As pessoas sempre guardam algum segredo. Todo mundo tem um segredo, um baú de memórias, protegido pelo silêncio. Eu tenho os meus segredos. Você,caro leitor, com certeza deve ter os seus. O discurso que as pessoas tem de que são "um livro aberto" é pura ficção. Todo mundo tem um segredo, ainda que não o tenha por conta. Mas nesse momento, não o meu, nem tampouco o seu segredo que me importa. O que me perturba neste preciso instante é o segredo que a minha mãe guarda com muito cuidado e discrição. Trata-se de um segredo de muitos anos, tão velho que já criou barba e cabelo branco. Ele nunca viu o sol, nem para tomar banho. Está aprisionado, sentenciado, por tempo indefinido e cujo o motivo desconheço. A sua prisão, inesperadamente, não é uma caixa, daquelas usadas comumente pelas pessoas para guardar lembranças. Geralmente, guardam fotos, objetos pessoais,cartas, entre outras coisas. No entanto, isso passa longe do segredo de minha mãe. A técnica utilizada por ela para guardar o segredo é infalível. Sua caixa talvez seja impenetrável e o conteúdo que nela se abriga seja ininteligível. É como se fosse uma cripitografia, faz necessário conhecer o código para conhecer o conteúdo da mensagem. Na verdade, minha mãe não utilizou uma caixa para guardar o segredo, mas um objeto simples, um instrumento utilitário presente em nossas casas todos os dias. Posso até dizer que é quase impossível alguém dormir sem ele. Calma, leitor. Não é disso que estou falando. Estou falando de um velho e inútil cadeado,que curiosamente tem a finalidade de proteger o acesso a algo. Será que a minha mãe pensou nisso? Acho que talvez ela tivesse se valido muito bem desse atributo do cadeado. Ela trancou o próprio segredo no cadeado. E ele, apesar de inútil no exercício de sua específica competência, soube desempenhar muito bem a tarefa: proteger o segredo. Deixou de ser um objeto forjado em ferro para se tornar um terno amigo de minha mãe, daqueles que sabem guardar às sete chaves um segredo.
POR: PAULO ANDRE DOS SANTOS.