domingo, 23 de novembro de 2008

Emprego em eleição? Ah,...que bão!

Por: Paulo André dos Santos

Salvador?...uma cidade com tantas pessoas em estado de ócio improdutivo, em que se amontoam nas grandes praças públicas, nos ônibus, nas sinaleiras, e nas calçadas, um verdadeiro exército de desocupados, mendigos e de trabalhadores informais. Por longos anos, muitos urubus, famintos por fincarem as afiadas unhas no dinheiro público, profetizaram a cada novo projeto eleitoreiro o fim da pirataria. Essa ladainha elitista aterrorizou muito uma grande quantidade de trabalhadores informais. Eram muitas as justificativas elaboradas para essa prática, ...diziam da sonegação de impostos, do prejuízo causado aos empresários, e até que a pirataria financia as operações do narcotráfico. Isso, possivelmente, em alguns casos, pode ser verdade, mas, o que mudou? O que aconteceu para que meliantes políticos virassem a casaca? Seria por que brotou de seus muchos corações a piedade? A repressão aos camelôs, nesses tempos, era muito forte e violenta. E os Homens – como costumavam se apelidados os policiais – em algumas ocasiões, desciam a porrada mesmo. Também existia (na verdade ainda subsiste) o Rapa, a fiscalização da prefeitura, que recolhiam todas as mercadorias dos ambulantes. Agora, vivemos uma verdadeira desgraça, pois, constantemente, renasce e se perpetua o assistencialismo e o coronelismo disfarçado. Ao mesmo tempo, surge também, para fins mais eleitoreiros do que propriamente sociais, uma espécie de legalização do trabalho informal. É na verdade, um meio que o poder público encontrou para tributar essa grande massa de trabalhadores, permitindo o aumento substantivo da arrecadação. Assim, o Estado, por meio dos oportunistas políticos, faz de refém as camadas mais pobres da população. O projeto de poder de líderes políticos, cada vez mais ardilosos e sustentados por armadilhas ideológicas sofisticadas, visam a afirmação de um enorme contingente de eleitores fiéis, através de mecanismos de coação chantagiosa. É verdade que, trabalhadores informais passam a se sentir mais seguros com o apoio da elite política. O que eles não percebem, por exemplo, que essa segurança é uma obrigação e não uma dádiva dos poderes políticos. Os trabalhadores são vítimas da mesquinharia politiqueira...são vitimados com o que se pode classificar de Síndrome de São Judas Tadeu, o que faz vislumbrar em seus padrinhos políticos o redentores das causas perdidas, ou ainda, ...contraem a Síndrome de Santo Expedito, em que, os que em outros tempos eram opressores, tornam-se, misteriosamente, a salvação para as necessidades urgentes dos trabalhadores. Os canalhas utilizam o sangue do povo como fermento para engordar as riquezas particulares. Tripudiam sinicamente da condição de pobreza alimentada pela ganância deles. Triste destino! Ó! Que fatalidade. A parcela mais pobre da população é incessantemente explorada economicamente sem sequer se perceber na condição de exploração. Mas isso não é uma fatalidade. Não se pode deixar impune os culpados...A pobreza não é obra divina...Existem culpados e eles aparecem de quatro em quatro anos para pedir o voto dos cidadãos. Mas existem possibilidades de emancipação. No momento em que a classe de trabalhadores perceber a força que possui, tanto como mão de obra quanto cidadãos consumidores, assim como, do poder de decisão sobre os rumos de uma sociedade como um todo, estará instaurada a revolução. Para que isso aconteça, é imperiosamente necessária a auto-conscientização da classe trabalhadora sobre a importância dos sacrifícios e da superação das barreiras impostas pela classe dominante. A mobilização é fundamental nesse processo. Além de se movimentar, como já é tradição, por aumento de salários, os cidadãos precisam aprender a se mobilizar para o atendimento de outras necessidades...como, por exemplo, para implantar um projeto digno de esgotamento sanitário, uma pavimentação adequada das vias, para exigir do Estado uma escola pública de qualidade, para oferecer condições ideiais ao bom atendimento em postos de saúde e Hospitais etc. Chega de vender o voto por uma cesta básica! O voto é muito mais valioso do que isso. É preciso saber que o que está em jogo não é somente o salário que irá ganhar o oportunista quanto empossado em cargo político; há muitas responsabilidades que se deve ater ao votar. O futuro da própria classe de trabalhadores dependerá, incondicionalmente, das decisões tomadas pela classe. A apatia da classe trabalhadora é a grande vantagem das elites economicas, pois assim, ela pode ditar as regras. Assim diz o velho ditado popular: “Quem cala, consente”. Ao sair da inércia, a classe trabalhadora entrará em pleno conflito ideológico com as elites e, desse modo, conquistarão uma maior parcela do bolo, participarão mais efetivamente da partilha da riqueza nacional.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

O Natal das crianças

Por: Paulo André dos Santos

Querida, cheguei! Todos os dias em que chego em casa essa é a minha forma de aportar, a maneira mais simples e intensa que encontrei para dizer: Te amo querida, estou feliz de estar de volta. E, toda vez em que esse rito se anuncia, a casa se converte em uma estrondosa manifestação da alegria infantil. As minhas crianças, meus três filhos me fazem saborear diariamente os prazeres de ser pai. Mas quando hoje cheguei à beira do meu jardim, percebi que as flores não sorriam para mim, as luzes externas da casa denotavam uma aparência tão sombria quanto o mais antigo porão de um navio. Fiquei um pouco aturdido nas idéias. Perplexo, tentava desvendar o mais obscuro dos mistérios: cadê a minha família? Diante disso, fui possuído por mundo de desespero. Só de imaginar a possibilidade de um sequestro ou outra forma qualquer de violência urbana, o meu coração suava, palpitava, gritava dentro de mim que preferia morrer. Com um estalo na memória, lembrei do celular que havia presenteado ao meu filho mais velho. Foram minutos de uma indecisão agonizante. Afinal, deveria eu ou não ligar ? O que poderia acontecer se a minha família estivesse sob a guarda de bandidos ? Ou será que deveria aguardar a ligação ? Que dilema heim ? É difícil aguardar sentado numa hora dessas, concorda, caro leitor ? O que fosse do mundo se não fosse a aparência. Os sonhos (ou os pesadelos) nos tomam em situações que jamais cogitariamos vivenciar...Que bom que era sonho. Logo que recobrei a consciência, percebi-me sentado na velha cadeira de balanço da varanda da casa. Que sensação de estranhamento senti – no alge de uma situação tão conflituosa e de repente eu sentado ali, naquela cadeira de balanço – acabei rindo da situação. Nas mãos, tinha em posse um livro, cuja capa estava escrito “O natal das crianças”. Tratava-se de uma das obras mais raras de Cláudia Canedo, uma estória de caridade mergulhada em uma trama de suspense e violência. Ao meu lado, todos os presentes de Natal da família. Assim que cheguei do trabalho, sem alarmar a minha presença, resolvi esperar até cair o silêncio das estrelas. Precisava ficar ali tempo suficiente para que as crianças viessem a entrar no mais profundo sono. Só assim, poderia arrumar os presentes na árvore de Natal. É claro! As crianças dificilmente dormiriam se não houvesse um motivo plausível para a minha ausência. Pensando nisso, combinei com a minha esposa que dissesse para elas que eu iria dobrar o turno no trabalho, por isso, somente iria chegar pela manhã. Aconteceu o que fora previsto, as crianças, ao acordarem, movimentaram-se elétricas pelo quarto e pelos corredores da casa. Fuçavam todos lugares. Tinham a esperança acesa no presente do Papai Noel. Após circularem por vários cômodos, chegaram até a sala. Abençoados foram esses momentos, posso dizer-lhe, meu caro leitor, que não há nada neste mundo que pague o sorriso de uma criança. É uma expressão tão singela e pura que os céus se regozijam nas crianças e elas, com o brilhar dos olhos, refletem o sol que nos ilumina, nos esquenta e nos encharcam de esperança.

Salvador, Ba., 20 de novembro de 2008.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

As cartas da terrinha

Por: PAULO ANDRÉ DOS SANTOS.

O Carteiro chegou hoje cedo,
trazendo consigo as cartas,
notícias da minha terrinha,
que há muito tirei do mapa.

Não saberia se estão vivos ou mortos,
nem mesmo o paradeiro,
de todos entes queridos,
se não fosse o Carteiro.

Aqui nesta cidade,
ficamos tudo no escuro,
até que o Carteiro chegue e
coloque as cartas em cima do muro.

E quando começo a ler,
as cartas sob a luz velada,
eu me penso ao pé da estrada,
andando, cantando, sorrindo,
voltando à velha casa.

- janeiro de 2008-

Um alegre dia de céu cinzento

Por: PAULO ANDRÉ DOS SANTOS.

Naquela tarde fria de céu cinzento, eu estava sentado confortavelmente na minha triste e solitária poltrona. Dava pra ver através da janela que ventava muito e caía uma leve brisa na pequena cidade de Conselheiros. Eu estava acostumado à solidão diária, os moradores da vizinhança não eram muito hospitaleiros. Em raras ocasiões recebia visitas em casa. Uma dessas visitas era a presença simpática do Carteiro, que sempre trazia notícias dos entes mais distantes. Após uma agradável xícara de chá de erva-cidreira, deitei-me a repousar sobre a poltrona. Eu estava quase cochilando quando ouvi alguém se aproximar da porta. Antes que eu viesse a perguntar quem era o visitante, ouvi uma voz firme anunciar “Correios!”. Era o Carteiro. Comprimentei-o. Ele me entregou uma carta e pôs-se a se despedir. Eu o interrompi entusiasticamente. Estava curioso para saber as novas que traziam aquele papel escrito de próprio punho. Infelizmente, na minha época, escola era coisa para as minorias. A única coisa que sei fazer é desenhar o meu próprio nome, nada mais sei escrever ou ler. O Carteiro prestava bons serviços e já tinha tempo suficiente na comunidade para que eu lhe confiasse o favor de ler as cartas para mim. Então, perguntei a ele quem enviou a carta. Prontamente, ele repondeu que era uma carta de Cassandro ( Imediatamente, meus olhos brilharam.). Solicitei que lesse o texto da carta para mim. Após lido o texto, a expressão do meu rosto se confundia entre sorrisos e lágrimas, era uma emoção difícil de conter. Depois de vinte anos de absoluto silêncio, meu filho mais velho e mais amado, anunciava o desejo de uma reconciliação. Eu, enfim, tive a alegria de saber que Cassandro estava vivo. E, mais do que isso, ele estava disposto a me devolver à vida, quebrando o enorme muro de gelo que nos separava.

Salvador, Ba., 08 de janeiro de 2008

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

A POBREZA MORA AO LADO

Por: PAULO ANDRÉ DOS SANTOS.


As diferenças de poder econômico e de níveis de educação entre os bairros mais nobres e os bairros de periferia de salvador são consideráveis. Engana-se porém, quem imagina que as camadas mais humildes da sociedade soteropolitana estão sempre aglomeradas em locais distantes daqueles em que se concentram as famílias de maior poder aquisitivo da cidade.
Nesse sentido, podemos citar o exemplo do bairro da Saramandaia, situado na divisa da avenida A.C.M., no lado oposto ao Shopping Iguatemi, logo atrás da Estação rodoviária de Salvador. Este é um bairro que concentra pessoas entre a linha da pobreza e da miséria. Embora na gestão da ex-prefeita Lídice da Mata tenha sido implantado, com o objetivo de melhorar o quadro social, o “cidade Mãe”, projeto que trouxe progressos no trabalho de educação de crianças carentes, boa parte dos moradores ainda vivem em condições precárias de vida.
Conseqüentemente, esse estado sub-humano a que estão submetidos as comunidades mais pobres tendem a gerar tensões que podem aumentar o índice de violência no local. Na maioria dos casos essas ações perturbadoras são praticadas por indivíduos que se caracterizam por um histórico de vida muito sofrida. Geralmente, possuem um baixo nível de escolaridade e, certamente, influenciado pelas dificuldades econômico-sociais, acabaram ingressando na vida criminosa.
Portanto, para reverter esse quadro vicioso, faz-se necessário aos governantes desenvolvam um trabalho sobre o processo de educação de maneira mais responsável, como também, a implantação mais agressiva de políticas públicas voltadas para a alfabetização de jovens e adultos. Assim, fica notável que o nível de desenvolvimento de uma sociedade ou comunidade está intimamente associado ao padrão de investimentos e projetos para a educação.

A urbanização do Caos e do progresso

PAULO ANDRÉ DOS SANTOS


O mundo urbano, conceito construído a partir da revolução industrial, trouxe para a civilização, paralelamente, avanços e retrocessos. Melhorias na questão da organização social no plano tecnológico globalizado vem proporcionando acessibilidade de forma razoavelmente cômoda a produtos e serviços. Mas isso está restrito a determinada camada da população, pois, de outro lado, o surgimento e a estruturação das cidades, para atender a ascensão capitalista, contribuiu na manutenção da concentração da riqueza e, conseqüentemente, do poder econômico, nas mãos de uma minoria rica, em virtude da exploração social e econômica de uma maioria pobre.
Entendendo isso, pode-se inferir que o processo de urbanização de uma cidade, quando analisado na sua trajetória histórica, possibilita a construção de uma identidade, de uma compreensão da razão de ser de um povo, de seus costumes e tradições. Contemplando os aspectos da sociedade de ontem os sujeitos podem entender, por exemplo, a sua condição de exclusão econômica e sócio-cultural de hoje.
A sociedade urbana trouxe consigo não somente os progressos conseqüentes da estruturação das atividades de comércio e indústria. Para compor a mão de obra nesses dois planos econômicos, houve um vigoroso êxodo rural. Ao longo desse período de mudanças de concepções de sociedade camponeses, artesãos e escravos começaram a povoar as cidades sem qualquer critério de organização.
Aqui no Brasil, os escravos, após receberem as cartas de alforria, foram, na maioria dos casos, despejados da casa de respectivos donos para, nos morros, comporem a imensa sociedade das favelas, onde se concentram os frutos do descaso da sociedade burguesa perante os desfavorecidos.
Como diz Freire (1996, p.111), “...Do ponto de vista dos interesses dominantes, não há dúvida de que a educação deve ser uma prática imobilizadora e ocultadora das verdades...”. Então, com o intuito de permitir aos sujeitos um posicionamento crítico diante da sua realidade, entender o processo de urbanização de sua cidade, estado e país, significa visualizar em uma determinada dimensão, as articulações das classes dominantes em prol da manutenção da própria hegemonia e, conseqüentemente, da ordem social vigente.
Nesse sentido, o estudo dos documentos de fotos e filmes da Cidade de Salvador, traz um sentido especial ao direito de conhecer a própria história, fazendo a interpretação do seu passado sobre outra perspectiva que não seja a dos vencedores. E isso, possui um valor identitário, construtor e transformador da condição humana dos sujeitos. Fazer um passeio histórico sob o ponto de vista do oprimido e refletir sobre isso, é como o sair de um local escuro para outro iluminado, no início há um certo choque, mas depois será como um novo nascimento, momento em que surge potencialmente o sujeito.

Referências:

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. Editora paz e terra. São paulo, 1996. (Coleção leitura).

O sonho de um bóia-fria

Por: Paulo André dos Santos

Na fazenda Boiaderos, tradicional propriedade da cidade de Caravelas, trabalhava um homem chamado João da mangueira. Bóia-fria, cortador de cana, trabalhava nos canaviais da fazenda. Em sete anos de serviços prestados e, sobretudo, de fiel dedicação às atividades, João parecia ter criado raízes na terra em que se produzia a melhor caipirinha da região. Foi ali que seus sete filhos nasceram. Crescidos em meio às plantações do canavial, longe da cidade grande, tinham uma vida limitada à rotina da fazenda, uma vez que não tinham acesso à educação escolar. As crianças, ali, nas condições em que viviam estavam praticamente condenadas a serem, no futuro, a castigada mão-de-obra do canavial. Durante as noites na fazenda, João sempre se reunia para uma prosa com os companheiros trabalhadores, que muitas vezes varava a madrugada. Discutiam sobre o trabalho no canavial, traziam relatos de momentos alegres e tristes da vida deles, falavam da futura velhice de cada um e do futuro que esperavam para os filhos. Muito se falava do desejo de conquistar um pedacinho de terra, um lugar para plantarem, onde os filhos pudessem viver com mais dignidade. Certo dia, durante a jornada diária, João estava a atalhar, arduamente, com os companheiros de batalha, pés-de-cana, sob o efeito escaldante do sol velado, expostos a escassez de vento e de água (Tratava-se de uma rotina dura, que muitos não suportariam experimentar sequer um dia). Nesse dia, após várias horas de extenuante trabalho, João, em um gesto de cansaço, parou alguns segundos para limpar o suor que escorria como lágrimas no rosto. O trabalho seguiu até o pôr do sol. Foi um dia duro. Daqueles que trazem à boca o gosto amargo de fel. No dia seguinte, pouco depois de o galo realizar o primeiro grito matutino, o sol apontara no horizonte. João já ia rumo ao canavial, era sempre um dos primeiros a chegar. Poucos instantes após chegar ao local de serviço, antes que insinuasse manejar o afiado facão, o João foi convidado para ter uma “conversinha” com o patrão da fazenda, o Sr. Bené. Sequer desconfiava sobre o assunto de que se trataria na conversa. Rapaz trabalhador, altamente produtivo, diziam até pelos canaviais que João fazia o trabalho de cinco sozinho. Não havia entre os colegas bóias-frias quem não o admirasse pela tenacidade com que executava as tarefas. Ao chegar à casa do patrão, logo à porta, em estado de eminente prontidão, o capataz da fazenda exercia a vigilância quase que patriótica. Tinha olhos frios e uma aparência enrijecida, parecia um animal feroz esperando para atacar a presa. Prudente, João respirou antes de falar ao capataz, mas o tempo não foi suficiente para que ele pudesse explicar o motivo sua presença no local. Imediatamente, com uma voz aparentemente aborrecida, o patrão convocou João para adentrar no escritório da fazenda. Assim que dois se acomodaram no sofá do escritório, alguns segundos de silencioso suspense contaminaram a mente de João. Pressentia que não seria uma boa notícia. Parecia que estava na iminência de reviver o filme da sua triste história. Marcado por um infância carente, submetido às necessidades comuns a todos os nordestinos que sentem no drama proporcionado pelas secas. Abatido, João já não estava mais tomado pela tranqüilidade que sempre o caracterizara, sentia-se condenado, convicto de que era uma sina que tinha que cumprir. E foi assim. Tudo muito rápido, sem qualquer chance de defesa. O patrão não quis esperar muito, terminou logo a conversa que ainda não havia começado, não houve ritos ou cerimônias que antecedessem a condenação do réu. Direto ao assunto, disse-lhe simplesmente para pegar os pertences e ir-se embora. Foi um golpe fatal. Depois de tantos anos de batente, nada mais restava a João, senão a rua. João foi-se. Parecia que iria cair morto naquela terra de que sempre cuidou, tal era a expressão de desalento. Estava atordoado, não conseguia compreender o acontecido, foi dispensado da fazenda sem claros motivos. E, sem entender o “quê” nem “por quê” da situação, João pôs-se de pé na estrada, com seus sete filhos, sua mulher e a sogra. Caminhavam pela velha estrada de Caravelas rumo ao desconhecido. Não sabia aonde iriam dormir ou comer, mas, mesmo assim, continuaram por sete horas em uma romaria que parecia interminável, haja visto, o infortúnio da fome e da sede que consumiam seus corpos. Foram momentos difíceis, o desespero de um pai que via, outrora, nos seus filhos possibilidades de uma vida melhor, padecia, naquele momento, dos efeitos da injustiça. Depois de dois dias muita angústia, João encontrara um lugar para trabalhar. Conhecido na cidade, foi procurado pelo capataz da fazenda Oliveira neto. O boato de que João estava pelas redondezas tinha tomado grandes proporções, muitos já sabiam da fama de bom trabalhador que João possuía. A proposta de trabalho apresentada pelos Oliveira Neto prometia para ele e a família água e comida, mas, de acordo com a produção diária. João tivera dúvidas se era o começo de mais um período de trabalho, ou se o início de mais um capítulo de uma vida amarga de servidão. Perguntava-se se esse destino era o mais digno para ele e para a família. Por momentos, para suprir as necessidades emergenciais dos acompanhantes, como comida e teto para dormir, ficou tentado a aceitar as condições infames da proposta de trabalho. O pagamento de uma diária miserável e a oferta de uma refeição por dia, era tudo que tinham conseguido. João sabia que se aceitasse o emprego, a sua família iria ter o que comer, mas que, depois de um tempo, a triste história, fatalisticamente, iria se repetir. Tinha a certeza de que não valeria a pena e, por isso, sem pestanejar, decidiu prosseguir na estrada em romaria, na esperança de conseguir um pedaço de terra para fincar o facão, para se estabelecer e marcar os limites de terra para os futuros herdeiros, tomar como propriedade aquilo que lhes foram roubados; nas oportunidades que não tiveram na vida e nos direitos

As flores da prima Vera

Nas flores do seu jardim,
brotam os mais belos frutos,
repletos de luzes e cores,
que se confundem com a luz do sol.

O jardim celeste,
tratado com todo carinho,
obra da prima Vera,
que alimenta os filhos no ninho.

Mulher! Prima! Vera!
Tu caminhas graciosa,
pela floresta da cidade,
sob o brilho da estrela,
luz forte que te invade.

Mas tu tens maior brilho,
acima da quinta grandeza,
que passa desapercebida,
diante da tua beleza.

De azul e amarelo,
com jeito femenino,
alimenta, constrói elos,
subindo montes, entrando em castelos.

Na luta que continua,
vencendo as avenidas,
avançando com ternura,
expressando muita vida.


POR: PAULO ANDRÉ DOS SANTOS.
janeiro de 2008

Desejo de liberdade*

Vida interrompida.
Onde estamos?
Onde paramos?
Para onde vamos?

Tanto caos,
tanta miséria,
mau que se repete
nos quatro cantos
de um mundo insano.

Capital, social, cultural...
Quem será responsável,
pela lágrima de uma mãe,
que diz aos prantos:
por quê o meu filho?

A cada dia, um novo cenário,
destruição humana,
que se reproduz em massa,
a sociedade do medo se iça
diante das prisões domiciliares.

Mas ninguém poderá dizer,
apesar de tudo, que não há esperança.
A Liberdade que perdemos,
ou que, talvez, nunca tivemos,...
Um dia,...um dia,...possamos encontrá-la.



PAULO ANDRÉ DOS SANTOS
20 de abril de 2008


* Uma homenagem ao garoto Ruan Sérgio da Silva, 16 anos, morto a tiros por outro adolescente, de 13 anos, quando deixava a escola, segunda-feira passada, 14, no Bairro Machado, Cidade Baixa, Salvador, Bahia.

O reencontro

Por: PAULO ANDRÉ DOS SANTOS

Nove dias depois da carta, Cassandro chegou à cidade de Conselheiros. Fui recebê-lo na Praça das Lamentações. Era o lugar mais aprazível da cidade, possuía um velho chafariz que dava um tom imponente e um agrupamento de árvores que oferecia uma paisagem impressionante. Quando cheguei ao local, ele já me esperava. Trazia consigo duas crianças. Eram seus filhos, Felipo e Amanda. O garoto estava um pouco escabreado, a menina era só sorrisos. Deu-me um abraço tão terno que me fez desejar nas profundezas da minha alma tê-la conhecido a mais tempo. Após um longo silêncio, Cassandro me abraçou em lágrimas, disse-me que há muito tempo sentia o desejo de se reaproximar, mas o ressentimento cegava-lhe o coração. Eu disse a ele que por todos esses anos, no recôndito da minha solidão, habitava ainda uma faísca de esperança.
Após alguns instantes, seguimos em direção à minha casa. Não estava muito distante da praça, depois de dez minutos de caminhada chegamos. As crianças foram logo conhecer os jardins ao redor da casa. Enquanto isso, aconchegamos-nos na sala, tomamos chás e conversamos sobre a situação política da cidade de Conselheiros. Cassandro sempre foi interessado em política, quando mais jovem já se percebia a sua avidez em saber os acontecimentos da cidade, alimentava amizades com as pessoas mais envolvidas em assuntos políticos. Quando me perguntou sobre a situação atual da cidade, disse-lhe que nada mudou de significativo nos anos em que ele estivera ausente, exceto a recente implantação do sistema de fornecimento de energia elétrica, que tornou as ruas e praças movimentadas no período da noite. Isso trouxe mais vida à cidade. As luzes ofereciam às pessoas uma sensação maior de conforto e de segurança.
Surpreendentemente, Cassandro relatou a sua intenção de permanecer na cidade de Conselheiros. Estava disposto a comprar uma pequena chácara, situada nas proximidades do rio Batatás. Empolgado, anunciou-me a sua pretensão de se candidatar à Prefeito da cidade nas eleições que se aproximavam. Tinha projetos de modernização da cidade para alavancar o turismo ecológico. Argumentou que a cidade de Conselheiros possui inúmeras cachoeiras e formações rochosas com pinturas rupestres, sem falar da variedade culinária da cidade. Com todo esse patrimônio de riquezas naturais e os dotes culinários da população local, aliados a investimentos na infra-estrutura da cidade, elevaria Conselheiros a um lugar de destaque entre os principais pontos turísticos do interior da Bahia.
Em meio a essa prosa, eu e Cassandro passamos a observar o cenário que se apresentava através da janela. Era a visão de um beija-flor, que como poesia visitava as flores do meu jardim. Estávamos paralizados diante de tanta beleza, o beija-flor parecia violar a lei da gravidade. Possuía uma leveza em seus movimentos que perturbava a nossa percepção, pois qualquer um que ainda não tenha visto a cena, não acreditaria se ouvisse falar dela. De repente, ouvimos um grito vindo de fora da casa. Ficamos assustados e nos agitamos para saber do que se tratava. Nem bem levantamos da poltrona, Amanda entrou aos prantos dentro de casa, tinha se machucado com um espinho da roseira. Ela disse que havia tentado retirar uma rosa. Instantes se passaram e ficou tudo bem. Mas Amanda estava um pouco entristecida, parecia frustrada por não ter conseguido a rosa. Passei minhas mãos pelos seus cabelos macios, olhei nos seus olhos celestiais e perguntei porque estava tão cabisbaixa. Ela me respondeu com uma voz trêmula e em lágrimas: “Queria tirá-la para você, vovô!” . Eu retribuí essa manifestação de carinho com um caloroso abraço e um beijo na testa.

Ao pé do tamarineiro

As folhas caem soltas,
 velha árvore que se renova,
já não tens a sombra que nos afaga,
nem o vento que nos alegra,
oferta-nos ainda a paisagem,
 bucólica cidade natal,
 nossas raízes nos trazem,
semente do início, cinzas do nosso final.
 
Tão nostálgica lembrança,
Tempos bons, meus velhos companheiros,
aqueles tempos de criança,
em que passávamos o dia inteiro
ao pé do tamarineiro.
 
A gangorra que irrigava os sonhos,
sementes que cresciam vigorosas,
poesia profética que se escrevia,
imaginação infantil que se expandia,
além dos horizontes da cidade,
onde os rios levam a vida
a toda essa gente sofrida.
 
Tempos que não retornam,
saudade que dá sede,
prisão que nos liberta,
dessa realidade dura e incerta.

Por: PAULO ANDRÉ DOS SANTOS

POBRE ALGUÉM

Eu sou pobre por demais,
não consigo ficar em uma escola.
Sei que serei um bom rapaz,
Mas só quero jogar bola.

Por que não fico na escola?
Se tenho vontade de estudar,
sempre decido jogar bola,
e dos problemas me afastar.

Eu sou pobre por demais,
meu pai não tem nenhum vintém,
minha mãe, coitada! eu deixo em paz,
pois nem ela nem ele tem reais
chances de fazer de mim  ”alguém”.

Quando procuro problema,
e a queixa chega em casa,
minha mãe sem qualquer dilema,
missa ou novena, coloca minha mão na brasa.

Eles não compreendem nada
do que fazem comigo.
Só me fazem repetir,
suas vivencias de castigo.

Mas o que há de errado?
Por que acontece comigo?
Até parece um fardo,
esse grande castigo.

Será que um dia vou a escola
sem me preocupar com as lembranças
que ao pensamento tanto amola?
Cenas de uma triste infância,
escondidas em uma simples bola.


PAULO ANDRÉ DOS SANTOS
-2006-

As cartas da terrinha

O Carteiro chegou hoje cedo,
trazendo consigo as cartas,
notícias da minha terrinha,
que há muito tirei do mapa.

Não saberia se estão vivos ou mortos,
nem mesmo o paradeiro,
de todos entes queridos,
se não fosse o Carteiro.

Aqui nesta cidade,
ficamos tudo no escuro,
até que o Carteiro chegue e
coloque as cartas em cima do muro.

E quando começo a ler,
as cartas sob a luz velada,
eu me penso ao pé da estrada,
andando, cantando, sorrindo,
voltando à velha casa.

Por: PAULO ANDRÉ DOS SANTOS.
janeiro de 2008

A verdadeira liberdade

O cidadão brasileiro
para poder trabalhar,
precisa estudar primeiro,
e depois se capacitar,
assim ganhará dinheiro,
para se sustentar.

O Brasil dos brasis,
onde vale a diferença,
a cor da pele conta,
como status de Valência,
se for branco está na ponta,
se for negro, na carência.

O nordeste Brasileiro,
grita agora a sua dor,
para o Brasil e o mundo inteiro,
que também tem seu valor,
pois sua cultura é o seu dinheiro,
é o cardápio do sabor.

O Brasil nasceu aqui,
na cidade do Salvador,
que se esqueceu dos mais fracos,
escravizados sem temor,
castigados no pelourinho,
humilhados pelo senhor.

Mas resistentes e bravos,
não aceitaram o cativeiro,
a que eram submetidos os escravos,
do tráfico negreiro,
e se espalharam em revoltas,
pelo nordeste inteiro.

Se refugiaram nos quilombos,
que abrigavam os escravos,
cansados dos maus tratos,
que os senhores de engenhos praticavam,
violentando mulheres negras,
destruindo vínculos entre os escravos.

Na carta de alforria,
que Princesa Isabel escreveu,
assinando a Lei Áurea,
que na verdade não valeu,
criou-se outra senzala,
para abrigar quem o texto da lei não leu.

Pois o escravo ainda está preso,
aos becos e ruas da cidade,
onde pode ou não sair ileso,
quando passar a autoridade,
que revistará por inteiro,
todos os negros da cidade.

Toda prática cultural,
da nossa gente foi negada,
o candomblé fenomenal,
de Oxalá e sua espada.
Ele defende o capoeira,
e a tenda da baiana,
pois são fiéis a vida inteira,
a cultura africana.

Para obter a liberdade,
é preciso se educar,
e aprender de verdade,
a ler, a escrever e a interpretar,
manifestar sua identidade,
através da cultura se expressar.

(Paulo André, 02nov2007

DO SABER AO SABOR

O saber não me anima,
O livro não me atrai,
Prefiro antes a merendinha,
Que dona Teresa faz.

A escola me aprisiona,
Em um mundo que não entendo,
O sol nasce quadrado?
Puxa! Assim eu não aprendo.

O professor é um ator,
No filme da ditadura,
Se alguém pede a palavra,
Ele nega com fervura.

Por isso não gosto da escola,
A não ser da merendinha,
Que dona Teresa faz ,
Com soja, arroz e farinha.

PAULO ANDRÉ DOS SANTOS
-2006-

Silenciosa Guerra

O Brasil é um grande deserto,
onde se ouvem muitos clamores;
Ouvir respostas é difícil, é incerto,
o povo chora com suas dores.

Pior que chorar é sofrer em silêncio,
guardando mágoas no coração;
O povo corre atrás do fulgêncio,
com lenço, chapéu e caneca na mão.

É difícil enfrentar a batalha diária,
ouvindo promessas de uma vida melhor;
Se a cidade esconde a sua face precária,
desgosto na vida não há pior.

O povo é forte e luta valente,
inocentes pobres condenados “morte”;
Silenciosa guerra que deram para a gente,
estamos jogados à mais pura sorte.

PAULO ANDRÉ DOS SANTOS
-2002-

sábado, 8 de novembro de 2008

Educação: expressões da teoria e da prática

Paulo André dos Santos




Resumo: Este artigo trata-se de uma reflexão sobre os discursos que se tecem no ambiente escolar. Para isso, com a intensão de melhor compreender esse contexto, emerge a necessidade de analisar como esse discurso se posiciona diante da teoria e da prática, convertendo-se em retórica ou prática pedagógica.
Palavras-chave: dicotomia, contexto, relações interpessoais, mudança de perspectiva, colaboração, práticas inclusivas e papel social do professor.



Muitos estudiosos do campo da educação se posicionam criticamente em relação à dicotomia entre teoria e prática tão evidenciada nas escolas, e isso, não se resume a casos isolados dentro de um determinado contexto escolar. Essa afirmativa, está muito presente no cenário escolar brasileiro. Na teoria, ou seja, no papel, existem muitas propostas de ação nas escolas, mas, na prática, muitos educadores desconhecem ou ignoram tais propostas. Os documentos na forma de lei que norteiam as atividades na educação são disponibilizados na maioria das escolas, contudo, devido à sobrecarga de Atividades e alguns aspectos motivadores como salário e condições de trabalho, acabam influenciando o surgimento de dificuldades para o professorado conseguir administrar um tempo para atualizar sua bagagem cultural e sua prática em sala de aula. O que fica evidenciado nessa situação problemática é o fato de que o próprio sistema, ao mesmo tempo em que estimula a educação continuada, em virtude da precarização da atividade profissional do professor e da escola no aspecto estrutural, sufoca novas possibilidades para a prática docente.
Como diz Linhares (2001, p.45):
...dicotomizações do tipo da cultura erudita versus cultura popular, dialeto padrão versus dialeto do aluno, leituras parafrásicas versus leituras polissêmicas e teoria versus prática reforçam as distâncias entre a ação docente e a experiência e a cultura do aluno de nossa escola pública...

A dicotomia traz em sua estrutura a impressão de uma complexidade que se acentua justamente devido à fraca ligação estabelecida entre o ato do dizer e o ato do fazer. O elo existente entre esses dois momentos é envolvido em sua configuração por diversos elementos pertencentes à realidade dos sujeitos do processo ensino-aprendizagem. A subjetividade do professor, a qualidade de sua capacitação e de todos os profissionais relacionados ao contexto escolar, a infra-estrutura da escola, como também, a realidade que se apresenta na comunidade em que se localiza, somados a outras variáveis intervenientes podem tornar distantes da prática todo o discurso explicitado nas leis que regem a educação.
A impressão de falta de nexo entre teoria e realidade, deve-se exatamente na forma como o conhecimento é abordado nas escolas, incluindo também nas faculdades. Revela-se nesse caso, que a relação estabelecida com o conhecimento está submetida a uma perspectiva fragmentária, fortemente ligada ao pensamento de René Descartes. Uma alusão que torna mais evidente essa afirmativa é quando ele expressa na obra Discurso do Método ao anunciar que: “dividir cada uma das dificuldades que eu analisasse em tantas parcelas quantas fossem possíveis e necessárias, a fim de melhor resolvê-las...” (Trad. Ciro Mioranza, 2006). O método de René Descartes foi de relevante importância para consolidação do pensamento científico moderno, mas esse modo de lidar com o conhecimento já não atende sozinho às necessidades de produção do conhecimento na sociedade contemporânea, visto que ele ensina como conhecer em profundidade as partes, desconsiderando a necessidade de se conhecer, com igual importância, a dimensão e a complexidade do todo.
Em virtude disso, os alunos sentem grandes dificuldades em vincular os conhecimentos teóricos estudados nas salas de aulas com a realidade em que vivem. Isso está relacionado com a forma fragmentada como esses saberes são abordados na escola. Conforme descrito por Morin (2005, p.36), “...É preciso situar as informações e os dados em seu contexto para que adquiram sentido. Para ter sentido, a palavra necessita do texto, que é o próprio contexto, e o texto necessita do contexto no qual se enuncia...”. O texto sem o contexto é como uma caneta sem tinta, não consegue tecer o legítimo sentido do objeto. Ler um texto sem fazer uma análise do seu contexto no espaço-tempo é como andar de olhos fechados, podemos até chegar ao destino, mas isso é uma iniciativa caótica, pois de olhos fechados não poderíamos contemplar e nem entender o caminho percorrido. Dessa maneira, faz-se necessária uma mudança de postura pedagógica, uma quebra de paradigmas, um rompimento com a concepção de pensamento moderno. Para que isso aconteça, alunos e professores precisam dialogar entre si, problematizando o conhecimento, questionando-o, discutindo outras possibilidades não evidenciadas, não contempladas pelos conhecimentos produzidos até então. A forma como os conhecimentos estão organizados, separados por disciplinas, constitui-se em um verdadeiro obstáculo ao entendimento do conhecimento no contexto o qual ele se relaciona.
Infelizmente, a sociedade contemporânea capitalista, caracterizada pelo individualismo exacerbado, torna muito difícil a um sujeito se perceber e se movimentar enquanto indivíduo transformador das dinâmicas realidades sociais. Embora existam excessões, pois muitos indivíduos acabam adquirindo consciência de sujeitos, libertando-se da condição asujeitada em que viviam, atualmente, muitos sujeitos potencialmente transformadores, mas asujeitados em sua condição, para justificarem a própria existência, uma vez que impedidos de ser, acabam, às vezes inconscientemente, aprisionando-se ao discurso, ao faz de conta: que sou, que faço, que me justifico no meu fazer. Continuamente, a impressão que se tem é que esse comportamento de maquiar a realidade se expressa e se reproduz fortemente em todos os setores da sociedade, inclusive na escola. Visto que, “o processo de proletarização do professorado é acompanhado por uma retórica da profissionalização que a realidade se encarrega de desmentir” (NÓVOA, 2002, p.56). Essa pode ser uma afirmativa que serve para demonstrar o clima de motivação dos profissionais envolvidos em um contexto semelhante ao citado. Na escola, esse sentimento está, como diz Nóvoa, muito influenciado pela desvalorização da categoria profissional. Baixos salários, falta de uma capacitação profissional de qualidade e condições de trabalho, constituem-se em fortes incentivos para instauração desse discurso retórico dentro do ambiente escolar. Esse quadro, quando se configura na escola, pede a implantação de medidas sócio-educativas referenciadas em políticas públicas de valorização dos profissionais que compõem a estrutura da escola. Desenvolvendo iniciativas que estimulem uma mudança de postura dos profissionais de educação, sem se resumir a um mero discurso retórico, mas se constituindo verdadeiramente em uma sólida realidade.
Então, fica evidenciado que a referida dicotomia não se resume no ambiente da escola somente à questão dos conteúdos, mas ainda, aos discursos que se constroem dentro desse contexto. A instituição escolar, a partir do momento em que abriu suas portas para atender à finalidades comerciais, parece ter deixado entrar também o juízo de valor pregado pela ética do pensamento neoliberal. O contrário disso, seria incoerente, visto que, a escola, enquanto instituição social, é parte integrante da sociedade e, seria estranho que em uma sociedade capitalista, a escola se posicionasse de forma diferente. Como a escola poderia negar a realidade? Então, a questão não é se a escola tornou-se ou não um espaço empresarial, mas como se conduz a ética nesse espaço, ou melhor, como se concebe a ética nesse espaço. Escola e realidade são duas coisas indissociáveis. Não é possível estabelecer um diálogo da escola com a realidade sem problematizar as estruturas estabelecidas na sociedade, sem analisar minuciosamente as dimensões econômicas, sociais e culturais. A escola configura-se assim em um espaço complexo, como a sociedade, onde as intersubjetividades humanas interagem, um lugar de conflito de idéias, de valores, de saberes. É preciso cautela nas relações interpessoais, projetos que trabalhem assuntos pertinentes às questões humanas, abordagens que estimulem uma atitude de respeito entre as pessoas podem ajudar na motivação profissional, no espírito de grupo, de unidade, dentro do contexto da escola, contudo, não se pode pensar que isso será a solução, mas, um dos importantes aspectos a serem considerados e pensados para desenvolver um bom ambiente organizacional na escola. As relações entre professores, entre alunos, entre escola e as famílias dos alunos, como também a relação deles entre si precisam de um ponto de equilíbrio, o limiar das relações precisa permitir um diálogo de respeito recíproco entre as partes envolvidas.
No que diz a respeito do processo ensino-aprendizagem da perspectiva fragmentária, os críticos do modernismo enxergam na concepção moderna de busca do conhecimento a causa da carência de compreensão de um determinado saber no contexto em que se situa. Emerge nesse momento a necessidade de se repensar o modo de se conhecer o conhecimento. Implica nisso, uma ruptura com o ”mito da verdade”, o conceito de pureza e de perfeição do saber passam a ser repensados juntos ao próprio conceito de modernismo. Começa a se configurar a partir desse marco histórico a concepção do pensamento pós-moderno, onde reina ao invés da certeza, a incerteza, a dúvida.

Como diz Silva (2005, p.112):
“...O pós-modernismo tem uma desconfiança profunda, antes de mais nada, relativamente às pretensões totalizantes do saber do pensamento moderno...”.

Portanto, não existe nenhuma pretensão do pensamento pós-moderno em afirmar novas verdades, não há a intensão de afirmar esse discurso. Antes de tudo, o pós-modernismo remete a uma observação do percurso histórico do conhecimento construído socialmente. Percebe-se, que nesse caminho, muitas verdades foram estabelecidas, porém muitas delas já foram destituídas de sua razão de ser. A verdade é temporal-geográfica e logo, por isso, torna-se multi-referencial, multidimensional, relativizadora.
Como exemplo disso, podemos citar duas das diferentes noções sobre o conceito do átomo adotados ao longo da história. Primeiramente, o átomo, de acordo com pensamento de Dalton (1808), era considerado uma esfera maciça e indivisível. Depois de muitos estudos, percebeu-se que o átomo é nada mais do que um uma esfera vazia preenchida por um núcleo de massa desprezível. O que dá a ilusão de massa em torno do núcleo são os elétrons, que em intenso movimento, em sua dinâmica partícula-onda e em equilíbrio com o seu núcleo, dá a forma ao átomo. Futuramente, a idéia de átomo possivelmente será diferente da idéia que se concebe nos dias atuais.
É baseado nesse exemplo citado, que o movimento pós-modernista, vem no sentido de propor uma visão de “conhecimento flutuante”, de trazer um viés de reflexão constante sobre o conhecimento. Isso permite questionar o caráter determinista do pensamento científico, pois as suas verdades se traduzem nas mais puras “cegueiras do conhecimento” (morin, 2005, p.19).
Contudo, na trilha do pós-modernismo, ao analisar o aspecto multicultural do conhecimento, percebe-se que caminham juntos com essas correntes de pensamento, ideologias que, apesar do discurso de “respeito” e de “aceitação” entre as diferentes culturas, podem ser agressivas ou até mesmo arrasadoras para as culturas dominadas, quando essas culturas se encontrarem fragilizadas, despidas de suas próprias identidades. Faz-se necessário então, para evitar uma “colonização cultural”, consequência das investidas tentativas de invasão cultural proporcionadas pelas ricas nações dominantes. É de suma importância então, às nações dominadas se aterem ao discurso das “boas intenções” oriundas dos “generosos” países dominantes, pois a proposta de conhecimento de multi-culturas pode acabar convencendo, intrissecamente, as nações dominadas a negarem os seus valores, as suas identidades em prol do reconhecimento à superioridade das culturas dominantes.
Essa mudança de perspectiva do conhecimento, a passagem de uma consciência de conhecimento moderno para uma concepção pós-moderna de conhecimento, considerando o aspecto da eterna desconfiança sobre o conhecimento dito científico, após uma valorização e uma consequente afirmação das identidades das culturas dominadas, quando vier a se tornar uma realidade, poderá ter um significado positivo para ajudar na quebra de velhos paradigmas como: o preconceito e a discriminação social, etnica, sexual e cultural. E esse movimento vem ganhando força, tomando corpo nas faculdades e universidades, haja vista que nelas iniciam um processo de formação de profissionais com um enfoque nas possibilidades de geração novas perspectivas para a educação escolar. Embora estejamos ainda insipientes na configuração prática desse discurso teórico, pois isso envolvem, além das variáveis citadas anteriormente, a realidade social dos alunos, como também, a realidade estrutural da escola. E, ainda que a relação entre escola e professores se traduza em qualidade, essa qualidade, para que se torne realidade, deve ultrapassar os limites do espaço físico escolar.
Mas é importante salientar, que, esse movimento em prol da quebra do ciclo contínuo que se enuncia no processo de marginalização e deterioração dos povos e das culturas, não é fruto de um generosidade pueril. O pico da exclusão social chegou em extremo tão grande que o Estado, se continuasse a fechar os olhos para os excluídos, viria a sucumbir financeiramente em virtude do alto custo econômico com a contenção da violência ocasionada pelas mazelas da exclusão social e das doenças endêmicas provocadas pela precária condição sanitária em que vivem as pessoas mais pobres, além do rombro provocado nos sistemas de previdência social.
A escola, vem há algum tempo, reproduzindo esse movimento de exclusão social. O rigor das punições e humilhações fizeram com que muitos alunos evadissem da escola. “...Após algumas fugas, deixou definitivamente aquela escola, engrossando as estatísticas dos "evadidos" (CRUZ, Psicol. USP, v.8, n.1, São Paulo, 1997.). Para entender a dimensão da repulsa que esses alunos foram criando em relação à escola, pode-se observar que eles até se negavam a freqüentar a escola mesmo sofrendo da família ameaças de castigos.

Isso fica evidenciado conforme diz o relato de uma mãe:

“...Eu dava tapa nele aqui mode ele ir, o pai dele também deu foi muito nele também, mode [para] ele ir. (...) Aí ele dizia: ‘Pode me matar, mas eu não vou!’ Aí ... eu não ia forçar ele ir pra um canto que ele não queria ir mesmo, né?...”.
(CRUZ, Psicol. USP, v.8, n.1, São Paulo, 1997.).

Diante de tanta opressão, os alunos passam a se sentir sujeitos não-pertencentes ao contexto da escola. Eles preferem, diante desse contexto de maus tratos sofridos em casa e na escola, enfrentar a realidade cruel das ruas, das favelas, dos focos de criminalidade a ter que encarar uma sala de aula convertida em um banco dos réus.
Para isso, com o intuito de possibilitar uma aproximação da escola com os alunos, considerando-se a relevante importância da educação popular, hoje muito ativa nas Organizações Não-Governamentais no Brasil e em outros países, é muito importante que as instituições que compõem todo o sistema educacional do país, desenvolvam em regime de colaboração com essas entidades, programas de ações afirmativas que ajudem a minimizar os efeitos da condição social dos alunos sobre o rendimento deles na aprendizagem escolar. As ONG's podem ter um papel social muito mais abrangente em convênios firmados com as escolas.

“Com experiência acumulada em campos diversificados como Saúde, Meio Ambiente e cultura, as ONG's podem enriquecer o trabalho do professor temas e abordagens essenciais à educação integral – baseada no desenvolvimento global do indivíduo. “Ao dialogar com a escola, as ONG's estimulam a renovação e sua sensibilização para as demandas atuais.”
(Revista Nova Escola, ano XXII, nº 203, p.58, 2007.)

Esse diálogo das escolas com as ONG’s, reflete-se em uma maneira saudável de ajudar na conscientização humana dentro do ambiente escolar, uma possibilidade de desenvolvimento prático de cidadania que pode ser crucial para o processo de formação dos educandos. Um dos aspectos que também faz jus a uma especial atenção nesse sentido, é a questão do processo avaliativo da aprendizagem da escola, a educação popular praticada nas ONG's se alimenta de atividades criativas que atraem o interesse dos educandos, sobretudo, porque adotam uma atitude de respeito ao ser humano em que não se silencia a voz do educando. Ao contrário disso, ele participa do processo educativo. Esse fato, pode permitir à instituição escolar articular com as ONG's atividades no espaço escolar de interação, de manifestação da cultura popular, de um diálogo mais profundamente situado na realidade social dos educandos.
A avaliação escolar, constitui-se em uma ferramenta de poder, tanto possibilita incluir os sujeitos sociais, permitindo a sua inserção na sociedade de forma digna ou pode excluí-los, colocando-os à margem dos seus direitos socialmente humanos. De acordo com Pedro Demo (2004, p.109), “...O bom pedagogo sabe tratar do assunto aberta e elegantemente com o aluno, não para humilhar, mas para lhe oferecer alternativas de recuperação mais rápida e eficiente possível. Não adianta enganar o aluno com palavras hipócritas, por que a dureza da vida não perdoa: mais cedo ou mais tarde o aluno descobre que não aprendeu bem e já é tarde...”. A escola não pode continuar sendo um espaço de reprodução das desigualdades sociais, é preciso quebrar o ciclo da exclusão social, fazer da escola um lugar de transformação social, de realização de práticas inclusivas e, portanto, humanizadoras.
Assim, diante do atual contexto da educação, em que o “frísson” da inclusão social toma corpo em proporção planetária, torna-se muito valioso para os profissionais educadores pensarem e repensarem as suas práticas adotadas nas salas de aulas. As relações estabelecidas com os alunos, a forma de abordar os conteúdos, o tipo de avaliação do processo de aprendizagem, diante desse novo cenário do conhecimento colocado pelo pensamento pós-moderno, merecem uma atenciosa reconstrução. É preciso aos educadores ter a consciência do papel social que ocupam na escola, o mérito da sua atribuição profissional, a grande conquista de ajudar educandos a se tornarem cidadãos críticos, responsáveis e, portanto, conscientes de seus direitos e deveres.



Referências bibliográficas:

SILVA, Tomaz Tadeu da. Documentos de identidade: Uma introdução às teorias do currículo. 2.ed., 9ª reimp. Belo Horizonte: Autêntica, 2005.

DESCARTES, René. Discurso do método. Trad. de Ciro Mioranza. São Paulo: Escala Educacional, 2006. (Série Filosofar)

MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. Trad. de Catarina Eleonora F. da Silva e Jeanne Sawaya. Revisão técnica de Edgar de Assis Carvalho. 10.ed. – São Paulo: Cortez, Brasília, DF: Unesco: 2005.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. Editora
paz e terra. São paulo, 1996. (Coleção leitura)

PERUZZO, Marcelo. Jesus de gravata. Curitiba, 2005.

HUNTER, James C. HUNTER, James C. O monge e o executivo. Trad. Maria da Conceição Magalhães. Rio de . Trad. Maria da Conceição Magalhães. Rio de janeiro: Sextante, 2004. janeiro: Sextante, 2004.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da esperança: um reencontro com a pedagogia do oprimido. Editorapaz e terra. Rio de Janeiro, 1992.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 2.ed. - Rio da janeiro: Paz e terra, 1975.


PASSOS, Ilma ( Coord.). et. al. Repensando a didática. 21ª ed. rev. e atual. – Campinas, SP: Papirus, 2004.

NÓVOA, Antônio. Concepções e práticas de formação contínua de professores. In: Formação de professores e trabalho pedagógico. Lisboa: Educa, 2002. p.49-66.


OLIVEIRA, Zilma Ramos de. Educação infantil: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez,2005.

www.ipea.gov.br

http://www.uma.pt/jesussousa/Publicacoes/40Umcurriculoaoservicodopoder.pdf.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Modelo_at%C3%B4mico#John_Dalton__.28_Modelo_da_bola_d
e_bilhar_.29

www.esec-alberto-sampaio.rcts.pt/filosofia/sociologia/etnocentrismo.htm
http://portal.mec.gov.br

A importância social do Carteiro

Paulo André dos Santos

Em sua rotina, o Carteiro na realização da entrega de correspondências para a população acaba trazendo em sua figura um significado que transcende o seu próprio labor. Além de correspondências, ele traz às pessoas, um sentimento de cidadania, de pertencimento e de inclusão social. As pessoas gostam de receber correspondências, pois para muitas delas, principalmente nas comunidades mais humildes, o ato de receber a correspondência tem um implícito valor simbólico que lhe confere um micro-status no meio social. Para elas, o recebimento de correspondências faz suscitar o sentimento de ser lembrado ou de ser alguém, o que traz um sentimento de dignidade, de reconhecimento da cidadania.
Quando o Carteiro transita pelas vias públicas, no momento em que está realizando sua atividade, muitas pessoas o cumprimentam alegremente, brincam ao receber as correspondências e ao oferecer-lhe água para beber. É muito forte o laço de empatia que se estabelece entre a população e o Carteiro. O que se explica pelo fato de que muitos o reconhecem como uma referência, um espelho do povo brasileiro, um batalhador, alguém que enfrenta adversidades geográficas e a fadiga física para cumprir a valorosa missão de satisfazer as necessidades das pessoas nos quatro cantos do Brasil.
Por muitos anos, o serviço de Carteiro era mais direcionado à entrega de cartas, estabelecendo uma intensa comunicação entre as famílias residentes em bairros, cidades, estados, ou ainda, países diferentes. Hoje, essa atividade absorve também serviços de entrega faturas, boletos bancários, comunicados de concursos públicos, exemplares de revistas e jornais, etc. Então, a figura do Carteiro passou agregar novos valores, a sua presença no seio da comunidade se tornou ainda mais significativa, visto que agora além intercambiar a relação entre pessoas, empresas e instituições, ele contribui para a cidadania representando dialogicamente o sujeito da comunidade e o sujeito da máquina estatal.
A figura do Carteiro é intrinsecamente visualizada pela população como membro da comunidade. Muitos têm até a generosidade de o chamar de filho, de se preocupar com o estado de saúde, de observar se engordou ou se emagreceu, ou ainda, de perguntar se está cansado ou se já se alimentou. É muito comum ao Carteiro ouvir expressões como: “Você é como se fosse da casa meu filho” ou “Que Deus te proteja meu filho”, por isso, consciente do seu profissionalismo o Carteiro não deve deixar de responder com simpatia à manifestações de apreço dos populares, assim como, atender com respeito a qualquer crítica ou queixa por eles apresentadas.
O Carteiro é, simultaneamente, funcionário dos Correios e filho adotado pela comunidade. Nessa dualidade, ele precisa encontrar o ponto de equilíbrio, ou seja, realizar sua incumbência profissional com respeito à comunidade local, considerar a herança cultural dos sujeitos e com cordialidade negociar possíveis soluções para problemas referentes à entrega domiciliária de correspondências.
O Carteiro precisa estar consciente desse duplo pertencimento, do mesmo modo que é positivo estabelecer boas relações com os demais funcionários dos Correios, é também muito proveitoso manter relações inter-pessoais saudáveis com os membros da comunidade. Agindo assim, além de propiciar às pessoas da comunidade um estímulo à elevação da auto-estima, ele recebe de volta todo o carinho que investiu na execução de suas atividades.

O HORIZONTE DO SEJA: UMA REFLEXÃO À PARTIR DO ESTÁGIO DOCENTE

O PARADIGMA DAS POSSIBILIDADES:

Antes de iniciar o Curso de Pedagogia, durante a minha vivência escolar como aluno, eu jamais havia pensado sobre toda a infra-estrutura que prestam suporte aos processos educativos-escolares. Havia em mim, aliás, como há em boa parcela dos alunos, uma certa de cegueira a respeito do assunto. Os alunos, geralmente, são escolarizados sempre no sentido que reflete “O que aprender”, sendo a ele negados, por exemplo, a oportunidade de imergir em discussões mais amplas e profundas, como “Por que aprender”, ou seja, qual o sentido de aprender esse ou aquele conteúdo? Com isso, a escola acaba por se revelar uma instituição centralizadora e, portanto, segregada da sociedade, haja visto o distanciamento que ela mantém, ainda, dos acontecimentos da realidade, afeiçoando-se tão somente àqueles fatos já registrados textualmente, portanto, legitimados como conhecimento relevante. A escola ainda se comporta, infelizmente, como se detivesse o monopólio do conhecimento, haja vista, a falta de valorização do patrimônio cultural dos alunos. Não considera, por exemplo, que eles são sujeitos impregnados de história e de um juízo de valor próprio sobre o conhecimento. E assim, com o avanço tecnológico, foram se ampliando significativamente as redes de informações e, a escola, inerte a esse processo, manteve-se distante dessas mudanças. Agora, faz-se necessária uma verdadeira corrida para superar a crise institucional do Sistema de Educação. Corrida sim! Mas no sentido da realização de um grande esforço para reverter o atual ciclo de descaso instaurado e retro-alimentado pelos discursos efervescentes na sociedade e na escola, especificamente. Faz algum tempo, por exemplo, que a escolarização oferecia maiores possibilidades de sucesso na vida. O aluno que conseguia concluir o Segundo Grau Escolar era, muitas vezes considerado um rei pelas pessoas das classes mais humildes. Imperava, nesse contexto, a idéia do velho ditado popular: “Em terra de cego quem tem um olho é rei”. Ou seja, em um ambiente aonde a maioria das pessoas malmente sabiam escrever, o fato de alguém conquistar o Segundo Grau era considerado a maior vitória. Hoje, as coisas não permanecem assim, e como deveria permanecer, os índices de analfabetismo, apesar serem ainda um dos mais altos do mundo, decresceram. Isso coloca mais pessoas niveladas pelo Segundo Grau em plena competição. Essa concorrência leva a uma desvalorização profissional, que atinge diretamente a expectativa de futuro dos jovens. É a lei da oferta e da procura, de Adam Smith, só que direcionada à mão-de-obra. Quanto mais mão-de-obra disponível para um determinado ramo do mercado, maior poder de barganha terá esse mercado para oferecer um piso salarial menor. O meu caro leitor agora deve estar se perguntando o que isso tem que ver com as minhas experiências de estágio. O que eu poderia responder ? Tudo! Afinal, de acordo com novas concepções científicas, em especial o boom da Física Quântica, de Fritjof Capra, tudo está interligado e tudo são possibilidades. Outros estudiosos, nesse contexto, também tem se destacado por assimilarem o pressuposto filosófico da Física Quântica, influenciando o surgimento de um novo modelo de educação que atenda às novas perspectivas de enxergar o mundo, aonde reina, ao invés da certeza, a incerteza, a dúvida. Como um exemplo desses teóricos pode-se citar, o sociólogo e pensador francês, Edgar Morin, que tem produzido muitos escritos que argumentam sobre a fragilidade do conhecimento, sugerindo a necessidade da quebra paradigmas. Então, quando realizo essa abordagem, ela em si carrega uma imensa gama de múltiplos sentidos, que só podem ser desvelados à partir da ação investigativa, o que requer a elaboração prévia de questionamentos. O importante, nesse contexto, é que a escola permita aos alunos o usufruto de possibilidades de afirmação na sociedade como sujeitos críticos, de modo a analisar os estratagemas ideológicos, os confrontos de interesses entre as classes sociais e a inevitável competição em um mercado de trabalho sob o jugo do Sistema Capitalista.

A ciência, nas últimas décadas, vem se reformulando nos seus conceitos filosóficos. Não cabe mais, por exemplo, na comunidade científica afirmar verdades absolutas. O que impera no momento são as verdades possíveis. A verdade como se pode observar, muda dentro do processo histórico. O que era verdade há quinhentos anos atrás, hoje torna-se absurdo afirmá-la. É estranho isso, não é ? Fomos todos educados de modo a discernir o que é certo ou errado, bom ou ruim e, agora, somos simplesmente varridos em nossa existência. Como é inquietante imaginar que tudo o que conhecemos, que concebemos como a realidade, pode simplesmente não existir. A verdade, comparativamente, pode ser entendida na mesma lógica das ações da bolsa de valores, ou seja, o que hoje pode ter um valor bilionário, amanhã, talvez, não possua valor algum. Diante disso, inspirado na corrente que defende as mudanças filosóficas da ciência, para o campo da educação, também, sugere-se, de acordo com Morin (2005, p.32), que “Necessitamos civilizar nossas teorias, ou seja, desenvolver uma nova geração de teorias abertas, racionais, críticas, reflexivas, auto-críticas, aptas a se auto-reformar”.

A sociedade, atualmente, vive, por mais uma vez, mergulhada em crises que afetam por completo a nossa existência. São crises econômicas, culturais, religiosas, sociais etc. Esse colapso de sistemas atinge de maneira precisa o espaço escolar. É uma espécie de pânico que se alastra com o vento e percorre todos os núcleos de civilização da terra. Tornamo-nos viciados na verdade, no solo seguro, por isso, ficamos atordoados com a idéia de incerteza.

No universo da Educação de Jovens e Adultos (EJA) é possível perceber que alguns alunos se aprisionam na idéia da incerteza, caindo, muitas vezes, no pessimismo em que concerne ao futuro. Diante das dificuldades enfrentadas no dia-a-dia e durante as próprias histórias de vida, bombardeiam-se com questionamentos sobre o mérito de persistirem no processo educativo. Possivelmente, acontecem ocasiões em que esses alunos se perguntam se vale a pena continuar ou se vale a pena o sacrifício investido em prol da conquista de uma melhor sorte na vida. Ocorre que muitos, nesses momentos de conflitos de idéias, acabam por tropeçar em recaídas de auto-estima e, como que retrocedendo às frustradas histórias, sem forças para continuar, interrompem os estudos e adiam uma vitória possível.

SACRIFÍCIOS, CONSCIÊNCIA E SUPERAÇÃO PARA VENCER NO SEJA:

Ao observar as questões mais emergentes, no que concerne à questão-problema da escola, não há mais tempo para esperar, o país, para se desenvolver, precisa centrar mais as discussões sobre investimentos eficazes em prol da oferta de uma educação pública de qualidade. Há ainda, vários impasses que precisam ser resolvidos. Políticas Públicas para a educação já existem, o que carece a escola para um melhor desenvolvimento são as articulações entre valorização do profissional docente, melhores condições de trabalho e suporte mais amplo aos alunos, no que tange ao apoio sócio-econômico e psicológico. Durante a minha vivência no estágio pude perceber alguns dos problemas que afetam os alunos do SEJA, como, por exemplo, a dificuldade de conciliação entre a rotina do trabalho e os horários escolares. Além disso, pelo menos no período em que estive estagiando, os alunos não haviam recebido livros didáticos, um recurso que ainda é muito importante para os alunos consultarem, inclusive, quando estiverem em casa.

Com isso, emerge a necessidade de se atuar, em nível governamental, no sentido de evitar ao máximo que alunos fracassem durante o período considerado regular da escola sem, contudo, deixar de tratar, bem de perto, o Segmento da Educação de Jovens e Adultos, mas, não de forma especial, pois isso pode levar algumas pessoas a encarar os alunos tão somente como coitadinhos carentes, o que contribui para o surgimento de posturas preconceituosas. Os alunos do SEJA têm que ser submetidos a um processo de educação diferenciada, visto a realidade preponderante deles, a do indivíduo que trabalha durante o dia e estuda durante a noite. Admite-se, com isso, que o universo do SEJA reflete uma realidade difícil para os alunos. Pessoas inseridas nesse contexto estão experimentando o processo de educação sob o regime do sacrifício. Existe até, por exemplo, para que os alunos consigam prosseguir com os estudos no Segmento de Educação de Jovens e Adultos (SEJA), uma inevitável abstinência dos momentos de lazer, de convivência com os familiares, dos períodos de descanso etc. Ou seja, é uma dupla desvantagem, estar inserido em um modelo de escola pública que perde em qualidade para as grandes instituições privadas de educação e, além disso, estarem resgatando um atraso histórico da vida deles.

Diante disso, é, indiscutivelmente, um preço alto a pagar. São situações-limites como essas que me remetem aos escritos da Pedagogia do oprimido, de Freire (1975). Isto é, emerge nesses momentos, perguntas que tocam na maneira como a escola, em geral, lida com isso. Importante, nesse sentido, é lutar incessantemente para diminuir a distância entre as possibilidades dos alunos da escola pública, em especial aqui dos alunos do SEJA, e dos alunos oriundos de grandes escolas particulares, os herdeiros da elite brasileira. Muito se discute, atualmente, por exemplo, a legitimidade das Políticas de Cotas nas universidades públicas do Brasil, assim como, sobre os critérios adotados no PROUNI para a distribuição de bolsas universitárias aos alunos das classes populares. O que há, como possivelmente era de se prever, é uma verdadeira guerra ideológica de classes. Os interesses da elite residem em preservar o statu quo1, a hegemonia secular que se estabelece aqui no Brasil.


Mas, o que ocorre, ainda quando a superação da contradição se faça em termos autênticos, com a instalação de uma nova situação concreta, de uma nova realidade inaugurada pelos oprimidos que se libertam, é que os opressores de ontem não se reconhecem em libertação. Pelo contrário, vão sentir-se como se realmente estivessem sendo oprimidos. É que, para eles, “formados” na experiência de opressores, tudo o que não seja o seu direito de oprimir, significa opressão a eles. [...]

(FREIRE, 1975, p. 47).

É por isso, diante de tantas adversidades, que muitos alunos, influenciados também pelos bolsões de violência que vem afligindo a cidade de Salvador, tomam a triste decisão de abandonar os estudos. É angustiante! Para eles, possivelmente é o abandono das esperanças de ser mais, é o abandono do compromisso de quebrar o ciclo vicioso da exclusão social. Em algumas das aulas de meu estágio, por exemplo, alguns alunos justificavam a falta na aula anterior. Falavam da dificuldade de chegar à escola em um horário razoável para as aulas ou da não liberação do patrão para ir às aulas, esta última, comumente, reflete o drama peculiar das empregadas domésticas.

Durante o estágio, ao perceber esse abismo que se agiganta diante dos alunos, procurei sempre nas aulas estimular a elevação da auto-estima deles. Nos diálogos estabelecidos, nas reflexões realizadas, na resolução de situações-problemas, que envolvia todas as disciplinas, enfim, em todos os contatos firmados com os alunos, através da mediação, sempre me comprometi a demonstrar para eles que o horizonte do possível pode ser concretamente palpável a depender dos esforços que cada um realize para alcançá-lo.

[...] Urge ver mais do que alunos ou ex-alunos em trajetórias escolares. Vê-los jovens-adultos em suas trajetórias humanas. Superar a dificuldade de reconhecer que, além de alunos ou jovens evadidos ou excluídos da escola, antes do que portadores de trajetórias escolares truncadas, eles e elas carregam trajetórias perversas de exclusão social, vivenciam trajetórias de negação dos direitos mais básicos à vida, ao afeto, à alimentação, à moradia, ao trabalho e à sobrevivência. [...]

(Soares, Giovanetti e Gomes, 2006, p.24).

Sabe-se que, em maioria, os alunos da EJA são indivíduos que foram (e estão sendo) marginalizados por todas as esferas da sociedade. Uma vez que a sua estrutura não possibilitou a esses sujeitos a condição mínima que se requer para que qualquer pessoa possa sobrexistir dignamente, e assim, reunir em si as virtudes que caracterizam a manifestação plena da cidadania.

Na tentativa de driblar todas as adversidades a que estão vulneráveis os alunos do SEJA, eu revelei nas propostas de aulas que ministrei, a intenção de estimular a auto-estima e o desenvolvimento da consciência dos alunos a respeito do processo deles enquanto educandos e do processo deles enquanto sujeitos na sociedade. E, para apoiar essa idéia, fiz do ato de provocação a tônica das minhas aulas. Percebi desde o início a heterogeneidade da sala de aula. No momento em que alguns alunos, ao serem analisados a partir da Teoria Vygotskyana, apresentavam um desenvolvimento de aprendizagem no estágio da Zona de Desenvolvimento Real, ou seja, já eram capazes de resolver atividades sozinhos. Ao mesmo tempo, havia aqueles alunos que ainda estavam na Zona de desenvolvimento Potencial, pois ainda, não eram capazes de resolver as atividades, mas tinham potencial para isto. Além disso, existiam alunos que resolviam atividades somente com o auxílio de outra pessoa, o que conforme Vygotsky, caracteriza o estágio da ZDP (Zona de Desenvolvimento Proximal).

A REALIDADE PALPÁVEL NOS CONTEÚDOS:

Munido dessa realidade, decidi em trabalhar os conteúdos de maneira interdisciplinar, ao alinhar fatos da realidade com os conteúdos das disciplinas. Foi uma construção trabalhosa, não digo difícil. O maior problema no estágio foi o que é justamente o calcanhar de Aquiles da sociedade contemporânea, o tempo. Ao optar pelo relato diário das práticas em sala de aula, o tempo ficou curto para administrar o ato de assimilar, planejar e relatar o ato pedagógico. Realizar o planejamento de uma atividade disciplinar demanda tempo e esforço de associação com a realidade, visto que, essa é uma prática recente. A inter e a trans-disciplinaridade não foi a realidade educacional da maioria das pessoas. Daí a dificuldade de enxergar uma coisa que é tão plausível, que a realidade em si é inter-disciplinar.

No início, como já relatei no Diário de Estágio, durante as primeiras aulas, os alunos demonstraram um certo estranhamento para com as atividades.


O mais surpreendente, é que jamais pensei que na minha estréia enquanto professor fosse conseguir do alunado ricas produções textuais. Existe, especialmente aqui no Brasil, uma resistência muito grande à construção textual na sala de aula. Eu sou exemplo disso. Não que eu fosse um aluno resistente à escrita, ao contrário, sempre produzi textos em casa. O inusitado é justamente o fato de que na escola, o in loco2 de produção por natureza, eu não recordo de muitas experiências com a construção textual em sala de aula. A partir dessas vivências, fiquei estimulado com as produções textuais dos alunos. Vejamos algumas produções dos alunos do IV Estágio do SEJA.

Essa afirmativa de Célia Patrícia “...temos nossos direitos e que somos iguais e livres...”, fez-me lembrar o famoso discurso de Martin Luther king, que por sinal havia sido veiculado para os alunos. A aluna também relata sobre a vontade de viver em uma sociedade sem violência, portanto, fica visível a capacidade da aluna de articular corretamente as idéias. Se eu fosse veicular todas produções no corpo desse trabalho, meu caro leitor, certamente ficaria convencido da capacidade dos alunos do SEJA. Pessoas que ficaram por tantos anos à margem do processo da educação regular nos presenteando com produções magníficas, revelando grande capacidade abstrativa da realidade e de produção de sentido.

A respeito do assunto, para Soares, Giovanetti e Gomes (2006, p.24), “... Ao contrário da imagem socialmente criada a respeito dos jovens pobres, quase sempre associada à violência e à marginalidade, eles também se colocam como produtores culturais”. Fica sempre muito visível esse preconceito em relação aos alunos das camadas populares, em especial, os alunos do SEJA. A escola quando se limita a esse olhar, acaba por desperdiçar a oportunidade de experimentar a manifestação da capacidade potencial desses alunos.


As produções dos alunos são diferenciadas, cada um deles apresenta uma característica individual, até mesmo por que, a escrita é algo muito subjetivo. O estágio de desenvolvimento da aprendizagem também é um fator central para analisar as produções dos alunos.

Os alunos do SEJA se sentem ainda mais pressionados quando no ato de escrever. Uma vez que, há um certo sentimento de vergonha em demonstrar as carências decorrentes do atraso escolar. Para alguns desses alunos, é uma espécie de humilhação um adulto não saber escrever corretamente. Não percebem eles a não-culpabilidade deles em relação ao assunto. Ao contrário disso, depois de tantas humilhações sofridas durante as histórias individuais, acabam se convencendo de que realmente são culpados por não terem conseguido, durante o “período normal” da faixa etária, prosseguir com os estudos.

A escola, historicamente, deu a sua contribuição para esse espírito de baixa auto-estima dos alunos da EJA. Ao priorizar o assistencialismo ao invés da assistência, os governos perpertuaram por muito tempo a atual estrutura sócio-econômica. A escola, de certa forma, também cometeu o erro do assistencialismo, quando ao invés de priorizar a superação dessa realidade do descaso, adotavam medidas paliativas de alfabetização, que antes era limitada ao ato restrito de desenhar o próprio nome.



Ao reeducarmos o nosso olhar docente, à luz do legado da educação escolar, poderemos superar a negatividade ainda tão presente em nossas abordagens sobre os alunos da EJA, ainda referimos por meio de uma visão marcada pela ”carência”, o que acaba por reafirmar uma postura preconceituosa e estigmatizada.

(SOARES, GIOVANETTI E GOMES, 2006, p.24).



O aluno do SEJA não precisa da idéia fatal da carência. Isso em nada contribui para uma reviravolta no contexto deles. O que é preciso é induzir o aluno a perceber a condição de desvantagem a que ele está submetido e, à partir disso, ajudá-los, estimulando-os a reunir forças para a superação dessa situação-limite. É imperioso, superar o medo da liberdade, pois, como diz Freire (1975, p.34), “O “medo da liberdade”, de que se fazem objeto os oprimidos, medo da liberdade que tanto pode conduzi-los a pretender ser opressores também, quanto pode mantê-los atados ao status de oprimidos...”. Cabe a escola, portanto, mostrar que existem caminhos a emancipação dos alunos diante da realidade a que estão submetidos, mas que isso, até mesmo pela condição de desvantagem oferecida, exigirá deles um grande esforço e sacrifícios de momentos de lazer que somente o tempo irá justificar.

CONSIDERAÇÕES FINAIS:



É sublime a sensação que me arrebata quando recordo as experiências vivenciadas no campo de estágio de docência. Foram dias de efervescente diálogo em sala de aula, experiências que me ajudaram a sedimentar o compromisso político de atuar na Educação de Jovens e Adultos, de forma a contribuir para a formação humana e crítica do cidadão, em especial, aqueles que foram, historicamente, negados pela sociedade e pela escola. Relembro que foi justamente no estágio que tive a oportunidade de confrontar teoria e realidade, adaptando-as aos contextos, como também, de olhar o universo da educação com a convicção da necessidade de que as escolas precisam investir sempre em diálogos mais profundos com a comunidade local e, com os alunos. Acredito que todos, sem exceção, incluindo os mais diversos setores da sociedade, devem abraçar a causa da educação, pois, sem isso, diante de um contexto sócio-econômico tão perverso, torna-se difícil e solitária a missão da escola. Finalizo este escrito afirmando o meu sentimento de renovação, de agradecimento por ter sido presenteado com a oportunidade de viver a experiência de sala de aula e, portanto, mais fortalecido em minhas esperanças de mudança, pois, antes, ouvia falar do possível, agora, creio na concretude das possibilidades.



REFERÊNCIAS:

RIBEIRO, João Ubaldo. Política: quem manda, por que manda, como manda. 3.ed. ver. por Lúcia Hipólito. – Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998.

BIANCHI, Anna Cecilia de Moraes. ALVARENGA, Marina. BIANCHI, Roberto. Orientação para Estágio em Licenciatura. 1ª edição. São Paulo: Ed. Cengage Learning, 2005

DESCARTES, René. Discurso do método. Trad. de Ciro Mioranza. São Paulo: Escala Educacional, 2006. (Série Filosofar)

MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. Trad. De Catarina Eleonora F. da Silva e Jeanne Sawaya. Revisão técnica de Edgar de Assis Carvalho. 10.ed. – São Paulo: Cortez, Brasília, DF: Unesco: 2005.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. Editora paz e terra. São paulo, 1996. (Coleção leitura)

PERUZZO, Marcelo. Jesus de gravata. Curitiba, 2005.

HUNTER, James C. HUNTER, James C. O monge e o executivo. Trad. Maria da Conceição Magalhães. Rio de . Trad. Maria da Conceição Magalhães. Rio de janeiro: Sextante, 2004. janeiro: Sextante, 2004.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da esperança: um reencontro com a pedagogia do oprimido. Editorapaz e terra. Rio de Janeiro, 1992.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 2.ed. - Rio da janeiro: Paz e terra, 1975. PASSOS, Ilma ( Coord.). et. al. Repensando a didática. 21ª ed. rev. e atual. – Campinas, SP: Papirus, 2004.

Disponível no site < http://www.scielo.br/pdf/rbedu/n26/n26a06.pdf> Acessado em 25/10/08

SOARES, Leôncio. GIOVANETTI, Maria Amélia Gomes de Castro. GOMES, Nilma Lino. (orgs.) Diálogos na educação de jovens e adultos. 2.ed. – Belo Horizonte: Autêntica, 2006.

ABRAMOVAY, Miriam. et. al. Gangues, galeras, chegados e rappers: juventude, violência e cidadania nas cidades da periferia de Brasília. Rio de Janeiro: Garamond, 2004.

Abramovay, Miriam. Juventude, violência e vulnerabilidade social na América Latina: desafios para políticas públicas / Miriam Abramovay et alii. – Brasília :UNESCO, BID, 2002. 192 p.

MARX, Karl. Miséria da Filosofia. Trad. Torrieri Guimarães. São Paulo: Martin Claret, 2007.

Disponível no site < http://br.youtube.com/watch?v=o7TZLnL7HLA> Acessado em 25/10/08