sábado, 26 de março de 2016

Olhos famintos.


Muitos querem assistir à execução do infame, desde que não seja da família. Muitos, querem vê-lo sofrer, chorar, sangrar, desde que as lágrimas e o sangue não sejam de quem as deseja. Assim é a nossa forma de conduzir as divergências, eliminar o ícone de nossa tragédia. O paternalismo nos conduz. Os que tem voz, gritam pelos seus - e em voz sussurante dizem: Que se dane o resto. E nesse caso, o resto é simplesmente a maioria.  Não importa se existe um mundo de carências e privações do outro lado.  Não importa, se lá, do outro lado, a fome , a seca, a precariedade da vida tem dado o tom da música, há muitos anos. Atualmente,  o nosso país vive um momento complexo e decisivo. Podem surgir graves problemas dessa crise - ou, quem sabe, poderemos nos reinventar, criar novas perspectivas e oportunidades. A crise é assim: pode  nos servir como trampolim, bem como, de frágil corda que nos levará para o abismo. Tudo irá depender da forma como encaramos isso. Os casos de corrupção e a recessão econômica mundial, tem sido o argumento para a grande fissura se abriu no país. De um lado,  segmentos da população abraçados pelo governo, do outro, os que ficaram revoltosos por não terem sido abraçados também. E por isso, querem a cabeça do rei em uma bandeja de prata. Não irão descansar antes de cumprir esse objetivo - custe o que custar. Eles estão dispostos a incendiar o palácio  - se for preciso. No entanto, como diz  um velho clichê, "Todos querem mudar o mundo, mas ninguém quer mudar a si mesmo". Quase todo mundo fala de corrupção, das pedaladas do governo, disso é fácil falar - é bom, é pertinente falar. Nesse momento, os que se intitulam arautos da moral e da justiça, avançam rumo ao fundamentalismo político. Difícil mesmo é falar do "gato de energia",  da "propina" que se paga a escola para  aprovar o filho/a filha, da fuga no trânsito para  não ser pego na blitz, do desrespeito aos semáforos, do desrespeito pelas implicações pessoais dos vizinhos ao aumentar o volume do rádio, da fraude na declaração de imposto de renda, do desrespeito à fila, em quaisquer circunstâncias, etc. Ficaria eternamente descrevendo aqui os símbolos de nosso espírito republicano  - mas acho que aqui já podemos ter uma noção. O maior problema não reside produzir bons políticos. O grande problema, para nós é produzir, em larga escala, bons cidadãos. Uma vez que tenhamos uma sociedade cidadã, produzir bons políticos não exigirá significativos esforços. Lembro que, durante a Copa do Mundo de 2014, no país - não lembro o jogo, os japoneses nos deram uma aula memorável do que é civilidade/ cidadania. Após o jogo, eles começaram a limpar as arquibancadas do estádio. Eu, particularmente, como brasileiro, senti-me envergonhado - foi preciso um estrangeiro para nos dar essa lição. Infelizmente, temos muito para aprender. Precisamos de um rumo que aponte para um novo momento virtuoso em nossa sociedade.