sábado, 19 de março de 2011

Folhas secas.



***(POR: PAULO ANDRÉ DOS SANTOS)***

Nunca mais o canto dos pássaros à janela,
Nem tampouco o cântico das cigarras ao anoitecer,
Coisa rara, nessa barulhenta cidade,
Onde os sons se misturam, todos falam e ninguém se comunica.

***

Nunca mais conversei comigo, apesar de conversar com o mundo pela Internet,
Hoje mesmo, meus vizinhos postaram um recado no meu Orkut,
O discurso falado, parece-me, em forte recessão,
Pais já não sentam à mesa com os seus filhos,
Filhos já não tem o mesmo respeito pela autoridade natural dos pais.
Assim, o mundo segue mudando, rumo à desordem e a falta de sentido.

***

Sou apenas passado, diante de um presente tão vazio.
Sou diferente, apesar de alheio à visão aos outros.
Sou uma sombra na agitada multidão,
Imperceptível ao olho clínico,
Que cego, surdo e mudo, soluça lamuriosamente,
diante da nauseante realidade,

***

O fútil ri descarado para o excluído,
Deixando na pia os restos de comida,
Consumindo tudo o que o desejo pode devorar,
Até mesmo sem precisar, não hesita em pagar.

***

Confesso que também perdi o caminho,
Nunca mais fitei a praia ao amanhecer,
Não mais vi o quebrar das ondas na areia,
Não mais, as águas do mar apagando promessas de amor.

***

Quanto valor perdemos, quanto perdemos em viver...
O céu, as estrelas, o sol, a chuva, tudo sobre o mesmo olhar vazio.
Somos a expressão de um sorriso sem graça
De quem ouviu uma piada de mau gosto e não teve coragem para falar...

***

Somos como uma árvore de folhas secas,
Pronta para morrer murchamente,

***

Tudo perdeu o sabor, as cores, a beleza esplêndida, esculpida pelo mistério.
Agora, deitados na sarjeta, convivemos resignados com a mediocridade.
Lamentando todos os dias, quando pisamos no chão, a perda da visão;

***

Estamos à beira da loucura, numa angústia solitária,
Contidos na criatividade apodrecida,
Respirando noites repetidas, ares pesados, ouvindo músicas de uma nota só.

Um comentário:

Fábio Bonfim disse...

Parabéns professor Paulo André, pela intensa produção literária de opinião...