Por: PAULO ANDRÉ DOS SANTOS.
Naquela tarde fria de céu cinzento, eu estava sentado confortavelmente na minha triste e solitária poltrona. Dava pra ver através da janela que ventava muito e caía uma leve brisa na pequena cidade de Conselheiros. Eu estava acostumado à solidão diária, os moradores da vizinhança não eram muito hospitaleiros. Em raras ocasiões recebia visitas em casa. Uma dessas visitas era a presença simpática do Carteiro, que sempre trazia notícias dos entes mais distantes. Após uma agradável xícara de chá de erva-cidreira, deitei-me a repousar sobre a poltrona. Eu estava quase cochilando quando ouvi alguém se aproximar da porta. Antes que eu viesse a perguntar quem era o visitante, ouvi uma voz firme anunciar “Correios!”. Era o Carteiro. Comprimentei-o. Ele me entregou uma carta e pôs-se a se despedir. Eu o interrompi entusiasticamente. Estava curioso para saber as novas que traziam aquele papel escrito de próprio punho. Infelizmente, na minha época, escola era coisa para as minorias. A única coisa que sei fazer é desenhar o meu próprio nome, nada mais sei escrever ou ler. O Carteiro prestava bons serviços e já tinha tempo suficiente na comunidade para que eu lhe confiasse o favor de ler as cartas para mim. Então, perguntei a ele quem enviou a carta. Prontamente, ele repondeu que era uma carta de Cassandro ( Imediatamente, meus olhos brilharam.). Solicitei que lesse o texto da carta para mim. Após lido o texto, a expressão do meu rosto se confundia entre sorrisos e lágrimas, era uma emoção difícil de conter. Depois de vinte anos de absoluto silêncio, meu filho mais velho e mais amado, anunciava o desejo de uma reconciliação. Eu, enfim, tive a alegria de saber que Cassandro estava vivo. E, mais do que isso, ele estava disposto a me devolver à vida, quebrando o enorme muro de gelo que nos separava.
Salvador, Ba., 08 de janeiro de 2008
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