sábado, 31 de janeiro de 2009

Obama: um homem, uma febre mundial e várias expectativas.

POR: PAULO ANDRÉ DOS SANTOS.


O mundo assistiu embebido de esperança a posse do novo Presidente norteamericano, Barack Obama. visto pelos americanos e por outros cidadãos espalhados pelo mundo como o “espírito da mudança”, Obama terá, pelos próximos anos, o compromisso de superar o desafio de tirar do naufrágio a economia americana e, entre outras missões, de ressignificar a relação dos EUA com o resto do mundo.

Em alguns aspectos, a eleição de Obama para assumir a presidência americana, em si, já representa uma quebra de paradigmas. É a primeira vez, por exemplo, que na história dos EUA um afroamericano é eleito Chefe de Estado. Outro paradigma é que ele descende do povo muçulmano, que representa a expressão mais radical do antiamericanismo.

Logo que foi empossado, no dia 20 de janeiro, como o 44º Presidente da história dos Estados Unidos, em discurso para um publico de aproximadamente 2 milhões de pessoas, Obama declarou que a sua primeira medida com presidente seria o fechamento da Prisão de Guantánamo. O que de fato ocorreu. No dia 22 de janeiro, já sob o mandato, Obama assinou um decreto que ordenava o fechamento da referida prisão, proibindo os abusos durante o interrogatório.

No entanto, apesar de insinuar uma relação mais dialógica com os países do mundo, ainda é uma interrogação a disposição de Obama em contribuir mais efetivamente para o desenvolvimento dos países em sub-desenvolvimento. A pobreza é hoje um problema que está entre as prioridades de saneamento, colocado como um dos objetivos do milênio. Essa meta de superação somente poderá ser alcançada se houver uma reunião de esforços das grandes potências. Os EUA, nesse sentido, tem que assumir um dos papéis centrais, visto que, atualmente, a maior parte dos recursos de ajuda proporcionados pelos americanos são destinados ao Estado de Israel, cuja população e territórios são muito diminutos, se comparados com outros países pobres do mundo, em especial, as nações do continente africano.

Obama tem manifestado a sua inclinação para a paz, em seus discursos, mas, contraditoriamente, antes da posse, quando fervilhavam os conflitos em Gaza, onde centenas de civis tiveram as suas vidas ceifadas, a únicas coisas que o Barack fez questão de “manifestar” foram o silêncio e a preocupação com os rumos do conflito. Será que isso faz parte do ritual do novo governo americano? É comum entre os populares aqui no Brasil dizer que “Quem cala consente”. No caso do novo presidente americano, é possível, em uma tomada de posição imparcial em relação a Israel. Vale lembrar que ele escolheu para chefe de gabinete, o Rahm Emanuel, filho de um sionista israelense.

Como diz o presidente venezuelano Hugo Chavez, é bom esperar para ver. As primeiras atitudes de um governante nem sempre se coadunam com o resto de seu mandato. O fato é que a eleição de Barack Obama parece ter sido providencial. Em um momento os Estados Unidos declinam em sua imagem internacional, sendo alvo de antipatias e hostilidades, eleger um presidente afroamericano e de raízes muçulmanas torna-se aos olhos mais desconfiados um ato reacionário, ou, simplesmente, uma incrível coincidência.

É difícil às pessoas não se deixarem se levar pelo apelo midiático, que transforma o Obama em um pop star mesmo antes de sua estréia. Foram 2 milhões de pessoas que chegaram a Washington para acompanhar a cerimônia da posse, sendo mobilizados 45 mil homens para a segurança do presidente. Afinal, Obama parece ter nascido para falar às multidões. O seu discurso de posse talvez tenha sido um dos mais belos já realizados em uma cerimônia de posse americana.

No caso da perspectiva de uma nova postura americana no mundo, dizer sobre o seu sucesso ou fracasso, se trará paz ou guerra, se refletirá o espírito do imperialismo ou da solidariedade, isso, somente o futuro dirá. Por enquanto, é bom colocar as “barbas de molho”, com se diz nos meios populares.


SÍTIOS CONSULTADOS:

Países ricos precisam ampliar ajuda. Disponível no sítio: Acessado no dia 31 de janeiro de 2009.

Leia os principais trechos do discurso de posse de Obama. Disponível no sítio: Acessado no dia 30 de janeiro de 2009.

Chefe de gabinete de Obama se desculpa por declarações. Disponível no sítio: Acessado no dia 29 de janeiro de 2009.
Obama será uma decepção, diz Hugo Chaves. Disponível no sítio: Acessado no dia 25 de janeiro de 2009.

Nelson Mandela parabeniza Obama e pede que ele lute contra a pobreza. Disponível no sítio: Acessado no dia 25 de janeiro de 2009.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Sede de fraternidade

POR: PAULO ANDRÉ DOS SANTOS

Certas coisas que acontecem, em nossas vidas, nunca esquecemos. São vivências de fatos cotidianos que nos impulsionam para uma breve reflexão sobre a nossa condição humana. Assim, ao iniciar uma prosa com amigos, ou mesmo, nos momentos de introspecção, em que se acenda a faísca das lembranças, um fato que eu terei o prazer de recordar está muito relacionado à última segunda-feira do mês de janeiro de 2009. Dia em que fui testemunha de algo que posso classificar, sem pretensões nem exageros, como espetáculo sublime. Nessa ocasião, em pleno verão, o sol parecia determinado a incendiar a terra. O mormaço era tão intenso que o suor que escorria do meu corpo encharcava completamente o uniforme de Carteiro. Eu ia de rua-a-rua entregando as correspondências, seguindo o roteiro que é de costume. O trabalho, seguia sem qualquer sinistro. No trajeto que ia percorrendo, algumas pessoas me cumprimentavam enquanto Carteiro; outras, solicitavam informações para a regularização de correspondências. Entretanto, no momento em que eu realizava as entregas em uma das ruas do bairro, fui surpreendido por um garoto, quando eu transitava pela escadaria em frente à casa de dona Bernadete. O garoto, que tinha, aproximadamente, oito anos, era o neto do senhor Manoel, o patriarca da família. Ao me despedir, logo após a entrega das correspondências, o garoto fez uma observação a meu respeito, dizendo: Carteiro, você está todo molhado de suor. - E continuou... Você quer um copo d’água? Mesmo interpretando essa atitude como uma manifestação de traços de cidadania, fiquei um pouco perplexo. Não por se tratar de estar em uma comunidade periférica da cidade, mas, porque, em virtude dos contextos atuais, percebo que, hoje, é cada vez mais raro presenciar um ato de cortesia. Muitos dizem que isso é uma coisa de educação familiar, de exemplos da própria família. Aristóteles1, na antiguidade, já tinha afirmado que o ser humano aprende através da imitação. Rousseau2 nos trouxe, através de seus escritos, que o ser humano é produto do meio, ao afirmar que ele nasce puro, mas, o tecido social o corrompe, o transforma. Já no pensamento expressado por Vygotsky3, diz é que os sujeitos constroem o meio social e nele se constroem, ou seja, ao invés de somente produto, os seres humanos são também os produtores, re-significadores do meio. ... Então, retornando ao ocorrido, após a expressão humanista daquela criança, mergulhado em um estado de comoção, agradeci prontamente ao garoto, assim: Obrigado! Eu estou bem. Já me abasteci de água faz uns 10 minutos. O garoto insistiu: ... Mas, você deve estar cansado. ... Um momento, Carteiro – acenando com a palma de uma das mãos. Vou buscar uma “aguinha” pra você. Embora não estivesse com sede, aquele gesto de fraternidade do garoto me fez aceitar a cortesia. O avô, senhor Manoel, expectava orgulhoso a cena. Possivelmente, ele devia ter afirmado em pensamento: Esse é um bom garoto. Após aquele gesto sublime, o garoto ainda disse que, sempre que precisasse, poderia pedir água. Esse, é um ato tão singelo que, muitas vezes, não percebemos em nosso cotidiano os valores embrincados nessas pequenas atitudes. Somos, atualmente, submetidos a uma rotina diária alucinante, que nos induz a negligenciar momentos que, apesar da simplicidade, poderiam contribuir para consolidar valores, hoje tão escassos ou desvirtuados. Além de, também, proporcionar alguns instantes de alegria que poderiam trazer mais significado a nossas vidas, como sujeitos das relações sociais. Nesse caso particular, são, justamente, em momentos como esses que sentimos um regozijo em ser Carteiro, em proporcionar, mas, também, de certa maneira, ser proporcionado, valorizado pelos populares etc., sem que isso venha a se constituir em um requisito para o exercício da atividade profissional, mas, pode se constituir em mais um valor agregado à profissão.
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1 http://pt.wikipedia.org/wiki/Aristóteles
2 http://pt.wikipedia.org/wiki/Rosseau
3 http://pt.wikipedia.org/wiki/Vygotsky

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

De hospede a anfitrião: algumas considerações sobre a trajetória israelense na Palestina.

POR: PAULO ANDRÉ DOS SANTOS*.

Após 22 dias de intensa ofensiva das tropas israelenses, o Governo de Israel aprovou, no último dia 17 de janeiro, o cessar-fogo unilateral na Faixa de Gaza. A decisão de interromper os ataques vieram, no entanto, depois que Israel, com todo o seu aparato bélico, tenha praticado um verdadeiro holocausto em solo palestino. Nos últimos dias, milhares de civis palestinos, inclusive, algumas centenas de crianças, foram vitimados com a morte, com a mutilação de partes do corpo, ou ainda, com ferimentos graves.


No entanto, a determinação do cessar-fogo de Israel não foi aceita pelo Hamas. De acordo com o exército israelense, a ofensiva reiniciou um dia após a suspensão dos ataques em Gaza. O motivo, conforme israelenses se justifica pela ação dos militantes do Hamas, que abriram fogo contra as tropas israelenses, perto do campo de refugiados de Jabalya. A condição que o movimento palestino coloca para uma trégua é a de que Israel encerre todas as agressões, retire as suas tropas de Gaza e permita a abertura das fronteiras.

O curioso, contudo, é que, além parcialidade norte-americana ao empreender esforços diplomáticos para impedir ou atenuar o conflito, como aconteceu em situações anteriores, outras grandes potências mundiais, tem se eximido de manifestar em uma posição mais convincente que possibilite a pressão sobre Israel para que facilite, imediatamente, pelo menos, o refúgio, a ajuda humanitária e o socorro médico aos civis palestinos no conflito.
Não se pode negar que é uma situação delicada, a intervenção direta no epicentro do conflito, visto que países como EUA e França, acolhem uma grande população de imigrantes árabes e judeus. Isso poderia trazer grande desconforto no clima interno dos países, contribuindo para o surgimento de hostilidades a árabes ou a judeus residentes nessas nações. Embora, os EUA expressem publicamente o interesse pelo fim do conflito, analisam com restrições qualquer iniciativa da ONU no local.

Na tentativa de encontrar um fim para as hostilidades entre representantes do povo palestino e de Israel, ao longo dos últimos 50 anos, algumas propostas de divisão do território para a criação de dois Estados independentes foram lançadas, uma delas antes da criação do Estado de Israel, as outras, em anos posteriores. A primeira, foi rejeitada pelos representantes árabes-palestinos, em três outras oportunidades, foram rejeitadas pela OLP, quando ainda estava sob a liderança de Arafat. E, existem poucas perspectivas de mudar esse quadro, atualmente, o Hamas, grupo mais a esquerda em defesa da palestina, seguindo a tendência tradicional na região, não aceita sequer a existência do Estado de Israel.

Embora, a diplomacia Israelense tenha conquistado, ultimamente, alguns avanços, através da liberação de alguns territórios por Israel para o povoamento Palestino, esses territórios permanecem sob o controle do exército israelense. Com isso, a iniciativa não conseguiu atenuar as ofensivas do Hamas, visto que, até a entrada de suprimentos alimentícios advindos da ajudas humanitárias está sob o controle do governo de Israel. O trânsito de palestinos da Faixa de Gaza para a Cisjordânia também tem que passar pela avaliação do Exército de Israel.
Entre 1992 e 2000, concessões israelenses significativas obtidas pelos palestinos, tais como volumosas retiradas territoriais, autogoverno local, patrulhas de segurança e ajuda econômica,deram-se não através de atos terroristas, mas pela negociação. Não há dúvida de que, com a continuação do processo de paz, poderiam ter ganhado muito mais.

(NOVOS ESTUDOS, dezembro de 2006, Peter Demant, p.86)

Pelo vagar com que estão sendo conduzidas as deliberações sobre o assunto, parece cada vez mais distante uma solução permanente para o conflito. Alguns, no entanto, demonstram-se mais interessados em que o problema persista. Esses, podem ser chamados de oportunistas. Antes, durante e depois da guerra, está última quando só restam os escombros, eles estão ali, oferecendo os seus serviços. Não se pode negar que de início são serviços humanitários, mas, acabado o conflito, alguns favores tem que ser retribuídos. Dessa forma, aproveitam-se da condição degradante proporcionada pela guerra para adquirir benesses, sugando o escasso sangue dos derrotados. É assim, em uma guerra, enquanto os envolvidos perdem em vidas e em recursos, alguns países lucram muito com o conflito alheio, fornecendo suprimentos bélicos, alimentícios e hospitalares.


Ao imergir no mérito da discussão sobre os aspectos da política externa norte-americana, na perspectiva do mundo árabe, a conclusão provável a ser constatada será a de que os Estados Unidos são especialistas em provocar a desarmonia global. No caso do referido conflito, a atitude de permissividade dos americanos a respeito da carnificina propiciada pelos israelenses na Faixa de Gaza, faz aumentar, ainda mais, o ódio do mundo árabe para com o povo americano.


Desde que foi criado, no ano de 1948, o Estado de Israel, edificado em pleno território palestino, curiosamente, os papéis de hóspede e de anfitrião da região vem sendo invertidos com o passar dos tempos. Nesse período, foram muitos os conflitos envolvendo a causa da Palestina. Israel, no entanto, tem saído vitorioso e se afirmado como a maior potência militar da região. Na tentativa de harmonizar o conflito, em várias ocasiões, a ONU editou um grande número de resoluções, prevendo a retirada dos israelenses dos territórios palestinos ocupados, assim como, o estabelecimento de fronteiras permanentes. Até o presente momento, no entanto, as propostas da ONU não foram aceitas por Israel, apesar de, como dito antes, ultimamente, alguns territórios terem sido “liberados” por Israel para o povoamento palestino, mas, sem autonomia dos palestinos sobre a terra.


Nos dias atuais, em pleno início do ano de 2009, O território de Gaza, além de ter sido cercado com um enorme muro em toda a sua extensão pelo Governo de Israel, nessa região, ainda existem – e persistem – comunidades israelitas mantidas pela garantia da presença imponente das forças militares do Estado de Israel. E todo esse poderio militar israelense advém da cooperação logística, tecnológica e financeira dos americanos. O governo de Israel conta também com a ajuda de judeus espalhados por todo o mundo, que contribuem para os israelenses comprando títulos do governo.


[...] Desde 1967, o vínculo dos EUA com Israel é forte e vem se fortalecendo. Desde os anos 1980,é uma quase-aliança informal e nos últimos anos eles têm sido os parceiros mais fiéis...A situação privilegiada de Israel na política externa dos EUA não está em dúvida. Recebendo perto de US$ 3 bilhões por ano, Israel é o destinatário da maior ajuda estrangeira oferecida pelos EUA, apesar de seu tamanho e população minúsculos (21.000 km2,6 milhões de habitantes, PIB de US$ 154 bilhões) [...]
(NOVOS ESTUDOS, dezembro de 2006, Peter Demant, p.76)

Os Estados Unidos, em recente votação no Conselho de Segurança da ONU, absteve-se do direito de votar contra ou a favor de qualquer intervenção que viesse a por fim ao conflito. Os americanos alegam que preferem esperar o resultado da mediação egípcia no conflito. A verdade, é que Israel, além de ser um tradicional aliado dos americanos no Oriente, ainda serve, de forma estratégica, como uma possível base militar americana em uma investida bélica em conflito contra países da região.


Por outro lado, ao contrário de toda a lama em que estão envolvidas as grandes potências, alguém, na América Latina, resolveu tomar uma atitude diplomática no mínimo corajosa em relação a Israel. Hugo Chavez, atual Presidente da Venezuela, assim que foi deflagrada a guerra de Israel contra os palestinos em Gaza, expulsou o embaixador de Israel na Venezuela, Shlomo Cohen, do país. A justificativa, de acordo com Chavez, se funda na constatação de que Israel está praticando terrorismo de Estado.


Apesar de ter sido acusado de violação da Convenção de Genebra pelo relator especial da ONU, Richard Falk, os Israelenses se defendem alegando que os ataques à Palestina são uma medida de proteção da segurança dos cidadãos de Israel. Entre outros atos, as tropas israelenses impedem a saída dos civis do território palestino, além de privá-los do acesso à alimentação e ao atendimento médico dos feridos.

Ainda de acordo com Falk, não é adequado classificar a militância do Hamas como um grupo terrorista. Nem de chamar Israel de um Estado terrorista, apesar dos atos ilegais. Isso significaria deixar em segundo plano a política e a diplomacia, priorizando unicamente o uso da força. Para Falk, as nações unidas só podem cumprir de forma relevante o seu papel se os principais países membros reunir os esforços para que isso aconteça.

O Hamas, cujo significado da sigla em árabe que dizer Movimento Islâmico de Libertação, foi criado a partir de dissidências surgidas na OLP (Organização para a Libertação da Palestina), chegou ao poder na Palestina vencendo as eleições de 2006, por maioria de votos e de deputados. A instabilidade interna em Gaza, entre o Hamas e o Fatah, no entanto, fez com que os principais inimigos dos palestinos, Israel e Estados Unidos, respirassem aliviados com a cisão pela disputa da autoridade Palestina.

Com o enfraquecimento dos líderes locais, devido às disputas internas pela autoridade palestina, o solo palestino tornou-se ainda mais vulnerável às investidas das tropas israelenses. Além disso, a força militar de que é dotado Israel é muito desproporcional se comparada com a frágil resistência dos grupos de guerrilheiros palestinos. Pode-se considerar uma covardia o confronto entre essas duas forças, visto as disparidades entre o poder bélico de cada um. O massacre que Israel promoveu nos últimos dias com o povo palestino é, de acordo com o posicionamento do relator especial da ONU, Richard Falk, uma violação aos direitos humanos.


[...] na realidade, armas externas foram fundamentais à sobrevivência do nascente Estado judeu, e difíceis de conseguir. Se a imagem “Davi contra Golias” da propaganda sionista exagerou na desigualdade das forças e recursos, proclamar o lado árabe como um novo Davi não é menos absurdo. Ainda que mal treinados e dirigidos,os exércitos árabes tiveram à disposição uma quantidade muito maior de equipamento; o número de soldados nas batalhas era aproximadamente igual, mas o lado árabe tinha amplas reservas (não usadas); os judeus não. [...]
(NOVOS ESTUDOS, dezembro de 2006, Peter Demant, p.81)

Diante da atual conjuntura, o recente cessar-fogo unilateral aprovado por Israel (2009) não contribui muito para instauração da paz na região. A paz não pode ser obtida pela força, ainda mais, quando se trata de incluir no contexto a presença de grupos radicais. Além disso, o cessar-fogo de Israel não inclui a retirada imediata das tropas da região de Gaza, na Palestina, que não é reconhecida como país nem como território anexado. A presença militar israelense no território palestino é um convite à perpetuação do ódio e ao surgimento de novos conflitos. Infelizmente, a região se tornou, por influências externas e internas, em um verdadeiro barril de pólvora, (retro)alimentada por questões que perpassam pelas vias religiosas, políticas, culturais e ideológicas.


[...] Nem Hamas, Al-Qaeda, Hizbollah ou Irã consideram desejável a paz com Israel: todos dizem abertamente que querem sua destruição e aceitam a violência maciça, inclusive massas de vítimas árabes e muçulmanas, como um preço aceitável.[...]
(NOVOS ESTUDOS, dezembro de 2006, Peter Demant, p.101)

Para que se possa por um fim a esses ódios, a fim de encontrar um consenso para essas relações complexas entre etnias árabes e israelenses, que além das divergências sobre as linhas territoriais como um todo, lutam pela legitimidade da posse dos lugares venerados religiosamente tanto pelos judeus, como também, pelos cristãos e pelos árabes mulçumanos. Entre esses lugares, a denominada Terra Santa de Jerusalém, ocupa um lugar de destaque nas ambições de árabes e judeus. Assim, um esforço político-diplomático, envolvendo os países do eixo do conflito, sob a mediação da ONU, pode contribuir muito para que o consenso um dia possa prevalecer na região.


As ambições do sionismo, movimento em prol do retorno dos judeus a Jerusalém (Síon), fundado formalmente por Theodor Herzl, em 1897, estão consolidadas. Os judeus retornaram à Terra Santa e o Estado de Israel já é constituído faz pouco mais de meio século, graças às primeiras formações de kibutz e ao apoio dos Estados Unidos, como também, em função da incompetência dos ingleses em governar o território palestino, em que mantinha na região uma espécie de colonialismo, interessado no Petróleo da região árabe.


No entanto, qualquer um que analise a história Israel-Palestina, irá perceber que, sem dúvida, o que vem sendo praticado por Israel, aos olhos da ONU, constituem-se em uma das ações mais perversas da humanidade. Em primeiro lugar, o sionismo ganhou força à partir da idéia que o anti-semitismo na Europa só encontraria uma solução quando fosse criado um Estado para os judeus, que viria a ser na Palestina. Em segundo, mais trágico ainda, foi a ONU ter deliberado sobre a validade de formação de um Estado dentro dos limites de território ocupado, sem levar em consideração o impacto na organização social que lá vivia. Hoje, centenas de milhares de palestinos, expulsos de suas casas, vivem refugiados em acampamentos precários na Faixa de Gaza. Após tantos conflitos, a imigração de civis palestinos para essa região foi tão intensa que a sua densidade demográfica se tornou a maior do planeta.

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* Graduando em Pedagogia, escreve sobre assuntos diversos. Outros textos podem ser encontrados no sítio:< http://pauloandrdossantos.blogspot.com/> .


Referências:

ONU exige cessar-fogo, mas Israel mantém ataques. Disponível no site:< http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2009/01/090109_gazaisrael_tp.shtml> Acessado no dia 17 de janeiro de 2009.

Chávez expulsa embaixador israelense. Disponível no site: Acessado no dia 17 de janeiro de 2009.

Relator da ONU acusa Israel de violar Convenção de Genebra. Disponível no site : Acessado no dia 17 de janeiro de 2009.
A questão da Palestina. Disponível no site:< http://www.ljib.hpg.ig.com.br/a_questão_da_palestina.htm> Acessado no dia 17 de janeiro de 2009.

Divide et Impera. Disponível no site: Acessado no dia 17 de janeiro de 2009.

Com amigos assim, quem precisa de inimigos? Dois neo-realistas reduzem a amizade entre os EUA e Israel ao tráfico de influência. Disponível no site: Acessado no dia 17 de Janeiro de 2009.

O lobby de Israel. Disponível no site: Acessado no dia 18 de janeiro de 2009.

sábado, 17 de janeiro de 2009

A palavra lei, para alguns...

POR: PAULO ANDRÉ DOS SANTOS.

Um certo dia, estava eu a realizar compras em um mercado quando, repentinamente, veio-me a perplexidade, a inércia diante de uma situação que, para alguns, é um fato trivial, mas, para mim, não deixa de ser uma das coisas mais problemáticas de nossa sociedade. Assim que cheguei ao mercado – sem querer tomar parte da conversa alheia – mas, pelo assunto que estava sendo tratado, fui atraído e compelido a participar da cena na condição de expectador. Foi inevitável, não pude escapar à escuta, era um assunto relevante a todos, que estava sendo exposto. Apesar de ser uma conversa informal a respeito da atividade policial, significava a expressão de uma tendência corporativista e clientelista da Polícia Militar do estado da Bahia. Um policial (anônimo, mas, confesso e sem farda) estava conversando na recepção do mercado com o atendente e com mais dois terceiros. Entre outros assuntos, falavam a respeito das atitudes tomadas em situações na qual um policial flagra outro policial em situação delituosa. Para minha surpresa – como expectador –, o policial declarara que jamais iria prender um companheiro de farda. Fiquei um pouco perturbado com isso, apesar de saber dos vícios de violação da parcialidade culturalmente impregnados nas instituições públicas, ouvir a confissão não-pública, mas, em público, de um policial sobre a aplicação da lei de forma parcial, infelizmente, posso dizer, caro leitor, essa constatação não é somente a manifestação de um caso isolado, mas, é possível, aos observadores mais atentos, perceber que o fato, nada mais é do que a identidade corporativista e clientelista das instituições públicas brasileiras. O ocorrido, chegaria a ser irônico, se não fosse trágico. Fatos como esse, quando estamos sensíveis ao assunto, sempre nos remetem à imagem simbólica da Justiça brasileira, caracterizada pela sua imparcialidade, pela sua cegueira em relação às distinções entre as pessoas de classes, gênero e etnias diferentes. Situações como essas são comuns no dia-a-dia, são em alguns casos encarados pelas pessoas mais alienadas como um fato normal. A osquestração do Sistema Judiciário e a sua aplicação é incubência do Estado brasileiro. O problema, para desajuste da maioria, é que o Estado brasileiro, de acordo com as suas deliberações, parece se confundir com a ideologia burguesa. De modo que, em situação de desamparo, as camadas mais oprimidas da sociedade (se) perguntam sobre o que se pode dizer, hoje, da justiça? Com as tantas distorções evidenciadas, como pode o povo caracterizar esse Sistema? Será que é realmente os baixos salários que propiciam o surgimento de desvios de conduta nas instituições? Ou será, a falta de imparcialidade do Sistema Judiciário – inclusive, do Sistema de Segurança Pública – nas suas operações de rotina? Será que, enquanto um grupo pequeno de cidadãos usufruem de mais direitos do que a imensa maioria, pode-se falar realmente em justiça? E, a partir desse contexto, para aqueles que não caíram nas graças da justiça, torna-se confusa a noção da própria justiça, de modo que, poderia ser uma indagação dos populares o conceito do que é realmente justiça e a quem ela serve, de fato. Uma vez que, muitos figurões da alta sociedade brasileira conseguem se livrar das grades depois de terem cometido crimes que prejudicam a população, somente por que possuem posses e podem pagar...isso mesmo! Porque podem pagar um bom advogado. Já aquele cidadão pobre-miserável que, para alimentar os vermes da barriga, rouba algo para comer, em muitos casos, padece nas prisões mais infectas e amontoadas, ficando por lá alojado por anos. Aqui na Bahia, por exemplo, a mídia costuma promover uma espécie de celebração do êxito da caça aos delinquentes pobres, consiste em uma exposição humilhante dos criminosos capturados. A sua casa caiu! É assim que muitos ditos jornalistas fazem o ódio da população contra esses delinquentes, como se não fosse suficiente a humilhação degradante do Sistema Prisional. Para se ter uma idéia, se fossemos fazer a biografia da maioria dos presos, algumas características comuns entre eles seriam constatadas...Negros, pobres e vítimas da violência familiar e do descaso dos poderes públicos, além de possuírem, na maioria dos casos, poucos anos de escolaridade. Entre aqueles que conseguem se livrar do sol quadrado, no entanto, pode-se observar, à partir da análise de dados estatísticos, outro panorama. Geralmente, possuem um grau de escolaridade elevado e de um poder econômico relevante. Diante disso, fica uma série de incômodos questionamentos: Será que somente os pobres vão para a cadeia? Que Sistemas são esses? Será um Sistema dedicado a criação e manutenção de privilégios? Até que nível existe essa anistia dos amigos – e dos amigos dos amigos de agentes do poder público? E aqueles que sobraram, como fica? Bom, isso, constate você mesmo...

domingo, 4 de janeiro de 2009

Cadê? Hein?!? ... Democracia.

POR: PAULO ANDRÉ DOS SANTOS.

Ó! Democracia,... Ó! Democracia, tu nos alegraste com o ungüento de mel que, dia-a-dia, nos abençoa. És a palavra de salvação para um povo que há décadas vive oprimido. Democracia,... Democracia,... és o sol que faz brilhar os olhos do povo; és tu o vento que faz ecoar as vozes mais profundas do porão. Vejo agora, Democracia, corpos e caras pintadas, jovens verdes e amarelos que me fazem relembrar os ancestrais nativos da terra-mãe gentil. Tu, Democracia, és quem devolve a este povo os braços e as pernas; permites agora, com isso, que os rumos deste grande navio sejam decididos pela maioria dos tripulantes. É verdade, que, ainda continua a ser um barco com um só comandante, mas, é verdade, também, que o espírito desse comando, agora, é o espírito glamouroso da vontade do povo. Assim, como um pescador é capaz de trazer do mar, em sua rede, uma legião de peixes, tu, Democracia, és a essência potencial que arrebatará os homens do cativeiro para se tornarem livres. Ave-Democracia,... Ave-Democracia, por muitos anos, pode-se dizer que foi assim que ela foi por muitas vezes saudada. Hoje, época de novos tempos e de velhos e novos problemas, o Povo ainda exalta a Democracia, mas o seu louvor já não possui o mesmo sabor de antes. A consciência do Povo, depois de todos esses anos, mudou e, a Democracia, também. Ah! Democracia, é lamentável que aos teus olhos – e sob a vigilância cega do Povo – as velhas promessas do passado vieram a se constituir, hoje, em grandes e complicadas tragédias. É, Democracia, clarividente que em todos esses anos, em que o povo vestiu a tua camisa, muitos direitos legitimamente humanos foram conquistados. O que, porém, assusta, Democracia, é que foram, justamente, os homens-bons, aqueles a quem tu – e o Povo – confiaste, agora, te usastes e te violentastes a fim de permitires sórdidas distorções na justiça humana. Tu, Democracia, e também, o Povo, que te consolida, foram fragilizados pelas ideologias dominantes. Tornaram-te uma caricatura de si mesma, de modo que, desintegrou-se parte da sua materialidade. Tu, Democracia, (sub)existe agora nas sombras, adormecida, sedada, surda, cega, muda, ...quando se toca em questões que lhe remete a igualdade entre os cidadãos, tu, Democracia, vê-se obrigada a fechar os olhos – de vergonha – quando ouves falar de justiça social. Ó! Democracia, que destino será que te aguarda? Será que tu será enterrada - ainda viva no coração do Povo - sem direitos religiosos? Tu, Democracia, é hoje uma infeliz, pois, permitiste que as questões mais justas fossem negligenciadas. O Povo ainda é a sua morada, Democracia. Cheio de amor e esperança, o Povo ainda pergunta a ti. Na verdade, são verdadeiras súplicas: Cadê o direito à terra para todos, Democracia?... Aonde se escondeu a Reforma Agrária, Democracia?... E a Distribuição de Renda, Democracia? Por que tu permites que as esmolas sejam jogadas ainda ao chão das calçadas, Democracia? Por que, Democracia? Por que? ... Por que permites?... O teu Povo ainda sofre do Apartheid, o teu Povo ainda se vê privado do direito a tua riqueza Democracia. ... Democracia, depois de tanto ouvir, exclama ao Povo: Ó! Povo. Por que não percebes? Por que não cai diante dos teus olhos que eu sou pura expressão?... Sem você, Povo, só existo no imaginário, sou um imenso mar de ideais. És tu, Povo, que me dá a vida. Tu, Povo, és o meu espírito,... és o ar que adentra em meus pulmões. Aprendes agora, pois, que sou apenas um princípio, o meio-termo que te conduzirá à liberdade, se te alinhares comigo e se vigiares e se protegeres os meus valores. Ó! Povo, no dia em que notares as tábuas de minha lei, o jugo de que tu sofres será desfeito. No dia em que se perceberes como Povo – e não, homens e mulheres – tu se dará conta de que é em tu que está o poder de transformação e da liberdade. És, portanto, Povo, o senhor do teu destino, embora, não sejas o comandante do navio, és, legitimamente, quem deve dar as ordens.