"Um texto é muito mais do que um simples conjunto de palavras, é um organismo vivo, uma ontogênese, que carregam consigo visões, sentimentos e utopias". Autor:Paulo André Seja bem vindo!
sexta-feira, 4 de julho de 2014
Travessias
terça-feira, 24 de junho de 2014
A luz do tempo
Não me diga que é das estrelas
Por: Paulo André dos Santos.
Nos dias atuais, presenciamos notícias de lugares em todo o mundo. Notícias de fatos e acontecimentos recheados com altas doses de radicalismos, de intolerância, de violências. Mergulhadas nesse contexto, as identidades dos sujeitos são constantemente implodidas, provocando novos arranjos de comportamento social, banhadas pelo sangue da guerra.
A guerra abre chagas difíceis de sarar. Traumas psicológicos atormentam a mente dos sobreviventes. São anos de reconstrução, isso por que até as estruturas mais básicas das cidades foram destruídas. A rede de esgotamento sanitário, as ruas, as escolas, as fábricas, as instalações hospitalares, tudo foi destruído.
Anos se passam, as cidades vão renascendo. O país vai renascendo. Uma nova sociedade surge. Daí, chegam os oportunistas, capitalistas. Prometem consertar tudo. De fato consertam. Por outro lado, os valores transmitidos pelas gerações passadas desmoronam diante do bombardeio promovido pela indústria cultural, a fim de intensificar as relações de consumo, a fim de bases fortes de consumo para a atividade econômica. O Individualismo, então, é promovido ao status de novo agente hegemônico. Seu espírito afetaria desde à esfera familiar até o corpus social. Floresceria, assim, uma nova civilidade.
A esfera da política não seria muito diferente. Os interesses pessoais passariam a ser constantemente evidenciados, em detrimento de aspectos que atingem diretamente à coletividade. Mas felizmente o legado da guerra está ali. Todos se lembram. Os mais velhos fazem questão de lembrar. O povo se une em torno disso de modo que fica difícil pensar os sujeitos senão como membrana da sociedade.
Se por um lado somos felizes por não termos sofrido os horrores de uma guerra de proporção mundial, mas de certa maneira, perdemos, também, um pouco da força que a experiência da guerra alimentou nos povos afetados. Carecemos um pouco dessa força.
Temos orgulho de sermos uma democracia, mas apesar disso, uma democracia que já nasceu algemada. Somos privados da cidadania, apesar de sermos cidadãos. Por sermos uma democracia representativa, elegemos periodicamente pessoas para nos representar. Pessoas que se candidatam a partir dessa obrigação moral e institucional, mas que ao serem investidos no cargo, esquecem da promessa que fizeram. Ainda assim, de quatro em quatro anos, num lapso de esperança, a maioria dos brasileiros saem de suas casas para votar.
Então, traímo-nos. Enganamo-nos. Tudo para que, pelo menos, em um curto período possamos sentir o esplendor da primavera. Dela somos dependentes. Aquela mistura de cores e flores, de certa maneira nos dá a sensação de vivência sublime. Por outro lado, como toda estação, a primavera sempre acaba e, miseravelmente, leva tudo consigo. Restando-nos, apenas a resignação e a paciência de esperar um alento para a vida.
No fundo de nosso mais íntimo pensamento sabemos. Temos alguma noção do que está por vir. Sabemos - e muito bem, qual será o desfecho da história, mas recusamos simplesmente admitir. Tudo por causa de uma desgraçada esperança que nos faz adiar uma atitude ou um manifesto.
Nossa história teve um início e, provavelmente, terá um fim. Nós não escolhemos nascer aqui. Fomos certamente escolhidos, eleitos para nossos papéis figurantes.
Contudo, ao observarmos, somos conduzidos à constatação de que não existe o fim, mas, novos começos. A história está escrita, o roteiro já está pŕonto, mas ainda é possível acrescentar algumas linhas. É possível acrescentar fatos que podem produzir algum reboliço, um revés interessante na história. O perigo de começar a escrever é o de não conseguir parar.
É preciso reescrever algumas palavras, dar novos contornos. Cidadania, por exemplo, em nossa mente, é muito mais um conceito jurídico do que propriamente uma construção social. Por quê? Simplesmente, por que é permitido reinvindicar mas seguindo os trâmites judiciais.
Fazer movimentos de protestos, por exemplo, pode ser visto como perturbação da ordem pública. Curiosamente, não consideram perturbação da ordem pública um desfalque de milhões dentro da máquina governamental. Desvio de verbas, super-faturamentos, fraudes em obras públicas, isso tudo, não é perturbar a ordem pública?
Infelizmente, há uma distorção na interpretação dos fatos. Provocar prejuízo ao patrimônio de milhões de pessoas é algo surpérfluo, mas reclamar o prejuízo é perturbar a ordem pública.
Desnudar o próprio corpo em local público é atentado ao pudor, ou seja, uma violência ao juízo moral do outro. Em contrapartida, na televisão e na Internet, essa mesma nudez é permitida, negligenciada. A prisão pode parecer pouco para quem cometeu um crime contra outra pessoa, mas também pode ser vista como uma medida excessiva para quem cometeu crimes contra o sistema financeiro da nação.
Aonde estão os pesos? Quais são as medidas? Por nossa vida política é tão infame? Por que somos tão carentes de ecos mais vibrantes? Por que tanta promiscuidade nos negócios da política? Como está a Educação e a Saúde? Para onde vai tantos impostos? Com certeza, se fosse para o bem, tudo bem. Infelizmente, bem mesmo está difícil de ver. Nunca bateu na minha porta. Digam-me: de quem é a culpa? Não me diga que é das estrelas.
quinta-feira, 5 de junho de 2014
A exceção e a regra
Primeiramente, ao traçarmos os limites semânticos para a regra e a exceção, podemos dizer que regra, neste contexto, é algo consumado, que já se aplica de forma hegemônica na realidade. A regra, aqui, como uma concepção naturalizada de determinado objeto. Em outras palavras, aquilo que já é um consenso das maiorias. Aqui, a regra é a lei. Por outro lado, existem circunstâncias em que é necessário conceder um ou mais casos de exceção. Trata-se de situações em que a regra é subjugada às raras situações, casos fortuitos, muito difíceis de acontecer. Essas são geralmente enquadradas como casos de força maior. Ou seja, de situações inevitáveis. Para tais casos, mediante exaustivas analises, podem ser estabelecidas exceções. As exceções são assim estabelecidas. O problema das exceções é muitas vezes germinado justamente no momento em se analisa e se compara as ocorrências com os casos de exceção. Se não há rigor nessa análise; se há displicência na comparação, o diagnóstico da situação é comprometido. Diante disso, corre-se sério risco de se borrar as fronteiras estabelecidas entre a exceção e a regra. Assim, tornar-se-ia difícil a distinção, de modo que, para quem observa, a imagem, certamente, seria caótica. É por isso, que existe uma forma específica na elaboração das leis. A leis precisam possuir um discurso fundado situado minuncia e na clareza. Pois quando isso não acontece, é iminente o perigo do vício. O vício, fundamentalmente, é a falta de critério, a falta de assimilação, a falta de uma atitude coasiva, no sentido de defender os limites que separam a regra da exceção.
Gritos na academia
O pavilhão de aulas estava um deserto naquele dia. Havia chovido muito. O prédio estava praticamente vazio. Muitas salas estavam possuídas por um silêncio mórbido. Essa ausência de sons e de calor humano era ao mesmo tempo inquietante e inspiradora. Estamos geralmente tão acostumados ao barulho poluente da cidade, que, não raras vezes, ao nos depararmos com um silêncio totalizante, sentimo-nos, em alguma medida, aterrorizados. Os barulho excessivo é perturbador, mas o silêncio profundo pode ser muito pior. Lembro-me que caminhava pelos corredores do pavilhão em busca de uma alma. Procurava alguém que me situasse no que ali se passava. Eu estava meio perdido, confuso com toda aquela circunstância. Luzes opacas, vento frio e aquele corredor fúnebre soava um tanto estranho. Eu ia subindo, percorrendo os andares, quando repentinamente, um vigoroso grito rasgou o silêncio. Eu estava ali, caminhando, na esperança de encotrar alguém, mas não pensei que seria dessa forma. Aquele grito vindo da escuridão foi a gota d'água. Sai na direção do ocorrido, a fim de verificar se alguém precisava de ajuda. Acelerei o passo, entrei em uma sala que estava meio aberta. Nada havia. Nem mulher em apuros, nem qualquer outra pessoa. Isso foi assustor. Perguntei-me se realmente havia escutado aquele grito. Desci aos outros, percorri novamente os corredores, contudo, toda essa ginástica foi em vão. O pavilhão estava vazio. Não vi sequer o pessoal da segurança; ou, mesmo o pessoal do apoio administrativo. Mas de onde será que veio aquele grito? Tenho certeza de que, apesar do susto, ouvi aquele grito. Comecei a olhar ao redor do prédio. Estava escuro. Eu usava a fraca luminosidade do celular. Fui dando a volta no prédio, até que um novo grito. Naquele momento, o grito foi ainda mais forte. Soou o som de tambores, acenderam-se tochas de fogo. Um círculo de pessoas e uma mulher ao centro. Seria assustador se não fosse apenas uma performance teatral.
terça-feira, 3 de junho de 2014
A democracia do medo
Dizem que vivemos um momento democrático. Este tempo é frequentemente visto sob a aura da liberdade. Hoje em dia, as pessoas se sentem livres, para se expressarem, para participarem mais ativamente do processo de construção da sociedade. Em contrapartida, o que é uma percepção comum às pessoas de nosso tempo, não encontra eco suficiente na realidade. Pouco se reflete sobre o que é de fato a liberdade, assim como, é ínfima e muitas vezes infértil a quantidade de reflexões que elaboramos sobre democracia. Refletir sobre esta palavra é, aparentemente, algo de pecaminoso. A democracia é como dito por Saramago, "como uma santa no altar". A democracia é de certa maneira sacralizada na esfera da representação. Constantemente, repetimos o clichê, "Estamos em um país democrático". A ideia de democracia parece fazer parte do senso comum. Por outro lado, sabemos o que realmente é democracia? Ou sabemos somente a noção de democracia que nos ensinaram? Diante dessas perguntas, resta-nos responder outra: somos democráticos? Recentemente completaram-se cinquenta anos do início da ditadura militar. Será que já nos livramos de todos os nossos medos e traumas? Será que já superamos essa chaga em nossa história? Ou estamos a fazer uma democracia do medo? É possível uma democracia com cidadãos medrosos? É possível uma democracia sem uma cidadania corajosa? Como é possível sermos livres se encarceramos ainda o medo dentro de nós? Como superar a prisão mais eficaz que existe? Como podemos superar o eco de uma sociedade do medo? Como podemos superar medos tão capazes de transformar um direito em uma dádiva? Como superar medos capazes de transformar nossos servos em senhores? O dia em que conseguirmos respostas legítimas para essas perguntas, teremos condições de apreendermos a ideia mais apropriada do que é democracia.
segunda-feira, 26 de maio de 2014
O problema da balança.
sábado, 19 de abril de 2014
Do outro lado da rua.
Entre legal e ilegal,
Moral e imoral,
Certo e errado,
Bem e mal,
a linha e o ponto,
Tênue encontro-desencontro.
Quem está certo?
Quem está errado?
Dois pontos de vista.
Muito, pouco, talvez um bocado.
Será que estamos míopes ou onividente?
Lúcidos ou possuídos de loucura?
Ou seria nossa pobre visão embassada,
Névoas de uma sociedade obscura,
Ou ainda, nossa amargura.
O que seria mais certo ou incerto?
A precipitação de uma luta sem causa, ou,
A demência anunciada de uma causa sem luta?
Entre certo ou errado, vai variar.
O certo é que toda boa árvore traz consigo
as sementes de bons frutos.
A menor distância entre opostos não é necessariamente extrema, mas tênue,
sem medida, sem régua, sem compasso.
Sem diferença significante, irrelevante,
Pensando bem, inexplicavelmente,
o igual pode ser diferente.
terça-feira, 15 de abril de 2014
Desacato à autoridade.
sábado, 5 de abril de 2014
Documentário: Lingua: Vidas em português.
Dirigido por Victor Moraes, o Documentário ”Língua: Vidas em Português”, utilizando-se da língua portuguesa como referência, abarca de certa forma sobre o dinamismo da cultura sob a perspectiva da língua.
Lançado no Brasil em 2004, a referida produção fílmica convida os espectadores para uma viagem aos países que fazem uso da língua portuguesa, revelando as semelhanças nos traços dos falares e suas peculiaridades, entre os povos que estão separados geograficamente, mas unidos pela língua.
Semelhanças e particularidades, por assim dizer, que testemunham o traço identitário da língua, bem como, o dinamismo o qual ela se encontra. Nesse sentido, pode-se afirmar que a língua é um ícone que reflete, de certa maneira, o resultado de intercâmbios culturais, com outros povos, com valores distintos, tradições típicas, modos de vidas diferenciados, etc.
Desse modo, conforme se pode perceber no documentário, a multiplicidade circunscrita na unicidade da língua portuguesa, dá-se, muito possivelmente, graças aos acontecimentos históricos que permitiram a efetivação da língua nas relações identitárias dos povos.
Em consequência disso, a Língua Portuguesa, concordando com a fala de Saramago, tornou-se um elo de ligação entre as ex-colônias portuguesas, mas, também um veículo de afirmação da singularidade própria de cada um dos povos.
Saramago, ainda relata, que a língua tem seguido uma tendência de “compactação” no estabelecimento da comunicação entre as pessoas. Exemplifica, afirmando que, talvez um dia voltemos a fase embrionária da língua, na época das cavernas, pois atualmente em uma mensagem são utilizadas menos palavras do que se fosse há duzentos anos atrás.
Em contrapartida, compreende-se que a língua tem, ainda, um papel indispensável na transmissão dos valores culturais e na preservação da tradição. De algum modo, pode-se afirmar, então, que a língua é simultaneamente um combustível para as mudanças e uma espécie de amuleto da tradição. Ao mesmo tempo em que ela dá voz às coisas novas, retira do silêncio os costumes, as crenças e tradições cultivadas ao longo da história.
A língua é livre, por mais que a tentem aprisioná-la! Não defende um lado, em específico; anuncia o passado e o futuro segundo suas particularidades. Enfim, refletir sobre a língua, a partir do referido documentário, é um passo importante para o reconhecimento da complexidade da língua, quanto à identidade e à diversidade que nela se inscrevem e se protagonizam.
REFERÊNCIAS:
Língua: Vidas em Português. Gênero: Documentário. Duração: 105 min. Lançamento (Brasil): 2004. Distribuição: TV Zero e Sambascope. Direção: Victor Lopes. Roteiro: Ulysses Nadrus e Victor Lopes. Produção executiva: Renata Pereira e Suely Weller. Co-produção: TV Zero, Sambascope e Costa do Castelo. Som direto: Paulo Ricardo Nunes. Fotografia: Paulo Violeta. Edição: Piu Gomes, Pedro Bronz e Victor Lopes.
RESUMO: As “linguagens” dos animais.
POR: PAULO ANDRE DOS SANTOS.
De acordo com o autor, os animais há muitos anos são alvos de estudos de pesquisadores. Tal fascínio não se restringiu ao campo científico. Através da produção cultural os seres humanos tem reforçado a crença na possibilidade de "humanização" dos animais. Entretanto, até os dias atuais, nenhuma pesquisa cientifica com animais foi capaz de fazer com que revelassem uma capacidade linguística suficientemente elaborada e complexa ao ponto de equiparar-se aos seres humanos. Desse modo, uma dos paradigmas que tais animais não conseguem superar é a incapacidade de se expressar sobre experiências do passado. Muito menos, sobre o futuro. Entretanto, tal como diz o autor, duas questões podem ser consideradas. O fato de não alcançar o mesmo desenvolvimento linguístico dos seres humanos, não significa que os animais não articulem mensagens entre si. Outro dado é que o próprio conceito de linguagem é estabelecido segundo critérios arbitrários. É bem verdade, alguns animais tem o dom realizar imitações semelhantes às vocalizações de humanos, mas, isso não é o reflexo de um domínio da linguagem. Sem um estudo mais aprofundado, muitos poderiam dizer que os animais não dominam a linguagem humana em virtude de razões fisiológicas. Isso seria grande equívoco. O que lhes falta, conforme diz o autor, é a capacidade criativa, qualidade específica do ser humano. A exemplo do sistema comunicativo das abelhas, geralmente, os sistemas dos animais são de natureza fixa e inflexível, portanto, muito limitados. Em contrapartida, muitos pesquisadores, ainda nos dias atuais, despendem anos de estudos a fim de desvendar a linguagem dos animais, bem como, de comprovar que alguns deles podem até se tornar capazes de estabelecer uma comunicação com humanos.
sexta-feira, 4 de abril de 2014
A assinatura e o carimbo.
De todos os ritos que realizamos dentro das instituições públicas, talvez, uma simples assinatura pode ser um pesadelo. São tantos os critérios, tantas são as exigências legais e humanas que uma simples necessidade de se carimbar ou assinar determinado documento, é capaz de fazer soluçar o mais paciente dos cidadãos. Como nossa máquina burocrática é enorme, categoria peso pesado, para executar qualquer movimento. Recentemente, tivemos conhecimento de casos que podem servir como um exemplo mais geral, tal como as obras públicas. Sabe-se que o Brasil foi anunciado como país sede da Copa do mundo faz aproximadamente quatro anos. Hoje faltam pouco mais de dois meses dos jogos. Muitos estádios não estão sequer prontos. Isso ocorreu, em certa proporção, à demora para o início das obras, que só começaram depois de dois anos. Por quê? Por causa da tal máquina burocrática. Somente o processo de licenciamento ambiental (L.A.), pode levar anos. Importante ressaltar que o L.A. é fundamental, mas precisa de um processo avaliativo mais curto e eficaz, enfim, menos burocrático. Outro exemplo que pode ser citado é o dos cartórios. Ir ao cartório é muitas vezes um martírio, somente suportado por quem gosta de sofrer, ou, por quem não tem outra escolha. Em alguns casos, no desespero ou não, as pessoas apelam para o "jeitinho brasileiro", infelizmente. Esse comportamento que é nefasto para a cidadania, encontra,) no descaso do poder público, uma brecha para se afirmar. E aí? Tudo fica negociável. A multa de trânsito, a vaga no estacionamento, o lugar na fila dos hospitais do SUS, a aprovação do aluno na escola, etc. Mesmo com tudo isso, nós enquanto povo, continuamos sentados em nossas velhas cadeiras de balanço.



