terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Esqueça os seus ouvidos!...


Por: Paulo André dos Santos.

Quando se fala em classificar a qualidade de vida, deixar de elencar a questão da harmonia sonora do ambiente aonde se mora é uma insanidade. Imagine passar horas angustiadas em virtude da poluição sonora na rua em que você mora. Você tentando assistir, em casa, a um filme ou em ler um livro, ou mesmo, descansar um pouco...e aquele barulho insuportável de carros com som potente, ou mesmo, o som do novo aparelho Micro System adquirido pelo vizinho invadindo os seus tímpanos... Imaginou? É um teste de paciência, não é? Na verdade, não precisaria ter solicitado a você que imaginasse, mas, que simplesmente, lembrasse, apenas. Afinal, quem nunca esteve submetido a tal incômoda situação? Possivelmente, alguns felizardos residentes nos condomínios mais luxuosos da cidade. Palavras, existem muitas bonitas, no entanto, elas não têm sentido algum se não afirmarem o seu significado. É o que acontece, por exemplo, com palavra da lei. Bom, pelo menos, nas comunidades menos assistidas pelo poder público. É cada dia mais numerosa a quantidade de carros e casas equipados com potentes aparelhos de som nos bairros da cidade. O desejo que aflora nesse momentos é o de justamente ter nascido surdo, pois, nessas horas seria uma grande comodidade. Esse problema se dá, e aqui cabe pontuar, em grande parte, pela proliferação epidêmica dos bares nos bairros periféricos. Para os governantes é uma oportunidade de gerar renda e impulsionar o comércio local, permitindo a ampliação da arrecadação de impostos. A consequência disso é o que, geralmente, os governantes negligenciam: a situação de constante desconforto que aflige a população. A fiscalização existe, mas, não funciona. Aliás, como a grande parte dos serviços de utilidade pública ofertados pela máquina pública. A fiscalização só funciona nos bairros ditos nobres, aqui na cidade de Salvador. Recentemente, por exemplo, um bar foi fechado no bairro do Imbuí por que fazia muito barulho e invadia a rua com cadeiras, atrapalhando o trânsito e a paz dos cidadãos de bem do bairro. Infelizmente, a iniciativa não é a mesma para os bairros periféricos. O problema da poluição sonora é uma coisa séria em muitos bairros – considerados periféricos, assim dizendo - da cidade de Salvador e, em muitos casos, resta ao pobre cidadão esquecer dos ouvidos, pois, como vem acontecendo em muitos bairros considerados como área de risco, nem o SAMU entra. Você pode imaginar a aflição dos moradores? E não pára aí...o cidadão que se sentir incomodado com o carro-de-som, para não amanhecer, como se fala entre os populares: com a boca cheia de formiga; tem que tomar o cuidado de saber antes quem é a pessoa que está querendo levar alegria a todos os lares, o dono do trio-elétrico particular. Caso contrário, corre o sério risco de ser vitimado com agressões verbais e físicas, ou até mesmo ser alvejado com arma de fogo ou arma branca. Para os cidadãos inseridos nesse contexto de opressão, o conselho dado pelos donos da rua – e do bairro – é: esqueça os seus ouvidos, a sua boca e, para garantir a sua integridade, os seus olhos também.

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