segunda-feira, 15 de março de 2010

Águas de março.



AUTOR: PAULO ANDRÉ DOS SANTOS.

A história vive a sua época de “cheia”. Os últimos cem anos tem sido tão frutíferos em produção de sentidos que, talvez, em nenhum outro momento o caos esteve tão evidente. A abundância de novas descobertas tem modificado arranjos na semântica da tradição. Vive-se, atualmente, sempre o último capítulo de uma novela, onde o saudosismo já não encontra acomodação. As experiências não possuem o mesmo crédito. A sabedoria dos “mais velhos”, nem se fala. Ou melhor, encontra-se engasgada na garganta dos que tem uma vida para contar. A mudança é um motor constantemente ligado e, marcantemente, a moda é o seu combustível. Assim como as águas de março, em que o mar se engrandece imponente e cheio de vida, semelhantes são os tempos atuais. A diferença é que o último não se reedita anualmente, mas, a cada segundo, vertiginosamente, faz-se inédito e singular. “Ninguém se banha duas vezes nas águas do rio”, dizia Heráclito de Eféso. Analogamente, ao resgatar esse pressuposto para os dias atuais, percebe-se uma coincidência essa idéia e a realidade contemporânea. Ou seja, tratando a referida metáfora “em miúdos”, pode-se dizer que, no contexto em que se engendra a produção do conhecimento, o posicionamento de Heráclito, citado anteriormente, converge, atualmente, para uma visão pós-moderna de compreensão do mundo, onde a cultura flutua e as verdades são cada vez mais abertas às incertezas.