domingo, 13 de novembro de 2016

RESENHA DO FILME "A EDUCAÇÃO DE PEQUENA ÁRVORE.

O filme “A educação de Pequena Árvore” (1997), produzido pela Paramount Pictures e dirigida por Richard Friedenberg, possui em seu elenco principal os atores: James Cromwell, Joseph Ashtom e Tantoo Cardinal.
A produção foi inspirada na obra literária homônima, escrita por Forrest Carter (1976), onde autor fala de sua infância com os avós, remanescentes da tribo indígena Cherokee, com os quais aprende sobre os seus costumes e sobre a sua história ancestral ligada à tribo.
A tessitura do filme é construída a partir da narração das experiências vivenciadas pelo menino Pequena Árvore. Constitui-se, assim, em uma espécie de relato de acontecimentos vividos pelo próprio narrador - já que esse é também o personagem central história.
Nesse contexto, existe um momento da produção fílmica em que o menino Pequena Árvore é apresentado à história dos Cherokees - a sua matriz ancestral. Uma história sem perfumes e sem ornamentos, que se confunde com a história de outros povos indígenas.
Construída em um cenário predominantemente bucólico, a película, em certa medida, retrata uma tensão entre o tradicional, representado no universo indígena, e, do outro lado, o “moderno-civilizado”, simbolizado no filme como “o homem branco”.
Nesse sentido, uma cena que simboliza bem essa tensão é no trecho do filme em que o menino Pequena Árvore é recepcionado na escola destinada à educação de índios; nesse momento, o portão de entrada na instituição é declarado como a linha divisória entre dois mundos, o índigena e o “civilizado”, na qual , um não poderia habitar o território do outro.
Na órbita da questão identitária, o filme aponta temas recorrentes na sociedade, tais como a educação, o preconceito e a discriminação étnica-racial. Em paralelo à referida discussão, o filme evidencia a violência com a qual se deu a colonização de povos indígenas, nos Estados Unidos, modelo adotado em grande parte da América Latina, inclusive no Brasil.
Enfim, trata-se de um filme indicado para alunos e professores assistirem, refletirem e debaterem sobre a temática da educação na perspectiva da presença da abordagem colonialista na história dos povos indígenas. Um filme cativante e visceral que certamente está entre os melhores filmes sobre educação já produzidos.
Por: Paulo André dos Santos
REFERÊNCIA: A educação de Pequena Árvore (The education of little tree). Direção: Richard Friedenberg. Produção: Paramount Pictures. Ano: 1997. Gênero: Drama. País: EUA. Elenco principal: James Cromwell, Joseph Ashtom e Tantoo Cardnal.

Bate coração.

Por: Paulo André dos Santos.
Era com óculos escuros, calça jeans, bota e uma jaqueta surrada, que ele saia diurnamente para trabalhar. Acordava às seis da manhã, jogava uma água no corpo e vestia a fantasia. Sim, mais parecia uma fantasia, tal era   a   preocupação   com   os   mínimos   detalhes.  Enquanto,   para   muitas pessoas, a moto era tão somente um meio de locomoção, na ótica de Celestino, mais do que um meio, a moto parecia ter um fim em si mesma. Havia entre ele  e a moto  uma relação  de muito orgulho e reverência impagáveis. Logo às sete da matina, já se podia ouvir o agradável ronco do motor da velha motocicleta, que embora não fosse tão destacado, era capaz de causar o respeito e a admiração. O som produzido pela moto, rasgava a avenida, geralmente, arregalando os olhos da plateia. Não era uma Harley Davidson, mas, era como se fosse. Para Celestino, os primeiros minutos de intimidade diária com a  moto eram  únicos. Ainda que se performassem todos os dias, sempre havia um capítulo inédito a escrever. Por uns cinco minutos,  ainda na garagem,  no seu rito diário, analisava clinicamente o estado da companheira. Em seguida, ficava a massagear o seu  ânimo, ouvindo   aquele   som   característico   do   motor,  ora  acelerando,   ora desacelerando, como se estivesse a cumprimentar à máquina. Em poucos minutos, terminada aquela oração, disparava, rápido e imponente. Entre as ruas e as avenidas, Celestino decolava rumo ao outro mundo, levantando a poeira acumulada no asfalto. Todos os problemas, sem exceção, ficavam para trás. O resto, à adiante, era somente o paraíso. E assim ele começava o dia – pensando que o céu fosse o limite. Mas, alegria e tristeza sempre tiveram prazo de validade, e talvez por isso, precisem se revezar na vida das pessoas. Não seria apropriado que uma delas se tornasse um devir permanente. Qualquer um se cansaria de uma vida sem esse balanço, entre a sorte e o azar, entre a alegria e a tristeza, entre a esperança e a decepção. Tais sortes e intempéries também se fazem no trânsito. Na rua, alternam­se os prazeres e os desprazeres, as rusgas e as cortesias. A vida no trânsito sempre segue o seu curso. Dia após dia,  vai deslizando, livre e sinuosa, alternando ânimo e apatia, numa dinâmica que pode levar  à luz ou  às trevas. Nem tudo na vida são flores. E no trânsito, é muito forte a presença dos espinhos. Quem experimenta a vida nas ruas, sabe disso. No caso de Celestino, foram quinze anos de muita história para contar. Certo dia, quando vinha da casa de um amigo.  No meio do caminho, de retorno para casa,   três   motos   de   grosso   calibre   o   cercou,   obrigando­o   a   parar. Assustado, ele parou. Os bandidos gritaram: Perdeu! Perdeu! Mané. Saia da   moto.   Com   calma.   Deixe   funcionando,   viu!   Desolado,   obedeceu   o pobre do Celestino. Um dos meliantes pegou a moto e acelerou – sem sair do lugar. Parecia em pura êxtase em cima da moto, de tanto prazer. Olhou para trás e disse, como quem reconhecesse a vítima e disse: “Não é nada pessoal, faz parte do negócio”. Mirou o rapaz na cabeça, que  com os olhos encharcados de lágrimas suplicou pela vida. Seguiu­se alguns segundos Silêncio. Então, o atirador então lhe respondeu: Corre! Mané. Corre seu miserável! E o rapaz correu. Correu como nunca houvera feito; os seus pulmões gritavam, a sua respiração era sofrível. Ia se afastando do bando aos metros. As suas pernas avançavam em busca da salvação, quando escutou, de longe, o estampido: Pow! Pow! Pow! Celestino caira no chão. O seu pulmão já não se contentava em gritar, queria sair pela boca. Os homens,   na   moto   já   iam   se   aproximando.   Nesses   segundos, Celestino pensava na mãe, pensava na avó, nos filhos, pensava em Julieta. quando outro   estampido   lhe   interrompeu   o   pensamento.   Outros   tiros   foram ouvidos, à distância: Pow! Pow! Pow! Desta feita as balas não sairam do revólver do primeiro atirador. Os tiros vinham na verdade, de uma outra direção. Do outro lado, vinha cavalgando, quase incontrolável, uma viatura da polícia. Vinha acelerando impiedosamente naquela estrada de barro. O motor do carro rosnava em grande fúria. Os bandidos conseguiram fugir, levando a moto. Quando a viatura se aproximou daquele corpo deitado ao chão, com algumas manchas de sangue na roupa, um policial desembarcou imediatamente do veículo e, ao se   aproximar da vítima, viu que ainda respirava. Foram as últimas palavras que Celestino ouviu naquela fatídica noite: “Ei, você está bem.? Ei, você está bem?” Chegou até a acenar com a cabeça, mas apagou. Nasceu de novo, seis dias depois no hospital.