sábado, 20 de dezembro de 2008

NATALIS SOLIS INVCTI: A GÊNESE DO NATAL

Por: Paulo André dos Santos.

Aqui no Brasil, é costume da sabedoria popular concordar que é um contra-senso “despir um santo para vestir o outro”. Ao saciar, no entanto, a curiosidade sobre a(s) origem(ns) do Natal, percebe-se que, a maior expressão cultural da fé cristã – hoje, nos países capitalistas, uma ótima oportunidade de adquirir dinheiro – foi inspirada no Natalis Solis Invcti, dia instituído pelo Imperador Aureliano, no ano de 273 d.C., a data de 25 de dezembro, para a celebração do nascimento de Mitra-menino, Deus Indo-Persa da luz. O Natalis Solis Invcti, que significava o nascimento do Sol invencível, era consagrado, também, entre diferentes povos pagãos, à partir de outros deuses equivalentes. Ou seja, além de Mitra, equivalentemente, os povos elegeram outros deuses para essa celebração. Foi o que aconteceu com Ra, deus egípcio, Utudos na Babilônia, Surya na Índia, Baal, para diante disso, também, o próprio deus greco-romano Apolo, do qual se emana na representação do Sol.
No instante em que o culto às festividades pagãs já estavam enraizadas na cultura popular, por um decreto estratégico de Constatino (317-337 d.C.), até então Imperador de Roma, o Cristianismo passa – à custa da perseguição aos povos pagãos – a se constituir na religião oficial de Roma. As homenagens que eram rendidas à Mitra, Baal, Apolo etc., converteram-se para um único ser, Jesus Cristo. Aos pagãos restaram aceitar a “Nova Fé” ou, inevitavelmente, serem julgados como hereges e merecedores de rigoroso castigo.
Esse momento histórico significou em Roma, em termos de configuração religiosa, uma revolução, em que, os que antes eram perseguidos, em virtude do seu crescimento vigoroso e, pela perspicácia do Imperador em ficar ao lado dos mais fortes, tornaram-se, insaciavelmente, perseguidores. Enfim, muitos anos se esgotaram até que os velhos deuses pagãos vieram ao esquecimento, sobrando ainda, como símbolos do paganismo a árvore, a guirlanda, as velas, os sinos e os enfeites.

Com isso, deuses e Cristianismo à parte, no século IV, no ano de 271, Nasce Nicolau de Bari. Filho de família rica, desfez-se de seus bens em favor dos pobres e desamparados, obtendo a reputação de mágico milagreiro e distribuidor de presentes. O que popularizou, no entanto, a figura de Nicolau foi, sobretudo, o seu amor pelas crianças. Foi então, que no fim da Idade Média que a lenda de Nicolau alcançou os colonos holandeses da América do Norte, quando assume o nome de “Santa Claus”.
Em fins do século XIX, já sob a esfinge de Papai-Noel, a figura de Nicolau já era capa de revistas, livros e jornais, aparecendo em propagandas do mundo todo – massifica-se assim a construção de um mito e de uma Ideologia de Mercado. O natal, antes visto como simplesmente uma data caracterizada pelo apelo ao amor, a paz e a fraternidade, passa a ser visto (pelos capitalistas mais atentos) como um perfeito álibe para a prática do consumo. Ciente disso, em 1931, a The Coca-Cola Company, aproveitando-se da popularidade do bom velhinho, contrata um artista e remodela o Papai-Noel, convertendo um elfo ou duende em uma figura humanizada e, portanto, universal. Foi uma jogada de mestre. Assim como Jesus roubou dos deuses pagãos as homenagens do Natalis Solis Invcti, o bom velhinho – aí diga-se: para atender aos anseios do Mercado – rouba de Jesus o título de principal símbolo do Natal. Será que isso tem perdão? Bem, deixemos essa discussão para outro momento.
O que importa hoje, imprescindivelmente, é refletir sobre um sentido mais nobre que se poderia extrair do Natal. Será que ainda, nos dias de hoje, é válido celebrar o poder econômico? Será que, o Natal, está servindo, verdadeiramente, ao amor e à fraternidade? Como pode existir amor e fraternidade em um contexto em que se exalta a exuberância das árvores natalinas, as fachadas de casas mais bem enfeitadas para celebrar essa época ou as suculentas ceias familiares? Será que, nesse momento, não estaríamos celebrando – talvez, inconscientemente – à posse de bens materiais? Será que o espírito Cristão, a história de Nicolau, ou mesmo, o senso de cidadania apontam para isso? Reflita!...
Afinal, será que você já pensou que praticamente metade da população mundial vive na pobreza? O fato é que no Natal, o que se está celebrando, intrinsecamente, é a manutenção da exclusão social, brinda-se, portanto, à posse daqueles que têm, à custa da miséria famigerada de grande parcela da população, que, humilhantemente, são obrigadas a consumirem, fantasiadamente, os sons e imagens exibidos nos Outdoors pela cidade, na televisão, nas estações de rádios etc. O fica para eles? O que a esses afortunados sobra? Catastroficamente, nada mais do que a constante imersão e o acordar de um sonho impossível. E alguns, de forma cruel ou inocente, ainda são capazes de cuspir na cara dessas pessoas um ressoante Feliz Natal.

REFERÊNCIAS:

História do Natal. Disponível no site: acessado em 20/12/2008.

A verdadeira história do Natal. Disponível no site: < http://ceticismo.net/religiao/a-verdadeira-historia-do-natal/ > acessado em 20/12/2008.

Metade da população mundial vive na pobreza, alerta ONU. Disponível no site: < http://www.viaseg.com.br/noticia/1358-metade_da_populacao_mundial_vive_na_pobreza_
alerta_onu.html > acessado em 20/12/2008.

Nenhum comentário: