sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Lembranças de Guantánamo.




Por: Paulo André dos Santos.

O homem sempre muda a paisagem, ainda que algumas imagens insistam em permanecer. Ao longo de quase sete anos, várias experiências fincaram marcas difíceis de apagar. Em Guantánamo a comunidade de prisioneiros, assim como a sociedade fora do presídio, estava dividida em grupos de influência e de poder de decisório. Pode-se dizer que lá na prisão existiam basicamente duas opções para de se incluir na coletividade. Em Guantánamo não tinha meio termo, ou se é amado, ou se é odiado. Os amados, apesar de serem iguais aos outros prisioneiros, possuíam prestígio junto aos agentes carcereiros. Eram tratados de maneira diferenciada. Possuíam Tv a cabo, visitas íntimas prolongadas, bebidas, etc. Já os odiados, em contrapartida, eram os opróbrios, exemplos da insignificância, os refugos humanos deportados para um ponto qualquer da Sibéria. Privados da liberdade e condenados ao esquecimento, tornaram-se invisíveis aos olhos da sociedade. Ninguém ouvia os gritos que rompia o silêncio da noite; ninguém percebia a sujeira e o mal cheiro das celas. Nesses anos, muitos desejaram sair do cativeiro. Alguns para mudarem de vida, outros para reeditá-la. Dos poucos que conseguiam respirar o ar da liberdade, alguns sempre acabavam perdendo a direção e acabavam regressando ao inferno prisional de Guantánamo. A liberdade também cobra o seu preço; sempre há o que dar em troca dela. Para os que voltavam, os castigos eram piores. O sangue e a carne viva, geralmente, ajudavam a caracterizá-los. Em Guantánamo era um consenso entre os prisioneiros: era muito difícil sair da prisão, mas, o mais difícil, ainda, era voltar. Se entrar em Guantánamo causa a sensação de ser enterrado vivo, regressar à prisão, após breve e frustrada fuga, é como morrer lentamente, silenciado e sufocado, sem qualquer chance de despedida.

sábado, 11 de dezembro de 2010

Podres poderes.

Apesar das nuvens, o sol brilha.
Apesar das sombras, a esperança fervilha,
Lá das nuvens, quando a chuva cai, a vida cresce,
A luz prevalece, o sol brilha, fervilha.

Apesar do homem, homens prosseguem,
Arrastando-se pelos caminhos tortuosos,
De uma vida ingrata e sofrida,
Longe dos olhos dos famosos.

A vida é consequência da morte,
A morte é uma sequência da vida.
Todos nascem para morrer,
Outros morrem para ter vida,

Sem pão para comer,
Nem lugar para guarida,
Ninguém mais quer ver,
Essa cena tão sofrida.

Apesar do homem, o homem vive.
Lá embaixo dos escombros,
De uma destruída humanidade,
Fruto da desumana perversidade.

Os animais são mais sensatos,
Matam apenas para viver,
Os homens, reles estúpidos, ingratos,
Bebem o sangue por prazer.

Ceifam a vida do ventre livre,
Condenando-o à exploração.
Assim se nasce, assim se vive.
Catando as migalhas do patrão.

Na casa do senhorio, comida farta na mesa,
Enquanto grita bravio, o estômago vazio da serviçal,
Que lamenta e chora noites a fio,
Que os deuses a livre de tanto mal.

Os podres poderes que submetem,
A mais indigna posição,
Homens e mulheres condenados,
A mais extrema humilhação.


Não podem conter a energia,
Que emana dos corpos feridos,
Pelo punhal da miséria,
Agonizam, mas, resistem ainda os “vencidos”.

- Por: Paulo André dos Santos -

RESENHA

REFERÊNCIA: TROPA DE ELITE 2: O inimigo agora é outro. Lançamento: 2010. Atores: Wagner Moura, André Ramiro, Maria Ribeiro, Milhein Cortaz. Participação: Seu Jorge. Duração: 116 min. Gênero: ação. Estúdio Zazen produções. Distibuidora: Zazen Produções. Direção: Tiago Marques. Música: Pedro Bromfman. Fotografia: Lula Carvalho. Direção de arte: Tiago Marques. Edição: Daniel Rezende.



RESENHA

POR: PAULO ANDRÉ DOS SANTOS.

Maior sucesso de bilheteria da história do cinema brasileiro, o filme “Tropa de Elite 2”, traz uma perspectiva diferente da saga anterior. Aliás, como transparece o seu subtítulo (“O inimigo agora é outro”), a produção procura desmitificar e demonstrar que existe toda uma rede de poderes na relação de conflito entre polícia e crime organizado.

Protagonizado por Wagner Moura, o filme convoca à reflexão os espectadores, para a temática da violência, dos direitos humanos, envolvendo a polícia e o crime organizado. Ao mesmo tempo, o filme procura mostrar que uma das consequência da corrupção política e policial, é o fortalecimento do mundo do crime.

O filme denuncia, de maneira contundente, os meandros da vida policial e política do país. Traz em cena a perspectiva criminosa das melícias, que são controladas por policiais corruptos ou ex-policiais. Por outro lado, deixa evidente a condição de exploração que se encontram os moradores de favelas controladas pelo tráfico de drogas, ou, pelos milicianos.

Em relação a esfera política nacional, a produção fílmica desnuda o esquema de “compra de votos”, que, por absurdo que possa parecer, ainda se constitui em uma estratégia muito utilizada para os políticos alcançares ou se perpetuarem no poder. Muito bem articulados, alguns “bandidos de gravata”, percebem, no contexto do filme, que é mais vantajoso para eles terem como aliados os criminosos que controlam as comunidades das favelas.

Ou seja, em troca de votos, faz-se convênios secretos com o crime organizado. A história do filme é ficção, mas, a realidade não está longe disso. Casos recentes da história brasileira revelam que a associação de políticos ao crime organizado não é conto da carochinha. A propina recebida por policiais e por políticos é uma realidade quase rotineira.

Enquanto isso, as organizações criminosas se fortalecem, com armas e com a conivência de agentes de um sistema que deveria atuar para defender a lei. Ao invés disso, preferem se tornarem sócios dos traficantes, cobrando dinheiro em troca de proteção.

Fica evidente, infelizmente, que a problemática da criminalidade no Brasil é, muitas vezes, agravada não pela falta de recursos das polícias, mas, por uma distorção no comportamento dos agentes policiais e políticos diante da situação.

Assim, como verbaliza o Capitão Nascimento, o sistema é um organismo complexo, composto por elementos que, muitas vezes, mudam o curso de suas atribuições dentro do sistema, aproveitando-se do lugar que ocupam para realizar empreendimentos pessoais ou de outrem. O problema do sistema, conforme encerra o filme está situado em suas diversas esferas, mas, principalmente, nas altas esferas políticas do país.

domingo, 26 de setembro de 2010

Proatividade estratégica.



Por: Paulo André dos Santos.

Há tempos atrás ser proativo era sinônimo de assumir responsabilidades. Uma pessoa com esse perfil, geralmente, agia com motivação e iniciativa, sempre que uma situação pedisse a solução de um problema atípico. Entretanto, equacionar situações problemáticas, em inúmeras circunstâncias, exige um dispêndio de consideráveis somas em dinheiro. Não raramente, gastos realizados para solucionar problemas ocasionava perdas sérias e, em alguns casos, irreparáveis, no potencial de investimento da empresa. Com isso, a capacidade de conservar a sustentabilidade e a autonomia financeira é afetada e, por fim, perde-se em competitividade, elevando o risco da não sobrevivência no mercado. Diante de uma economia globalizada onde a concorrência se faz cada vez mais acirrada, de modo que, indispensavelmente, maximizar os recursos financeiros torna-se um dos fatores críticos de sucesso do negócio. Nesse sentido, estar habilitado para “apagar incêndios” já não é mais suficiente. Ser proativo, nesses moldes, não garante o êxito de um empreendimento. É preciso atenuar os fatores que oferecem risco ao negócio. Para isso, é fundamental o desenvolvimento de um plano estratégico, que analise todas as variantes que impactam diretamente nos resultados do negócio. O problema, nesse sentido, existe antes mesmo de nascer. Com ressalva para casos fortuitos, relacionados a fatores externos à empresa, os problemas aparecem logo na fase de planejamento de um processo da empresa. Um planejamento mal feito já é mais de meio problema. Conseguinte, nesse contexto, o significado de proatividade precisa ser reconcebido, enriquecido, acrescentado pelo adjetivo da visão estratégica. Ou seja, ser proativo em consideração as demandas atuais do mundo empresarial, principalmente, em nível gerencial, deve ir muito além de possuir atitude. Ser proativo, na perspectiva atual quer dizer, também, possuir os pés no presente e com os olhos no futuro. Trata-se, não mais de uma proatividade focada estritamente na autonomia para a iniciativa, mas, de uma proatividade estrategicamente visionária, em que cada passo é pensado e planejado. Em suma, uma capacidade de ação e resiliência tal concebida, que permite um processo mais seguro e acertado de adaptação às mudanças.

sábado, 18 de setembro de 2010

O impacto das mudanças organizacionais nos stakeholders.




Por: Paulo André dos Santos.

Quando os ventos mudam de direção, é preciso ajustar as velas. Um navegador sabe muito bem disso. Sabe que para chegar ao destino terá que cuidar para que certos problemas não aconteçam. Semelhantemente, acontece no processo gerencial das empresas modernas.

Por uma questão de sobrevivência, torna-se um requisito ter uma visão de futuro e a habilidade necessária para equilibrar e conduzir o “barco” em direção ao caminho da prosperidade. Nesse mercado competitivo, é fundamental dominar a “arte da prudência”, ou, melhor que isso, é preciso consolidar o hábito de ser prudente. E ser prudente, na contemporaneidade, tem como um de seus pressupostos, a capacidade de adaptação às mudanças.

Toda vez que há uma mudança na concepção do ambiente organizacional, a depender do ritmo em que elas se procedem, o impacto pode vir a ser muito desastroso. São muitas as pessoas que podem ser afetadas de maneira direta, ou, indiretamente, por uma mudança no quadro organizacional de uma empresa. A essas pessoas, que podem ser de natureza física ou jurídica, costuma-se chamar, nos círculos de administração, de stakeholders.

Ou seja, todos os envolvidos que influenciam as ações e resultados da organização, e por eles são influenciados. Nesse sentido, cabe destacar, em termos de mudanças organizacionais, os colaboradores. Por que, junto a outros stakeholders do ambiente interno das organizações, são em muitos casos, os primeiros a serem afetados por esse movimento nos arranjos das empresas.

Conforme Hunter (2005) “...A mudança nos desinstala, nos tira da nossa zona de conforto e nos força a fazer as coisas de modo diferente, o que é difícil.”. Desse modo, pode-se inferir que o processo de mudança precisa ser conduzido de maneira criteriosa, cercada de muitos cuidados, para que as pessoas, inseridas no processo, sintam o menor desconforto possível.

Para atender a essas necessidades, a partir de uma visão sistêmica, é imprescindível aos gestores analisarem a conjuntura ambiental e, sobretudo, identificarem as atividades do processo organizacional que solicitam melhorias. Os problemas precisam ser identificados e sanados, preferencialmente, antes que venham a ser tornarem críticos.

Afinal, partindo da premissa de existe uma forte interdependência entre as áreas e as sub-áreas das empresas, ainda que a estrutura organizacional permita um confortável grau de autonomia das áreas, um problema crítico em uma área pode assumir um caráter epidemiológico, alastrando-se para outras áreas.

Um problema, originalmente, é sempre um problema, mas, isso não quer dizer que, sem ser submetido ao devido tratamento, ele não venha a se tornar uma legião de problemas.

Como exemplo disso, pode-se citar a questão do acesso a uma educação de qualidade. Uma pessoa que não teve a oportunidade de vivenciá-la terá, possivelmente, ao longo da vida, em decorrência disso, muitos problemas. É possível, que não terá facilidade para conseguir um emprego valorizado pela sociedade, que não terá acesso fácil a um plano de saúde de ampla cobertura. Entre muitas coisas, de maneira geral, as suas condições de vida serão muito limitadas.

Analogamente, pode-se levar em consideração isso, para o contexto empresarial. Ou seja, em termos de competitividade, uma empresa, por exemplo, que não consegue se estabelecer, não tem a sua marca valorizada. Nesse caso, possivelmente, terá dificuldades em firmar parcerias, para vender os seus produtos e para viabilizar-se no mercado.

As eleições e a culinária.



Por: Paulo André dos Santos
Para quem não captou o significado de cidadania, o momento sublime dessa condição está no pleito eleitoral. Participar das eleições votando pode ser comparado ao processo de preparo de um quitute pela cozinheira. Não basta colocá-lo no fogão e acender o fogo. Para que o quitute fique realmente pronto, é preciso mais do que isso. É necessário acompanhar o seu cozimento, regulando a temperatura e o tempo ideal, de modo que ele tenha o resultado esperado. Ou seja, espera-se que, se bem preparado, ele se torne um alimento saudável e saboroso. Analogamente, esse processo pode ser identificado na participação dos eleitores no processo eletivo dos representantes políticos. É preciso cumprir o dever de casa antes e depois de votar em um candidato a cargo político. Inicialmente, é preciso analisar a conjuntura das eleições, estudando os partidos políticos e os candidatos, dentro do contexto histórico e os seus discursos no momento pré eleições. Deve ser verificado que interesses os candidatos defendem. Isso é possível de ser feito através do acompanhamento do modus operandi, a respeito dos princípios legais e éticos. Em outras palavras, faz-se necessário, como cidadãos, fiscalizar as ações dos candidatos eleitos e identificar se estão cumprindo as promessas de campanha. Afinal, o resultado obtido ao longo de uma gestão governamental tem certa dependência do grau de amadurecimento político dos cidadãos. Se esse amadurecimento não está consolidado, as promessas de campanha estão propensas a sumir tão rápido quanto fumaça. Por outro lado, se em uma sociedade está consolidada no povo o sentido pleno do que é cidadania, o manjar estará pronto e a mesa estará farta e diversificada. O direito é sempre resultado das lutas estabelecidas no exercício da cidadania. Ele produz a cidadania e por ela é produzido. Os deveres representam o outro lado da balança. São a contrapartida que devemos oferecer para que os direitos de outras pessoas sejam viabilizados. Como deve existir no âmbito da culinária, para que a harmonia de ingredientes gere algo aprazível de saborear, assim também deve ser o exercício da cidadania, um equilíbrio constante entre direitos e deveres.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Linha de fogo.



Por: Paulo André dos Santos.

Dois pólos antagonistas, uma silenciosa guerra, um observador solitário. Ele não está muito longe do confronto. Na verdade, encontra-se mergulhado no confronto, dentro dele, no entanto, inerte e perplexo. Em estado de choque, somente observa os fatos, sem querer acreditar no que se apresenta a sua frente, não sabe o que fazer. Não sabe se corre, se grita, ou, se se esconde. Na linha de fogo, a vida dele é o que está em jogo, por isso, uma decisão precipitada por custar muito. As facções criminosas rivais trocavam tiros entre si, as pessoas corriam, fechavam os estabelecimentos comerciais e trancavam as casas. E o observador, ainda ali, imóvel, um alvo em potencial. Para não ser atingido, precisava sair dali rapidamente. Não havia aonde se abrigar por perto. Sobrava-lhe uma única alternativa: o esgoto. Estava bem em cima de uma tampa de bueiro. Ao levantar a tampa do bueiro, veio-lhe uma rápida reflexão, pensou nas circunstâncias. Curiosamente, justo no momento em que a realidade parece-se com o inferno, a única solução possível que lhe resta é o esgoto, onde geralmente, abrigam-se ratos e baratas. Por que a solução veio ironicamente de um local tão repugnante? E como não existia outras alternativas, não havia muito o que pensar. Dessa maneira, desceu rapidamente. Ainda dois dias depois do ocorrido, analisando a situação, recôndito em casa, o observador conclui que momento crítico vivenciado lhe rendeu um aprendizado: a solução para um problema, algumas vezes, virá do local menos provável. O convencional, nesse sentido, em uma situação de emergência, pode dar lugar à criatividade e ao improviso. Desse modo, até mesmo no sólo hostil podem frutificar belas idéias, seja pela emotiva intuição, seja pelo raciocínio lógico.

sábado, 4 de setembro de 2010

Capitalismo e intolerância.



Por: Paulo André dos Santos.

O capitalismo por essência é intolerante as demandas humanas. Competição e vitória acabam resultando em uma tragédia silenciada. Em um rol de mil pessoas, por exemplo, numa competição, somente algumas dezenas saem estasiados com a vitória. São eles os únicos que irão aparecer nas fotos. A grande imensa maioria são condenados à derrota e ao esquecimento. Como não se pode entender por injusto que o sorriso de alguns custa a frustração de uma grande quantidade de pessoas?

O espírito do capitalismo é a luta, a superação de outros seres humanos. Pior, não é, necessariamente, uma escolha, mas, muito mais, uma compulsória necessidade de sobrevivência. Que se nega a vencer é vencido por WO. Além disso, as condições de competitividade são muito desiguais, as oportunidades são desiguais. A intolerância de um Sistema alimenta e patrocina a intolerância entre as pessoas que estão subjugadas a esse Sistema.

Individualismo e consumismo, como pilares do capitalismo revelam-se como um câncer para a saúde das relações humanas. Os que tem capital para satisfazer os desejos de consumo não querem repartir com os que não tem. Os que não tem, condenados a consumir imagens pela Tv, sente-se humilhados, esquecidos, sem-valor.

O valor para os que estão inseridos na cultura do capitalismo é medido pelo que se tem e, infelizmente, não pelo que se é enquanto ser humano. Assim, dentre os excluídos surgem aqueles que não aceitam a condição de não ser, por que, para eles, não ter é essencialmente, não ser. Muitos deles, sem oportunidades de acesso ao "céu" (o mundo do trabalho e do dinheiro), acabam aceitando ser operários do crime, pois, muitas vezes, não conseguem enxergar outra opção, outra alternativa que lhes permitam sair do "inferno" em que se encontram (sem renda, sem comida, sem saneamento básico etc.).

Sabem muitas vezes, que esse é um caminho sem volta, mas, optam por ele ao invés de permanecerem onde estão: na "caldeira do diabo!"

O lugar em que se encontram, muitas vezes, não lhes permitem contemplar o "sol" e, desse modo, imersos nas "trevas", acabam se apoiando em qualquer coisa em que conseguirem encontrar à frente.

Assim, uma escolha, nesse contexto, não reflete, necessariamente, uma escolha.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

O banquete do faminto.




De pés atados,
Não verás o mar!

Andando pela cidade,
Entre cidadãos apressados,
Correndo, apertados,
Atenção é raridade.

Custa caro cinema,
Diário da vida real,
O ingresso é pão, é merenda,
Boa vontade alheia,
De alguém que se afetou com a cena,
Do mísero mendigo Sobral.

E das sobras ele vive,
De um resto escarnecido,
Do prato sujo do restaurante,
Que mais parece banquete servido.

Autor: Paulo André dos Santos.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Para o dia nascer feliz.

Por: Paulo André dos Santos.
Curiosamente, foi justo na escuridão de uma fria noite, que a assimilação de uma série de eventos me permitiu enxergar a grandeza da luz introspecta mergulhada na essência de cada um de nós. Somos como o sol: podemos brilhar e trazer luz e vida sobre nós. Também, possuímos dessa energia o suficiente para iluminar o ambiente, contaminando positivamente outras pessoas. A luz a que me refiro é o ponto culminante de nosso processo de autodescoberta. Ou seja, a luz é o que viabiliza a felicidade, a autorealização. A luz é o conhecimento de si mesmo, um requisito primeiro elegido por Sócrates na antiguidade para alcançarmos a sabedoria. Como ele próprio enunciou, “Conhece-te a ti mesmo”. E toda vez que nos descobrimos, aprendemos, conforme Shakespeare , que a vida possui um inestimável valor. E, por isso, nós representamos um grande valor diante da vida. Muitas vezes, levamos longos anos para descobrir isso. Aliás, há pessoas que passam literalmente pela vida sem descobrir. É verdade. A vida passa muito depressa quando ficamos aprisionados no tempo, seja nos fatos do passado, ou, tentando alcançar com as mãos um imaginário futuro. O viver, no sentido verbal da palavra, na vida real, implica em não negligenciar a conjugação do tempo presente, pois, sem ele não se constrói um bom passado, nem tampouco se firma as esperanças e os planos em relação ao futuro. O que mais importa é o aqui e o agora! Carpe diem . Traduzindo...aproveite o dia. Não se esqueça de que o tempo passa mais rápido do que você percebe. Eu fui lembrado disso por Mr. Mascarenhas . Com ele aprendi que “nenhuma crença que alguém tenha sobre você pode ser maior (e mais forte) do que a crença que você tem sobre si mesmo”. Afinal, quem acreditará em você se você próprio não se valoriza. Ainda que o céu do dia esteja completamente preenchido pelo cinzento nublado, o sol sempre estará brilhando. Nós somos únicos!

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Crônicas da Copa.



PAULO ANDRÉ DOS SANTOS.
A cada quatro anos, o mundo gira em torno do futebol. Cerca de trinta e dois países entram na disputa pela tão sonhada taça de campeão mundial. Em casa, milhões de patriotas torcedores roem as unhas, na expectativa de que seu país faça uma boa campanha – o futebol tem seus encantos. Aliás, nenhum esporte, talvez, produza tanta audiência nas transmissões televisivas. Realmente, um evento esportivo da magnitude da Copa do Mundo de Futebol é bastante rentável. Muito dinheiro escorrega pelo duto do mercado futebolístico. Cifras astronômicas são geradas a partir da publicidade singular da Copa. Grandes empresas multinacionais investem vultosos recursos, a fim de potencializar as vendas. E vendem muito, senão não gastariam tanto com publicidade. A Copa é interessante enquanto evento esportivo, mas, mais do que isso, é muito importante, também, como “mina de ouro”, pois, oferece às empresas a oportunidade de ampliar substancialmente os seus lucros. Com tanto dinheiro rolando pelos bastidores, a suspeita sobre manipulações de resultados é presente nos segmentos mais críticos da sociedade. Aliás, muitos, já céticos, preferem a indiferença diante do referido evento, dada a convicção sobre o seu cunho ideológico. Referem-se à Copa como um “circo” montado para as massas, a fim de desocultar a realidade e lhes proporcionar uma ilusória e momentânea esperança. Por outro lado, não dá para negar a Beleza do futebol. Os lances ontológicos, os dribles desconcertantes, as defesas milagrosas, fazem do futebol o esporte mais popular do mundo. Sendo, na Copa do Mundo, um motivo para se colocar em cena o sentimento nacional, refletindo, de certa forma, os anseios de cada povo. Durante a Copa do mundo, o mundo gira em torno da bola. Na verdade, a bola é o mundo, a razão existencial de todos estarem a acompanhá-la: os jogadores, os torcedores no estádio, os telespectadores etc., todos, enfim, envolvidos emocionalmente na competição, gritando, reclamando, sugerindo medidas necessárias ao sucesso de sua Seleção. Nesse meandro, um ganha, outros perdem, mas, continua ainda acesa a chama da esperança para a próxima edição do evento. Após quatro longos anos, tudo começa de novo, ressurge a esperança, da própria realidade, a grande maioria refugia-se nela para que possa existir, pelo menos, como povo. A comunhão e o entusiasmo dos torcedores volta a empurrar a Seleção rumo às vitórias.

O charlatão, o vigarista e o estelionatário.



Por: Paulo André dos Santos.
Desde que o mundo é mundo sempre existiram pessoas desprovidas de qualquer dignidade, que ganham a vida explorando a ingenuidade e as crenças da população. Hoje, é preciso tomar muito cuidado com pessoas desse tipo. Charlatão, vigarista, estelionatário,... independente do nome que se dê, milhares de pessoas são vitimadas todos os anos. Há enganadores de toda natureza: vendedores de curas milagrosas, de produtos que não funcionam, de terrenos no mar, etc. Na maioria das vezes, as suas vítimas são anciãos, principalmente. Geralmente, pessoas de baixa escolaridade, que são enganados, sofrendo, muitas vezes, prejuízos irreparáveis em seu patrimônio. Em alguns casos, sendo expostas a riscos de morte – no caso, por exemplo, de remédios à base de farinha. O pecado capital desses falsários é que se acostumando em realizar tramóias acabam ganhando excessiva confiança, deixando de precaver-se dos riscos de serem desmascarados. O mal do esperto é que ele acaba se convencendo de que somente ele é esperto, os outros são uns otários. Nesse momento é que a casa cai, o meliante acaba preso, quando antes, não recebe uma sova dos populares.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

RESENHA



REFERÊNCIA: 12 homens e uma sentença. Direção: Sidney Lumet. Produção: Henry Fonda e Reginald Rose. Produtor associado George Justin (Orion-nova). Intérpretes: Lee J. Cobb; Ed Begley e E. G. Marshall; Jackwarden; Martin Balsam; John Fiedler; Jack klugman; Edward Binns; Joseph Sweeney; George Voskovec; Robert Weber. História e Roteiro de Reginald Rose. Gênero: Drama. Estados Unidos: Orion-Nova, 1957. 1 DVD (96min).




RESENHA

No filme “12 homens e uma sentença” (1957), estrelado por Henry Fonda, é colocado em evidência os bastidores de um julgamento cujo caso refere-se a um homicídio. Trata-se, mais especificamente, da história de um jovem acusado de por fim a vida do próprio pai.

Ao analisar a produção fílmica com um olhar sobre a visão de conhecimento que admite a verdade como absoluta, é possível compreender o perigo que ela representa para a condição humana. No filme, a distância entre culpado e inocente definido pelo julgamento crime é capaz de colocar nas mãos de seres humanos a decisão sobre a vida (ou morte) de um ser humano.

Na história que se desenrola, a verdade se torna, graças à oportunidade de um debate, passível de ser relativizada. A verdade, enunciada no filme, torna-se o fruto do compromisso coletivo com a justiça. Ela passa a ser o resultado, sobretudo, de uma postura ética diante da vida.

Nesse sentido, o referido filme, inicia-se com a determinação do Juiz, que encomenda a análise do caso em questão pelo Júri. Aliás, o filme dirigido por Sidney Lumet se passa, a exceção de três minutos de projeção inicial e de um ligeiro final, exclusivamente, em uma sala de júri. Trata-se como dito antes, de um caso de homicídio de um homem, cujo acusado em julgamento é o próprio filho.

No momento em que as pessoas que compõem o Júri se reúnem para deliberar sobre o julgamento, fica latente que o caso em questão é visto com um certo descompromisso e é, praticamente, tido como encerrado pela grande maioria dessas pessoas, que votam pela condenação do réu.

Em contrapartida, entre os integrantes do Júri, um homem – sim, um único homem foi contra tal condenação. Foi contra a verdade que ali, naquele grupo de pessoas, era aceita. Esse homem foi indispensável ao parecer do Júri, representando, diante da maioria, a contradição que permitiu um consenso mais seguro para o caso.

Nesse momento primeiro, ainda era um contra onze. Haviam onze pareceres, inicialmente, em que o consenso (a verdade) era, ainda, a condenação. Em determinado instante, entretanto, quando via-se divergente de uma esmagadora maioria (11 a 1), o personagem da reviravolta sugere a necessidade de uma discussão sobre o caso.

É importante lembrar que no filme, consoante a lei que regeu o caso, o parecer do Júri tem que ser unânime. Nesse caso, somente foi admitido um parecer, cuja votação tivesse sido, nesse contexto, por 12 a 0. Ou seja, fundado no espírito da lei, não se poderia estabelecer, no caso referido, um parecer em que houvesse discordância de, pelo menos, um membro do Júri. Além disso, caso condenado o réu, de acordo com o Juiz, seria levado a cadeira elétrica. Conseguinte, em específico, não era possível conceder o perdão através do pedido clemência.

Ao estudar os discursos do filme, percebo que durante o momento da investigação do crime não houve rigor científico pela parte da equipe de perícia da polícia. Posso supor, ainda, que, a exemplo dos momentos iniciais da reunião do Júri, a equipe de investigação avaliou o caso com certo preconceito ou descaso, uma vez que, o réu em questão era de família pobre, cujo pai o tratava com violência. O jovem – ainda em conformidade com a visão expressada por alguns integrantes do Júri – era o retrato do jovem contemporâneo: rebelde, anárquico, etc.

Aliás, também, o preconceito inicial da maioria dos integrantes do Júri – sem mencionar os interesses imediatos -, é um fator que, de certa forma, prolongou a sessão. Enquanto um estava apressado para terminar a reunião, expressamente, por causa de Jogo, um outro queria resolver logo o veredicto para tocar os negócios.

Um homem, como dito antes, no entanto, foi capaz de mudar, sob a mediação do relator, o curso do julgamento, atraindo, através do diálogo, o interesse e a participação dos demais componentes do Júri. Esse homem foi o portador da dúvida necessária para se chegar a um resultado diferente do inicial, para o caso.

A partir daí, percebo que a “muralha” da verdade estabelecida pelos argumentos das testemunhas começam a ruir. Durante a discussão crítica os integrantes do Júri vão identificando lacunas nas provas que, gradualmente, derrubam o seu caráter incontestável. A arma branca utilizada, os acontecimentos e as testemunhas passam a serem alvo de desconfiança pelo Júri.

Ao final de várias simulações (reconstituições) da cena do crime, conduzido pelas argumentações que vão emergindo, o Júri finda a reunião reconhecendo que o réu é inocente, visto as discrepâncias descobertas nos elementos do caso que, reunidos, constituem a prova. Ou seja, um caso jurídico que parece definido, observando-se a quantidade de evidências, vê-se num grande revés, transformando culpado em inocente.

Nessa análise, pode-se dizer que não existe verdade absoluta, mas, uma verdade aceita pela maioria absoluta de um determinado contexto, sustentada por uma teoria científica ou não. A verdade, desse modo, não pode ser vista como imutável, inatingível e absoluta.

O saber sempre se revela como poder. A verdade é imposta por um determinado núcleo de poder, o discurso da promotoria de acusação (no caso do filme), que, aproveitando-se da apatia da defesa, acredita-se, influenciou fortemente a opinião dos jurados. Nesse meandro, conforme a inferência da centelha dialética do Júri (o problematizador da verdade), o advogado de defesa não procurou questionar as evidências das provas, negando a sua veracidade.

À medida em que eram tecidas análises pelo Júri, foi se percebendo a necessidade de “regressar” à cena do crime, para buscar os vestígios do acontecimento que não ficaram claros. Quando as dúvidas começam a serem esclarecidas (ou lançadas), o coro em prol da vida (inocência do réu) foi crescendo em adesão, até que o parecer do Júri, finalmente, considerou o réu inocente.

O que se pede, ao fim desta análise fílmica, é a cumplicidade com a dúvida, com o cuidado científico na ética e no diagnóstico de um determinado objeto ou circunstância. É preciso ter cuidado com a vida, é preciso respeitar e amar a vida. Na hora de julgar os outros é sempre leal se perguntar “E se fosse eu?”, pois, como mencionara Confúcio, “Não faça aos outros o que não queres que te faças”.

A verdade dogmática, apesar de, historicamente, ter servido, também, ao desenvolvimento humano, é, também, uma das principais responsáveis da tragédia humana. Desastre que é capaz de fazer de humanos, animais primitivos.

No instante em que a verdade deixa de ser absoluta, começa a ser relativizada. Desse modo, torna-se autorenovável, aberta a outras possibilidades, que, ao mesmo tempo que oferece novas perspectivas, permite um ajustamento com a realidade dada. A verdade relativa desmitifica a certeza, a convicção. Com isso, torna-se autocorretiva, vigilante de si mesma.

Assim, a experiência de contemplação crítica do filme em abordagem, convida-nos a refletir sobre a maneira como vemos e julgamos o mundo. Parafraseando uma das passagens do filme, podemos dizer que nem sempre vemos o que está a nossa frente.

Concordo quando o personagem de Nietzsche, em “Quando Nietzsche chorou” (2007), quando diz que o inimigo da verdade não é a mentira, mas, as convicções. Estas não podem existir sem uma visão de mundo em que prevaleça o dogma, a verdade absoluta.

Finalmente, vale destacar a atuação do personagem estrelado por Henry Fonda. Ele foi fundamental, como já referido antes, para o desenrolar final da história. Como afirma Nietzsche (1999), “...desconfiai de todos os que sentem poderosamente o instinto de castigar!...”. Foi essa linha que seguiu o personagem do referido ator. Ele observou algo além do crime. Conseguiu perceber, principalmente, que posição dos demais integrantes do Júri estava sendo muito influenciada pelas implicações imediatas de cada um deles.

O personagem em questão foi para a produção fílmica um símbolo de sensibilidade, sagacidade e inteligência. Provavelmente, características fundamentais que precisam fazer para de qualquer discussão em Júri, em que o destino e, muitas vezes, a vida de pessoas está na “mesa de tabuleiro”.

RESENHA



REFERÊNCIA: O nome da rosa. Direção: Jean Jacques Arnnaud. Produção: Berno Eichinger. Baseado no livro de Umberto eco “The name of the rose”. Estrelado por Sean Connery e F. Murray Abraham. Gênero: suspense. Estados Unidos: Costantin Film Produktion GmbH, 1986. 1 DVD (131min).


RESENHA

POR: PAULO ANDRÉ DOS SANTOS.

Um crime, um mistério, influência do demônio ou uma conspiração religiosa? Desse modo começa a história do filme, recheado de segredos escondidos a sete chaves. Inspirado na obra de Umberto Eco, o gênero fílmico de suspense “O nome da rosa” (1986) convoca o espectador a mergulhar nessa história intrigante.

Tudo começa com a morte do irmão Adelmo. Encontrado morto em um penhasco, a ordem religiosa levanta a suspeita de uma influência demoníaca. Para solucionar o caso, solicitam a ajuda do clérigo detetive Guilherme de Baskerville (Sean Connery).

Adepto da filosofia aristotélica, Guilherme, ao contrário dos sacerdotes, nega-se a embasar a opinião na perspectiva religiosa. Prefere seguir a linha dos fatos a partir da razão. Diante disso, após as primeiras observações o personagem representado por Connery conclui sobre a morte do irmão Adelmo, chegando a confirmar como motivo da morte o suicídio.

Entretanto, novas mortes vão acontecendo, como a morte de Venâncio, tradutor de grego e dedicado estudioso da obra Aristotélica, que, até dias atrás, mantinha relações muito próximas com Adelmo (a primeira vítima). Perspicaz, o detetive segue o rastro das pistas deixadas pelo assassino. Ao estudar as evidências, percebe um fato curioso que relaciona as mortes: todas vítimas estavam com uma das mãos e a língua sujas de tinta. A partir daí, o mistério vai se tornando mais estonteante e perigoso.

Mais adiante no filme, Connery percebe que a biblioteca escondia os segredos que possibilitariam confirmar sua tese: a tinta encontrada nas mãos das vítimas era veneno e provinha do manuseio de livros de sabedorias com textos reveladores, que se encontrava na biblioteca da igreja, não aberta aos sacerdotes e ao público em geral.

Em meio às mortes, com a chegada de um representante da inquisição, o mistério assume uma conotação religiosa: um sumo sacerdote e um monge são acusados de heresia contra a ordem religiosa. Assim também, uma mulher é acusada de bruxaria.

Enquanto isso, as mortes continuaram a acontecer. Guilherme de Baskerville é acusado pelas mortes, o inquisidor deduz que só era possível ao clérico detetive explicar os fatos que vinham acontecendo se fosse ele mesmo o assassino.

Com a morte de mais um sacerdote, o inquisidor tenta ir embora, mas, acaba sendo morto por populares, que o jogam no penhasco. Simultaneamente, Barkerville e seu ajudante, o jovem Adso, perseguem a solução de toda a trama.

Ao entrar secretamente na biblioteca, Barkerville e seu ajudante encontram no local um dos altos sacerdotes, que acaba confirmando-se como mentor dos assassinatos. Para ele, valia o princípio de que “Sem o demônio não haveria necessidade de Deus”. Ou seja, o temor ao demônio alimentava e sustentava a fé em Deus.

Em decorrência disso, aquele que conseguisse ter acesso as secretas escrituras, deveria morrer, sob risco de danos irreversíveis à fé religiosa. Os livros, nesse sentido, diante dos acontecimentos, precisavam ser destruídos, em nome de Deus.

O que consigo compreender dessa produção fílmica é de que um dos princípios ou sabedorias do acervo secreto era que, como anunciado no filme, o conhecimento precisa ser preservado e, não, buscado. Para a ordem religiosa, “Aquele que aumenta o seu conhecimento aumenta também o seu sofrimento”. Isso quer dizer que, outras linhas, o conhecimento traz sofrimento e, por isso, tinha que ser mantido sob controle e segredo.

Mais do que isso, o acesso a tal conhecimento poderia levar muitos a questionar, até mesmo, a “infalibilidade de Deus. Assim, em nome Deus, os hereges precisaram perecer.

O filme em questão revela aspectos históricos que norteavam a doutrina da Igreja católica, no século XIV. Tempos em que o poder da igreja era capaz de determinar, através da inquisição, o direito à vida ou à morte. Nesse sentido, casos de heresia ou de bruxaria eram tratados com rigor pelos membros da inquisição. Nesse período, incontáveis vidas humanas foram ceifadas sob o pretexto da vontade divina. A vontade da Igreja era, naquele momento, a suprema vontade de Deus.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Planejamento estratégico: uma ferramenta de adaptação às mudanças.




Por: Paulo André dos Santos

Mudança! Essa é a palavra do momento. Tudo muda a cada dia que se passa mais rapidamente. O constante processo de inovação exigido pela dinâmica de globalização dos mercados mundiais elegeu a mudança como pauta fundamental a ser discutida e desenvolvida no intuito de assegurar a sobrevivência e de promover o crescimento das empresas.

Dessa maneira, com a competição promovida pela inauguração da globalização, diminuíram-se as fronteiras nacionais, abriram-se novos caminhos e surgiram oportunidades atraentes, haja vista, a flexibilização política e econômica que criou facilidades para a entrada de empresas no mercado de um país capitalista estrangeiro.

Diante desse contexto, de olho nas oportunidades, percebeu-se a necessidade das empresas realizarem melhorias em todos os processos da cadeia produtiva. Elas começaram a estudar a dinâmica de Mercado de maneira globalizada, verificando tendências de ameaças e de oportunidades proporcionados pelos cenários governamentais, pelos seus Mercados e pela concorrência.

Toda essa análise de variáveis internas (inerentes ao ambiente da empresa) e externas (governo, cultura, economia, jurídicas, demográficas, tecnológicas, concorrência, perfil dos consumidores, etc.) cria condições nas empresas para um constante processo de auto-organização, com vista à superar dificuldades e sobreviver num mercado tão competitivo. Além disso, consciente de seu propósito social (a missão), realizando-o, de modo a erguer no presente os pilares para o futuro, a fim de alcançar objetivos maiores e de longo prazo (a visão).

Por ser de natureza menos imediata, a visão – para que seja viabilizada – precisa ser subdividida em objetivos específicos, de menor abrangência e com menor prazo de cumprimento, mas que, ao serem concretizados criam condições favoráveis ao seu alcance. No percurso desse caminho, “todos devem empurrar a carroça”. Desde o nível presidencial até os níveis operacionais, cada segmento precisa estar consciente da importância de seu papel na empresa, sabendo das implicações que suas atividades irão trazer para o presente e para futuro dela.

Em virtude disso, com a finalidade de reunir forças a partir das variáveis internas e externas às empresas, foi desenvolvida uma ferramenta que integra o ambiente empresarial e leva todos os seus envolvidos a remarem em uma só direção, rumo ao sucesso. Todos os níveis hierárquicos das empresas, como dito antes, precisam caminhar juntos. Embora, cada um deles tenha seus objetivos comuns, todos estarão, inegociavelmente, alinhados a um objetivo maior (a visão).

Geralmente, esses objetivos são, conforme os níveis citados, denominados como: objetivos estratégicos (executivos da empresa), objetivos táticos (gerências intermediárias) e objetivos operacionais (supervisores e funcionários da área operacional e administrativa equivalente). A busca desses objetivos, conduzidos por diversos instrumentos – além dos mencionados -, que organiza as empresas rumo à concretização de sua missão e ao alcance de sua visão é realizada através do Planejamento Estratégico, que, se bem realizado, pode conduzir ao êxito empresarial.

Diante da constante mudança de arranjos nos cenários da aldeia global, como referido antes, tudo precisa ser minuciosamente observado, analisado e planejado, no acompanhamento atento dos “movimentos de mudança”. O Planejamento Estratégico é a ferramenta que permite as empresas se anteciparem aos cenários futuros, possibilitando não serem pegas de surpresa, o que, muitas vezes, pode invalidar, até mesmo, a sua razão de existir (a missão).

Outrossim, ratifica-se que cada passo diante da concorrência e do mercado tem, indispensavelmente, que ser muito cuidadoso. Consequentemente, antes de qualquer posicionamento, diversas análises precisam ser realizadas, previamente. Toda empresa, antes de tudo, precisa saber-se quem é, os valores que está defendendo ou promovendo com o seu produto no mercado, a postura política que está adotando ou precisa adotar, diante dos cenários presentes e daqueles tendem a acontecer.


Referências:

Globalização. Disponível em:< http://pt.wikipedia.org/wiki/Globalização > Acessado no dia 13/06/2010.

Globalização. Disponível em:< http://www.suapesquisa.com/globalizacao/ > Acessado no dia 13/06/2010.

Metodologias de apoio ao Planejamento Estratégico. Disponível no sítio: http://www.alvarestech.com/lillian/Planejamento/Modulo3/Aula31SWOT.pdf > Acessado no dia 13/06/2010.

Planejamento Estratégico Institucional. Disponível no sítio: < www.cpd.ufv.br/planogestao/doc/apresenta_seminario.ppt> Acessado no dia 13/06/2010.

ANDION, Maria Carolina; e FAVA, Rubens. Planejamento Estratégico. Disponível no sítio: < www.fae.edu/publicacoes/pdf/empresarial/3.pdf> Acessado no dia 13/06/2010.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

O cliente.



Por: Paulo André dos Santos.

Um empreendimento empresarial está sempre envolto a uma clientela. Em todas etapas que compreendem o processo produtivo existem pessoas ou grupos de pessoas que são fundamentais para que a empresa tenha êxito no mercado. Ou seja, da mesma forma que essas pessoas ou grupos podem contribuir para o sucesso do empreendimento, elas podem colocar, conforme o contexto, tudo a perder. Esse conjunto que abarca o ambiente interno e externo, que interfere nos resultados das empresas, é denominado de stakeholders e possui entre seus elementos participantes, o governo, os acionistas, os clientes, concorrentes, funcionários, sindicatos, meio ambiente etc. Alguns deles, por estarem diretamente envolvidos no processo de geração de resultados de uma empresa, são considerados, efetivamente, como clientes. Dividindo em duas categorias de clientes (interno e externo), pode-se dizer que, por exemplo, os consumidores dos produtos ou serviços, os fornecedores, os “intermediários”, os representantes comerciais ou prestadores de serviços etc., são clientes externos à organização. Por outro lado, os acionistas e os colaboradores (funcionários) são exemplos de clientes internos. Nesse sentido, para a sobrevivência e para um desenvolvimento da atividade econômica das empresas, é preciso levar em consideração tanto clientes internos quanto externos, pois, nos dias atuais, a concorrência está sempre a empurrar o portão das empresas, tentando invadi-las e saqueá-las, naquilo que elas tem de mais precioso, ou seja, o rol de consumidores, portanto, a sua fatia de mercado, assim como, os seus bons profissionais, aqueles colaboradores diferenciados que emprestam grande qualidade às empresas. Assim, para se manterem e aumentar a participação no mercado, as empresas desenvolvem, conforme as circunstâncias estabelecidas, um planejamento estratégico. Desse modo, as empresas lançam no presente as sementes para o futuro, orientada por uma missão (o que somos?) e por uma visão (o que queremos ser?). E para que a missão seja consolidada e viabilize o alcance do que se visiona hoje para o futuro, as empresas desenvolvem e aplicam instrumentos que permitem organizar as variáveis favoráveis e desfavoráveis (Matrix SWOT), a fim de desenharem uma linha de ação, em que se exponha ao menor número de riscos (fragilidades e ameaças) possíveis. Na verdade, os instrumentos de gestão estratégica nas empresas são inúmeros, vão além da análise de potencialidades próprias e das concorrências. Se uma empresa quer realizar um percurso de vida no mercado mais duradouro, precisa desenvolver processos de melhorias contínuas, por que se ela não o fizer, a concorrência fará e não terá o mínimo pudor em atropelar os retardatários. Portanto, o cliente, numa perspectiva ampla de abordagem (interno e externo), é a razão de ser de uma empresa, de onde devem partir a inspiração do produto ou serviço prestado. Estar atento aos clientes, em suas necessidades, que emergem, muitas vezes, em silêncio, é uma questão fundamental para que uma empresa se antecipe na criação de produtos e serviços, que de repente podem lhe proporcionar a conquista de novas fatias de mercado.

sábado, 29 de maio de 2010

Negando água.



Por: Paulo André dos Santos.

Vivemos uma época em que a negação se faz um prerrogativa existencial. Na arena da competição global, o discurso do mérito pessoal cria no imaginário do cidadão comum a fantasia da igualdade de condições. Parte-se do pressuposto de que, ao início do jogo, todos estão em condições equivalentes. Pura hipocrisia ideológica. A negação de oportunidades iguais a todos é latente. Antes de negar a esmola do pão a determinadas camadas da população, nega-se o acesso a bens culturais e econômicos mínimos necessários ao autodesenvolvimento. A negação não é, geralmente, percebida pelas pessoas em condição de desvantagem. Elas acabam, aprisionados pelo discurso dominante, introjetando a culpa dentro de si, convencendo-se de que os argumentos apontam para uma derrota pessoal e não – como de fato é -, fruto de um papel coadjuvante no "teatro da exclusão social". Como se refere Louis Altrusser, sobre ideologia, os indivíduos tem a concepção de que eles pensam e produzem, quando na verdade eles são minuciosamente pensados e produzidos. Embora, a própria dinâmica humana na cultura confira, de certa forma, autonomia a esses indivíduos. Laraia (2001) revela a cultura como elemento condicionante do homem, mas, também, como uma produção humana. O problema é que o que o homem produz, atualmente, é cada vez mais algo que foi pensado por outro alguém, com propósitos próprios, a fim de preservar o "status quo" ou de lhe provocar algum tipo de mudança. Quando a perspectiva é a da conservação, nega-se tudo aos indivíduos da esfera social inferior. Ou melhor, permite-os que possa beber do conhecimento necessário para que possam sobreviver no mundo, mas, não o suficiente para que venham a refletir sobre a realidade e contestar a ordem estabelecida. Nesse sentido, nega-se a seres humanos uma vida na plenitude do conhecimento. Não se nega a água para sobreviver – isso ninguém nega. A água que é negada provém do rio. É uma água ainda fresca, viva, essencial. O que se quer dizer é que o conhecimento produzido historicamente pela civilização, aos indivíduos das camadas mais pobres, é oferecido em fragmentos, aos pedaços, de modo que, é-lhes impedem uma compreensão contextualizada da própria existência.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

A cela.






Por: Paulo André dos Santos.

Parecíamos dois foragidos, numa correria desenfreada, empurrados por um único motivo: chegar ao destino. Não exatamente na mesma ordem, essa mistura deu o tom da ação, conduzida com um certo desespero, para fugir ou chegar a algum lugar. Percorremos ruas planas e inclinadas, repetidas vezes. Em aproximadamente vinte minutos – depois que desembarcamos no Terminal da França, chegamos ao destino. Foi uma mistura de alívio e decepção, de alegria e tristeza. Quando estávamos a nos aproximar do teatro XVIII, para assistir ao espetáculo “A Cela”, imaginativamente, conseguíamos ouvir a melodia do Hino da Vitória. Em fração de segundos, a metros do teatro, recordamos de Airton Senna. Sua garra e suas vitórias emocionantes pareciam nos ter sido emprestadas, tal a proximidade com o objetivo. Já estávamos sentindo o gosto do triunfo, os segundos que faltavam de correria pareciam estar se congelando em câmera lenta. Infelizmente, nem tudo nessa vida é acerto, êxito, vitória. No momento em que chegamos à bilheteria para retirar os nossos bilhetes – que já haviam sido comprados por amigos, que chegaram mais cedo ao local -, o atendente nos passou o ingresso, mas, prontamente, trouxe-nos a informação de que não poderíamos entrar. O relógio marcava, exatamente, vinte horas e seis minutos. Por um minuto, um mísero minuto, fomos impedidos de entrar. Pedimos, imploramos, mas, não teve jeito, perdemos a última exibição da peça teatral “A Cela” por causa de um mísero minuto. Fomos vencidos, ou, será que vencemos? Na verdade, tudo depende do ponto de vista, de quem olha, de quem interpreta.

O mundo de Alice.



Por: Paulo André dos Santos.

Quem poderá dizer que a realidade é ? Quem poderá afirmar, categoricamente, que não existe ilusão na realidade e, também, que não existe realidade na ilusão? O mundo em que vivemos é real, ou, o é apenas na forma como o enxergamos? Com o advento da revolução da física quântica, velhos pilares ruíram e as verdades, tornam-se cada vez mais incertas. Com o filme “Alice no país das maravilhas” (2010), podemos relembrar uma das mais velhas metáforas da filosofia, em toda sua história. Trata-se da “Alegoria da caverna”, de Platão, em que por meio do diálogo Sócrates problematiza a possibilidade de que a realidade seja uma ilusão. Ou seja, verbalizando “imagine”, através das idéias, o personagem refuta a própria realidade, colocando-nos todos numa caverna e como aprendizes no “Mundo das sombras”. Tudo o que aprendemos, nesse sentido, são tão somente sombras, formas, sem textura e sem profundidade. Alice, no filme referido antes, mergulha em outro mundo – que poderia ser o perfeito-, onde coisas fantásticas acontecem. Ela volta a realidade primeira, com outra compreensão de mundo, que pediria muito cuidado ao ser revelada para outras pessoas. Talvez, fosse tachada como louca, esquizofrênica, pois, como acontece na metáfora descrita por Platão, os “outros” não aceitariam a idéia e, possivelmente, iriam recriminá-la. O dogmatismo, nesse sentido, talvez seria o maior obstáculo. Uma vez que não admite duas verdades para mesma idéia, o dogmatismo impede qualquer forma de mudança, de inovação e revolução. A voga dessa doutrina é o conceito de imutável, de eterno continuísmo. Isso quer dizer que, o modelo de ciência atual (pós-moderna) é inimiga de tal forma de conceber o mundo. Se cada pessoa fosse uma “Alice”, “pescadora de ilusões”, as verdades, os arranjos da realidade, talvez, jamais simbolizassem o “fatal”, o inevitável, uma consequência do destino. A realidade, talvez, seria aceita, quando o interesse pedisse, como pseudo-realidade, permitindo a sua manipulação e transformação de quadros de maneira mais articulada. Os políticos, os filósofos, os donos da ciência, os professores, os representantes religiosos, os intelectuais – de maneira geral -, enfim, em todos os pólos de influência, não teriam a força, muitas vezes, de fazer crer piamente, mas, de alimentar cotidianamente uma crítica reflexão.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Um dia de chuva.


Por: Paulo André dos Santos.

A situação das famílias nos morros das favelas em épocas de chuvas é de muita apreensão, de muita dramaticidade. O desconforto dos moradores é grande nesses períodos. Diante das chuvas, a noite é uma “serenata da angústia”, um corre-corre, um desespero, que, no intuito de salvar o pouco que se tem, alguns desses moradores dormem mal, e outros, sequer adormecem. Os alagamentos e os desabamentos são os problemas mais frequentes. Geralmente, provocam perdas materiais significativas, quando o pior não acontece: o desastre extremo que deixa um “vazio” nas famílias, a perda de um ente querido. No noticiário de TV, o comentário dos jornalistas causa comoção entre os telespectadores. Em virtude disso, rapidamente, formam-se correntes de solidariedade. Não faltam ajudas, não faltam voluntários e doações para as vítimas das chuvas. Roupas, alimentos, medicamentos, etc., chegam, aos lotes, nos abrigos improvisados. As estruturas precárias que caracterizam as cidades e bairros periféricos fazem da ameaça representada pelas chuvas um problema ainda maior. A ocupação desordenada e descontrolada do solo dificulta a circulação de pessoas e de veículos, impedindo a prestação de serviços essenciais, principalmente, os que envolvem questões de saneamento básico. As chuvas, nesse contexto, provocam lágrimas e “dores emocionais” depois que vem a estiagem. Chegada a hora de vasculhar os escombros em busca de vítimas, ou, de procurar um objeto de relevância pessoal, o tempo vai-se escorrendo lentamente. Talvez, esses sejam os dias e horas mais longos que as vítimas tem a sensação de suportar. O pior de tudo, é que, mesmo depois de uma catástrofe provocada pelas chuvas, as casas e barracos nos morros continuam habitados, ocupados pelos moradores ou por pessoas em busca de um teto para dormir. As chuvas vem e vão, mas, no alto dos morros, todas noites, surgem pontos de luzes, sinais de vida que evidenciam a permanência e a prevalência do medo, que coloca vidas em perigo, que humilha e denuncia a precariedade da condição humana, resumida, subjugada aos interesses de um sistema econômico liberal em propostas, mas, conservador em atitudes, em mudanças no “status quo” da sociedade, que implique em uma coerência com o seu princípio fundamental, a liberdade.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Pedais e Bicicletas.





Por: Paulo André dos Santos*
Uma empresa é como uma bicicleta, um todo integrado. Um conjunto de partes que, sozinhas, não conseguem atribuir valor ao todo. Cada peça é fundamental e indispensável. Enquanto uma das partes é responsável por guiar a trajetória da empresa no presente e para o futuro, com sustentabilidade, outros ficam com atribuições não menos importantes. Os pedais movimentam as engrenagens, que por si, dão movimento à empresa. Constituem-se na sua força motriz, em seu pulmão e coração, responsáveis na prática pelo fluxo de produção, pela oxigenação fabril e financeira da empresa. Eles são a dimensão logística operacional fim, os manejadores diretos dos produtos e serviços. Por outro lado, quem está guiando a empresa, o guidão da bicicleta, com o apoio das outras engrenagens, constituem-se nos planejadores, estrategistas, gestores, etc., que elaboram e atualizam, de acordo com as demandas, a visão e a missão da empresa. É o guidão da bicicleta o responsável por desviar-se de obstáculos e percorrer o caminho mais adequado, adquirindo “know how” em novas experiências e identificando necessidades de melhorias, a partir de instrumentos minuciosamente escolhidos. Entretanto, observada as qualidades de cada peça, nenhuma delas pode trabalhar sozinha, a fim de atingir objetivos e de conquistar méritos próprios, isso não seria possível. Seria negar a dinâmica da totalidade do conjunto, os seus macros movimentos. Compreendendo isso, reconhecidamente, pode-se dizer que o mérito da caminhada é de todos, do guidão, dos pneus, dos pedais, engrenagens de movimento, propriamente ditas, dos raios que equilibram a estrutura, enfim, todos eles, individualmente, tem o mérito pelos resultados da caminhada, por terem realizado as suas atribuições com êxito, contribuindo, significativamente, para uma caminhada tranquila. Dessa maneira, a bicicleta, ou, melhor, a empresa, embora fragmentada em áreas (setores), necessita promover a comunhão entre elas, a fim de realizar um movimento harmônico. Assim, abraçando-se rumo aos objetivos comuns, fazendo do todo uma expressão maior do que a soma das partes.

terça-feira, 4 de maio de 2010

O legado de Maria Cabral



Para algumas pessoas, a morte é inexorável. Não há como escapar ao seu apetite insaciável. Nós sabemos que isso não é verdade, digníssima matriarca. Sabemos, sobretudo, que, ao partires não estás nos abandonando, mas, cumprindo o ciclo natural da vida. Mostrando-nos em sua trajetória uma referência aos que estão vindo um pouco atrás. Afinal, como enunciava Aristóteles na Grécia antiga, a finalidade primordial humana consiste na felicidade. De certa forma, tu cumpristes essa missão, gloriosamente. Consolidastes a tua obra, deixando-nos um importante legado. Algumas sabedorias, alguns ensinamentos, tem contribuído para a nossa educação e para as gerações vindouras. Atravessastes, recentemente, o caminho da imortalidade, mas, o aroma de tuas flores continuará a perfumar nossas vidas. Nesse momento, estamos aqui reunidos sob pêsames, mas, ao mesmo tempo, com a alegria de saber que terás um caminho mais tranquilo pela frente. Passastes a tua flâmula e, agora, somos nós que iremos hasteá-la, defendê-la, reverenciá-la. Sim! É o que nós iremos fazer. Faz parte de nosso propósito! A sua casa foi erguida. O seu Jardim se encontra habitado por inúmeras flores, onde nós nos deleitaremos no aroma e na essência de sua beleza. Em nome daqueles que ficaram incumbidos de guiar-se pela tua trajetória, agradecemos, ò matriarca, por ter nos ensinado a navegar em mares revoltos, enfrentando com dignidade as tempestades. Muito obrigado, querida mãe, querida avó, querida bisa,... por ter nos impregnado de toda a esperança e por todos os sonhos e valores que nos ajudastes a consolidar.

Salvador, Ba., 12 de abril de 2010.
PAULO ANDRÉ DOS SANTOS.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Ultraje a rigor



Por: Paulo André dos Santos.

Em um contexto como o da selva, onde os animais lutam de maneira legítima pela sobrevivência, as leis da natureza, às vezes, parecem cruéis com as expressões de vida mais vulneráveis. Aqueles que, de certa maneira, foram agraciados pela natureza com força, velocidade ou resistência, além da inteligência, no caso específico dos humanos, desfrutam do pleno direito de predomínio sobre os desvalidos de atributos favoráveis. O mais forte, em sentido amplo, exerce domínio sobre o mais fraco. Tomado de fragilidade, este mergulha em um processo de vitimização, em que passa a ser presa fácil entre os animais mais ferozes. A prosperidade é um luxo, um privilégio – quando deveria ser o fruto da trajetória de toda humanidade. Assim, os predadores podem facilmente findar a existência dos mais frágeis se isso não lhe for comprometer as possibilidades de sobrevivência futuras. Na selva urbana, entre prédios e avenidas, lojas e fábricas; homens, mulheres, jovens e idosos não estão em um contexto muito diferente do que o mundo primitivo dos animais em luta pela sobrevivência na natureza. Mais nocivos que muitos dos maiores predadores da natureza, aos humanos uma particularidade, a sua histórica tendência auto-destrutiva. A exploração do homem pelo homem, assim como, da natureza evidencia isso. Nesse sentido, com o surgimento do capitalismo tanto a criatividade, quanto o potencial de destruição alcançado pelos humanos são formidáveis. Com muito conhecimento e pouca consciência social, as sociedades estão conseguindo transformar o mundo em um cenário de acontecimentos ultrajantes. Exagerados sim, em comodidade, facilidades, em conveniências, etc. Tudo isso tem um preço. As florestas, os recursos naturais, os rios, entre outros, estão sendo devastados, explorados indiscriminadamente, poluídos, em prol do que se costuma chamar de progresso. Só não se sabe para onde se avança, para o aumento das catástrofes naturais, ou, para o desenvolvimento humano prolongado. A confusão climática, os terremotos, maremotos, secas e enchentes atípicas, reúnem apenas algumas das consequências da nociva aventura humana na terra.

domingo, 4 de abril de 2010

O criado mudo.


Por: Paulo André dos Santos.

Corpos dóceis e mentes cegas e obedientes. Ingredientes perfeitos para o banquete dos mais ferrenhos, profundos conhecedores e defensores do capitalismo. A cegueira intelectual diante das relações de consumo favorece a consolidação do consumismo. Desse modo, é fundamental ter como público consumidor indivíduos suscetíveis à alienação produzida pela indústria de mídia e propaganda. Contribuindo para isso, o sistema de ensino nacional que prepara os cidadãos, sobretudo, para uma vida de consumo. Como resultado, um sujeito “marionetizado”, um servo, um criado mudo, um “escravo afilhado pelo Senhor de engenho”, que mesmo recebendo a liberdade, decide se manter aos pés do Senhor. Afinal, os apelos são tão sedutores, as justificativas tão de acordo com “suas necessidades”, que fica difícil não se influenciar. Embora Nietzsche tenha sinalizado a “vontade de potência” em tudo o que é vivo, inclusive, a vontade de ser Senhor internalizada no escravo, o magnetismo das paixões pelo consumo, que anseia em devorar tudo o que pode ser consumido, inibe essa tendência natural para pra ser mais do que um criado mudo.

sábado, 3 de abril de 2010

Conflito de gerações.


Por: Paulo André dos Santos.

“Deixe o prego que o martelo chama!”, costumam profetizar os mais velhos, sempre que os jovens fazem algo que lhes fogem à regra. O prego e o martelo, nesse sentido, assumem a mesma semântica, respectiva, de devedores e credores. Ou ainda melhor, de réus e juízes. Assim, tal profecia, em certa medida, é oralizada como uma forma de aviso, muitas vezes, persuasivo. A mesma força de expressão é evidenciada quando se diz que “colhemos o que plantamos”. Resumidamente, todo esse discurso serve para afirmar que tudo o que realizamos de bom ou de ruim irá nos trazer, quase sempre, uma consequência de mesmo valor. Solidariamente, os textos sagrados concordam com isso, quando dizem que uma árvore ruim não produz bons frutos. O que os mais velhos, muitas vezes, não levam em consideração é que já foram jovens um dia. Jovens em uma outra época, onde os modos de vida, em alguma proporção eram diferentes. Esquecem que um dia erraram e que aprenderam com os erros. Esquecem, muito possivelmente, que os mais velhos de suas épocas também assumiram a posição de juízes em que se encontram, atualmente. Toda geração de jovens e velhos encontram-se inclinados à aversão, ou, pelo menos, ao estranhamento em relação aos costumes de outras gerações. Cada uma delas se diz legítima, atribuindo-se maior valor do que as outras, em que a forma de ser e de se comportar é, ou era, a mais adequada. O mais sensato a dizer, no entanto, é que não existem melhores gerações, melhores juventudes, melhores épocas, mas, gerações, juventudes e épocas singulares, diferentes, cada uma com o seu juízo de valor, virtudes e problemas.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Águas de março.



AUTOR: PAULO ANDRÉ DOS SANTOS.

A história vive a sua época de “cheia”. Os últimos cem anos tem sido tão frutíferos em produção de sentidos que, talvez, em nenhum outro momento o caos esteve tão evidente. A abundância de novas descobertas tem modificado arranjos na semântica da tradição. Vive-se, atualmente, sempre o último capítulo de uma novela, onde o saudosismo já não encontra acomodação. As experiências não possuem o mesmo crédito. A sabedoria dos “mais velhos”, nem se fala. Ou melhor, encontra-se engasgada na garganta dos que tem uma vida para contar. A mudança é um motor constantemente ligado e, marcantemente, a moda é o seu combustível. Assim como as águas de março, em que o mar se engrandece imponente e cheio de vida, semelhantes são os tempos atuais. A diferença é que o último não se reedita anualmente, mas, a cada segundo, vertiginosamente, faz-se inédito e singular. “Ninguém se banha duas vezes nas águas do rio”, dizia Heráclito de Eféso. Analogamente, ao resgatar esse pressuposto para os dias atuais, percebe-se uma coincidência essa idéia e a realidade contemporânea. Ou seja, tratando a referida metáfora “em miúdos”, pode-se dizer que, no contexto em que se engendra a produção do conhecimento, o posicionamento de Heráclito, citado anteriormente, converge, atualmente, para uma visão pós-moderna de compreensão do mundo, onde a cultura flutua e as verdades são cada vez mais abertas às incertezas.