segunda-feira, 21 de março de 2011

Namíbia, não!...




Por: Paulo André dos Santos.

Uma peça teatral, várias vertentes de um tema, no mínimo, polêmico. Dirigida por Lázaro Ramos, a peça intitulada de “Namíbia, Não!” coloca em cena um assunto que está em alta nos círculos acadêmicos, a questão da “afrobrasilidade”.

Nos últimos anos, as esferas governamentais tem aprovado projetos de inclusão e reparação social, que tem causado frisson quanto a sua real eficácia e objetivos.

Em “Namíbia, não!”, conta-se a história de dois homens de origem afrodescente que se vêem confinados em um apartamento, para não serem presos e deportados, ou melhor, reconduzidos aos países de origem, em cumprimento a uma medida provisória de “reparação social”, promulgada pelo governo brasileiro.

Nas entrelinhas dos discursos e das cenas que se constroem durante o ato teatral, pode-se identificar diversos aspectos, inclusive, históricos da questão da afrodescendência, ou, da “afrobrasilidade”.

Nos meios de comunicação, ao logo dos últimos anos, vários debates tem sido promovidos, a respeito das cotas para afrodescendentes nas universidades públicas brasileiras.

O tema é realmente muito polêmico e provoca divergências, uma vez que os não afrodescendentes tem reclamado, até mesmo, juridicamente, de preconceito e discriminação contra eles. Mas a proposta teve boa adesão das universidades brasileiras.

Muitos defensores da causa afrodescendente no Brasil, veementemente, afirmam que essa medida não é discriminatória, mas, reparatória, pois, cria a possibilidade de amenizar os efeitos do período de escravatura no país, que gerou uma espécie de apartheid social no Brasil.
Os negros, logo após a abolição da escravatura no país, ficaram excluídos de inúmeros direitos civis que possibilitassem quaisquer formas de inserção na sociedade. Na prática, foi como se eles tivessem sido considerados cidadãos de segunda categoria, sem direito à plena cidadania.

Livres dos grilhões da senzala, mas, escravos de uma prisão ainda maior. Assim tem sido o processo de longos anos desde o fim da escravatura. Como exposto na peça teatral, não tinham o direito de estudar, nem de votar, o que os perpetuou-os como escravos. Não a escravidão de outrora, mas, uma nova forma de escravidão.

Uma escravidão que não iria lhes permitir mobilidade social. Uma escravidão que os obrigavam a serem governados por aqueles que não os representam. Nessa escravidão, foram jogados e castigados até muito recentemente.

Em “Namíbia, não!”, o aspecto da identidade afrodescendente é evocado. Ser negro e reconhecer-se negro é uma dicotomia que tem sido construída a partir da negação da identidade cultural desde os períodos escravocratas.

Esse discurso sobre identidade, de certa forma, é um chamamento à comunidade afrodescendente do Brasil para uma reflexão sobre identidade étnica e cultural, (des)construídas historicamente.

RESENHA



REFERÊNCIA: SOMOS MARSHALL (WE ARE MARSHALL). Diretor: McG. Interpretado
Matthew McConaughey. País de origem: EUA. Gênero: Drama. Lançamento (EUA): 2007. Estréia no Brasil: 2008. Estúdio e Distribuidora: Warner. (DVD).



Por: Paulo André dos Santos.

No filme “Somos Marshall” (2008), conta a história de um time de jogadores futebol americano que saiu das ruínas para a glória. Uma equipe praticamente extinta que, a partir da mobilização coletiva, tornou-se competitiva e campeã.

Quando temos visão e conseguimos encontrar significado naquilo que fazemos, o crescimento é uma consequência provável. Quantas vezes as circunstâncias fizeram um sonho nosso cair por terra? Quantas vezes fomos frustrados por um resultado inesperado, que nos fez ficar de luto? Quando isso acontece, muitas vezes, mergulhamos em um abismo do qual nos sentimos frágeis de mais para sair.

Nesse momento, não é raro nos vermos como vítimas, como herança de uma tragédia. Toda a nossa existência antes da tragédia fica esquecida. Não importa se no passado tínhamos sido vitoriosos, a tragédia colocou isso além da nossa viseira.

Assim foi com Marshall. Um time de jogadores universitários que foi vitimado por uma tragédia de avião. O avião caiu e todos os jogadores que nele viajavam morreram. O único que não morreu foi um jogador que não havia viajado, por motivo de contusão. A Universidade Marshall ficou de luto. Acidade de Marshall ficou de luto. Uma nuvem negra a invadiu, apesar de, na verdade, ainda tenha se mantido preservada acesa uma pequena centelha de esperança.

E para que essa centelha crescesse e contagiasse a cidade, foi preciso um homem. Apenas, um homem. Para que na mais densa escuridão acendesse uma faísca de luz. Jack Lenghyel (McConaughey), sensível ao sofrimento da cidade, iniciou um processo de busca de parcerias para a reconstrução de Marshall. Liderou e coordenou um movimento em prol da reconstrução do time Marshall. Em prol, do resgate da autoestima e do orgulho dos cidadãos e cidadãos da cidade.

Nesse sentido, quantas vezes, também, somos resgatados por uma palavra amiga, por um gesto fraterno, que nos impulsiona, que nos dá novo ânimo? Assim foi como Marshall. Foi preciso que alguém assumisse o comando do quartel abandonado. Foi necessário alguém com “olho clínico” para identificar os talentos e, também, o espírito elevado para que incutisse no grupo um propósito,um significado para a busca que se engendrava, para que viessem a se tornar de fato um time.

Foi preciso, sobre tudo, alguém para sacudir a poeira dos escombros e para lembrar que ainda era possível alcançar a glória, na materialização de um sonho coletivo.
Na referida produção fílmica, é possível observar que, através da humildade, é possível alcançar a excelência.

Não é somente com a ajuda de estrelas que se erguem troféus, que se concretiza o
sucesso. Nem sempre é suficiente estar cercado dos melhores recursos. É preciso haver integração, comunhão, comprometimento. Ninguém faz nada sozinho, por mais individualista que seja a atividade.

Você pode até entrar em campo sozinho, mas, dentro do processo é possível encontrar pessoas que,também são fundamentais para que, ao entrar em campo, você possa desenvolver o melhor desempenho possível. No caso de um jogador de futebol, o sucesso dele é muito influenciado pelo desempenho do nutricionista, do preparador físico, do técnico, do presidente do clube, da torcida etc. A motivação dele, muitas vezes, está cercada de fatores que a elevam ou a colocam para baixo.

No filme “Somos Marshall”, o sucesso dos jogadores não foi somente um mérito de quem entrou, diretamente, em campo, mas, de todas as pessoas que fizeram parte desse projeto. O sucesso foi alcançado porque os jogadores, o técnico, o preparador físico, o reitor da Universidade Marshall, a torcida, a camareira, o massagista, enfim, por todos que contribuiram para que a vitória fosse possível, assumiram o compromisso de reacender a chama da esperança e de caminhar em direção
ao sucesso.

É o que acontece, muitas vezes em nossa vida. Sempre tem o técnico, a camareira, o preparador físsico, analogamente falando, que contribuem para que nós tenhamos êxito nas coisas que fazemos na vida. Infelizmente, nem sempre estamos maduros, com o espírito elevado, para reconhecer o valor daquelas pessoas que nos cercam e que contribuem para que possamos realizar um determinado propósito. Nem sempre vemos, nem sempre percebemos, aqueles que estão atrás do camarim, cuidando das coisas do espetáculo.

Em virtude disso, precisamos desenvolver a habilidade de enxergar as coisas de maneira sistemática, globalizada. Temos que nos educar para sermos “Marshall”, para sermos uma equipe coesa, consciente do sonho coletivo e do papel de cada um para que ele aconteça.

Ser “Marshall” significa pensar coletivamente, agir coletivamente, desejar atender anseios coletivos e sentirse realizado com isso. Quando a vitória coletiva chega, você infla o peito e diz bem alto “Eu participei disso. ... Eu estava lá. Eu joguei nesse time”... É nessa hora, que percebemos a grandeza da obra que ajudamos a construir.

O homem pensa, o homem idealiza, mas, nada, absolutamente, nada, se formos investigar minuciosamente, ele realiza sozinho.

domingo, 20 de março de 2011

Diálogos preliminares: o que é ser contemporâneo?




POR: PAULO ANDRÉ DOS SANTOS.

Ser contemporâneo... O que seria realmente isso? Uma discussão sobre essa temática é tão irremediavelmente complexa que muitas pessoas podem dizer, conforme o clichê popular, que “Só Freud explica”. Outras, preferem se arriscar por esses mares revoltos, levando em consideração variadas hipóteses.

É trilhando nesse caminho que conseguem manter-se com os “pés no chão”. Leituras que tenho realizado nos últimos anos tem me ajudado nos diálogos tecidos com os frequentes acontecimentos e transformações que se protagonizam diariamente nas formas de se pensar e de se agir no mundo.

As coisas mudam em um ritmo cada vez mais rápido e, para não perder o “bonde da história”, é preciso estar em contínuo aprendizado. Para Paulo Freire, considerado um dos maiores filósofos da educação, inclusive em nível planetário, o ser humano é por natureza incompleto, por isso, ele sempre está na busca de aprender e realizar coisas novas, para ampliar horizontes.

Nesse viés, ao trazer essa idéia de contínua busca humana pelo desenvolvimento, podemos ter como um reflexo da contemporaneidade os acontecimentos do passado, isto é, aquilo que já foi, em algum momento da história contemporaneidade.

No último século, por exemplo, pode-se ser perceber grandes avanços no campo das ciências, ainda que tais conhecimentos tenham, também sido utilizados de maneira inapropriada, negativa.

A partir desse contexto, é possível realizar uma reflexão sobre o que é ser-contemporâneo. Percebe-se, por exemplo, que a contemporaneidade é um movimento do tempo, que está acontecendo e sendo marcado por mudanças.

Leituras sobre contemporaneidade evidenciam-na colocando-a como sendo o gerúndio, o filete do tempo que denominamos de presente. Ela existe desde que o tempo é tempo. Ou melhor, desde que a humanidade passou a concebê-lo como tal. Ser contemporâneo aos olhos da atualidade, é dialogar com a realidade, de modo a conhecê-la da melhor maneira possível e assim desenvolver estratégias de adaptação/transformação aos/dos contextos.

Os dias atuais, ou seja, essa contemporaneidade viva em que nos situamos, refletem, conforme o pensamento de Sigmunt Bauman, os ares da pós modernidade, onde os diferentes dialogam entre si, transformando e se transformando a/pela dinâmica da sociedade.

Em meio a isso, bem e mal se misturam; verdade e dúvida adquirem um status equivalente de importância, o que faz com que, nos discursos proferidos pelos estudiosos mais sérios, nenhuma delas seja descartada.

Ao mergulhar criticamente em estudos sobre a globalização das economias capitalistas, assim como, as implicações desse processo, em inúmeras dimensões, a exemplo de Milton Santos, pode-se concordar de que há, até certos limites, um deslumbramento, sobretudo, patrocinado e alimentado pelas ideologias de consumo, que introjetam nas pessoas um mundo fabuloso, onde a ilusão parece ser palpável.

No entanto, através de estratagemas muito bem elaborados, os “agentes” do sistema capitalista, conseguem empurrar toda a sujeira produzida para debaixo do tapete. Conseguem a proeza de (re)significar a perversidade que praticam, tornando-a aceitável, normalizada, típica do cotidiano, fatalisticamente, inevitável.

Nesse sentido, através da perspectiva de Milton Santos, é emergente lutar por uma nova configuração para a Globalização. É preciso encontrar uma solução mais sustentável, ou, toda essa estrutura montada até os dias atuais, irá ruir e, provavelmente, em cima daqueles que se encontram deserdados das benesses do capital.

Isto porque, geralmente, na lógica capitalista, faz-se assim: privatiza-se os lucros e socializa-se os prejuízos. Na hora da crise, todos tem que ajudar.

Nesses momentos, o que se pode ouvir das autoridades governamentais é algo do tipo “pedimos a compreensão pelo momento difícil ao qual passamos”. Sem reconhecer que, num lance quase perpétuo, para a grande maioria, só existem momentos difíceis.

Ser contemporâneo, atualmente, é estar lançado em uma corrida desenfreada para conseguir acesso aos recursos, sejam eles financeiros ou culturais. Ser contemporâneo, implica em fazer parte de uma tribo, qualquer que seja a sua natureza. Significa estar em algum lugar dentro da geografia globalizada.

Estar em uma tribo, nesse contexto, significa seguir determinados objetivos, comportar-se semelhantemente ao grupo a que pertence, incluir-se ou excluir-se do mundo do capital. É buscar o conhecimento a fim de alcançar determinadas posições de poder, ou, simplesmente, sobreviver.

Ironicamente, nos dias atuais, em que a tecnologia se faz cada vez mais presente na vida das pessoas incluídas socialmente, por outro lado, aumenta cada vez mais a fila dos “refugos humanos”, dos desempregados e desabrigados das cidades.

Esse, sobretudo, é um dilema em que se encontra grande parte das cidades espalhadas pelo mundo.

Ao pensar em futuro mais adiante, é possível ficar horrorizado ao avistar no céu as nuvens negras da explosão provocada pelo colapso do sistema. E ser contemporâneo, enfaticamente, é pensar, hipotetizar e realizar projeções, como agora, do futuro. Talvez, essa seja uma das principais características dos habitantes dessa contemporaneidade viva, o olho voltado para o futuro. Não por uma questão de escolha, mas, pela exposição contínua a uma periclitante sobrevivência.

sábado, 19 de março de 2011

Folhas secas.



***(POR: PAULO ANDRÉ DOS SANTOS)***

Nunca mais o canto dos pássaros à janela,
Nem tampouco o cântico das cigarras ao anoitecer,
Coisa rara, nessa barulhenta cidade,
Onde os sons se misturam, todos falam e ninguém se comunica.

***

Nunca mais conversei comigo, apesar de conversar com o mundo pela Internet,
Hoje mesmo, meus vizinhos postaram um recado no meu Orkut,
O discurso falado, parece-me, em forte recessão,
Pais já não sentam à mesa com os seus filhos,
Filhos já não tem o mesmo respeito pela autoridade natural dos pais.
Assim, o mundo segue mudando, rumo à desordem e a falta de sentido.

***

Sou apenas passado, diante de um presente tão vazio.
Sou diferente, apesar de alheio à visão aos outros.
Sou uma sombra na agitada multidão,
Imperceptível ao olho clínico,
Que cego, surdo e mudo, soluça lamuriosamente,
diante da nauseante realidade,

***

O fútil ri descarado para o excluído,
Deixando na pia os restos de comida,
Consumindo tudo o que o desejo pode devorar,
Até mesmo sem precisar, não hesita em pagar.

***

Confesso que também perdi o caminho,
Nunca mais fitei a praia ao amanhecer,
Não mais vi o quebrar das ondas na areia,
Não mais, as águas do mar apagando promessas de amor.

***

Quanto valor perdemos, quanto perdemos em viver...
O céu, as estrelas, o sol, a chuva, tudo sobre o mesmo olhar vazio.
Somos a expressão de um sorriso sem graça
De quem ouviu uma piada de mau gosto e não teve coragem para falar...

***

Somos como uma árvore de folhas secas,
Pronta para morrer murchamente,

***

Tudo perdeu o sabor, as cores, a beleza esplêndida, esculpida pelo mistério.
Agora, deitados na sarjeta, convivemos resignados com a mediocridade.
Lamentando todos os dias, quando pisamos no chão, a perda da visão;

***

Estamos à beira da loucura, numa angústia solitária,
Contidos na criatividade apodrecida,
Respirando noites repetidas, ares pesados, ouvindo músicas de uma nota só.

domingo, 6 de março de 2011

Falta açúcar, sobra doçura.




Por: Paulo André dos Santos.
Nos ambientes coletivos do cotidiano, independente de suas naturezas e finalidades, dá para fazer um deguste muito diversificado. Há pessoas de todos os tipos. Há pessoas doces e amargas. Há aquelas que carregam consigo, no dia-a-dia, a suavidade das frutas frescas. Outras pessoas, por sua vez, aparentam grande satisfação pelo cultivo do azedume. Com olhar sisudo e uma postura embrutecida, realizam um enorme esforço até mesmo para manifestar aos colegas o desejo de um bom dia. É comum a essas pessoas que o dia esteja, rotineiramente, às cinzas, num incessante luto, como se houvesse uma indispensável necessidade constante de se chorar e de tornar o acontecimento trivial em uma catástrofe. Ainda bem que nem tudo é amargo. Existem pessoas que tem o sol dentro de si, que são iluminadas, tão agradáveis quanto o aroma das rosas. Geralmente, costumam transmitir bons fluidos a todos que lhes cruzam o caminho, energia positiva. São, quase sempre, capazes de contagiar de bom humor o mais indiferente dos cidadãos.

Segundos.



Por: Paulo André dos Santos.
Um dia, um minuto, um segundo. É o que pode durar uma decisão. Uma fração mínima, insignificante de tempo, que pode custar, muitas vezes, dias, meses, anos, ou, até mesmo, uma perpétua e indigesta consequência. Uma decisão precipitada pode render um exílio distante e desconectado das pessoas mais próximas. Pela insensatez cometida, amarga-se intermináveis castigos e perde-se de vista o que de há de mais precioso na vida, o propósito, a direção e a trilha da liberdade. Em segundos, as flores murcham. Em segundos, as ondas do mar esvai toda a beleza transbordante na areia. Tem segundos que valem por uma vida. Outros, é melhor esquecer. Em segundos alguém pode ficar rico, pode lacrimejar de felicidade ou, simplesmente, cair na mais severa desgraça. Muita coisa é passível de acontecer em frações de segundos. Coisas boas ou ruins. Pode-se ganhar, ou, desastrosamente, perder a dignidade, a saúde e, até, a vida. Em segundos, aproveitamos, ou não, a oportunidade de viver plenamente, de realizar proezas, de atravessar oceanos e alcançar sonhos distantes. Assim, a distância entre o que somos e o que podemos ser, está sujeita a ser determinada em questão de segundos.