em um movimento quase musical, como se fossem as mãos de um casal intensamente apaixonado. Rapidamente, em um lapso de consciência e de susto, desatamo-nos. Nada de grave nisso, mas, que desencadeou uma série de futuras reações químicas lentas e perigosas, a paixão estava por vir. Silenciosamente, ela foi se incubando e crescendo dentro de nós, assim como na doença os vírus se multiplicam dentro do nosso corpo. Quando descobrimos, era tarde, já estávamos loucamente enamorados. Não havia mais cura, nada mais a fazer. A não ser, entregar-se um ao outro para se contaminarem pelo amor. Só agora nos damos conta, que, para que nos amássemos hoje, foi preciso, simplesmente, tocarmo-nos entre mãos pela primeira vez.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Orgulho de ser Baiano!!!

POR: PAULO ANDRÉ DOS SANTOS.

Parece até jingle, mas, trata-se apenas do desabafo de um torcedor emocionado. Depois de muitos anos amargando o ostracismo no cenário futebolístico nacional, o Bahia ressurge das cinzas para a elite do Brasileirão. Com um time insinuante e determinado, o tricolor baiano se lança diante dos adversários com ímpeto de campeão. Não há tempo ruim, mando de campo ou torcida adversária. Dentro ou fora de casa, não tem pra ninguém. Até a presente rodada, foram 15 jogos de um invejável aproveitamento. Com 11 vitórias e 4 empates, invicto, o Bahia reina absoluto na liderança do certame de 2012, mantendo 10 pontos de vantagem sobre o segundo colocado, o time do Cruzeiro. Sei que já não temos o Bobô, o Charles ou o Beijoca, mas, atualmente, temos, em termos de equipe o elenco mais qualificado e equilibrado nos três setores de campo. Temos a melhor zaga, o meio campo mais aplicado taticamente e um setor de ataque de dar inveja aos times europeus. Hoje teremos mais uma partida no Pituaçu. Bahia e Palmeiras se enfrentam pela 16ª rodada do campeonato. O Palmeiras, que tenta sair da zona de rebaixamento, vem escalado com 3 atacantes. Melhor para o Bahia, pois, sabemos jogar melhor assim. Agora, a poucos minutos do início da partida, a fila dos ingressos, como já é tradição, está fazendo uma voltinha pelo estádio. Sobre forte calor e o desconforto da espera, a nação tricolor não desanima. Cantaremos “Êta! Bahia porreta” e sairemos do estádio eufóricos com mais uma expressiva vitória. Aqui na nossa casa, adversário não joga, nem dá pitaco. O “Baiaço” está chegando para dar o espetáculo que merecemos. A nossa vibração irá abalar as estruturas do time alvi-verde. Ele não suportarão a nossa pressão por 20 minutos, pois, após isso, show-de-bola com os pés, dentro de campo, e, com as mãos, no “olé” que vamos promover nas arquibancadas. Gritaremos: mais um Baêaaaaaaa!!! O mundo todo sentirá a vibração de uma torcida que ama o seu time, que sente o orgulho de ser baiana e que não arredará o pé do estádio até que a vitória esteja consolidada. Eram cinco e quinze da manhã, quando o relógio despertou. Tudo foi um sonho, um belo sonho. Eu estava encharcado de suor. Parecia que estava correndo sob forte sol na estrada... Vá entender. Com o ventilador ligado, eu não deveria estar tão aquecido e a casa é bastante arejada, de modo que, sobre isso, só tenho duas hipóteses: ou foi uma febre ou foi o ânimo de um torcedor em pleno sono.

domingo, 21 de junho de 2009

Respeitável público...

POR: PAULO ANDRÉ DOS SANTOS.

Que decepção. De salto alto, desfilando para a platéia, tecia movimentos mágicos com os pés, que deixavam boquiabertos e eufóricos a todos que lhe observavam. Todo o mundo queria fazer as mesmas acrobacias, todos queriam se achar de bola-cheia. Ele caminhava, corria, driblava todos os obstáculos, até que chegava ao momento da glória. Nesse percurso, todos os expectadores gritavam, torciam, jogavam junto, assumiam a co-autoria da obra de arte desenhada. Infelizmente, até os jogadores de futebol são vítimas do peso da responsabilidade e da fama precoce. Conquistou tudo tão cedo. Saiu de uma vida humilde em Porto Alegre para o glamour estrondoso na cidade catalã. Antes disso, estreante na Seleção Brasileira, ofereceu ao mundo um pouco do que estaria por vir. Deu espetáculo, show de bola, esperanças futuras de glória para a seleção canarinho. Alguns, até perguntavam: “Quem é esse menino?”. Chegou à Espanha arrasando os times adversários, inclusive, o principal rival do Barcelona. Foram pelo menos dois anos de sucesso e alegria na torcida. Muitos lances antológicos, muitas jogadas inacreditáveis, a torcida se viciou em mágica. Passado algum tempo, o menino de Porto Alegre, sem carregar no espírito a alegria e o sabor da conquista, foi se tornando normal, a sua mágica foi se esvaindo, que apesar de ser tão precoce, parece que durou milhares de anos, assim como o brilho das estrelas. Perdeu a motivação de jogar no time, já não tinha mais desafios naquele lugar. Decidiu ir para Itália. Foi se tornar um milanês. Entrou para o time do poderoso Berlusconi, o não menos poderoso Milan F.C. Jogou com Kaká, com Pato, pareceu que iria “bombar”, mas, isso não aconteceu. O técnico o lançou na reserva, ficou ali esquecido, desprestigiado, sem cor, sem mágica, sem vida. Para 2010, ano de Copa do Mundo, o mágico anuncia o seu desejo de voltar a brilhar com os amarelos da Seleção. É uma missão difícil para qualquer jogador de potencialidades normais, mas, para um mago da bola, é uma questão de mágica e de platéia. Afinal, o que é isso, companheiro? Para que tanto fatalismo se até os magos tem os seus dias humanos aqui na terra. O Ronaldo-fenômeno já mostrou que é possível dar a volta por cima. Quem sabe mágica e fenômeno se misturem para conquistarem a última gloria com a canarinho, quem sabe tal fenômeno não ajude um mágico a recuperar os seus poderes. O povo brasileiro quer mais do que vitórias, quer ver espetáculo dentro das quatro linhas. Temos melhores jogadores do mundo, por isso, queremos o melhor futebol, também. Respiramos arte e pela arte vivemos. Em 2010, no entanto, independentemente de mágica ou de fenômeno, de espetáculo ou de pragmatismo, nós, brasileiros, de fé e de samba, com toda alegria, iremos propiciar mais um glorioso momento do Brasil nos gramados.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

As flores que não te dei...

POR: PAULO ANDRÉ DOS SANTOS.

Tudo poderia ter sido perfeito. Amor, amada e amante coexistiam, completavam-se como se fossem as notas de uma bela melodia. Céu e mar, noite e estrelas, beijos e lábios, uma comunhão belíssima entre dois que formam um só. Ao ressuscitar os amores do passado, jazidos na memória e no coração, fica-nos, muitas vezes, a nostálgica sensação de que poderia ter sido melhor. Como diz a emblemática canção dos Titãs, “Epitáfio”, “...Devia ter amado mais...ter aceitado as pessoas como elas são...”. Ao rememorar o passado – que, em não raras ocasiões, nos é dolorido – sentimos o amargo fel do arrependimento. É triste passar “em branco” pelas páginas da vida, diriam todos aqueles que se esqueceram de viver. Algumas vezes, lamentamos as flores que não demos, as palavras que (não) dissemos, o amor que não revelamos, por medo, ou, simplesmente, por um ignorado egoísmo. As escolhas que fizemos, entendendo serem as melhores para a nossa felicidade, foram como assinaturas em um papel em branco. Donos de si, na verdade, não tínhamos o controle das ações, não tínhamos o olho nas consequências. Não percebemos, naquele momento, que eram muito frágeis as garantias e, que, notavelmente, haveria um preço alto a pagar. Agora, daqui do cemitério de Nossa Senhora do Ó, no Alto da Gameleira, avistando, abaixo, um viveiro de peixes, e, contemplando, ao longe, a imensidão do mar azul, damo-nos conta de que acabamos pagando o que queríamos com o que, na verdade, já tínhamos, a felicidade.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Violência escolar: as ambiguidades e conflitos entre escola e sociedade

POR: PAULO ANDRÉ DOS SANTOS.

Atualmente, nos meios de comunicações, a escola vem sendo alvo de críticas e denúncias sobre a precarização de seu espaço e de sua ação pedagógica. Enquanto isso, os profissionais da escola reivindicam melhores condições de trabalho e mais reconhecimento. São falas conflituosas que emergem da sociedade e do seio da escola, que demonstram a complexidade do problema.

A violência dentro do espaço escolar exerce papéis que se protagonizam e colocam em cena uma escola ambígua, uma vez que, criadora e criatura da sociedade. Uma escola vista sob o ponto de vista das vozes que ecoam na sociedade como seleiro da exclusão cultural, social e econômica, mas, que, dentro dos seus muros, os seus agentes educadores choram o descaso e a vergonha a que estão submetidos.

A escola revela, nesse sentido, uma espécie de vitrine em que se expõe, em que se denuncia o quadro social existente. No entanto, seria injusto culpabilizar tão somente a escola pelo atual cenário que permeia a sociedade, embora, a educação do contexto capitalista brasileiro tenha servido mais às demandas exigidas pelo mercado, do que para a construção efetiva da cidadania.

De acordo com Foucault (2005), a escola se utiliza de procedimentos ritualizados de seleção, vigilância, controle e exclusão. Sobre isso, o autor ainda relata que o exame é um aspecto emblemático que representa e denuncia a reprodução na escola dos mecanismos de seleção e exclusão identificados na sociedade.

Se fosse possível analisar a relação entre escola e mercado como se ambos estivessem na condição de cartolas de um campeonato de luta, poderia-se dizer que a escola exerceria o papel de selecionar os lutadores, e, o Mercado, os vencedores. Como não há espaço para todos no podium, o que resta aos perdedores? A desonra, a constante humilhação através do descaso, a exclusão dos meios de afirmação pela vida produtiva, a invisisibilidade social.

No entanto, quando se fala de escola no contexto de protagonismo na gênese da violência, é prudente ressaltar que ela é apenas a ponta do iceberg, ou simplesmente, a engrenagem mais notável de um sistema. É preciso, antes de tudo, evitar uma condenação prévia e, talvez, atribuir uma responsabilidade que não é exclusiva da escola.

Para compreender essa problemática é necessário um mergulho mais profundo nas estruturas, para ir além do Sistema de Ensino, como por exemplo, chegar a perceber possíveis influências do Sistema Econômico em que está inserido o sistema de ensino.

De acordo com Morin (2005), é preciso situar as palavras em seu contexto para que adquiram sentido. Desse modo, como dito anteriormente, não é possível se enxergar a escola sem compreender que ela está hierarquicamente submetida a um sistema, que por conseguinte, está subordinado a outros sistemas e que, finalmente, atende aos interesses de determinados grupos dominantes e, por vezes, às reivindicações de outras categorias da sociedade, economicamente, enfraquecidas.

A escola se comporta ora se comporta como vítima (do sistema), ora como algoz (de alunos). Professores precarizados pela falta de formação adequada, baixos salários, carência de recursos e materiais para a realização do trabalho pedagógico, tudo isso, demonstra que a escola é alçada frente a sociedade como "testa de ferro" do sistema de ensino, que por sequência, revela-se submisso aos interesses do capital estrangeiro.

Com isso, torna-se um grande desafio a busca do desvelamento das faces ocultas que se escondem por detrás da malha escolar. O problema da violência não é um sintoma exclusivo da estruturante rede escolar, mas, que, também, se vê influenciado por uma estrutura macro, que se sobrepõe a estrutura da escola, além das outras estruturas que, através de seus próprios interesses, busca influenciar diretamente no sistema de ensino.


MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. Trad. de Catarina Eleonora F. da Silva e Jeanne Sawaya. Revisão técnica de Edgar de Assis Carvalho. 10.ed. – São Paulo: Cortez, Brasília, DF: Unesco: 2005.

FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir. Petrópolis, Vozes, 1977.