domingo, 19 de julho de 2009

Quando voltamos a ser crianças.

POR: PAULO ANDRÉ DOS SANTOS.

Quando pequeninos, aprendemos que o ciclo da vida se dá com as fases do nascimento, crescimento, reprodução e morte. Durante essas fases, aprendemos uma gama de coisas e nos desenvolvemos como seres humanos; somos solicitados a prestar nossa cota de contribuição à civilização. Mas alguma coisa ainda falta dizer desse nosso período vital. Isso por que, quando envelhecemos, é aparente a nossa ânsia em voltarmos à juventude, à infância. Ao mesmo tempo em que nos libertamos, que nos tornamos gradualmente independentes na vida, vamo-nos aprisionando às necessidades, às regras e aos costumes. Quando envelhecemos, parece que saturamo-nos de tais coisas, e, consciente ou inconscientemente, iniciamos uma busca na direção contrária à determinada pelo tempo, queremos tornar a ser crianças, possuídos pela curiosidade e pela energia características dessa época, insuperável em vida e em vontade de viver. Ao menos em espírito, alguns de nós, nunca envelhecem. Insistimos, muitas vezes, em violar os limites que a idade do corpo nos impõe, desobedecemos às prescrições de elasticidade e de resistência estabelecidos para a nossa faixa etária, desprezamos o bom senso. Depois disso, sentimos as consequências do peso da idade, surgem as dores, as contusões musculares e, às vezes, até fraturas. Isso porém, para alguns de nós, não significa um obstáculo intransponível. Mesmo após isso, insistimos em desobedecer regras e em violar os tabus, assumimos a nossa vocação suprema para viver. Nesse meandro, deixamos de ser responsáveis e independentes, passamos a precisar de auxílio para satisfazer as nossas necessidades mais básicas, como para tomar banho ou se alimentar. Infelizmente, a nossa trajetória – quando a seguimos de maneira natural - em determinado momento, culmina na fase da debilidade corporal, somos vencidos pela fragilidade da velhice. O nosso corpo, frágil e dependente como o de um bebê, mas, ao invés deste, que se desenvolve, o nosso corpo segue o seu caminho de deterioração, de falência absoluta, rumo ao destino final de qualquer ser humano, a morte. “...Que seja eterno enquanto dure...”, Assim como diz Carlos Drummond de Andrade, sobre o amor, em um de seus belos poemas, devemos encarar a vida, vivendo-a intensamente enquanto for possível, pois, o tempo não é suficiente para que tenhamos a possibilidade de lembrar de viver. Se vacilarmos e nos atrasarmos, ao olhar pela janela, perceberemos que a caravana já passou.

domingo, 12 de julho de 2009

Maior que o mundo.

POR: PAULO ANDRÉ DOS SANTOS.

Com certeza a Magu nunca esqueceu aquele dia. Um acontecimento daquele só acorre uma vez em uma vida. É como se fosse o encontro entre duas estrelas que a milhares de anos estavam separadas, o primeiro choro ou a gloriosa estréia nesse mundo. Mais importante do que o nascimento, só o renascimento, pois, nesse estamos conscientes de que estamos vivos e de que talvez seja a nossa última chance. Na cultura, na idade, na saúde e no amor, estamos sempre renascendo. E é nesse último renascimento que nos sentimos mais sublimes, mais próximos da divindade. Nesse momento, assumimo-nos como quase deuses, querendo mover o mundo para que reine a felicidade. Um velho dito popular costuma sempre se repetir entre as discussões sobre questões amorosas: “O amor remove montanhas”. O amor é pura energia, é a força que impulsiona para o bem as ações humanas. Ele nos dirige à perfeição, ao estado de espírito elevado, sereno, a sabedoria. Quando falta amor neste mundo, passamos a viver sem significado, sem essência, sem caminho nem destino certo, ficamos completamente perdidos. Amor de verdade não tem ciúmes nem inveja, mas, ao contrário disso, tem alegria e admiração. É costume sermos tão pobres de amor, que confundimos com a paixão. O amor é sempre bom, traz sempre acréscimo em nossas vidas, torna-nos mais fortes e sensatos. A paixão, no entanto, governa-nos, cega-nos e nem sempre nos revelam bons caminhos. Somos possuídos pela paixão o tempo todo. Temos paixão pelas coisas materiais, como dinheiro, roupas, jóias, etc., mas, também temos paixão pelas coisas imateriais, como pelo culto ao orgulho, a inveja, a arrogância etc. Ou seja, a paixão é como o nosso eu cheio de vontades e sem limites. A paixão nos poda como plantas, priva-nos de sermos o que somos: águias em busca do céu azul. A paixão nos aprisiona, cerca-nos dentro de limites do qual não conseguimos sair, torna-nos como galinhas reclusas no galinheiro, ou, como pássaros dentro de uma gaiola. O amor é diferente. Amor é grandeza, escolha, generosidade, liberdade. Amar é como alimentar pássaros livres, dar a eles o direito de voarem, de irem e de voltarem quando quiserem. A Magu viveu o amor intensamente enquanto pôde, isso, por que ambas estrelas continuaram a ser livres para orbitarem pelo céu. Esse é um amor maior do que o mundo em que vivemos, assentado na paixão pelas coisas e pelas pessoas, pela posse e pela legitimidade da escravidão diante de tudo. O viver, sem o amor que nos orienta, é um culto às necessidades, à mesquinhez. Enquanto que viver amorosamente a vida implica em se dispensar das coisas vãs e preocupar-se mais com o bem estar pessoal e dos outros.

sábado, 11 de julho de 2009

A primeira vez...

POR: PAULO ANDRÉ DOS SANTOS.

Saímos da aula às 11:50h. Era o intervalo de um daqueles cursos rápidos de sábado que as pessoas mais atentas se dispõem a fazer. Estávamos satisfeitos com o andamento do curso, sentíamos a comoção de quem se descobre, de repente, um ecologista. As discussões e reflexões sobre meio ambiente e os seus dilemas nos permitiu um olhar mais cuidadoso perante o mundo. Naquele momento, éramos uma só identidade, um princípio, uma causa. E foi possuídos por esse sentimento, que combinamos de almoçar juntos. Afinal, como bons amigos, gostávamos de desfrutar da companhia um do outro. Até esse momento, nada de anormal em nossas vidas, nada que merecesse muita preocupação. No entanto, logo na saída do Edifício Learsing, algo de inesperado aconteceu, uma coisa que nós jamais havíamos cogitado. Uma tragédia? Não! Um milagre. Sem que nós nos déssemos conta, em uma pequena fração de segundo, as nossas mãos se abraçaram, em um movimento quase musical, como se fossem as mãos de um casal intensamente apaixonado. Rapidamente, em um lapso de consciência e de susto, desatamo-nos. Nada de grave nisso, mas, que desencadeou uma série de futuras reações químicas lentas e perigosas, a paixão estava por vir. Silenciosamente, ela foi se incubando e crescendo dentro de nós, assim como na doença os vírus se multiplicam dentro do nosso corpo. Quando descobrimos, era tarde, já estávamos loucamente enamorados. Não havia mais cura, nada mais a fazer. A não ser, entregar-se um ao outro para se contaminarem pelo amor. Só agora nos damos conta, que, para que nos amássemos hoje, foi preciso, simplesmente, tocarmo-nos entre mãos pela primeira vez.