Por: Paulo André dos Santos
Querida, cheguei! Todos os dias em que chego em casa essa é a minha forma de aportar, a maneira mais simples e intensa que encontrei para dizer: Te amo querida, estou feliz de estar de volta. E, toda vez em que esse rito se anuncia, a casa se converte em uma estrondosa manifestação da alegria infantil. As minhas crianças, meus três filhos me fazem saborear diariamente os prazeres de ser pai. Mas quando hoje cheguei à beira do meu jardim, percebi que as flores não sorriam para mim, as luzes externas da casa denotavam uma aparência tão sombria quanto o mais antigo porão de um navio. Fiquei um pouco aturdido nas idéias. Perplexo, tentava desvendar o mais obscuro dos mistérios: cadê a minha família? Diante disso, fui possuído por mundo de desespero. Só de imaginar a possibilidade de um sequestro ou outra forma qualquer de violência urbana, o meu coração suava, palpitava, gritava dentro de mim que preferia morrer. Com um estalo na memória, lembrei do celular que havia presenteado ao meu filho mais velho. Foram minutos de uma indecisão agonizante. Afinal, deveria eu ou não ligar ? O que poderia acontecer se a minha família estivesse sob a guarda de bandidos ? Ou será que deveria aguardar a ligação ? Que dilema heim ? É difícil aguardar sentado numa hora dessas, concorda, caro leitor ? O que fosse do mundo se não fosse a aparência. Os sonhos (ou os pesadelos) nos tomam em situações que jamais cogitariamos vivenciar...Que bom que era sonho. Logo que recobrei a consciência, percebi-me sentado na velha cadeira de balanço da varanda da casa. Que sensação de estranhamento senti – no alge de uma situação tão conflituosa e de repente eu sentado ali, naquela cadeira de balanço – acabei rindo da situação. Nas mãos, tinha em posse um livro, cuja capa estava escrito “O natal das crianças”. Tratava-se de uma das obras mais raras de Cláudia Canedo, uma estória de caridade mergulhada em uma trama de suspense e violência. Ao meu lado, todos os presentes de Natal da família. Assim que cheguei do trabalho, sem alarmar a minha presença, resolvi esperar até cair o silêncio das estrelas. Precisava ficar ali tempo suficiente para que as crianças viessem a entrar no mais profundo sono. Só assim, poderia arrumar os presentes na árvore de Natal. É claro! As crianças dificilmente dormiriam se não houvesse um motivo plausível para a minha ausência. Pensando nisso, combinei com a minha esposa que dissesse para elas que eu iria dobrar o turno no trabalho, por isso, somente iria chegar pela manhã. Aconteceu o que fora previsto, as crianças, ao acordarem, movimentaram-se elétricas pelo quarto e pelos corredores da casa. Fuçavam todos lugares. Tinham a esperança acesa no presente do Papai Noel. Após circularem por vários cômodos, chegaram até a sala. Abençoados foram esses momentos, posso dizer-lhe, meu caro leitor, que não há nada neste mundo que pague o sorriso de uma criança. É uma expressão tão singela e pura que os céus se regozijam nas crianças e elas, com o brilhar dos olhos, refletem o sol que nos ilumina, nos esquenta e nos encharcam de esperança.
Salvador, Ba., 20 de novembro de 2008.
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