domingo, 4 de janeiro de 2009

Cadê? Hein?!? ... Democracia.

POR: PAULO ANDRÉ DOS SANTOS.

Ó! Democracia,... Ó! Democracia, tu nos alegraste com o ungüento de mel que, dia-a-dia, nos abençoa. És a palavra de salvação para um povo que há décadas vive oprimido. Democracia,... Democracia,... és o sol que faz brilhar os olhos do povo; és tu o vento que faz ecoar as vozes mais profundas do porão. Vejo agora, Democracia, corpos e caras pintadas, jovens verdes e amarelos que me fazem relembrar os ancestrais nativos da terra-mãe gentil. Tu, Democracia, és quem devolve a este povo os braços e as pernas; permites agora, com isso, que os rumos deste grande navio sejam decididos pela maioria dos tripulantes. É verdade, que, ainda continua a ser um barco com um só comandante, mas, é verdade, também, que o espírito desse comando, agora, é o espírito glamouroso da vontade do povo. Assim, como um pescador é capaz de trazer do mar, em sua rede, uma legião de peixes, tu, Democracia, és a essência potencial que arrebatará os homens do cativeiro para se tornarem livres. Ave-Democracia,... Ave-Democracia, por muitos anos, pode-se dizer que foi assim que ela foi por muitas vezes saudada. Hoje, época de novos tempos e de velhos e novos problemas, o Povo ainda exalta a Democracia, mas o seu louvor já não possui o mesmo sabor de antes. A consciência do Povo, depois de todos esses anos, mudou e, a Democracia, também. Ah! Democracia, é lamentável que aos teus olhos – e sob a vigilância cega do Povo – as velhas promessas do passado vieram a se constituir, hoje, em grandes e complicadas tragédias. É, Democracia, clarividente que em todos esses anos, em que o povo vestiu a tua camisa, muitos direitos legitimamente humanos foram conquistados. O que, porém, assusta, Democracia, é que foram, justamente, os homens-bons, aqueles a quem tu – e o Povo – confiaste, agora, te usastes e te violentastes a fim de permitires sórdidas distorções na justiça humana. Tu, Democracia, e também, o Povo, que te consolida, foram fragilizados pelas ideologias dominantes. Tornaram-te uma caricatura de si mesma, de modo que, desintegrou-se parte da sua materialidade. Tu, Democracia, (sub)existe agora nas sombras, adormecida, sedada, surda, cega, muda, ...quando se toca em questões que lhe remete a igualdade entre os cidadãos, tu, Democracia, vê-se obrigada a fechar os olhos – de vergonha – quando ouves falar de justiça social. Ó! Democracia, que destino será que te aguarda? Será que tu será enterrada - ainda viva no coração do Povo - sem direitos religiosos? Tu, Democracia, é hoje uma infeliz, pois, permitiste que as questões mais justas fossem negligenciadas. O Povo ainda é a sua morada, Democracia. Cheio de amor e esperança, o Povo ainda pergunta a ti. Na verdade, são verdadeiras súplicas: Cadê o direito à terra para todos, Democracia?... Aonde se escondeu a Reforma Agrária, Democracia?... E a Distribuição de Renda, Democracia? Por que tu permites que as esmolas sejam jogadas ainda ao chão das calçadas, Democracia? Por que, Democracia? Por que? ... Por que permites?... O teu Povo ainda sofre do Apartheid, o teu Povo ainda se vê privado do direito a tua riqueza Democracia. ... Democracia, depois de tanto ouvir, exclama ao Povo: Ó! Povo. Por que não percebes? Por que não cai diante dos teus olhos que eu sou pura expressão?... Sem você, Povo, só existo no imaginário, sou um imenso mar de ideais. És tu, Povo, que me dá a vida. Tu, Povo, és o meu espírito,... és o ar que adentra em meus pulmões. Aprendes agora, pois, que sou apenas um princípio, o meio-termo que te conduzirá à liberdade, se te alinhares comigo e se vigiares e se protegeres os meus valores. Ó! Povo, no dia em que notares as tábuas de minha lei, o jugo de que tu sofres será desfeito. No dia em que se perceberes como Povo – e não, homens e mulheres – tu se dará conta de que é em tu que está o poder de transformação e da liberdade. És, portanto, Povo, o senhor do teu destino, embora, não sejas o comandante do navio, és, legitimamente, quem deve dar as ordens.

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