domingo, 2 de dezembro de 2012

A Suprema Obra

Hoje, aos trinta e três anos de idade, vivi uma experiência singular, muito importante para a minha vida. Enquanto percorria as ruas da cidade, fui presenteado com um delicioso manjar. Como o ar que preenche os meus pulmões, a me conceder cada segundo de vida, um pensamento tomou conta de minha mente e fez-me novo numa perspectiva de espiritualidade. Tal experiência simbólica com a natureza que nos cerca, os animais, as plantas e os astros que compõem nosso enigmático universo. Fiquei impressionado com essa reflexão, de modo que imaginei quem teria sido o Arquiteto dessa maravilhosa obra,que transcende às faculdades humanas. Ao observar a natureza sempre ficamos deslumbrados com isso. É tamanha beleza que se fosse uma sinfonia, somente poderia ser executada pelos deuses. Penso, sem exagero, que seria até mesmo indigno classificar a magnificência dessa obra como "obra-prima", pois esta é um prodígio humano. A natureza, como tal denominamos, para qualquer um que se ponha a contempla-la, muito possivelmente, chegará a conclusão que toda a beleza dessa complexidade que nos inquieta, não poderia, jamais, ser tida como obra do acaso. Certamente, diria que é obra de um ser supremo, irrealizável por um ser humano. A esse ser podemos dar qualquer nome, de acordo com as nossas crenças e religiões. Mais importante seria isso em consideração. Ou então, começasse a imaginar a dimensão harmônica no caos do acaso. Tentar entender como o caos pode realizar uma obra tão grandiosa que o ser humano jamais seria capaz de realizar. Uma coisa é certa e ninguém, provavelmente, discordará disso:a natureza possui uma beleza que não compreendemos e talvez nunca chegaremos a compreender, totalmente.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Lucro e desonra.

Lucro e desonra. Qual o limite para a usura do dinheiro? símbolo que a tudo compra, poder que a todos corrompe, fera voraz e insaciável. Quem nasceu para dominá-lo? Já que ao próprio possuidor consome. O seu dono delira em possuí-lo, decaindo em mísero flagelo moral. E para não perdê-lo de vista, torna-se capaz das maiores indecências. vende-se, a fim obter vantagens futuras e imediatas. Um prostituto libidinoso com muita sede de poder. Mas ao prego que perfura duras camadas de madeira restará afundar no buraco que ele próprio construiu. Ao mesmo tempo em que conquista espaço alheio, é devorado pela sem clemência pela essência do poder. Assim, perde de vista o chão e o céu. Perde a visão, caindo em abismo sem fundo. O inferno interior lhe toma o caminho.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

...Enquanto dure.

Até que cesse o vigor juvenil. Até que a moléstia prevaleça. Até que o brilho dos olhos adormeça. Até que o sol em nós anoiteça. Os pássaros em nós estarão cantando, A semente fará juz às mãos do lavrador. E nós, comendo, correndo, cantando. Sem moléstia, tristeza ou dor. Enfim, chegará o dia da fadiga, Em que a doença será um inimigo atroz, Nos levando a saúde de outrora, Agora uma fonte exaurida. Nos olhos, um tom fúnebre. Como quem observa bem de longe, Indo para sempre, uma decepção amorosa. Afinal, ninguém pode negar uma lei da natureza: enquanto durar a primavera, continuaremos a receber flores.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Leitura

...Nos anos ancestrais, Lia-se com a alma, Mergulhando no texto, buscando tesouros em mares profundos. A leitura era moeda, Que comprava muito prestígio, Retratados de tinta em telas, distraidamente, leitores, diante de uma platéia.... ...Ao ler as palavras de um livro, Mergulhei em mar profundo, Onde encontrei algumas pérolas, Esquecidas em meu mundo. Na minha caixa de lembranças, As chaves de minha história, Que me fazem regressar para casa, Onde esqueci guardadas, a esperança de encontrar-me com a vitória... (Paulo André)

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

RESENHA _TEM QUE SER BAIANO?

REFERÊNCIA: Tem que ser baiano? Gênero:Documentário. Diretor: Henri Gervaiseau. Ano: 1993. Produtora: Alô Produções. País: Brasil. Cor: P&B. Duração: 32min. RESENHA Por: Paulo André dos Santos. O filme documentário "Tem que ser baiano?" (1993), dirigido por Henri Gervaiseau, ao ser analisado sob a perspectiva da Globalização e de seus vastos Territórios estabelecidos, pode-se perceber que embora cada vez mais as pessoas estejam conectas umas as outras, existem ranços que insistem em permanecer. Toda essa movimentação de ideias e pessoas entre lugares tem demonstrado ser insuficiente para diminuir a intolerância e a barbárie. Quer seja, na relação estabelecida entre os países ricos e os imigrantes de países pobres, quer seja entre pessoas advindas de zonas economicamente pobres para zonas concentradoras de riquezas de um mesmo país. Como explicitado no filme, a disputa se dá pelo espaço. Aliás, como infere Milton Santos, "Espaço é poder". Assume diferentes conotações, desde o viés de espaço urbano/rural, como também, no campo abstrato, a exemplo do mercado de trabalho, que afeta tanto empresas quanto os trabalhadores. Da mesma maneira que empresas batalham por espaço no Mercado, assumindo posturas muitas vezes destoante dos princípios éticos, as pessoas também, em muitos casos, revelam um comportamento mesquinho na disputa por um "lugar ao sol", no mundo do trabalho. Assim, ao refletir sobre o contexto do filme, constata-se uma clarividente manifestação do Capitalismo Selvagem, pois revela-se o desprestígio dos valores sociais, em detrimento de outros valores, que edificam e reforçam os pilares do capitalismo. Tais valores se manifestam no seio social como culturas estruturantes do individualismo, da competição, da "mais valia", do dinheiro e do poder. A esse campo, soma-se as hostilidades contra "forasteiros" (como revelado no filme), como por exemplo, aqueles estrangeiros que chegam para "roubar" empregos. Isso, curiosamente, não se estende somente aos gringos, pois, no Brasil, em determinadas circunstâncias, especialmente envolvendo aspectos econômicos, é aparentemente imanifesta uma coesão nacional. É possível dizer isso por que, ao que se apresenta no corpus social, denota-se a ideia de que existem categorias de brasileiros (típicamente característica de uma sociedade dividida em classes): os Brasileiros com "B" maiusculo e a dos brasileiros com "b" minúsculo; um que sustenta e o outro que é sustentado, ou seja, um que manda na dinâmica do país e outro que a obedece, um que come e desperdiça e outro que passa fome. Daqueles que estão próximos da pobreza, um grande parcela pode ser caracterizado como sendo de origem do norte ou do nordeste, e, também, como negros. A questão a ser levantada, no entanto, é: por que o eixo norte-nordeste é tão pobre e o sul-sudeste tão rico? É obra do acaso? Certamente, que não caro leitor. Isso se dá em virtude de fatos históricos. Então, sendo assim, qual a dignidade em impedir que se faça justiça ao injustiçado? Como depreciar a busca de quem sai do norte-nordeste para tentar uma melhor sorte no sul-sudeste? Como negar a importância que o povo do norte e nordeste teve para o desenvolvimento do país? É dizer que não há espaço na vida economicamente ativa do país para quem tanto contribuiu para o Brasil. Como diz Freire (1975), retirar do opressor o direito de praticar a opressão é como uma opressão para ele. Desse modo, ir em busca de um espaço que foi negado ao povo do norte-nordeste é como uma opressão aos opressores, aos pertecentes ao cone sul-sudeste, em especial, os paulistas. Enfim, quem detém o poder, não quer dividí-lo. Com todos os problemas e dilemas enfrentadas na região sul-sudeste, as dificuldades são sempre menores do que o drama vivido diariamente no norte-nordeste, especialmente, nas regiões de seca, aonde a vida não se vive, mas se resiste.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

De olhos fechados.

Estou aqui, enquanto lá me lembro. Ando apressadamente enquanto durmo, falo ao mais puro silêncio. Ceiando a fome de enxergar, uma realidade indigesta.

Por fração de segundos.

Hoje, quase decretaram o fim da minha estadia neste hotel diverso. Quase saio daqui para virar história. Quase me esvaio em meio à fumaças, roncos e buzinas. Em plena BR-324, entre um carro e outro, uma moto, duas pessoas. Foi por pouco. Muito pouco. Na verdade, apenas uma fração milimétrica de espaço nos salvou. Nada como um pouco de adreanalina para acender o dia. Além disso, a iminência da morte nos faz lembrar que estamos vivos. Espero, no entanto, com sinceridade, não precisar lembrar disso.

...Enquanto dure

... Enquanto dure. Até cessar o vigor da juventude, Até que a doença predomine, Até que a motivação adormeça, Até que o sol anoiteça, Muitos apertos de mãos, tapinhas nas costas. Até que o dinheiro acabe, Até que se interrompam as cortesias, Até que se acabe a necessidade, Até que as mãos se fechem, Os discursos serão só elogios... Afinal, enquanto durar a primavera, continuaremos a receber flores.

sábado, 2 de junho de 2012

Policia ludibriada.

A policia corre contra o tempo. Esperando ver o suspeito. Que a realidade adulterou. Sem a menor cerimonia, respeito. A blitz foi feita sem imprevistos. A caravana segue sem qualquer pudor. Em pleno semaforo, as mochilas dancam de mao pra mao. O elemento surpresa foi perdido. A seguranca falhou. Os olhos do expectador cresceram de perpexidade.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Moradia

Eu moro numa casa. Uma casa sem teto e sem paredes. Eu moro sozinho. Não pago luz ou telefone. Não faço compras. Nem mesmo cozinho. A minha cama, ao contrário do prescrito, é fria. Mas,pelo menos me oferece uma vista das estrelas. (Por: Paulo André)

Deságua.

A água me mata. Tudo por estar noutro lugar. Quando vem, desce arrasando minhas estruturas. Desesperado, perambulo a procura de um lar.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Caricatura

Todos os dias quando acordo, durmo. Sem qualquer remorso, esqueço-me distraidamente sobre a cama.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

RESENHA - NARRADORES DE JAVÉ

REFERÊNCIA: Narradores de Javé. Gênero:Comédia. Duração:100min.Lançamento(Brasil): 2003. Distribuição: Lumière e Riofilme. Direção: Eliane Caffé. Roteiro:Luiz Alberto de Abreu e Eliane Caffé. Produção: Vânia Catani e Bananeira Filmes. Co-Produção: Gullane Filmes e Laterit Productions. Música: DJ Dolores e Orquestra Santa Massa. Som: Romeu Quinto. Fotografia: Hugo Kovensky. Direção de arte: Carla Caffé.Figurinista: Cris Camargo. Letreiros: Carla Caffé e Rafael Terpins. Edição: Daniel Rezende. RESENHA Ao abordar sobre o filme “Narradores de Javé”, dirigido por Eliane Caffé, sob uma perspectiva linguística, tem-se a oportunidade de tecer diálogos com a linguagem popular, oriundas de territórios dentro do Estado brasileiro aonde a presença da escola, enquanto instrumento homogeneizante, não tenha se concretizado. O filme em questão remonta a saga da pequena cidade de Javé, que foi inundada devido a construção de uma barragem de hidrelétrica. Curiosamente, caro leitor, essa história tem algo de semelhante a que, atualmente, está sendo vivida pela população do entorno da hidrelétrica de Belo Monte, no Pará. Alías, como todas outras comunidades que se viram obrigadas a sairem das terras em que viviam. Em Javé, a consequência foi o fim da cidade. Os seus habitantes tentaram produzir um argumento que impedisse a extinção da cidade, mas, limitações quanto à falta de registro quanto à memória histórica da cidade, talvez, tenha sido o maior obstáculo. Na referida conjuntura, todos sabiam que a cidade surgira como consequência de batalhas heróicas. Entretanto, em virtude do dinamismo da semântica produzido pela linguagem oral, gerou uma cidade “javélica” com múltiplas histórias, cada um com suas significações próprias, porém, todas, convergindo para, como referido antes, um processo épico. Desse modo, para impedir a extinção da cidade, líderes da população recorreram ao Pedro Biá, personagem representado pelo ator José Dumont. Um empregado dos Correios, que tinha sido expulso da cidade em virtude de ter feito, a defamações fraudulentas de grande parte população. Desta vez, a cidade estava precisando muito de Pedro Biá, pois, mais ninguém na cidade sabia ler ou escrever. Dinante disso, Biá retorna a cidade com status de salvador da pátria. Assim, o personagem foi realizando uma série de entrevistas com os moradores mais antigos. Sempre, sugerindo a modificação de um ponto ou dois, da história contada. Na verdade, A figura de Biá denotou descrença quanto ao alcance da missão que lhe haviam determinado. Isso se deu, em parte, também, devido a falta de fidelidade entre as histórias contadas. Enquanto que em uma entrevista, por exemplo, o herói é um homem, em outra o vulto histórico é representado por uma mulher. Além disso, foi constatado pelo personagem que em cada história, o herói tinha um nome diferente, apesar de parecido. Nesse sentido, surgiu pronuncias tais como: Idalécio, Indalécio,Indaleu.... A saga de Javé, oralizada pelos seus habitantes, reflete muito o antigo clichê de que “que conta um conto, aumenta sempre um ponto”. Outro ponto interessante no filme é a rica variedade linguística que caracterizam a oralidade do povo de Javé. Como “quem conta um conto, aumenta sempre um ponto”, as pessoas ouvem uma palavra, em um contexto como o de Javé, ou até em contextos mais atingidos pela língua normativa, acaba dando a ela uma nova pronuncia, um novo sentido. Assim, foi com a expressão “Forró”, utilizada para representar uma das festas típicas do Brasil. Diz a históriaque, na verdade, a referida expressão descende de “For All”, que quer dizer para todos.Desse modo, pode-se perceber, independente de determinados contextos, que a língua é um processo, não algo que possa ser imortalizado. Ela é atualizada o tempo todo, de forma a se adequar ao contexto. No contexto de Javé, percebe-se que o socioleto falado pelos habitantes constitui-se em uma variedade linguística produzida, preponderantemente, pela ausência institucional da linguagem normativa, da escola, por exemplo. Pessoalmente, concordo com Bagno (2007), quando diz que expressões e grafias que fogem à norma padrão podem não estar de acordo com tal convenção, mas, sob o ponto de vista linguístico, encontra-se em perfeita ordem, pois, cumpre a finalidade ao qual foram-lhe atribuídas, a comunicação. Nota-se que em Javé, todos conseguem se comunicarperfeitamente. A falta de correspondência entre a línguagem praticada pelos moradores e as regras da língua oficial, não impede, nem tampouco prejudica o desenvolvimento das interações entre os cidadãos. Portanto, para mim, a produção filmica em questão, sob o viés da linguagem, demonstra que a língua escrita é de grande relevância para a afirmação dos sujeitos na sociedade, uma vez que, a estrutura de organização social exige, para que se possa validar, a documentação dos fatos e acontecimentos. A variação linguística, como um resultado e um processo decorrente de influências inúmeras, pode acontecer em contextos em que o desenvolvimento social e econômico esteja aquém do que se tem por “regra”. Além disso, existe a questão geográfica, que também influencia, por meio das condições de território. Portanto, a questão das diferenças linguísticas entre regiões, entre segmentos sociais, entre grupos de diferentes idades não se constitui em um motivo para mover-se no sentido de eliminar tais particularidades, tidas como “desvios”. As variações que ocorrem dentro de uma mesma língua são estágios evolutivos que estão acontecendo ao mesmo tempo,em lugares e ritmos diferentes. REFERÊNCIA: Narradores de Javé. Gênero: Comédia. Duração: 100 min. Lançamento(Brasil): 2003. Distribuição: Lumière e Riofilme. Direção: Eliane Caffé. Roteiro: Luiz Alberto de Abreu e Eliane Caffé. Produção: Vânia Catani e Bananeira Filmes. Co-Produção: Gullane Filmes e Laterit Productions. Música: DJ Dolores e Orquestra Santa Massa. Som: Romeu Quinto. Fotografia: Hugo Kovensky. Direção de arte: Carla Caffé. Figurinista: Cris Camargo. Letreiros: Carla Caffé e Rafael Terpins. Edição: Daniel Rezende. BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico: o que é e como se faz. São Paulo: Edições Loyola: São Paulo, 2007.

As culturas híbridas: diálogos e conflitos desiguais entre culturas a serviço do poder.

Por: Paulo André dos Santos. Caro leitor, intransigentemente, coloco-me dentro do texto, para registrar, intencionalmente, que falar de relações culturais, no viés de culturas híbridas, não como o consagrado cantor, o Rei Global, Roberto Carlos, pois não estou aqui rindo ou, como ele mesmo o canta: “...vivendo esse momento lindo...”. Cultura, no sentido político da palavra, é um tema que precisa ser encarado seriamente. Neste momento, não me lembro o autor, mas uma frase me soa muito profunda e propícia de ser parafraseada: Os homens governam o mundo e os símbolos governam o homem...Logo, quem domina os meios de produção simbólica... Ou seja, cultura, politicamente, é um instrumento de poder. É um meio de exercer o poder de maneira eficaz. Ao conquistar a hegemonia cultural, assumindo a vanguarda da produção simbólica, todas as outras formas de dominação ficam mais fáceis de se concretizar. Por isso, possível questionar o que seriam as culturas híbridas? Tal terminologia parece complexar um pouco a abordagem do tema, no entanto, poderíamos dizer que elas são o resultado dos contatos, diálogos e conflitos culturais. São misturas culturais resultantes da circulação de produtos culturais advindos de diferentes comunidades. Com a formalização do processo de Globalização, poucas culturas conseguiram se manter virgens, intactas, diante dos volumosos intercâmbios culturais. Em virtude disso, as culturas perderam o status “monopólio” sobre os territórios em que residem, tiveram que ceder espaços e fazerem concessões. Ao mesmo tempo, conforme o grau de poder (atente para esse aspecto, caro leitor), aumentaram consideravelmente o campo de influência. Transitam, agora, facilmente entre as fronteiras. Em decorrência disso, estão constantemente na zona de colisão com outras culturas. Os conflitos se tornam mais intensos, germinadores de mudanças no seio das culturas, que passam a funcionar como um organismo dotado de uma dinâmica mais ágil. Assim, novos arranjos se articulam e as culturas sofrem um upgrade contínuo em sua estrutura. Tal atualização não necessariamente implica em melhorias, mas, de certo modo, na geração de novos significados. Um exemplo disso, no contexto da história musical brasileira, pode-se citar o Movimento Tropicalista, liderados com Gilberto Gil e Caetano Veloso. O Tropicalismo, a grosso modo, foi para a música brasileira uma espécie de renovação, tanto da expressão artística, quanto das produções e instrumentos utilizados. Em outras palavras, promoveu-se rupturas abrangentes, misturando popular e erudito, nacional e estrangeiro, entre tradições, sobretudo, de lugares sociais e geográficos distintos. Nessa perspectiva, surge dessas misturas novas substâncias culturais, que fomentam a construção de identidades individuais e comunitárias diversificadas. A cultura, deste modo, deixa de ter, em inúmeros lugares, propriamente, não mais um território, mas territórios e, a depender de sua legitimação pelos meios de produção, a sua expansão poderá se dar em escala industrial. Ainda no campo da música, pode-se citar o Funk Carioca, que teve como principal influência o Hip-Hop americano. Ao observar isso, em diversas manifestações culturais, pode-se notar que a cultura “made in USA” é muito forte e, inegavelmente, exerce grande influência no modo de vida de muitos jovens espalhados pelo mundo. Assim, como no discurso da globalização econômica, a versão desse movimento sob a perspectiva da cultura, não teve – e não tem – como um de seus objetivos permitir de maneira equitativa o intercâmbio cultural. Aliás, ao contrário disso. Como tem acontecido no campo econômico, a idéia é manter o superávit no topo. Exportar sempre muito mais do que importar. Da mesma forma que se dá o protecionismo no campo comercial americano, também – e principalmente – se dá no campo da cultura. Para constatar isso, basta analisar a presença cultural americana no mundo. E quando se fizer isso, a constatação será feita: trata-se de um grande império, não somente econômico, não somente militar, mas, sobretudo, cultural. O hibridismo cultural, nesse sentido, em âmbito inter-nacional, apesar de se constituir em um importante combustível para as culturas locais, infelizmente, vem sendo utilizado como meio de preservar hegemonias, de exercer o poder de dominação.

RESUMO - A CONTRACULTURA

REFERÊNCIAS: ALMEIDA,Armando.A contracultura:ontem e hoje.Disponível em Acessado em 10 de abril de 2011. Por: Paulo André dos Santos. RESUMO No texto de Almeida, sobre a contracultura, é abordado a cultura na perspectiva de combate à cultura dominante, convencionada, estabelecida. Trata-se de propor uma mudança de paradigma, que pode ser relacionada a valores, costumes, hábitos, educação etc. Um exemplo muito forte que é exposto por Almeida é do Festival de Woodstock, da frança em 1968. Evento interpretado de maneira empobrecida por muitas pessoas. Woodstock não teve como bandeira “sexo, drogas e rock in roll”, mas, a liberdade de expressão, de pensamente, duramente reprimida pelos organismos. Woodstock não foi somente um evento musical de grande apelo público, foi a consequência de uma insatisfação coletiva com a ordem social vigente. Para Almeida, Woodstock é consequência dos movimentos culturais de ruptura com a tradição, como o surrealismo, o cubismo, o dadaísmo, o existencialismo etc. Alguns personagens da história também servem de inspiração para os movimentos sociais que buscam afirmar novas perspectivas para a cultura. Nomes como os de Mahatma Gandhi e John Lennon representaram de maneira grandiosa a expressão da contracultura. O autor mergulha no campo Sociologia, na Psicanálise e na Filosofia, para caracterizar o objeto de ação da contra cultura, a consciência coletiva, ou, conforme Nietzsche, a inconsciência coletiva. Ou seja, o alvo da contracultura é sempre uma cultura dominante, maciçamente aceita pelo universo coletivo social. A contracultura, portanto, pode ter, por exemplo, como foco eliminar determinados preconceitos instalados no âmbito de determinado social. Ela pode atuar também na desconstrução de comportamentos estereotipados. A contracultura não tem um território específico, pode estar em qualquer segmento da sociedade. Almeida nos deixa a pista de que a contracultura, manifestar-se nas artes, como a música, o teatro, assim como nos movimentos populares.

RESENHA - MUDANÇAS CLIMÁTICAS GLOBAIS

POR: PAULO ANDRÉ DOS SANTOS.
Ao abordar sobre os acontecimentos ambientais dos últimos anos, nota­se a pertinência de discussões em torno dos fenômenos da natureza. Especialmente, aqueles que ficaram marcados pelos danos causados, em grandes proporções. Em virtude disso, atualmente, o tema das mudanças climáticas provocadas pela ação humana entra em pauta nas agendas políticas pelo mundo. Nos últimos anos, inúmeros Chefes de Estado tem se reunido para deliberações sobre o assunto. Pressionados pela sociedade civil, representantes governamentais tem sido obrigados a incluir, pelo menos no discurso, um tom de seriedade em torno da temática. Em contrapartida, existem correntes teóricas que atribuído tais mudanças ao próprio dinamismo da Terra, reforçando o discurso dos governantes que descumprem as orientações para a redução das emissões de poluentes na Atmosfera. Por outro lado, Tanaka (2010) relata que, segundo Climatologistas, as tempestades tropicais vem ocorrendo com cada vez mais frequência em virtude do fenômeno do aquecimento global. Nesse sentido, o referido autor denota que a intervenção humana, nos últimos 150 anos tem provocado um aumento progressivo da temperatura da terra. A respeito disso, Seabra (2008) revela que, ao contrário do que se evoca constantemente nos meios de comunicação, o planeta Terra não está em processo de aquecimento, mas, em um processo de resfriamento. “Existem evidências que o clima, entre cerca de 800 a 1200 d.C., era mais quente do que hoje” (Seabra,2008, p.51). Portanto, seguindo esse raciocínio, além de desconstruir a ideia de aquecimento global, o autor deixa pistas de que as mudanças climáticas não são diretamente um reflexo das ações humanas. É importante ressaltar, que, mesmo com as divergências sobre as condições climáticas da terra, uma ideia consegue encontrar consenso entre os estudiosos abordados, admite­se o fato de que as condições climáticas da terra tem refletido, desde os tempos mais remotos, um processo de mudança. A questão é: em que ritmo? É possível evitar? A humanidade tem tido um papel protagonista nesse processo? A terra está em processo de resfriamento ou de aquecimento? Existem controvérsias. Mudanças climáticas, bem como, os fenômenos de alta proporção da natureza, tais como, os alagamentos, os tornados, os furacões, os terremotos, os tsunamis, tem sido a pauta de discussões de profissionais ligados à Geologia, acadêmicos e representantes governamentais e não governamentais. Como relata Seabra (2009), das emissões de gás carbônico para a atmosfera, cerca de 97% são advindas de processos naturais. Conforme o referido autor, as emissões de carbono através da intervenção humana representa um percentual de 3%, apenas. Em relação a isso, é indiscutível que tal constatação causa um pouco de estranhamento, pois há um forte contraste com o discurso das entidades de defesa do meio ambiente, que se colocam de maneira a culpabilizar as ações humanas, de modo que ressalta o seu papel central na deterioração do meio ambiente e nas mudanças ambientais. Contrapondo­se a essa idéia, o Seabra (2009) argumenta contra os relatórios do IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change), ao mencionar a constatação feita pelo glaciologista Zbigniew Jaworowski de que a experiência descrita nos relatórios nunca havia sido submetida a uma demonstração que tornasse os resultados confiáveis. Em 2006, por meio de um Documentário, denominado de “Uma verdade inconveniente”, Al Gore, ex­candidato à Presidência dos EUA, evoca a consciência das pessoas, ao salientar que a ação humana tem provocado uma série de transformações na geografia global, especialmente, nas zonas mais frias. Através de animações realizadas em computador, Gore demonstra quais seria o desfecho do aquecimento global. Essas consequências tem como um dos principais desfechos elevação do nível dos mares. De acordo com Tanaka (2010, p.15), “...O nível dos mares subiu de 10 a 25 cm ao longo do século passado e os modelos indicam que vai subir muito mais depressa neste século”. Em virtude disso, com mencionado anteriormente, representantes governamentais tem sofrido pressões das entidades de defesa do meio ambiente, a fim de discutirem soluções para o problema. O que fica evidenciado durante o referido documentário, em que Al Gore demonstra o caráter devastador que a elevação do nível do mar irá provocar. Com isso, a inundação de áreas litorâneas e com níveis de altitude próximos em relação ao nível do mar, deverá acontecer nas próximas décadas. Finalmente, ao levarmos em consideração os posicionamentos divergentes, nas constatações realizadas por estudiosos sobre o assunto, existe, como referido antes, pelo menos um ponto de confluência: a Terra tem seus processos contínuos. Na verdade, é importante saber até que ponto nós seres humanos temos participação nas mudanças climáticas e geológicas, mas, no atual momento ainda não temos condições plenas de diagnosticar isso. Muitos dizem que a Terra está se aquecendo, outros dizem que está se resfriando, para mim, isso vai depender da referência de tempo que utilizamos. É possível que, por um determinado período de tempo, a terra siga uma tendência de resfriamento ou de aquecimento, no entanto, isso não quer dizer que essa processo será uma constante. Entendo que, se fossemos levar em consideração a contemporaneidade, acredito que a fase geológica e climática pela qual estamos passando é de aquecimento e está sendo potencializada pela ação humana, uma vez que, em nenhum outro momento da história a humanidade esteve tão próxima do onipresente e do onipotente nas relações com a natureza. REFERÊNCIAS: SEABRA, Giovanni (Org.). Terra: mudanças ambientais globais e soluções locais. João Pessoa: Editora Universitária da UFPB, 2008. (240p). TANAKA, Shelley. Mudanças climáticas. Trad. Vera Caputo. ­ São Paulo: Edições SM, 2010. GORE,Al. Uma verdade inconveniente (Trailler). Disponível em < http://www.youtube.com/watch?v=GoFkFkolNcg> Acessado em 28 de Setembro de 2011. BROWN, Lester. Elevação do nível do mar força evacuação de ilha­nação. Disponível em Acessado em 30 de setembro de 2011.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

O casamento da princesa

Por: Paulo André dos Santos.
Um casamento multimilionário, um espetáculo na TV. Muita gente viu, em vários países, através da Internet, ou, principalmente, por meio das redes de TV. Realmente, foi uma cerimônia muito pomposa. Aliás, seria melhor classificá-la de triunfal. Sim, o triunfo do escárnio sobre os pobres. Fala-se que foram gastos cifras astronômicas com a logística matrimonial. Diz-se que, ao todo, o evento custou em torno de um bilhão de dólares, mais do que o PIB de muitos países. Somente para exemplificar, esse dinheiro daria para alimentar uma população de 10 milhões de pessoas, por cerca de 20 dias, com uma refeição de 5 reais. É muito dinheiro, caro leitor. Sobretudo, por que se trata apenas de um casamento, ainda que seja de um membro da Família Real Britânica. Para se ter uma idéia, cerca de um quarto da população mundial, um bilhão e meio de pessoas, vivem em condições sub-humanas, na extrema miséria, das quais, em grande parte, residem no continente africano. Na Etiópia, por exemplo. Imersas profundamente e arrastadas pelas correntezas do capitalismo, as pessoas – muitas delas – sequer chegam a refletir sobre fatos e acontecimentos, que se protagonizam. Não se trata de massacrar o capitalismo, ou, de defender veemente o sistema socialista, mas, de simplesmente provocar alguma reflexão. Portanto, a intenção desse diálogo não é promover idéias, simplesmente, mas de refletir sobre elas e – quem sabe?- discutir o assunto em um plano mais elevado. Assim, a intenção não é tão somente criticar a Família Real Britânica, mas de exercer uma autocrítica sobre a lógica de consumo da sociedade. Uma ideologia de consumo capitalista que, conseguiu atingir atualmente proporções para além da necessidade. O que as pessoas gastam com supérfluos, por exemplo, daria para ajudar, localmente, uma legião de famintos. Em contrapartida, a sede de provar algo inédito faz com que não se olhe para trás. A obcessão para subir as escadas impedem quaisquer possibilidades de visita ao porão. O antigo, o arcaico, empoeirados, revelam pouca atratividade. A quantidade de novidade produzida é tão grande e sedutora que, preponderantemente, torna-se muito difícil olhar para o passado. É como deixar-se levar pelas correntezas sem sequer ter noção para onde se vai e, por mais incrível que se possa parecer, de onde se veio. A sociedade capitalista contemporânea é isso, uma fábrica de tempestades e correntezas, que arrasta multidões para o consumo desenfreado de bens materiais e serviços, desnecessários. A necessidade, na verdade, é produzida, aprendida no seio das relações sociais, como também, através dos meios de produções culturais dominantes. No momento em que, devido a fatores multiplos, percebe-se que a realidade é tão somente uma projeção de imagens, estrategicamente pensadas e planejadas, pode-se sentir uma dor capaz de penetrar na alma e de estragar as doces e fabulosas lembranças. Nesse momento, é possível que um conflito surja: permanecer na fábula ou encarar a dura realidade, a de que se é, assim como a grande maioria, apenas alimento para o famigerado e dinâmico sistema. Nesse instante, pode-se aprender a lição de que o despertar da consciência é um processo e um produto doloroso, que fazem muitos desistir e retornar ao estado confortável de imersão nas fábulas. Afinal, poucos suportariam a solidão e o esquecimento, a que são condenados os que se opõem e negam a legitimidade do sistema. Ao retomar a discussão sobre o casamento da princesa, pode-se afirmar de que é tão amplarmente aceito e valorizado, por que projetam nas pessoas o desejo de estarem no lugar de um dos pares matrimoniais. Desperta nas pessoas o desejo pelas honrarias e homenagens, pois, como afirma Nietzsche, tudo o que é vivo e anda, tem desejo de potência, desejo de poder. Assim, qualquer um pode ter e ser, pelo menos, simbolicamente. E isso, junto a outros fatores, constitui-se em um potente combustível para a dinâmica do consumo.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

A caminho da delegacia

Por: Paulo André dos Santos.

Como costumo pensar, os rumos de nossa vida são definidos nos momentos menos importantes, nos pequenos detalhes. Uma escolha impensada pode provocar marcas catastróficas para nossas vidas e para a vida dos outros.

Um exemplo disso, foi o que aconteceu em Salvador numa tarde de domingo. O caso teve repercussão nacional, em inúmeros veículos de comunicação. Uma mulher foi às compras em um supermercado no bairro do Rio Vervelho. Aparentemente, tudo ia bem. A senhora, que atendia pelo nome de Maria Bouzon escolheu o que queria comprar e seguiu até a fila de um dos caixas.

Maria Bouzon, uma senhora de aproximadamente cinquenta anos vivenciou, talvez, a pior das tempestades de sua vida. Provavelmente, quando saiu de casa para ir às compras não imaginava o desfecho de que ia se desenhar: três dias atrás das grades, na cadeia. Nada pensava a esse respeito. O dia seria normal, sem nada especial a acontecer.

Entretanto, eis que ela se traiu. Agiu com uma prepotência desmedida e inconsequente, que lhe custou caro. Permitiu-se agredir de maneira atroz uma caixa de supermercado, e por isso, como primeiro castigo, a exposição ao ridículo e à "vergonha eterna". Depois, ainda poderá responder judicialmente.

O que era para ser apenas um momento de compras em um supermercado, tornou-se um espetáculo. Um espetáculo de horror. A senhora Maria Bouzon não se conformou em ouvir um "não pode" e resolveu agredir moralmente a atendente do caixa.

Tudo para massacrá-la, moralmente. Só que o momento veio a calhar e, como afirmava minha saudosa avó, "deixe o prego que o martelo chama". E dessa vez não só chamou, mas, gritou e gritou alto. Para ser mais preciso, a delegada de polícia estava logo atrás dela. Uma feliz providência para quem estava sendo humilhada e um infortúnio merecido para a senhora Maria Bouzon.

Tudo por causa do preconceito racial. Tudo por causa do ímpeto para humilhar o próximo. Tudo por uma vontade mesquinha de se sentir maior, superior a outra pessoa. A senhora Bouzon, certamente, não irá esquecer desse domingo. Eu, particularmente, acho condenável tal atitude. E você, caro leitor? Sabe-se que o racismo é crime, todos tem o conhecimento disso. No entanto, temos de admitir que essa questão tem desafiado educadores em todo mundo, sobretudo, no Brasil, onde existe um déficit educacional.

Temos que admitir, também, que o sistema econômico capitalista nos impõe uma "luta sanguinária" aos seres humanos, entre si. Toda a sua lógica perpassa pelo individualismo e pela superação e esmagamento do concorrente. Não há nada de ético nisso! É importante frisar que isso não minimiza, ou exime, qualquer pessoa de praticado racismo, mas, o que se quer expressar é que existe a influência de um problema maior, a falta de ética.

Aliás, há uma grande fragilidade em nossa formação ética. Quem não ouviu falar no "jeitinho brasileiro"? Pois é, tal maneira de se comportar desnuda a nossa fragilidade. O que muitos dizem muitas vezes ser uma qualidade, constitui-se em contextos específicos em um deficiência. O racismo é somente mais um sintoma da doença, que podemos chamá-la - pela falta, ou, pelo desconhecimento de um nome mais apropriado - de Síndrome da degeneração ética.

Ser racista, ser violento, ser cruel para com os outros, é um reflexo de como gostamos tão pouco de nós mesmos. É um reflexo que revela o quanto precisamos melhorar, evoluir como ser humano. Pessoas que agem dessa maneira podem até estar sorrindo, mas, provavelmente, ainda não experimentaram a felicidade. Quem enxerga tudo azul não tem sede de sangue. Então, a vida moderna tem nos tornado infelizes e incapazes de convivermos entre as pessoas sem manifestarmos egoísmo e mesquinhez.

O caso da senhora Bouzon é mais do que um fato isolado. É um acontecimento que solicita uma reflexão. Existem passados que não morrem. Parecem se perpetuar no vento. Depois de milhares anos, certas mazelas humanas permanecem. Mazelas que tornam o viver e o conviver, em muitos casos, quase insuportável.

Aos nobres visitantes.

Por: Paulo André dos Santos*
Como quem não quer nada. "Sem o quê nem pra quê", despretenciosamente, em pleno janeiro de 2012, o Presidente Obama resolveu agraciar os brasileiros com uma "dádiva". Agora, ficará mais fácil conseguir um visto no passaporte para os brasileiros que anseiam em conhecer a terra do Tio Sam.

Isso soaria um pouco cômico, se não fosse apenas o interesse pelo dinheiro dos turistas, já que, como admitiram, os brasileiros estão entre os que mais gastam em solo americano. Infelizmente, confirmando a afirmação do dito popular, a memória do brasileiro é fraca.

Não por que tenhamos algum problema fisiológico, mas por que se escolhe o esquecimento como fórmula para aliviar os malfeitos sofridos. Diz-se que o brasileiro é um povo alegre, entretanto, talvez, isso não lhe seja da natureza, mas uma alternativa ao sofrimento, por que o brasileiro, definitivamente, sofre muito. Sofre com os impostos, com a corrupção, com a violenta desigualdade social, etc.

Assim, retornando ao assunto da dádiva americana, é incrível constatar tal reviravolta. Saímos da condição de persona non grata em solo americano, para nos tornarmos, em um passe de mágica, nobres visitantes. Parece até profecia, pois como escrito na Bíblia, "Os humilhados serão exaltados". Pensar que por muitos anos estivemos de pires na mão rogando por migalhas. Pensar que muitas vezes fomos humilhados e deportados ao pisar em solo americano. Esse mundo dá voltas mesmo!

Nos últimos anos, os americanos tem assistido inconformados o avanço das economias emergentes. A China, então, tem lhe provocado calafrios. Com uma média de crescimento próxima dos dez por cento ao ano, os chineses estão conquistando o mundo e os americanos estão colocando as "barbas de molho".

A exemplo disso, Brasil, índia e Rússia também estão fazendo bonito. No caso do Brasil, que vem crescendo continuamente, o otimismo é coerente. O Risco Brasil, índice econômico que avalia a credibilidade de um país em honrar os compromissos, nunca esteve tão bom. Tanto que, mesmo exageradamente, no meio de uma crise imobiliária americana, o então Presidente Lula tenha chegado a oferecer dinheiro emprestado aos Estados Unidos.

Em verdade, é um exagero, pois apesar de todo o clima de otimismo perante o cenário da economia brasileira, o país ainda amarga ínumeros problemas sociais. Verdade também que em nenhum outro momento das história tenhamos avançado tanto em indicadores sociais, mas não dá, ainda, para dizer que somos um país desenvolvido. Precisamos avançar e muito.

Enquanto isso, que continuem nos tratando como nobres visitantes, pois, como anuncia a propaganda comercial da Jonnie Walker, em 2012, "o Gigante não está mais adormecido". Embora como dito antes, precisemos avançar muito, é incontestável a valorização brasileira em termos econômicos.

Assim, apesar de estarmos tão longe do Brasil que queremos e de convivermos ainda com algumas sombras do passado, hoje, somos muito mais do que uma promessa. Somos um país rico, que precisa enriquecer o seu povo.

Atrás das grades.




Por: Paulo André dos Santos*

Fevereiro, como costuma cantar Ivete Sangalo, “está no clima”. E fazendo jus à tradição, fevereiro, em Salvador, é mês de muita agitação na cidade. Todos na folia, correndo, dançando e cantando. No entanto, em 2012, para nossa surpresa, o carnaval está acontecendo de outra maneira. As pessoas gritam e correm, mas não atrás do trio. Correm de medo, dos arrastões que tomaram conta da cidade.

E esse arrastão de que vos falo, caro leitor, não é brincadeira. É coisa séria. Grave! Gravíssima. A Polícia Militar baiana entrou em greve e a capital Salvador se encontra entregue aos bandos armados.

Eu disse bandos armados! Por que um punhado de homens da Força Nacional e do Exército Brasileiro, mesmo com toda a boa vontade do mundo, dificilmente, seriam capazes de suprir a ausência de pelo menos dez mil policiais militares amotinados, de “braços cruzados”.

Além disso, como se não bastasse, alguns maus policiais, conforme veiculado pelos meios de comunicações, tem promovido uma verdadeira “onda de terror” na cidade. Não um simples manifesto pela greve, mas uma estridente ação criminosa.

Enquanto isso, cidadãos e cidadãs, jovens, crianças e idosos, encontram-se impedidos de ser e de estar na cidade. Sim, caro leitor, proibidos. Severamente, proibidos. Grupos de policiais, que já tem contribuído para a imagem ruim da Polícia baiana, resolveram não somente “cruzar os braços”, fizeram mais do que isso, deixaram o Povo refém.

Não secretamente, como aqueles filmes americanos, em que sequestradores enviam uma carta à família, pedindo o resgate. Eles interditam as vias públicas, cometem atos de vandalismo, promovem uma insuportável e aterrorizante desordem. Tudo isso, somente para demonstrar o quanto são necessários à sociedade, o quanto merecem serem reconpensados com salários mais dignos.

Na verdade, caro leitor, nesse ponto uma questão que precisa ser mencionada: o foco da análise não deve ser exclusivamente esse. Não somente os policiais sofrem com baixos salários. Médicos da rede pública, professores, etc., se formos analisar, ganham muito menos, levando-se em consideração todas as exigências com qualificação profissional e acadêmica de nível superior.

Ao colocarmos na ponta do lápis, o salário inicial de um professor com doutorado, na rede pública estadual de escolas, por exemplo, provavelmente, não chega a ultrapassar os dois mil e trezentos reais que ganham, inicialmente, os soldados da polícia baiana.

Além disso, sem querer fazer defesa do Governo, quando as pessoas se propõem a encarar um concurso para se tornarem funcionários públicos, elas sabem a faixa salarial que está à espera. A pergunta é: por que se candidatam?

Outra coisa, importante mencionar, é que jamais se deve contestar o direito dos profissionais de pleitearem melhores salários. Isso é indiscutível. Mas a que preço? No caso dos policiais baianos, em greve, amotinados e de braços cruzados, será que seriam capazes de pagar pelo preço que estão impondo à população? Será que pelo menos um desses policiais tem família? Será que seriam capazes de se questionar: e se fosse o meu filho, mais um a somar entre as dezenas de mortos por causa da extrema violência que acomete a cidade? Será que poderiam se questionar sobre isso.

Fatos como esses, tem se repetido, ao longo dos últimos anos, em vários estados. Os policiais tem lutado para sair da situação, muitas vezes, humilhante a que estão sendo submetidos, sem condições de trabalho e sem uma remuneração adequada. Para a nossa tímida perplexidade, leitor, os fatos se repetem em proporções cada vez maiores e com consequências cada vez mais violentas. A que fim chegaremos. Será o Apocalipse?

Os crimes cometidos por policiais em greve, na Bahia podem até serem esquecidos pelo Estado, pelos policiais e pela sociedade. Entretanto, dificilmente, os familiares das pessoas assassinadas irão esquecer. Você esqueceria, caro leitor?

Eu sou até capaz de duvidar. Talvez, você concorde comigo que todos eles precisam de uma punição exemplar, dentro dos limites jurídicos. Assim tais acontecimentos não cairão em moda. Em contrapartida, é bom frisar, o Governo precisa ser mais proeficiente nas políticas de segurança pública. Os cidadãos e cidadãs, contribuintes que sustentam a máquina pública, não podem ser abandonados ao caos.

O interessante é que, nos dias de hoje, lamentavelmente, as pessoas dão uma audiência formidável aos casos de violência, que se noticia na televisão, no rádio e, principalmente, na Internet. Portanto, se os policiais da Bahia quiseram ganhar notória repercussão nacional, conseguiram. E de quebra, como que por um gesto de desagravo, arruinaram a frágil sensação de segurança da população baiana.

Infelizmente, em pleno fevereiro, mês da alegria popular, não podemos cantar, ainda, ao som da Timbalada, caro leitor, “já é Carnaval, cidade. Acorda pra ver. A chuva passou, cidade. O sol brilha aê...”. Neste mês de fevereiro, o sol tem se escondido atrás de núvens nebulosas. Dia e noite a chuva cai na cidade e estamos todos ilhados, neste momento, sem ter para onde ir. Chove atos de vandalismo e a violência transborda na cidade.

Assim, resta-nos um luz no fim do túnel. Políticas públicas de segurança nesses momentos de crise precisam ter um contigência mais adequada. O Povo não pode continuar exposto à tensão entre policiais e o Poder Público. Policiais e representantes do Governo precisam chegar a um denominador comum.

Contudo, apesar de admitir essa hipótese, não quero acreditar sequer na ideia de que atos criminosos cometidos por militares sejam esquecidos. O espírito da lei foi erguido para equilibrar as forças entre os antagonismos dentro da sociedade. A lei deve e, imperiosamente, precisa ser cumprida. Por lei, um policial deve zelar pela lei. Quem comete atos criminosos precisa ir para atrás das grades, nesse caso, não existe excessão.

Então, como diz Caetano Veloso, “a Bahia é linda. Salvador é linda”. O Carnaval em Salvador não tem igual. A Polícia Militar todos os anos, também contribui com a festa. Este ano tem que ser diferente?