Paulo André dos Santos
Em sua rotina, o Carteiro na realização da entrega de correspondências para a população acaba trazendo em sua figura um significado que transcende o seu próprio labor. Além de correspondências, ele traz às pessoas, um sentimento de cidadania, de pertencimento e de inclusão social. As pessoas gostam de receber correspondências, pois para muitas delas, principalmente nas comunidades mais humildes, o ato de receber a correspondência tem um implícito valor simbólico que lhe confere um micro-status no meio social. Para elas, o recebimento de correspondências faz suscitar o sentimento de ser lembrado ou de ser alguém, o que traz um sentimento de dignidade, de reconhecimento da cidadania.
Quando o Carteiro transita pelas vias públicas, no momento em que está realizando sua atividade, muitas pessoas o cumprimentam alegremente, brincam ao receber as correspondências e ao oferecer-lhe água para beber. É muito forte o laço de empatia que se estabelece entre a população e o Carteiro. O que se explica pelo fato de que muitos o reconhecem como uma referência, um espelho do povo brasileiro, um batalhador, alguém que enfrenta adversidades geográficas e a fadiga física para cumprir a valorosa missão de satisfazer as necessidades das pessoas nos quatro cantos do Brasil.
Por muitos anos, o serviço de Carteiro era mais direcionado à entrega de cartas, estabelecendo uma intensa comunicação entre as famílias residentes em bairros, cidades, estados, ou ainda, países diferentes. Hoje, essa atividade absorve também serviços de entrega faturas, boletos bancários, comunicados de concursos públicos, exemplares de revistas e jornais, etc. Então, a figura do Carteiro passou agregar novos valores, a sua presença no seio da comunidade se tornou ainda mais significativa, visto que agora além intercambiar a relação entre pessoas, empresas e instituições, ele contribui para a cidadania representando dialogicamente o sujeito da comunidade e o sujeito da máquina estatal.
A figura do Carteiro é intrinsecamente visualizada pela população como membro da comunidade. Muitos têm até a generosidade de o chamar de filho, de se preocupar com o estado de saúde, de observar se engordou ou se emagreceu, ou ainda, de perguntar se está cansado ou se já se alimentou. É muito comum ao Carteiro ouvir expressões como: “Você é como se fosse da casa meu filho” ou “Que Deus te proteja meu filho”, por isso, consciente do seu profissionalismo o Carteiro não deve deixar de responder com simpatia à manifestações de apreço dos populares, assim como, atender com respeito a qualquer crítica ou queixa por eles apresentadas.
O Carteiro é, simultaneamente, funcionário dos Correios e filho adotado pela comunidade. Nessa dualidade, ele precisa encontrar o ponto de equilíbrio, ou seja, realizar sua incumbência profissional com respeito à comunidade local, considerar a herança cultural dos sujeitos e com cordialidade negociar possíveis soluções para problemas referentes à entrega domiciliária de correspondências.
O Carteiro precisa estar consciente desse duplo pertencimento, do mesmo modo que é positivo estabelecer boas relações com os demais funcionários dos Correios, é também muito proveitoso manter relações inter-pessoais saudáveis com os membros da comunidade. Agindo assim, além de propiciar às pessoas da comunidade um estímulo à elevação da auto-estima, ele recebe de volta todo o carinho que investiu na execução de suas atividades.
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