sexta-feira, 9 de abril de 2010

Ultraje a rigor



Por: Paulo André dos Santos.

Em um contexto como o da selva, onde os animais lutam de maneira legítima pela sobrevivência, as leis da natureza, às vezes, parecem cruéis com as expressões de vida mais vulneráveis. Aqueles que, de certa maneira, foram agraciados pela natureza com força, velocidade ou resistência, além da inteligência, no caso específico dos humanos, desfrutam do pleno direito de predomínio sobre os desvalidos de atributos favoráveis. O mais forte, em sentido amplo, exerce domínio sobre o mais fraco. Tomado de fragilidade, este mergulha em um processo de vitimização, em que passa a ser presa fácil entre os animais mais ferozes. A prosperidade é um luxo, um privilégio – quando deveria ser o fruto da trajetória de toda humanidade. Assim, os predadores podem facilmente findar a existência dos mais frágeis se isso não lhe for comprometer as possibilidades de sobrevivência futuras. Na selva urbana, entre prédios e avenidas, lojas e fábricas; homens, mulheres, jovens e idosos não estão em um contexto muito diferente do que o mundo primitivo dos animais em luta pela sobrevivência na natureza. Mais nocivos que muitos dos maiores predadores da natureza, aos humanos uma particularidade, a sua histórica tendência auto-destrutiva. A exploração do homem pelo homem, assim como, da natureza evidencia isso. Nesse sentido, com o surgimento do capitalismo tanto a criatividade, quanto o potencial de destruição alcançado pelos humanos são formidáveis. Com muito conhecimento e pouca consciência social, as sociedades estão conseguindo transformar o mundo em um cenário de acontecimentos ultrajantes. Exagerados sim, em comodidade, facilidades, em conveniências, etc. Tudo isso tem um preço. As florestas, os recursos naturais, os rios, entre outros, estão sendo devastados, explorados indiscriminadamente, poluídos, em prol do que se costuma chamar de progresso. Só não se sabe para onde se avança, para o aumento das catástrofes naturais, ou, para o desenvolvimento humano prolongado. A confusão climática, os terremotos, maremotos, secas e enchentes atípicas, reúnem apenas algumas das consequências da nociva aventura humana na terra.

domingo, 4 de abril de 2010

O criado mudo.


Por: Paulo André dos Santos.

Corpos dóceis e mentes cegas e obedientes. Ingredientes perfeitos para o banquete dos mais ferrenhos, profundos conhecedores e defensores do capitalismo. A cegueira intelectual diante das relações de consumo favorece a consolidação do consumismo. Desse modo, é fundamental ter como público consumidor indivíduos suscetíveis à alienação produzida pela indústria de mídia e propaganda. Contribuindo para isso, o sistema de ensino nacional que prepara os cidadãos, sobretudo, para uma vida de consumo. Como resultado, um sujeito “marionetizado”, um servo, um criado mudo, um “escravo afilhado pelo Senhor de engenho”, que mesmo recebendo a liberdade, decide se manter aos pés do Senhor. Afinal, os apelos são tão sedutores, as justificativas tão de acordo com “suas necessidades”, que fica difícil não se influenciar. Embora Nietzsche tenha sinalizado a “vontade de potência” em tudo o que é vivo, inclusive, a vontade de ser Senhor internalizada no escravo, o magnetismo das paixões pelo consumo, que anseia em devorar tudo o que pode ser consumido, inibe essa tendência natural para pra ser mais do que um criado mudo.

sábado, 3 de abril de 2010

Conflito de gerações.


Por: Paulo André dos Santos.

“Deixe o prego que o martelo chama!”, costumam profetizar os mais velhos, sempre que os jovens fazem algo que lhes fogem à regra. O prego e o martelo, nesse sentido, assumem a mesma semântica, respectiva, de devedores e credores. Ou ainda melhor, de réus e juízes. Assim, tal profecia, em certa medida, é oralizada como uma forma de aviso, muitas vezes, persuasivo. A mesma força de expressão é evidenciada quando se diz que “colhemos o que plantamos”. Resumidamente, todo esse discurso serve para afirmar que tudo o que realizamos de bom ou de ruim irá nos trazer, quase sempre, uma consequência de mesmo valor. Solidariamente, os textos sagrados concordam com isso, quando dizem que uma árvore ruim não produz bons frutos. O que os mais velhos, muitas vezes, não levam em consideração é que já foram jovens um dia. Jovens em uma outra época, onde os modos de vida, em alguma proporção eram diferentes. Esquecem que um dia erraram e que aprenderam com os erros. Esquecem, muito possivelmente, que os mais velhos de suas épocas também assumiram a posição de juízes em que se encontram, atualmente. Toda geração de jovens e velhos encontram-se inclinados à aversão, ou, pelo menos, ao estranhamento em relação aos costumes de outras gerações. Cada uma delas se diz legítima, atribuindo-se maior valor do que as outras, em que a forma de ser e de se comportar é, ou era, a mais adequada. O mais sensato a dizer, no entanto, é que não existem melhores gerações, melhores juventudes, melhores épocas, mas, gerações, juventudes e épocas singulares, diferentes, cada uma com o seu juízo de valor, virtudes e problemas.