sexta-feira, 27 de março de 2009

A pesquisa em Aquisição da Linguagem

(Resumo)

Paulo André dos Santos, graduando do 7º semestre do Curso de Licenciatura em Pedagogia na Faculdade Social.
DEL RÉ, Alessandra. Aquisição da linguagem: uma abordagem psicolinguística. In: A pesquisa em Aquisição da Linguagem (p.13-31). São Paulo: 2006.



Historicamente, os tempos mais remotos em que se iniciaram os estudos e registros sobre a linguagem infantil datam do século XIX. Nessa época, as pesquisas a respeito da linguagem não possuiam uma articulação metodológica, misturavam-se nos estudos os aspectos das expressões da linguagem oral aos aspectos da linguagem escrita. Com isso, não se praticava na época qualquer tipo de discriminação linguística. No início do século XX, os estudiosos passaram a reinvindicar para a área de linguística, a condição autônoma que lhe conferisse o caráter de campos de estudo científico. O foco da linguística deixa de ser, nesse momento, a condição histórica, para se observar uma perspectiva descritiva, passando a realizar estudos descritivos, longitudinais e naturalísticos. Na segunda metade do século XX, Chomsky traz em seus estudos um novo viés para o campo da linguística. Nesse estudo, ele apresentou uma proposta de uma linguística mais preocupada com as palavras que o falante potencialmente poderia produzir, e menos enfática com relação às palavras que o indivíduo já produz. Essa forma de encarar a linguística, mais preocupada com o potencial de linguagem do indivíduo, desencadeou no surgimento da Gramática Gerativa Transformacional. Já no fim da década de 1950, surgiu uma corrente de estudos denominada de Psicolinguística, com o intuito de estudar os processos psicológicos resultantes da aquisição e da expressão da linguagem (Maingueneau citado por DEL RÉ, 2006, p.14). Essa área de estudos, inicialmente, apoiava-se nos conhecimentos oriundos da Psicologia e da linguística. No decorrer da década de 1960, a teoria gerativa de Chomsky exerce influência sobre o campo da Psicolinguística. Com o intuito de obter a autonomia enquanto campo de estudos científicos, a Psicolinguística, a partir da década de 1970, amplia o foco de estudos, além do processo de aquisição da linguagem, ela, apoiando-se na Epistemologia genética, na Etologia e na Psicanálise, passou a estudar os aspectos que influenciam no desenvolvimento da linguagem na criança a partir da idade de recém-nascida. Esse estudo do processo de aquisição da linguagem levou o estudo da própria Aquisição da Linguagem a conquistar autonomia de ciência, tornando-se em uma área de interesse da Psicolinguística, das ciências cognitivistas e das teorias linguísticas. Entre os estudos que envolvem a Psicolinguística e a Aquisição da Linguagem existe o problema da falta de consenso quanto às questões metodológicas, visto que nos estudos mais novos de Aquisição da Linguagem existe uma flexibilidade quanto a metodologia, que será determinada de acordo com a teoria escolhida pelo investigador, podendo ele seguir o caminho indutivo ou detutivo. As duas primeira teorias de Aquisição da linguagem, o Behaviorismo e o Conexionismo, tiveram suas bases epistemologicas sustentadas pela corrente do empirismo. Nessas duas concepções, o conhecimento é também o resultado da experiência e da única capacidade de que o ser humano possui de fazer associações entre estímulos ou entre estímulos e respostas. Na teoria Behaviorista, a criança, em termos de conhecimento, é como se fosse uma tábula rasa. Ela só pode conquistar o conhecimento através da relação estímulo-resposta, imitação e reforço. Há dúvidas quanto a auto-suficiência do Behaviorismo. Ou seja, existe uma desconfiança dessa teoria quanto a aquisição da linguagem. Quanto à teoria do Conexionismo ou Associacionismo, apesar de não validar a mente como participante do processo de aquisição, aceita a idéia de que o cérebro e suas redes neurais sejam responsáveis pelos aprendizado instantâneo, no momento da experiência empírica. Na concepção teórica do Racionalismo, aceita-se não só a existência da mente, mas confere a ela a responsabilidade pela aquisição do conhecimento. Foi dessa base teórica que surgiu o Inatismo, na qual as propriedades da língua são transmitidas geneticamente. Posteriormente, para investigar outros aspectos sobre o processo de aquisição do conhecimento surgiram as teorias do Cognitivismo (Piaget) e do Interacionismo (Vygotsky). Ambas as correntes, por possuírem o mesmo princípio passaram a serem depois identificadas como pertencentes ao Construtivismo.

* Texto escrito em 01 de março de 2008.

sábado, 14 de março de 2009

Naufrágio



Por: Paulo André dos Santos.



Poderia ter hesitado, mas não o fiz.
Poderia ter me contido, mas não quis,
Ah! Se eu tivesse ouvido, se eu tivesse falado.
***
Mas, poderia ter sido ao contrário.
Eu poderia ter ouvido, eu poderia ter falado.
Ainda assim, a história poderia repetir o mesmo resultado.
***
Não sei se fui escolhido, não sei se fui marcado.
Sei que não posso fugir, não posso lutar.
Deixo-me então ser varrido, deixo-me então ser tomado, possuído, arrasado.
***
...Por aqueles ventos que me sopram,
Que gritam o tufão da esperança,
Faz-me cair as folhas secas,
Faz-me cessar o meu choro de criança.
***
Quero se perder no naufrágio,
Quero me novar os conceitos,
Quero me achar nesse rio,
Quero sanar meus defeitos.
***

Ó! Velho mar,
Traze-me de volta o navio,
O meu chão, o meu casario,
Faz-me ouvir uma salubre canção,
Faz-me navegar noites a fio,
Faz-me sentir bater o coração.

O espírito do conhecimento e a responsabilidade social




Por: Paulo André dos Santos.

Na intenção de estabelecer uma correlação entre o conhecimento e a responsabilidade social, no transcurso do texto, são elencados alguns exemplos que explicitam um pouco da relação sociedade-conhecimento. O primeiro deles, o filme “O Clube do Imperador1”, uma produção cinematográfica tinha como cenário predominante um ambiente escolar, mais especificamente, uma escola burguesa, aonde somente tinham acesso os filhos das figuras mais ilustres da sociedade.

A mensagem emblemática do filme, no entanto, não se resume a expor características da educação burguesa, ela perpassa pelas questões eminentemente humanas, onde aparece, marcantemente, de um lado a consciência da responsabilidade social do professor e, do outro, a distorção de valores do caráter humano por um aluno.

Na cena que se reporta ao momento de iniciação dos alunos na escola, o professor faz uma alusão ao valor do conhecimento. Ele expressa que conhecimento deve ser sinônimo de contribuição e de legado para a civilização. Talvez esse, seja um dos melhores trechos do filmes. Na verdade, é mais do que uma provocação, é um chamamento à consciência, à responsabilidade de estar ali, produzindo conhecimento.

O grande valor do conhecimento reside na sua socialização, em escala global, enquanto cultura. No filme, o professor, ao encerrar a provocação, disse aos alunos: “Conhecimento sem contribuição não é nada”. Afinal, qual o sentido de se construir conhecimento para si? O conhecimento, por mais irrelevante que seja, ao ponto de vista de alguns, sempre irá oferecer a outros sujeitos sociais a oportunidade de resignificação e de ampliação de seu sentido.

Outro viés na relação conhecimento-sociedade que pode ser citado como exemplo é o documentário “O povo brasileiro2”, de Darcy Ribeiro, que trata da constituição étnica do povo brasileiro. Nele se aborda da essência dos vários povos, que reunidos nessa grande nação, deram um perfil diversificado ao nosso povo. O trecho do documentário que me permitiu uma reflexão sobre o conhecimento foi o momento em que o Darcy Ribeiro abordou sobre a relação da sociedade indígena com o conhecimento. Nesta cena ele discorre sobre a forma como o conhecimento é socializado nessa cultura.

Ele diz que um índio aprende tudo o que lhe é possível dentro da sua tribo. Não há uma relação de poder, pelo menos explícita, a respeito da posse do conhecimento. O conhecimento é compartilhado entre os membros da tribo, de modo que, um índio não fica refém do conhecimento de outro índio. Não há, na sociedade indígena, a ideologia de monopólio do conhecimento, pois, os índios percebem que a saúde cultural e o futuro das sociedades indígenas dependem da transmissão e da preservação da cultura nativa.

Exemplos como esses servem de inspiração ao pensamento de um novo modelo de sociedade em que se valorize o conhecimento como um patrimônio social destinado ao desenvolvimento e à sustentabilidade da civilização. E, essa condição, para ser atingida, é necessário ter, antes, uma sociedade responsável socialmente, que possua com pedra principal um modelo de cidadania que permita aos sujeitos pensarem de forma sistêmica. É imperativo aprender a pensar como sociedade, como civilização. Continuar recluso ao individualismo significará um fator de constante desequilíbrio na sociedade.

Atualmente, é muito presente na filosofia das empresas o slogan da responsabilidade social. No entanto, como definir de maneira coesa o que é responsabilidade social? Muitas empresas possuem projetos relacionados à preservação ecológica e à prestação de serviços assistenciais à sociedade. Será que isso garante o objetivo de ser responsável socialmente?

De forma alguma é possível comparar o assistencialismo à emancipação cultural. Para que uma empresa se torne responsável socialmente, é um imperativo investir, sobretudo, no campo da educação, patrocinando atividades culturais, esportivas e afins. Afinal, a raiz de todos os problemas da sociedade não reside na educação? Uma sociedade munida de uma educação de qualidade consegue estabelecer melhor a relação causa-consequência de suas ações.

Com isso, o praticar da responsabilidade social deve estar sempre orientado pelo sentimento de cuidar do futuro da sociedade. É claro, algumas iniciativas empreendidas em situações emergenciais são louváveis, como por exemplo, patrocinar a alimentação de uma creche, alimentar pessoas em condição de rua, mas, isso não dá conta da magnitude expressada na essência da responsabilidade social.

A respeito dessa responsabilidade, Carlos Nelson reis3 afirma que ...

Sob esse prisma, as empresas consomem recursos da sociedade, renováveis ou não, mas que são patrimônio gratuito e coletivo da humanidade; logo, contraem “uma dívida social” (Melo Neto e Froes, 1999), sendo seu compromisso restituir à sociedade o que dela é absorvido, por meio de investimentos na área social e no meio ambiente.



É na responsabilidade social que reside na finalidade primeira do conhecimento. Uma empresa socialmente responsável é aquela que pratica cidadania corporativa com os seus empregados e com a sociedade. Para adquirir a responsabilidade social, é preciso pensar no espaço e no tempo, na individualidade e na coletividade, nas partes e no todo, para que, possamos de fato exercitar de forma plena, a cidadania, seja essa prática advinda das empresas ou dos sujeitos sociais.

Assim, ao revelar a essência do termo responsabilidade social, pode-se inferir que ser responsável socialmente é enfatizar a contribuição social na causa dos problemas da sociedade, é ter uma visão de futuro para a sociedade. Trabalhar em cima das consequências, de forma redentora, também tem o seu mérito, mas, nada se compara a uma proposta cuidadosa de contribuição para o futuro da sociedade.

Materiais consultados:
1 O Clube do Imperador(2004). Direção: Michael Hoffman. Elenco: Kevin Kline, Emile Hirsch, Embeth Davidtz, Edward Herrmann, Harris Yulin, Roger Rees. Gênero: DramaDistribuidora: Europa FilmesEstreia: Direto em Vídeo/DVD
2 O povo brasileiro: a matriz tupi. Disponível no sítio: Acessado no dia 14/03/2009.
3 A Responsabilidade Social das empresas: o contexto brasileiro em face da ação consciente ou modernismo do mercado? Disponível no sítio: < http://www.scielo.br> Acessado no dia 14/03/2009.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Crônicas da torcida: o retorno e o triunfo de um grande ídolo mundial, o Fenômeno.


*Foto extraída do sítio: Globo.com


Por: Paulo André dos Santos

No olhar de expectador, no banco de reservas, um homem aguardava a oportunidade de participar daquele jogo. Olhava para a bola como um menino olha para o doce. Era puro desejo, era pura vontade. Quando chegou a hora, momento em que milhões de pessoas aguardavam apreensivas, brasileiros e fãs do mundo todo, ele entrou em campo. Sereno, predestinado, estava prestes a mudar a história do jogo. O Corinthians perdia por 1 a 0. O time do Palmeiras chegava rápido à zona de defesa do Timão, era um suplício para os zagueiros. Assim que tocou a bola é possível imaginar que cada brasileiro gritava no coração: “Vai!!! Ronaldo, vai!!! Ronaldo...”. E ele foi. Antes que alguém viesse a perguntar se ele ia vingar ainda na carreira, ele deu a resposta. Seu primeiro chute na trave fez surgir na lembrança muitos brasileiros o privilégio de ter presenciado jogos monumentais do Fenômeno. Existem jogadores que são grandes em seus clubes, existem jogadores que são grandes na Seleção de seu país, mas, Ronaldo conseguiu ser grande na história dos dois. Ganhou tudo – ou quase tudo – que um jogador poderia ganhar. Foram muitas glórias em 16 anos atuando como jogador profissional. Com trinta e dois anos de idade, parece ainda não cessou o seu tesão pelo futebol, ele quer mais. A cada lance em que Ronaldo tocava a bola o Brasil era só Corinthians, todos torciam que ele fizesse algo de fenomenal, uma jogada de craque. Apesar de ainda não se encontrar na plenitude da forma física, Ronaldo encantou. Ao apagar das luzes, ao fim da festa, o convidado resolveu dar um novo sabor à festa. Em uma cobrança de escanteio, precisamente, aos 47 minutos do segundo tempo, uma cabeceada, um gol, o protagonista do espetáculo e a fiel torcida esbanjam euforia. Ronaldo correu até o alambrado para comemorar o gol que marcou o seu triunfal retorno aos gramados. Dava até para imaginar alguém sussurrando aos ouvidos apaixonados uma voz cantando: “Umbabarauma, homem gol...Umbabarauma, homem gol”.

domingo, 1 de março de 2009

Quartafeira de cinzas


Por: Paulo André dos Santos.

Após o final de mais um carnaval em Salvador, decidimos sair à noite para prestigiar o filme do contrário. Estrelado por Brad Pitt, badalado ator holliwoodiano, o filme “O curioso caso de Benjamim Button” gira em torno da história de um homem que nasceu velho e vai rejuvenescendo ao longo do tempo. Benjamim, como foi batizado posteriormente, nasceu de um parto complicado em que resultou na morte da mãe. Benjamim acaba sendo rejeitado pelo pai, que o deixa na escada de um apartamento. Acolhido por um casal, Benjamim vai crescendo e rejuvenescendo, enquanto vê de perto as pessoas irem envelhecendo e morrendo. Benjamim era velho por fora, mas tinha espírito de criança. À medida que ia passando o tempo Benjamim ia ficando mais jovem, até que um dia tornou-se um bebê. O filme acabou. É hora de voltar para casa. Chegamos à estação de transbordo do Iguatemi às 23:40h. Ficamos esperando até por volta de 00:00h e, nada de ônibus. Até que passou um buzú da linha Mirantes de Periperi. Já era muito tarde, não era prudente arriscar esperar por outro ônibus. Entendemos que seria menos mal ficar esperando na região da Rótula do Abacaxi. Lá havia maiores possibilidades de ônibus. Que nada. Não passou um filho de Deus para nos levar para casa. Parece que em plena quartafeira de cinzas nada restou após o carnaval, nem os ônibus. Para se ter uma idéia, a maioria dos carros que circulavam pelas vias eram táxis. É, parece até acordo entre rodoviários e taxistas. Os terminais de ônibus estavam lotados e sem nenhum ônibus para levar os cidadãos para suas casas. Muitas pessoas, inclusive, estavam chegando de viagem. Infelizmente, tiveram que sofrer o martírio da espera do bendito ônibus. A solução foi esperar. Algum tempo se passou, até que o relógio sinalizou 00:30h. Foi, para nós, a gota d’agua. Será que o Prefeito achou que todos ali eram funcionários públicos? Será que pensou que ninguém iria trabalhar na quinta-feira? E é sempre assim. Nessas horas dá vontade de culpar o Prefeito mesmo (risos). Aposto que muita gente o xingou de Abraão até à 15ª geração futura. Na verdade, porém, sabemos que existem vários aspectos a serem considerados – se estivermos com a “cuca fria”. Por que, é justamente nesses momentos, que é mais provável um relaxamento na fiscalização dos motoristas. Por outro lado, também, não podemos deixar de considerar o desvio contingencial de viaturas para atender a zona do circuito carnavalesco. É, mas, espere um momento companheiros, Já era meianoite. O carnaval acabou bem mais cedo. Bem, entre resmungas e xingamentos, os populares – incluindo a nós – tiveram que decidir: esperar que apareça um ônibus-corujão, filho de Deus, para levar-nos para casa, ou, assumir o prejuízo. E como dói no bolso, mas, quer saber, é melhor assim. Doeu um pouco, mas chegamos seguros em casa. Poderia ter sido pior. Um colega, que decidiu esperar para ver a “caravana passar”, disse que muitas pessoas que ficaram aguardando o ônibus devem estar até agora xingando a mãe do Prefeito. Em uma situação como essa, a gente sempre arranja um culpado, o típico bode espiatório. No nosso caso, poderíamos ter evitado todo esse transtorno. Ter assistido à sessão em outro horário mais próximo do brilho poente da tarde seria uma boa idéia. Ou ainda, poderíamos ter deixado essa coisa de cinema para outro dia. Afinal, para evitar rusgas entre os pares e para evitar a transferência de culpa, visto que, podemos andar de ônibus, mas, não podemos esperar qualquer garantia de uma acomodação confortável, de cumprimentos de horários, de uma viajem tranquila – os motoristas se comportam como estivessem transportando sacos de batatas - , nem podemos garantir que o ônibus apareça, em determinados horários, pois, depois que inventaram essa coisa de janelar, ficar de molho no ponto de ônibus, hoje, não é nada incomum. Além disso, quem se importa se algumas dezenas de gatos pingados não conseguem voltar para casa? Só eles mesmos. A grande mídia está sedenta pelo fato sensacional. A queda de um prédio, um sequestro, um assassinato brutal, um escândalo de corrupção no governo. Coisas como denunciar a falta de qualidade no serviço de utilidade pública é quase esporádico se veicular na imprensa sensacionalista ou no journal criminal. O mais improvável é a fundação de uma associação de usuários de ônibus, para cobrar mais qualidade nesse serviço. O ECA (Estatuto da Criança e Adolescente) está prestes a completar 20 anos de idade. Ainda assim, é muito comum avistar as crianças fazendo acrobacias nas perigosas sinaleiras da cidade, como também, vendendo balas e chicletes nos ônibus. E um dia me disseram que o trabalho infantil era proibido, você acredita? É bom sempre nos perguntarmos por que determinadas coisas não acontecem. Seria por que vivemos à margem da nossa condição de cidadania? Renato Russo cantou a multidões a música “Que país é este”. Eu modificaria um pouco essa letra, se fosse ele – é claro. Eu colocaria no lugar desse trecho: Que povo somos nós? Sabemos que o brasileiro é conhecido como um povo alegre, hospitaleiro, mais sinestésico do que outros povos. No entanto, isso não basta. É legal ser assim, mas, isso não significa que devamos viver ao “Deus dará da emoção”. A cidadania implica em participação , em fiscalização pública. Se todos os cidadãos se sentissem responsáveis pelo nosso wellfare state, o nosso estado de bem estar social, as ações do governo e das empresas, como, das pessoas, seriam, talvez, muito mais responsáveis. O problema é que isso somente seria possível se abolíssemos de nossa essência toda a mesquinhez que, atualmente, nos caracteriza.

Sem medo de escuro


Por: Paulo André dos Santos.

Até quando estarei preso às celas da verdade? Até quando contemplarei ao longe um mundo de possibilidades? Até quanto irei contracenar no papel tosco de expectador da minha vida? Até quando estarei preso às algemas que dilaceram a minha alma? Os meus pés pedem as pedras pelo caminho, as minhas mãos desejam tocar o desconhecido. Estou cansado de solo firme, já não suporto mais pisar no chão. Quero mais do que princípios – quero meios e fins diferentes para a mesma história. A verdade em que me sustento, ao mesmo tempo em que ilumina os meus escuros caminhos, priva-me de contemplar a luz da escuridão, arranca-me a oportunidade de navegar por mares, até então, inexplorados, desconhecidos. Eu quero chorar à margem das águas de um rio. Quero ser tomado pela solidão do deserto, sentir o desespero dos perdidos. Quero me encontrar na escuridão da luz aonde me perdi. Quero conhecer a minha substância, não quero mais ser superfície, quero ser abismo, quero ser profundo, mas, também quero a simplicidade e a beleza da noite e das estrelas. Quero ser mais do que números, quero ser mais do que um resultado pragmático, quero autonomia, quero vida. Já estou enfadado de uma existência sem vida, preciso vencer, fracassar, tropeçar em meus próprios erros, quero me aventurar pelas matas virgens do conhecimento. Quero conhecer o desconhecido e desconhecer o que já conheço. Preciso de exílio, preciso anistiar a minha alma em solo selvagem. Quero aprender a dar valor a cada segundo de minha vida, quero amar o ar que respiro. Essa é a sensação que sinto após ter lido o livro “Nas margens do rio Piedra eu sentei e chorei”, de Paulo Coelho. Aliás, essa coisa de se embrenhar por novos caminhos é muito típica do referido autor. Nessa empreitada, ele usa como centro dois personagens que vivem a experiência da entrega, da doação de si, do abandono de velhos conceitos para a adoção de novos. É o exercício de se afastar do Outro, o escravizador dentro de nós, que nos impede de viver mais intensamente as experiências, nos limitando, nos aprisionando aos costumes, à tradição, ao fatalismo, ao pessimismo etc. De acordo com o autor, é desse outro que devemos nos livrar para que possamos sentir o sabor da liberdade. No livro, somos levados a questionar o valor e o sentido de nossa própria existência, o que queremos, por que queremos, ou seja, ele nos sugere a significação do nosso propósito.