domingo, 9 de fevereiro de 2014

RESUMO: Uma educação romântica: o conceito de bildung no início do romantismo alemão.

Prima facie, para os representantes do romantismo alemão, a bildung era o sumo bem, o ápice que a humanidade poderia alcançar. A bildung era considerada pelos românticos aquela que deveria ser a mais alta aspiração da humanidade. De acordo com Beiser (p.1), os romanticos defendiam a ideia de que uma república não pode obter êxito se as pessoas não estiverem prontas para ela. Em outras palavras, para que a república se consolide é imprescindível que haja identidade, comunga de crenças, valores e da tradição que caracterizam aquilo que denominam república. Alíás, ao observar a etimologia da palavra república, iremos à origem no latim "res publica", que significa "coisa pública", assim, algo que deve ser partilhado pelas pessoas que compõem esse universo. Mas como estabelecer tal coesão social? Uma saída para esse impasse seria, à luz do pensamento romântico alemão, a bildung. Ou seja, somente através da educação as pessoas consolidariam o conjunto de competências essenciais à sobrevivência da república. Para os românticos, conforme diz Beiser (p.1), "...se as pessoas estão a participar dos assuntos públicos, elas tem de saber os seus verdadeiros interesses e os do Estado coomo um todo, e se eles são cidadãos responsáveis, eles devem ter a virtude e o auto controle para preferir o bem comum sobre os seus interesses privados". Na verdade, o argumento romântico parte de uma ideia herdada de Montesquiéu sentencia que "o princípio da república é a virtude". Em contrapartida, essa ideia sofreu a oposição de Kant, filósofo da época. Para ele, segundo Beiser (p.2), "mesmo em uma nação de demônios, a república seria possível". Por outro lado, diz Beiser (p.2), os românticos responderam a essa crítica argumentando que a "única forma de controle social de uma nação de demônios somente seria possível através da repressão e do autoritarismo. o que seria segundo eles, analogamente, um "leviatã hobbesiano". A sociedade estaria então vivenciando o estado de natureza, onde a força e a astúcia prevaleceria sobre a fraqueza e a debilidade. Assim, não restaria ao Estado outra alternativa para a sobrevivência e desenvolvimento da república a não ser a educação. Nesse sentido, a bildung, enquanto sumo bem, argumentavam os românticos, era a maior realização de um sujeito, a bildung era a supreme self-realization da humanidade. Isso implicava na realização de toda a potência de aprendizagem e do crescimento pessoal dos indivíduos e, por consequência, da "res publica". Segundo a lógica dos românticos, o Estado é um meio e não um fim sem si mesmo. O Estado é o meio ao qual os indivíduos poderiam alcançar a auto-realização. Dito isto de outro modo, seria o fim completo do sujeito, a consumação da existência, o término de uma grande obra. Esse summum bonum, conforme alude Beiser, é a bildung. A bildung, para os românticos, possuía dois objetivos fundamentais: o primeiro, "unificar e desenvolver todos os poderes de um ser humano, estabelecendo todas as suas capacidades diferentes em um todo; o segundo objetivo é o de "desenvolver a individualidade". Nesse último, implica o desenvolvimento de aptidões únicas e disposições peculiares a cada indivíduo. Para isso, conforme Beiser, os românticos elegeram a arte como principal instrumento para desenvolver a bildung. A arte como ferramenta da bildung viabilizaria a educação estética, que teria como finalidade primordial a "libertação do espírito humano", do jugo imposto pela opressão social e pela política. A partir daí, seria possível, de acordo com os românticos, "romantizar os sentidos" e desenvolver o poder de contemplação, primando pelo cultivo da sensibilidade em relação às coisas do mundo, "reunificando o homem consigo mesmo" e com o mundo. Pois como diz Beiser (p.11), "A tarefa do homem moderno era recriar em nível consciente e racional aquela unidade com nós mesmos, com os outros e com a natureza, unidade que havia sido dada para o homem primitivo a um nível ingênuo e intuitivo". Sobre isso, conforme Beiser, os românticos viam na misticismo um elo imprescindível para o desenvolvimento desse processo, o que implicava no reavivamento da religião, não tal como é, mas, como diz os românticos: uma forma específica de contemplação ou percepção do universo. Outro elo fundamental para a bildung, segundo os românticos, era o amor. O amor era o pilar central da ética romântica, pois, conforme Beiser (p.13), "...o poder do amor, na verdade transcende todas as regras morais: enquanto o amor inspira, a lei reprime; enquanto o amor perdoa, a lei pune". REFERÊNCIA: BEISER, Frederick C. Uma educação romântica: o conceito de bildung no início do romantismo alemão.